126 - Campanha eleitoral - notas
Com a campanha eleitoral a queimar os últimos cartuchos no momento em que escrevo isto, aqui ficam algumas notas minhas sobre situações e ditos que me chamaram particularmente a atenção.
Primeiro, a insistência do PS em deitar para o PSD as culpas da Troika e de tudo o que esta impôs. Sim, sei que a experiência nos diz que os portugueses sofrem, coletivamente, de perda de memória e que têm, além disso, uma grande tendência para acreditar em mentiras desde que as repitam várias vezes. Diga-se de passagem que eu até estava admirada pelo “brilhante” ex-ministro das infraestruturas ainda não ter acenado com o fantasma do Passos Coelho... Pois, era inevitável que todos os problemas atuais sejam culpa dele, mesmo depois de 4 anos de geringonça seguidos de uma maioria absoluta rosa.
Mas não admira esta insistência, afinal o suposto líder da oposição e forte candidato a primeiro-ministro nada fez para repor a verdade. Será que tem medo de ofender o PS e que este se recuse a apoiar um seu futuro governo? Muito francamente, acho que a posição da AD nas sondagens se deve mais à falta de capacidade de PNS do que a mérito de Montenegro. Aliás, este pouco falou do que faria à frente de um governo, fartámo-nos, isso sim, em ouvir referências a “linhas vermelhas”.
Passemos à Iniciativa Liberal e às suas promessas. Vai ser um verdadeiro bodo aos pobres! Construção imediata de 250 000 casas – curiosamente, este parece ser o número mágico para quem faz este tipo de promessa – e médico de família, já, para grávidas, crianças até aos 9 anos e pessoas acima dos 65. Bom, será que os vai retirar a quem não cabe nestas três categorias? Sem falar na sua outra grande prioridade que é passarmos a considerar os eSports como Desportos, com todas as benesses que isso traz! Francamente, por muito populares que se estejam a tornar, é um assunto assim tão importante?
Quanto ao PAN, gostei muito do cartaz “Tourada só na cama”. É que atendendo aos outros significados da palavra “tourada”, será que este partido é a favor da violência doméstica? Ou da violência sexual? Bom, não nos esqueçamos que, tendo proposto penas pesadíssimas para quem maltratasse um animal, foram totalmente contra o agravamento de penas para maus tratos a idosos. Ou seja, são basicamente o partido dos animais.
Temos, depois, o sempre tão atual PCP. O que me chamou mais a atenção foi ver que para o seu destemido líder o grande problema do país em geral e das mulheres em particular é a possibilidade de um novo referendo ao aborto. Curiosamente, não põe sequer a hipótese de ganhar a manutenção do sistema atual, não, segundo ele as pobres grávidas terão de voltar a fazer abortos clandestinos como antigamente. Será que esse senhor já ouviu falar em contraceção?
E passemos aos incidentes de campanha, começando pelo célebre vaso atirado à comitiva do PS em Guimarães. Meramente por acaso, calhou eu ver as imagens completas em que vemos claramente que os “bons democratas” da comitiva atiraram paus e um guarda-chuva ao homem que estava a exercer o seu direito de liberdade de expressão, algo que, segundo nos repetem vezes sem fim, é muito querido da esquerda e que a direita, sobretudo a perigosíssima extrema-direita, quer eliminar. Só que, com a ajuda dos amiguinhos do costume na nossa tão isenta comunicação social, as imagens foram prontamente cortadas e passámos a ver apenas o dito senhor a atirar uns vasos à comitiva, facto este que deu lugar a todo o tipo de críticas.
Curiosamente, quando uma “cidadã indignada” quase agredia Montenegro porque “o PSD tinha chamado a Troika que lhe cortou a pensão”, a reação foi totalmente oposta, toda aquela cena foi considerada perfeitamente normal numa democracia de direito, outra expressão muito querida da nossa esquerda.
Mas o incidente que mais me intrigou foi o dos climáticos. É que, tendo em conta que o PSD não governa há anos, a tinta não devia ter sido atirada ao atual líder do PS que, lembro, foi ministro de Costa? É claro que todos os partidos repudiaram esse ato, é que, aqui para nós que ninguém nos ouve, devem ter receado que lhes chegasse a vez. Já agora, adorei o comentário do senhor de Belém de que o abuso do ato de atirar tinta faz com que perca a eficácia. Como li num comentário algures, seria um conselho para usarem métodos mais fortes?
Para terminar, a afirmação de um membro do BE de que os votos da AD e do Chega seriam cancelados. A explicação dada é que se tratou de uma piada! Devem estar a gozar com o Zé Povinho e acham, certamente, que somos todos burros. O grave desta questão é que o dito militante disse apenas em voz alta o que o seu partido em particular e a esquerda em geral pensam, ou seja, que só deviam ir a votos partidos e pessoas aprovados por eles.
Imaginem que era o Chega a dizer isto do BE ou do PCP, aposto que choviam pedidos para ser excluído das listas ou, no mínimo, de todas as mesas de voto. Mas como foi o BE, o mau aqui é o dito Chega que protestou. Já agora, não dei por ela ou não ouve reação dos líderes da AD?
Só me resta desejar que desta vez o grande vencedor não seja a abstenção, algo que já é bem real em certas eleições em Portugal.
Para a semana: Planeemos apartamentos a sério Inspirado pela ideia de eliminar a necessidade de pôr bidés