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Luísa Opina

Neste blogue comentarei temas genéricos da nossa sociedade. Haverá um novo texto todas as sextas-feiras

Neste blogue comentarei temas genéricos da nossa sociedade. Haverá um novo texto todas as sextas-feiras

Luísa Opina

30
Jun23

90 - Orgulhosamente sós

Luísa

A expressão “orgulhosamente sós” está ligada, na mente de todos nós, a Salazar.

E é bem verdadeira, até certo ponto. Recordemos que, quando os Estados Unidos quiseram incluir Portugal no Plano Marshall de reconstrução da Europa, como paga pelo uso da Base das Lajes, Salazar recusou porque não queria dar a imagem de estar dependente de terceiros. Aliás, toda a sua política económica tinha por base a mesma ideia, gastar só o que tínhamos e, acima de tudo, poupar para o que pudesse vir a acontecer – pois, mal sabia ele...

Na política externa fez o mesmo, sem alianças ou sequer relações chegadas com outros países – sim, até mesmo com Franco, que era supostamente da mesma cor política. Basicamente, se queriam falar com ele, tudo bem, mas não se enfiava à força em lado nenhum.

Ora o nosso atual (des)governo conseguiu algo que, à partida, poderia parecer impossível, a adoção do mesmo princípio, mas invertendo-o totalmente.

Passo a explicar.

Em termos económicos, bom, acho que poucos duvidam de que nos tornámos os pedinchões da Europa. Não há ajuda ou benefício que não nos interesse, pior ainda, estamos sempre prontos a choramingar por mais e mais, numa espiral ascendente sem fim à vista.

Já agora, também internamente temos a situação oposta à de outrora, tudo fazem para que quem reside neste paraíso à beira-mar plantado – de acordo com eles – não tenha nem condições nem interesse em poupar, tudo graças à pesadíssima carga fiscal e às ameaças não muito veladas de passarem a tributar os míseros tostões que mesmo assim conseguimos arrecadar.

A outra diferença flagrante está nas nossas relações internacionais. Podem dizer que agora fazemos parte do mundo, ao contrário do que então se passava, que já não vivemos isolados. Mas fazemos mesmo? Que imagem acham que dá do nosso país o virote permanente do atual senhor de Belém? Será que todos aqueles passeios, perdão, viagens de estado, foram em resposta a convites a sério? É que, curiosamente, não tem havido assim muitos chefes de estado a visitarem-nos e estas coisas costumam ser recíprocas.

E nem vou falar da ida do nosso “estimadíssimo” PM à Hungria, de que ouvimos – com atraso – inúmeras explicações, quando a real era tentar convencer alguém de quem tem dito cobras e lagartos (fascista, nazi...) a tê-lo em conta para o seu tão almejado tacho europeu. Sim, sei que agora diz que nem pensou nisso, mas com a atual composição política da Europa e a viragem de muitos países à direita, sendo a Grécia o mais recente, que hipóteses tinha realmente? Pois, soa-me um pouco a “as uvas estão verdes”.

Mas há outros aspetos em que levam o “orgulhosamente sós” aos píncaros.

A TAP, por exemplo. Numa altura em que a maioria esmagadora dos países eliminava ou privatizava as suas companhias aéreas, fizeram precisamente o contrário, pior ainda, renacionalizaram-na quando estava no bom caminho para deixar, finalmente, de ser um encargo de todos os portugueses.

No ensino, agora que o resto da Europa descobriu que facilitismos não dão bons resultados, sobretudo para os jovens, por cá reduz-se cada vez mais os programas, “estupidificam-se” os exames – quando existem – enfim, faz-se tudo para ficarmos com uma ou mais gerações de analfabetos funcionais. Para quem não conhece o termo, pois bem, são pessoas que têm oficialmente a escolaridade obrigatória, ou até um curso, mas que na prática não sabem entender um texto, a menos que seja mesmo muito básico, que têm dificuldade em apreender ideias que não lhes sejam apresentadas sob a forma de clichés e, em termos de matemática, bom, pouco ou nada entendem, daí a exigência de mais benesses sem sequer pensarem de onde sai o dinheiro.

Mas para mim, a gota de água foi a recente decisão de manter a bitola ibérica para os nossos caminhos de ferro. Francamente, acho que o primeiro passo terá mesmo de ser mudar-lhe o nome, é que a Espanha já a largou, por isso de ibérica nada tem. Ou seja, é mesmo o exemplo acabado do tal “orgulhosamente sós”, como disse acima.

É realmente uma decisão espetacular, sobretudo feita por quem anunciou, com a pompa e circunstância usuais, uma remodelação profunda do nosso sistema ferroviário!

Para os mais distraídos, isto significa que comboios portugueses que sigam para Espanha e o resto da Europa terão de sofrer uma adaptação na fronteira – ou até, o transbordo de carga e passageiros, o que custa tempo e dinheiro. E vice-versa, claro.

Ora numa época em que se fala cada vez mais em usar portos portugueses, nomeadamente Matosinhos e Sines, para evitar a entrada de navios cargueiros no mais do que sobrelotado Mediterrâneo, como é que isto faz sentido? Não devíamos, isso sim, construir ou modernizar algumas linhas que permitissem o transporte rápido e barato de contentores para os seus locais de destino? Não seria esta uma belíssima fonte de rendimentos para o país? Isto sem falar na componente ecológica, é que pelo menos por enquanto os ambientalistas são grandes fãs do transporte ferroviário de mercadorias.

E já agora, uma perguntinha de algibeira: o TGV tão do apreço de “Costa e sus Muchachos” também vai usar a bitola ibérica? Ou terá uma linha exclusiva para um comboio por dia, como queria o tão saudoso Sr. Sócrates?

Para semana: Quando é que a Europa aprende? A propósito das últimas cenas de “justa indignação” em França.

27
Mai23

85 Voltemos à TAP

Luísa

Antes de falar da tal “telenovela mexicana de quinta categoria”, um pequeno resumo da minha experiência pessoal com a TAP.

As minhas primeiras viagens aéreas foram com ela, mas apenas por não haver outra opção. Como era antes do 25 de abril, até funcionava bem e o serviço e o atendimento eram bastante bons – apesar de na altura não ter um termo de comparação. Tudo mudou quando fiz a primeira viagem pós-revolução e, muito francamente, para bem pior. Mas, mais uma vez, para as viagens maiores não tinha alternativa, por isso era engolir e calar. Só que tinha pelo menos a satisfação de saber que, não residindo em Portugal, o único dinheiro meu que viam – bom, da empresa onde trabalhava – era o das passagens. E acreditem, o serviço era mesmo mau.

Tendo vindo para Portugal, passado uns tempos comecei a viajar e, por sorte, consegui sempre passagens noutras companhias aéreas, de que não tenho a menor queixa, muito pelo contrário. Para as minhas últimas férias fora fui à Colômbia e... era a TAP. Mas tendo-se passado tantos anos desde a última vez que a utilizara, tive alguma esperança de que tudo tivesse melhorado. Pois...

É por isso que tanto me intriga toda esta conversa de “a TAP tem de ser portuguesa e do estado”. Porquê? Para que é que precisamos de uma empresa aérea? E não me falem do serviço da Madeira e Açores, tenho a certeza de que, postos a concurso internacional, pagaríamos muito menos e os seus habitantes ficariam bem melhor servidos. E se não acreditam, façam uma pequena sondagem e verão que, tal como eu, só a usam quando não há outra alternativa.

Fiz esta introdução porque as tristes cenas a que temos assistido estão na mesma linha de pensamento ilógico que levou a reverter a privatização da TAP em vez de se vender o resto, como estava previsto. Já agora, se acreditaram que o Governo socialista da época fez um belo negócio, bom... Com a velocidade com que os privados cederam as ações, ficaram certamente a ganhar e bem!

E agora, investidos vários milhares de milhões de euros de todos nós, mesmo dos que nem nunca andaram de avião – isto sem falar no muito que vamos acabar por ter de pagar à francesa por despedimento sem justa causa, difamação, sofrimento moral e sabe-se lá que mais – a situação descambou totalmente no caricato.

Agressões físicas em pleno Ministério? Polícia e SIS chamados? Edifício encerrado para impedir a saída de um malfeitor? Despedimentos por telefone? Francamente, se tudo isto fosse incluído num filme, espectadores e críticos torceriam fortemente o nariz por acharem totalmente inverosímil.

E quem era o tal “malfeitor”? Bom, até uns momentos antes, adjunto de confiança do ministro há vários anos, ou seja, um cargo de grande responsabilidade. E passa de bom a monstro assim, num ápice?

Tivemos também de aturar horas e horas de audições parlamentares, totalmente inúteis, diga-se de passagem, os resultados estão definidos à partida e serão os que o PS, ou antes, os que Costa e “seus muchachos” quiserem. Ou seja, foi tudo legal, o adjunto é mau e incompetente – por isso esteve tantos anos no cargo – e  toda a gente cumpriu as regras e só fez o que devia fazer.

Só um pequeno aparte, vendo o aspeto do dito adjunto e o do resto das pessoas que afirmam ter sido atacadas (quatro ou cinco), acham isso credível? É que se o fez, tem um brilhante futuro pela frente nas Forças Especiais...

Uma coisa é certa. Adoro os chamados “Grandes Mistérios da Humanidade” mas neste momento há um que se sobrepõe de longe a todos eles. Qual Roswell, qual Pirâmide Negra do Alasca, qual Atlântida, quero é saber o que estava no agora tão famoso computador para ter gerado um pânico deste calibre! Sim, pânico. E como sou mazinha, será que ministro, chefe de gabinete e outros que tais já ouviram falar em armazenamento na nuvem? Às tantas fizeram estas cenas todas e o que querem esconder está há muito em lugar seguro...

O mais curioso é que apesar de todos os ensaios, os principais atores desta novela conseguiram arranjar maneira de se desdizerem uns aos outros e de caírem em mentiras – perdão, mentiras são só da direita, da esquerda são meras “confusões sem importância”. Perante tudo isto, acho que o que disse no início até é um insulto às tais telenovelas mexicanas de quinta categoria. Ou até às de nona!

E anda o Sr. Costa a falar em privatizar a TAP, com ar de quem descobriu a pólvora. Era bom que houvesse algum jornalista a sério neste país que fizesse umas continhas muito simples. Só isto: temos uma boa ideia de quanto iria render na proposta de Passos Coelho; pois bem, quando soubermos por quanto irá ser vendida agora, tirar desse valor o muito dinheiro que ali foi enfiado durante este intervalo. E aposto que a venda gloriosa, sim, vai ser anunciada como tal, degenera prontamente em prejuízo e dos grandes!

Mas está tudo bem, há até um abaixo-assinado de inúmeras “personalidades” a pedir para não se privatizar a TAP. E haverá mais, certamente, da parte dos seus supostos trabalhadores, que não querem, de modo algum, ter de entrar num mercado laboral a sério. Pois é, faço meu o comentário de muito boa gente: se querem uma TAP portuguesa, então paguem-na do vosso bolso!

Para semana: Seria chocante, mas... Refiro-me, claro, às reações da nossa esquerda ao discurso de Cavaco Silva

14
Abr23

79 - Nacionalizar é bom para a economia

Luísa

Começo o post desta semana com uma citação de Einstein, que me tem vindo muito à mente nos últimos tempos. Certamente já a ouviram, é muitíssimo famosa e existe em inúmeras variantes – a tradução, entenda-se, a frase em inglês é sempre a mesma.

E qual é ela? Pois bem, é muito simplesmente a seguinte: “Loucura é continuar a fazer sempre o mesmo e esperar resultados diferentes.”

Pois bem, se levarmos isto à letra somos, certamente, um país louco ou, mais exatamente, um país de loucos varridos.

Ora vejamos. No período pós-25 de abril desatou-se a nacionalizar tudo e mais alguma coisa. De grandes grupos económicos a propriedades agrícolas, bancos, empresas diversas, foi um ver se te avias de passagem do “mau” do capitalismo privado para a “boa” estatização.

E a princípio até correu tudo bem... pudera, havia reservas de fundos que entusiasmaram o pessoal dessas empresas e os muitos que foram prontamente contratados. E foi gastar a rodos, aumentos salariais, benesses de todo o tipo, enfim, uma vida de ricos. Ou antes, de novos-ricos.

Só que, sem criação de riqueza e com o aumento brutal da despesa, o maná em breve acabou e vieram os problemas graves e as falências, precipitando o país numa crise económica de onde se saiu – saímos mesmo? – muito a custo.

Com a enorme quantidade de exemplos nefastos vindos dessa época gloriosa seria de esperar que tivéssemos aprendido a lição. Mas, pelos vistos, somos mesmo loucos.

É que por tudo e por nada, lá vem a nossa bendita esquerda falar em... pois, adivinharam, nacionalizar. Ou, para evitar más conotações, estatizar.

A banca está em crise? Nacionalize-se! A TAP dá prejuízos gravíssimos mas há quem tenha comprado uma boa fatia dela? Nem pensar, é preciso comprá-la de volta, a qualquer custo! Os hospitais em parceria público-privada funcionam? Que horror, acabe-se já com isso!

Adorava que alguém com acesso a esses dados e tempo para os trabalhar divulgasse o quanto gastámos nos últimos anos a comprar para o Estado empresas em falência técnica. Mais ainda, quanto nos custa anualmente mantê-las a fingir que funcionam.

É claro que, como não estamos numa época revolucionária, para grande desagrado da dita esquerda, nacionalizar significa na maior parte dos casos comprar aos privados pelo menos a maioria do capital de uma empresa. E quem é que acham que sai a ganhar neste negócio?

Lembro-me do gáudio demonstrado pelo Sr. Costa quando anunciou que tinha chegado a acordo para a compra da quota privada da TAP. Face à rapidez com que se chegou ao valor e condições de venda, a minha conclusão imediata foi de que se tratara de um grande negócio... para os privados. Infelizmente, o tempo veio dar-me razão.

Mas todas estas intervenções, compras e nacionalizações são sempre anunciadas como “a bem do país”. Compra-se o SIRESP para evitar que o sistema volte a falhar! Nacionaliza-se a Efacec para travar o impacto na economia. Acabam-se com as parcerias público-privadas nos hospitais a bem da saúde...

 Enfim, com tantas medidas tomadas para nosso bem, devemos estar a viver às mil maravilhas!

Pior ainda, acaba-se, mais cedo ou mais tarde, por falar em reprivatização das ditas – é o que se diz em relação à Efacec e à própria TAP. Até podia ser uma boa notícia, só que, ao fim de algum tempo nas mãos do Estado, as empresas estão sempre em pior estado do que estavam antes e, para poderem ser vendidas, há que absorver prejuízos brutais para tornar a venda atraente – ou possível.

Há, depois, a outra face da moeda, que é a privatização de coisas estatais. Lembro-me do pânico do BE quando se começou a falar em privatizar as Águas de Portugal e havia uma empresa chinesa interessada. Quem os ouvisse ficava com a ideia de que iria faltar água em Portugal porque iria toda para a China!

Isto para não falar nos protestos e greves que cada decisão destas despoleta porque, e estou a parafrasear, “vai ser mau para os trabalhadores”.

Pois vai, uma empresa privada tem de dar lucro se quiser continuar a existir e não se pode dar ao luxo de ter pessoal a mais e todo o tipo de benesses sem a menor justificação, como acontece com o que é estatal – pois, é que aqui, no fim do ano o “Estado” absorve os prejuízos, ou seja, pagamos todos os benefícios de uma minoria.

Não acreditam? Pensem na CP, que tem uma dívida acumulada de mais de 2000 milhões de euros. Brilhantemente, muitos dos seus empréstimos bancários estão a ser substituídos por “empréstimos” da Direção-geral do Tesouro e Finanças – no ano passado isso já ia em 84 %. E como se não bastasse, querem agora “limpar” toda essa dívida histórica para que possam recomeçar a pedir empréstimos aos bancos para compra de material circulante. Já agora, escrevi “empréstimos” assim, entre aspas, porque não são pagos nem há penalizações por não o estarem a fazer. Ou seja, são aquilo que em bom português se chama “emprestadados”.

E é este o panorama que a nossa esquerda quer, colocar tudo e mais alguma coisa nas mãos do Estado. E quando lhes perguntam porque acham que desta vez será diferente do que se passou após a revolução, pois bem, a resposta é muito simples: é claro que vai funcionar, o que é estatal é que é bom!

Pois, Einstein tinha razão, é mesmo a definição de loucura!

Para semana: Decisões, decisões... A propósito do novo aeroporto de Lisboa e não só.

27
Jan23

69 - TAP e quejandos

Luísa

A nossa esquerda tem a obsessão do nacional. Mas atenção, não do produto nacional, seja este de que área for, para ser promovido e divulgado. Não, é claro que não, até porque esse é quase todo – ou até todo – de produção privada. Não se trata pois disso mas, muito prosaicamente, de ter empresas nacionais. O que até podia ser um sentimento digno de elogios, sim, seria excelente se tivéssemos muitas de qualidade e que dignificassem o país.

Só que, mais uma vez, nacional tem outro significado para os “verdadeiros democratas” do nosso país, refere-se, apenas a empresas totalmente do Estado ou em que este é, no mínimo, acionista maioritário. Aliás, se lhes fizéssemos a vontade, nem haveria setor privado ou este estaria reduzido a pequeníssimas empresas, mas mesmo estas sujeitas a regras e regimes ainda mais anuladores da iniciativa empreendedora do que o que temos atualmente.

Sempre que se fala em privatizar um setor, lá vêm as vozes indignadas e o pânico generalizado. Lembro-me do que se passou com a privatização de empresas de distribuição de água em que, perante a hipótese da compra por uma empresa chinesa a reação dava a entender que a nossa água ia ser simplesmente embarcada em navios para a China!

Mais ainda, há permanentemente propostas para nacionalizar isto e aquilo porque, como todos estamos cansados de saber, o que é do Estado é que é bom e funciona às mil maravilhas. Pois...

E se a empresa em questão dá prejuízo, então qualquer proposta de a privatizar é recebida com clamores e ranger de dentes, sendo sempre o grande argumento desse senhores “ficarão em perigo postos de trabalho”. A sério?

Vejamos o que se passou com os Estaleiros de Viana, que andaram a ser suportados pelo Estado, ou seja, por todos os contribuintes, para manter “empregados” meia dúzia de gatos pingados. Quando foram finalmente extintos tinham uma dívida superior a 700 milhões de euros e os ditos funcionários passaram, na sua maioria, diretamente para a reforma. E ainda falam das indemnizações chorudas da TAP! Por quanto nos ficou cada um daqueles postos de trabalho?

Pois bem, a TAP tem estado nas notícias com greves de todos os tipos. Para começar, acho uma total falta de respeito para com os portugueses que o pessoal de uma empresa que nos anda a custar milhões se atreva a queixar-se de que ganha pouco. Pior ainda, que prejudique, como prejudica há anos com greves e protestos constantes, o tal povo que supostamente existe para servir.

Sim, porque o argumento “decisivo” para manter este peso morto é que o país precisa de uma companhia aérea, argumento esse que nunca entendi.

Precisamos, porquê? É a única que voa para Portugal e de cá para outros destinos? É claro que não, muito pelo contrário. É a que tem melhor serviço? Devem estar a brincar! Durante anos evitei voar na TAP precisamente pelo péssimo cumprimento do tal pessoal de cabina que “merece” melhores condições salariais. Quando a voltei a usar – e acreditem, não foi por escolha própria – nada mudara. E, como tinha passado os anos anteriores a voar em companhias diversas, tinha um bom termo de comparação!

Falam também no serviço que presta com os voos para a Madeira e Açores. Quem os ouça pode até ficar a pensar que, extinta ou privatizada a TAP, esses arquipélagos ficam isolados e só de barco se sai de lá. É que, pelos vistos, não é possível fazer um concurso internacional para esse serviço – e aposto que seria melhor e mais barato, perguntem a madeirenses e açorianos quem escolhem para as suas viagens quando têm a liberdade de o fazer – pequena dica, não a TAP.

Ainda me lembro da enorme satisfação do Sr. Costa, o nosso tão esforçado Primeiro-ministro, quando conseguiu reverter a privatização de parte dessa empresa, comprando o que fora vendido no tempo do Passos Coelho. Pelos vistos não ocorreu a ninguém que se o dono dessas ações, um grande empresário internacional, foi tão célere a vendê-las, se calhar foi porque fez um belíssimo negócio. Ou alguém acredita que foi ele que saiu prejudicado?

Eu até entendo esta fúria de nacionalizar tudo. É que os funcionários dessas empresas passariam a ser funcionários públicos, ou seja, votantes enfeudados à esquerda que lhes apara o jogo das “carreiras”, dos aumentos, das benesses, das greves e de tudo isso.

Já privatizar tem o efeito oposto e é, pois, indesejável.

Há ainda uma outra discrepância que me intriga. Se uma empresa privada tem prejuízos e fica sob ameaça de fechar, ouvimos logo os “especialistas” usuais a culparem os seus gestores. Sim, porque as atuais leis laborais, que as impedem de se agilizar para fazer face às mudanças do mercado nada têm a ver com o assunto...

E se calhar até têm razão, pelo menos em parte, há certamente erros de gestão, mas o que eu acho curioso é que as empresas públicas dão, na sua esmagadora maioria, prejuízos ainda mais avultados e a culpa não é de ninguém, acontece, apenas! E nunca, mas mesmo nunca, é culpa dos gestores nomeados por terem, como “qualidade” principal, fazerem parte dos “boys”.

Como última nota, uma empresa pública é mantida a funcionar à custa dos nossos impostos muito para lá do desejável apenas para salvaguardar postos de trabalho. E as privadas, a quem se nega até um pequeno alívio na pesadíssima carga fiscal para poderem dar a volta à situação? Não têm postos de trabalho? Ou estes não são importantes, porque não são públicos?

Muito francamente, e como última nota, feche-se de vez a TAP – bom, se a conseguirem vender, tanto melhor, sempre se recupera parte do prejuízo, mas duvido que haja quem a queira agora, sobretudo se houver exigências de manter o pessoal. E tanto num caso como no outro, ponham-se os contribuintes como credores principais e só quando tivermos recuperado tudo, mas mesmo tudo, do que tem sido enfiado nesse poço sem fundo, então, e só então, que chegue a vez dos seus trabalhadores receberem algum dinheirinho!

Para semana: Indignação seletiva. Tanto protesto com o palco para o Papa e nada contra a Parque Escolar do Sócrates e similares...

07
Out22

53 O público é que é bom!

Luísa

Numa altura em que se recomeça a falar em privatizar a TAP, em que os problemas dos hospitais públicos continuam e há inúmeros alunos do ensino público sem professores acho que é altura de falar da dicotomia entre público e privado.

Para a nossa esquerda, e não só, falar em setor privado é pior do que falar do diabo na Idade Média. Ouvindo-os, fica-nos a ideia de que a esmagadora maioria dos problemas que nos afligem se resolviam se passasse tudo para o setor público. Repare-se que evitam cuidadosamente o termo “nacionalizar”, mas a intenção básica é a mesma dos “belos tempos” do pós 25 de abril.

Tentam, também, vender-nos a ideia de que o país pouparia imenso dinheiro se todos os serviços fossem fornecidos exclusivamente pelo setor público.

Eu até entendo, muitos são, foram ou sonham ser políticos de profissão, ou seja, uma versão glorificada do funcionário público. E uma grande parte dos que assim falam pertencem – ou pertenceram – ao dito setor público.

E é aí que está o grande problema.

Ora vamos por partes, começando pelo Ensino. Sempre que há uma greve nesse setor – e são mais que muitas – lá vem a conversa da “qualidade do ensino”, de as crianças serem o futuro do país, etc. Mas, na prática, resume-se tudo à simples exigência de mais dinheiro e regalias e, acima de tudo, de eliminar o setor privado que esse, sim, funciona e bem.

Lembram-se das parcerias que alguns estabelecimentos tinham com o Estado, permitindo aos pais pagar apenas uma parte das propinas e permitindo, assim, a sua abertura a setores mais desfavorecidos? Pois, tanto fizeram que acabaram com a esmagadora maioria, mesmo quando a escola pública da zona era mesmo muito má – mas esta ficou aberta, claro, e a funcionar nos mesmos moldes!

Falar em cheque educação é, mais uma vez, como falar do diabo numa época em que este metia pavor a todos. O facto de que o sacrossanto Estado não gastaria mais com este sistema não os afeta. Nem o pequeno detalhe de que, assim, as escolas más teriam de fechar, fossem públicas ou privadas.

E já repararam que as escolas privadas nunca fecham só porque faltou alguém do pessoal auxiliar?

Não, a solução é sempre a mesma, só ensino público e turmas mais pequenas. E isto apesar de não ter funcionado a favor dos alunos nas célebres escolas primárias que fecharam por falta estudantes. Vi até um caso em que um rapazinho tinha já feito três anos da primária sozinho com a professora e, coitado, mal sabia expressar-se e denotava uma total falta de conhecimentos de tudo.

Mas o público é que é bom!

Passemos à saúde onde, mais uma vez, a intenção, declarada ou não, é ter um setor totalmente público. E porquê? Bom, pela saúde dos portugueses não é certamente. É que sempre que falam de falta de meios – leia-se, de pessoal – a impressão que fica é que esses meios só faltam porque não os gerem como deve ser.

Veja-se o caso dos partos, tão badalado – pelas razões erradas – nas últimas semanas.

Basicamente, pretende-se que esteja sempre de serviço uma equipa completa de especialistas. A sério? Quantos partos difíceis há por mês? Ou até por ano? Não seria um melhor aproveitamento de recursos ter médicos, digamos, normais, ou até internos a acompanharem a situação, chamando o especialista apenas caso a situação o justificasse? Assim já haveria meios para todos.

Veja-se o pânico gerado por um hospital, penso que o S. João do Porto, ter usado internos “contra as regras”. E se a grávida desse à luz na ambulância dos Bombeiros? Ou até no carro da família enquanto procurava um hospital que tivesse os meios “certos”? Era melhor?

Já agora, porque é que a triagem das Urgências não é feita por um interno? Com o apoio, claro, de um médico, caso se justificasse. Se não são capazes de o fazerem, o que é que aprenderam em tantos anos de estudo?

Mais ainda, porque não podemos escolher o nosso médico de família, seja do SNS ou não, pagando-lhe o Estado um valor previamente acordado por cada consulta? Este sistema existe, com grande êxito, em vários países, aliviando assim a sobrecarga do serviço público que fica mais virado para casos complicados e que exigem recursos não facilmente disponíveis no privado.

Mas falar em otimizar o uso de recursos no SNS é pecado capital porque... pois, já sabem, o público é que é bom!

Lembram-se também do pânico quando houve a privatização dos CTT? Curiosamente, semanas antes tinham vindo a lume vários casos em que carteiros tinham sido apanhados a roubar o conteúdo de cartas e encomendas ou as tinham muito simplesmente deitado ao lixo. Mas uns CTT privados seriam um perigo para a santidade da correspondência!

E terminemos com a TAP. Quando Passos Coelho falou em vender a parte que o Estado ainda tinha dessa transportadora, chamaram-lhe tudo e mais alguma coisa. Houve abaixo-assinados, ouvimos comentadores, jornalistas, políticos e muitos outros a berrarem que “o país precisa da TAP”. Estranhamente, nunca ouvi ninguém esclarecer porquê.

Essa venda iria ser feita numa altura propícia para um negócio desse tipo.

Bom, veio a geringonça e anunciou, com pompa e circunstância, que não só não iria vender o que o Estado ainda tinha, conseguira até negociar a compra da parte anteriormente vendida. É claro que proclamaram que tinha sido um ótimo negócio! E foi-o, para quem vendeu.

E agora, após centenas de milhões de euros de prejuízos e numa conjuntura altamente desfavorável, vêm os mesmos falar em vender. Concordo, claro, mais vale perder dinheiro de uma vez do que passar as próximas décadas com esse sorvedouro agarrado a nós. Mas duvido que se venha a concretizar, as forças da reação já estão a aguçar as facas e, muito francamente, quem quer uma companhia falida, endividada até à medula e cheia de pessoal habituado a fazer greves por tudo e por nada?

Muito francamente, devíamos era obrigar os do tal abaixo-assinado e os defensores acérrimos do “só o que é público é bom” a comprar a dita TAP e a mantê-la em funcionamento. Mas bem podemos esperar sentados, ou antes, deitados numa caminha confortável.

 

Para semana: O assédio sexual é sempre assédio? Mais um tema muito “na moda”, mas com enormes restrições...

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