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Luísa Opina

Neste blogue comentarei temas genéricos da nossa sociedade. Haverá um novo texto todas as sextas-feiras

Neste blogue comentarei temas genéricos da nossa sociedade. Haverá um novo texto todas as sextas-feiras

Luísa Opina

12
Jan24

118 - Falemos de Saúde

Luísa

Como até os mais distraídos saberão, assistimos, mais uma vez, ao caos total nas Urgências dos nossos hospitais e a esperas que seriam anedota se não fossem tão graves – sete horas para casos graves, a sério?

Assistimos, também, ao usual “lavar de mãos” por parte de quem nos (des)governa ou espera vir a fazê-lo em breve. São os argumentos usuais, é do frio (ou do calor, consoante a época do ano), as pessoas vão desnecessariamente às Urgências, há um surto de gripe (ou qualquer outra coisa, real ou não) e, o meu favorito e estreia absoluta, “a culpa é dos hospitais privados”! Pois, o PCP nunca desilude...

Ora vamos por partes.

Uma coisa que me chama sempre a atenção quando se discutem os problemas da Saúde em Portugal é o modo como a nossa esquerda – que, lembro, nos (des)governou em 20 dos últimos 27 anos – aborda a questão. A grande frase é sempre, explícita ou implicitamente, temos de salvar o SNS.

Na minha ingenuidade, sempre pensei que um sistema de saúde nacional existia para cuidar da saúde da população, ou seja, era um meio para atingir um fim. Mas parece que estava enganada, o fim é precisamente o dito SNS, tudo o resto é fogo de vista. O que explica a campanha permanente contra o privado, incluindo a extinção de parcerias sempre que possível.

Ou seja, público e privado são vistos como inimigos mortais envolvidos numa luta até à morte do Bem contra o Mal e não como dois elementos que se podiam complementar – e de que maneira – para cuidar de todos nós.

Podíamos, por exemplo, aproveitar o exemplo de outros países e ter uma espécie de cheque saúde. Mas não como o cheque dentista! A ideia é muito simples, o Governo cria uma tabela com valores para consultas, exames de todo o tipo, operações, etc.

Assim, se alguém precisa de uma consulta ou de outra coisa, em vez de estar à espera, vai onde quiser e o Estado “comparticipa” o seu custo. Sim, na maioria dos casos o utente teria de pagar a diferença, mas sempre é bem melhor do que pagar a totalidade porque não é atendido pelos serviços que sustenta com os seus pesadíssimos impostos.

Pequeno detalhe, a mesma tabela era aplicada nos serviços públicos, sempre ajudava a fazer umas contas decentes e comparativas.

Mais ainda, isto encorajaria médicos a abrirem consultórios em terras mais pequenas ou até em bairros residenciais, uma vez que a base potencial de clientes passaria a ser bem maior. Imaginem o que isto faria pelos muitos portugueses que nem médico de família têm!

Passemos ao ponto seguinte, o aumento da afluência devido ao frio, calor, etc., e que traz sempre consigo o cenário apocalíptico de ambulâncias paradas junto aos hospitais, às vezes durante horas, porque não há macas disponíveis para que lhes devolvam as suas.

Francamente! Isto dura há anos e ainda não houve tempo – ou vontade – para investir num stock de macas a serem usadas nestas situações? Podiam, até, ser de um modelo “mais leve”, digamos, com menos extras e tudo isso. É que mesmo assim seriam preferíveis ao que se passa agora. E não me falem do custo, há certamente muito onde se pode cortar para esta tão necessária despesa. Além disso, já pensaram no custo do agravamento do estado de saúde – ou morte – de quem não recebe uma ambulância porque esta está retida?

Quanto ao muito repetido argumento de as pessoas irem desnecessariamente às Urgências, até pode ser verdade, e é-o, certamente, mas, qual é a alternativa? Mesmo quem tem médico de família só dificilmente lhe pode aceder fora das consultas marcadas – e boa sorte com estas! Postos médicos? Pois, além de raros, muitos partem do princípio de que não se adoece durante a noite...

Há cada vez mais seguros e empresas a oferecerem pacotes com consultas ao domicílio – e não só – por valores até muito razoáveis, mas nem todos os podem pagar ou sabem, até, da sua existência.

Sim, há a Linha Saúde 24. Só que, na minha opinião, esta podia e devia fornecer serviços adicionais. Por exemplo, um site que conteria as dúvidas que originam mais telefonemas e as respetivas respostas. Começariam por estas e depois iam alargando o conteúdo de modo a torná-lo a primeira ferramenta de consulta de quem acha que há um problema ou tem apenas uma dúvida.

E porque não incluir no site um Avaliador de Sintomas? Vejo muitos em sites de grande qualidade de outros países, nomeadamente Austrália e Reino Unido, mas em Portugal só encontrei o da Médis. Sim, não substitui uma consulta com um médico a sério, mas é um bom primeiro passo para quem tem sintomas vagos e receia que representem algo grave. E como inclui sugestões de tratamento para coisas menores, evitaria muitas das tais idas desnecessárias às Urgências.

Só mais um ponto. Fala-se muito que as pessoas consultam a Internet para problemas de saúde e que os sites que frequentam nem sempre são fiáveis. E eu concordo totalmente. Só que, em vez de criticarem, que tal criarem um local como deve ser, feito com a colaboração de médicos das várias áreas?

Mais uma vez, podia começar pequeno e ir aumentando. E não estou a falar de uma enciclopédia médica, apenas de algo simples que satisfaça a curiosidade de quem ouviu falar de uma doença e não sabe o que é ou de quem está um pouco preocupado com os seus sintomas e imagina o pior.

Não sei se há mais em Portugal, mas só encontrei este guia Saúde A-Z da CUF. E este do Brasil, do Hospital Einstein, Guia de doenças e sintomas.

Curioso, não é, serem de privados? É que no Reino Unido, o equivalente deles do SNS – o NHS – tem um, Health A to Z...

Enfim, enquanto uma boa parte da classe política – e não só - continuar a ter uma visão esquizofrénica da nossa saúde continuaremos a assistir a caos, mortes indevidas e agravamento de situações que seriam facilmente resolvidas se fossem tratadas a tempo e horas.

Repito, não interessa, ou não devia interessar, quem fornece um serviço, só importa que ele exista.

Boa saúde – vão precisar...

Para semana: Para uma inclusão a sério Que tal devolver à palavra da moda o seu verdadeiro significado?

03
Nov23

108 - Já não há bom senso?

Luísa

Devido a alguns factos desta última semana decidi não fazer o tema anunciado e tratar de dois outros assuntos, Israel e o SNS.

Comecemos por Israel. Estou cada vez mais chocada com comentários que ouço um pouco por todo o lado, alguns vindos até de pessoas que conheço pessoalmente e que julgava detentoras de um mínimo de bom senso. O principal é que “Israel deve entregar os territórios ocupados, só assim haverá paz”, frase essa também muito usada por aquela “boa gente” que se manifesta na Europa a favor dos palestinianos. Só que, pelos vistos, andam distraídos e ainda não repararam que o principal “território ocupado” é... Israel!

Ou seja, para ter paz, Israel deve eliminar-se do mapa e, para fazer face à segunda exigência dos “ocupados”, obrigar os seus cidadãos a suicidarem-se em massa para que “não fique um único judeu naquela região”.

E se acham que exagero, aconselho-vos a ouvirem as entrevistas com o líder do Hamas, e não só, ainda ontem esteve na televisão a dizer precisamente isso, e, lembro, este movimento foi eleito para o governo dos territórios palestinianos precisamente com esta agenda.

Curiosamente, não vemos manifestações em massa a exigir a libertação dos reféns, apesar de alguns serem cidadãos europeus ou, no mínimo, com dupla nacionalidade. É que pelos vistos os “civis inocentes” de que tanto ouvimos falar não nascem todos iguais, os que foram raptados são maus, os que protegem os criminosos que os raptaram são bons.

E por falar em civis, não é estranho que comentadores e analistas passem a vida a falar em crimes de guerra por Israel atacar zonas civis mas que nada digam por o Hamas as usar como base para os seus ataques? Usar escudos humanos não é contra o direito internacional? Mais ainda, com tantos quilómetros de túneis, se o Hamas está tão preocupado com os “milhares” – números deles, lembro – de mulheres e crianças que estão a ser mortas, porque não lhes dão abrigo nos seus túneis? Ou porque não as encoraja a irem para o sul da Faixa de Gaza, onde não tem havido ataques? Pois...

E lá temos a ONU e esse Sr. Guterres com condenações – curioso, também eles nada disseram até agora sobre reféns e escudos humanos – e, claro a pedir milhões para ajuda humanitária, a serem entregues, claro está, ao Hamas como legítimo representante do povo palestiniano.

E, último detalhe, o hospital de Gaza está para entrar em rotura total há vários dias, mas afinal ainda está a funcionar, o seu pessoal até tem tempo para publicar nas redes sociais...

O que me leva ao segundo assunto, a saúde. Ou antes, ao caos em que se encontra e às negociações e finca-pé dos vários sindicatos de enfermeiros e médicos. Atendendo a que saem todos os dias notícias pavorosas sobre o que se passa nos hospitais e sobre o fecho de Urgências a torto e a direito, acham que é a altura melhor para falarem em salários, redução do horário de trabalho e carreiras? Que tal um pouco de bom senso na escolha da altura para negociar? Ou será que se querem aproveitar da confusão para insinuar que se vos derem tudo o que pedem a situação melhorará logo?

Francamente, considero isso um verdadeiro insulto a quem vê uma boa fatia do que tanto se esforça a ganhar ir sustentar toda essa pesadíssima máquina do SNS e sem receber nada em troca. Mas parece que não contamos para nada exceto ir abrindo os cordões à bolsa, cada vez mais vazia.

Adorei ouvir uma sindicalista falar da justeza da redução do horário de 40 para 35 horas semanais porque “queremos poder equilibrar vida profissional e pessoal”. E as horas que fazem no privado, em suplemento do horário oficial, essas não interferem com a vida pessoal?

Sim, é muito bonito quererem mais equilíbrio nas suas vidas. Mas sabem o que é que as pessoas que vos sustentam querem? Viver! Não é viver à grande ou com tempo livre, é, muito simplesmente, continuarem vivas.

Mais ainda, querem saber que se tiverem um problema de saúde ou se um seu familiar o tiver serão atendidos e bem tratados, em vez do que acontece agora que nem se sabe onde há uma Urgência aberta. Ou, se estiver para nascer um bebé, que haverá um sítio onde isso possa acontecer em segurança. Sim, o hospital de Gaza tem problemas, mas há uma guerra ali. Qual é a vossa desculpa?

O grande engano é a ideia de que precisamos de um Sistema Nacional de Saúde público. Não! Precisamos, isso sim, de um SNS que cumpra os seus deveres, independentemente de quem o faz. Ou seja, que tal o governo definir quanto paga por cada caso que vai às Urgências – uma tabela, claro, dependendo do que se passa – e por cada parto realizado e deixar que o utente escolha onde vai, seja público ou privado? Aposto que com esta comparticipação muitos, se não todos os hospitais privados abririam uma secção de Urgências, além do mais ajudariam a rentabilizar equipamento e instalações.

Mas isto é anátema para a nossa esquerda, não querem um SNS que funcione, querem apenas um que seja público. Já agora, que fatia do aumento anual de custos com a saúde se deve à roubalheira das carreiras? Sim, roubalheira, somos o único país que premeia pessoas – pessoas, não, funcionários públicos – por passarem anos a fazer sempre a mesma coisa.

E se realmente há falta de médicos ou se os atuais acham que estão mal no público e querem sair, à vontade, importem-se de outros países, esses, sim, são migrantes que nos interessam. Com controlo, claro, mas a Ordem dos Médicos teria um prazo curto para avaliar as suas habilitações – semanas e não meses ou anos. Aqui o grande argumento que tenho ouvido é que “muitos não falam português.” Pois, têm capacidade para tirar medicina e não conseguem aprender uma língua? E, como dizia um velhote algures numa zona interior onde puseram um médico “importado” que ainda mal falava a nossa língua, “quero lá saber o que ele fala, o que eu quero é ter médico”.

E o nosso governo, em vez de tentar, no mínimo, remediar o que não funciona, anda a gastar horas e horas a negociar com quem deixou o sistema chegar a este estado. Mas são funcionários públicos, ou seja, eleitores cativos da esquerda e, como tal, merecem todo o seu respeito e consideração.

É o que se chama ter o sentido das prioridades!

Para semana: Os impostos baixam...  Quem diria! E nem estamos em abril...

24
Mar23

76 - Lá em casa, todos bem!

Luísa

Começo por um pequeno comentário, apesar de o título ser o de uma série com o Raul Solnado, a inspiração veio mais de um filme, “Stanno tutti bene”, com Marcello Mastroiani, em que um pai decide ir visitar os filhos, espalhados pela Itália, e, apesar da tremenda encenação que todos lhe apresentam, acaba por descobrir que tudo o que pensava saber sobre eles era apenas isso, teatro.

E nessa área, o nosso governo podia ensinar-lhes umas coisinhas.

Por exemplo, o SNS, o tal que está ótimo e recomenda-se, só tem um outro pequeno problema... mas nada de especial. E isto é repetido à saciedade, apesar de diariamente haver notícias de Urgências fechadas ou a abarrotar, de diretores que se demitem, de todo o tipo de problemas – pelo que percebi, o Santa Maria esteve até sem refeições suficientes para os pacientes!

Mas está tudo bem, sobretudo agora que acabaram com muitas das PPP. Curiosamente, hospitais que funcionavam lindamente nessa época, agora, que são totalmente públicos, estão um caos. Já só falta dizer, como o têm feito noutras áreas, que a culpa é do Passos ou, melhor ainda, do Cavaco.

Mas adiante, passemos ao “filho” seguinte.

O Sr. Costa anunciou, radiante, que nunca tinha havido tão poucos inscritos no Rendimento Social de Inserção. Seria de facto uma notícia ótima, se os que saíram o tivessem feito por terem conseguido, finalmente, estar inseridos na sociedade. Mas será mesmo assim?

Vejamos, o dito RSI já está a fazer 27 anos. Ou seja, como nunca houve limite ao número de anos que uma pessoa o pode receber, isso significa que muitos dos que entraram nos primeiros tempos estão agora em idade de reforma. Resumindo, saíram do RSI para passar a receber a reforma dita social! Que bom, é mesmo uma ótima notícia para os bolsos dos portugueses!

A única vantagem deste anúncio é que, pelo menos, goza de originalidade, é que o seu antecessor costumava “embandeirar em arco” com a entrada de mais gente para o dito RSI, coisa que, diga-se de passagem, nunca entendi. Devemos mesmo ficar contentes por haver mais gente a não fazer nada e a receber dinheiro dos nossos impostos?

E venha agora o filho Ensino. Perante o cenário selvagem, sim, selvagem, a que assistimos atualmente, o que faz o Governo? Continua a dizer que ensino público é que é bom, a falar com os “grevistas” e a contemporizar em datas de avaliações e tudo o mais.

Perante esta guerra aberta por interesses de classe – pelo menos já deixaram de dizer que lutam pela qualidade da educação – não era altura de entrar em vigor o celebérrimo e tão criticado cheque educação? Mais ainda, liberalizando ao mesmo tempo e totalmente a escola que um aluno pode frequentar, desde que haja vagas.

Como o dinheiro é afeto ao aluno e não à escola, as que não atraíssem gente suficiente tinham um ano para alterar a situação ou fechavam com despedimento de toda a gente.

Mas não, o ensino está ótimo... e até está, se a intenção é criar semianalfabetos que caem em todas as mentiras e inverdades (estes termos não são totalmente sinónimo) e que, acima de tudo, não sabem pensar por si e analisar problemas e situações.

Filho seguinte, a Justiça. Ficámos a saber que Portugal está preparado para pôr em ação a ordem do TPI para a prisão de Putin. Fantástico! Entretanto, o assassino do polícia à porta de uma discoteca continua a monte e nem pedido à Interpol houve, pelo menos que eu saiba. E isto para não falar nos muitos outros casos que aguardam há anos, muitas vezes apenas para se ter o aval de uma decisão judicial – como as dívidas incobráveis, por exemplo, enquanto não há o documento continuam a fazer parte das contas anuais da empresa, apesar de esta bem saber que nunca recuperará o dinheiro. Mas estamos preparados para prender o Putin, ou seja, estamos bem e recomendamo-nos.

E vamos ao penúltimo filho, a habitação. Falei disso na semana passada, mas acrescento agora uma pequenina coisa. É que, de acordo com quem nos governa, o aluguer compulsivo foi um projeto do mau do Cavaco! Só que não foi. O que se pensou fazer na altura tinha unicamente a ver com prédios em mau estado, pior ainda, em risco, de que o Estado tomaria conta caso o proprietário não quisesse ou não pudesse fazer as obras necessárias para o preservar – mas só isso.

Para último, fica o melhor filho, a economia. Ou, mais especificamente, o enorme aumento que estão a sofrer bens essenciais. Passámos por várias fases, desde uma Ministra da Agricultura preocupadíssima com o preço das cebolas a projetos extremamente vagos de pôr um limite superior nos preços e sabe-se lá que mais, medidas fabulosas que iriam imediatamente garantir a falta de uma série de produtos no mercado e o regresso em força do mercado negro. Última versão? Talvez, note-se bem, talvez baixar o IVA de alguns alimentos.

Ou seja, como sempre, uma mão cheia de coisa nenhuma, mas tudo muito bem anunciado como resposta a “pequeninos” problemas que, ou não têm grande peso ou, caso o tenham, são... adivinharam, culpa do Passos ou do Cavaco, culpa do capitalismo, da guerra na Ucrânia, do Alojamento Local, enfim, de tudo menos deste Governo. E como poderia este ter culpa fosse do que fosse quando “lá em casa está tudo bem”?

Para semana: O patriarcado A propósito da demissão da primeira-ministra da Nova Zelândia

07
Out22

53 O público é que é bom!

Luísa

Numa altura em que se recomeça a falar em privatizar a TAP, em que os problemas dos hospitais públicos continuam e há inúmeros alunos do ensino público sem professores acho que é altura de falar da dicotomia entre público e privado.

Para a nossa esquerda, e não só, falar em setor privado é pior do que falar do diabo na Idade Média. Ouvindo-os, fica-nos a ideia de que a esmagadora maioria dos problemas que nos afligem se resolviam se passasse tudo para o setor público. Repare-se que evitam cuidadosamente o termo “nacionalizar”, mas a intenção básica é a mesma dos “belos tempos” do pós 25 de abril.

Tentam, também, vender-nos a ideia de que o país pouparia imenso dinheiro se todos os serviços fossem fornecidos exclusivamente pelo setor público.

Eu até entendo, muitos são, foram ou sonham ser políticos de profissão, ou seja, uma versão glorificada do funcionário público. E uma grande parte dos que assim falam pertencem – ou pertenceram – ao dito setor público.

E é aí que está o grande problema.

Ora vamos por partes, começando pelo Ensino. Sempre que há uma greve nesse setor – e são mais que muitas – lá vem a conversa da “qualidade do ensino”, de as crianças serem o futuro do país, etc. Mas, na prática, resume-se tudo à simples exigência de mais dinheiro e regalias e, acima de tudo, de eliminar o setor privado que esse, sim, funciona e bem.

Lembram-se das parcerias que alguns estabelecimentos tinham com o Estado, permitindo aos pais pagar apenas uma parte das propinas e permitindo, assim, a sua abertura a setores mais desfavorecidos? Pois, tanto fizeram que acabaram com a esmagadora maioria, mesmo quando a escola pública da zona era mesmo muito má – mas esta ficou aberta, claro, e a funcionar nos mesmos moldes!

Falar em cheque educação é, mais uma vez, como falar do diabo numa época em que este metia pavor a todos. O facto de que o sacrossanto Estado não gastaria mais com este sistema não os afeta. Nem o pequeno detalhe de que, assim, as escolas más teriam de fechar, fossem públicas ou privadas.

E já repararam que as escolas privadas nunca fecham só porque faltou alguém do pessoal auxiliar?

Não, a solução é sempre a mesma, só ensino público e turmas mais pequenas. E isto apesar de não ter funcionado a favor dos alunos nas célebres escolas primárias que fecharam por falta estudantes. Vi até um caso em que um rapazinho tinha já feito três anos da primária sozinho com a professora e, coitado, mal sabia expressar-se e denotava uma total falta de conhecimentos de tudo.

Mas o público é que é bom!

Passemos à saúde onde, mais uma vez, a intenção, declarada ou não, é ter um setor totalmente público. E porquê? Bom, pela saúde dos portugueses não é certamente. É que sempre que falam de falta de meios – leia-se, de pessoal – a impressão que fica é que esses meios só faltam porque não os gerem como deve ser.

Veja-se o caso dos partos, tão badalado – pelas razões erradas – nas últimas semanas.

Basicamente, pretende-se que esteja sempre de serviço uma equipa completa de especialistas. A sério? Quantos partos difíceis há por mês? Ou até por ano? Não seria um melhor aproveitamento de recursos ter médicos, digamos, normais, ou até internos a acompanharem a situação, chamando o especialista apenas caso a situação o justificasse? Assim já haveria meios para todos.

Veja-se o pânico gerado por um hospital, penso que o S. João do Porto, ter usado internos “contra as regras”. E se a grávida desse à luz na ambulância dos Bombeiros? Ou até no carro da família enquanto procurava um hospital que tivesse os meios “certos”? Era melhor?

Já agora, porque é que a triagem das Urgências não é feita por um interno? Com o apoio, claro, de um médico, caso se justificasse. Se não são capazes de o fazerem, o que é que aprenderam em tantos anos de estudo?

Mais ainda, porque não podemos escolher o nosso médico de família, seja do SNS ou não, pagando-lhe o Estado um valor previamente acordado por cada consulta? Este sistema existe, com grande êxito, em vários países, aliviando assim a sobrecarga do serviço público que fica mais virado para casos complicados e que exigem recursos não facilmente disponíveis no privado.

Mas falar em otimizar o uso de recursos no SNS é pecado capital porque... pois, já sabem, o público é que é bom!

Lembram-se também do pânico quando houve a privatização dos CTT? Curiosamente, semanas antes tinham vindo a lume vários casos em que carteiros tinham sido apanhados a roubar o conteúdo de cartas e encomendas ou as tinham muito simplesmente deitado ao lixo. Mas uns CTT privados seriam um perigo para a santidade da correspondência!

E terminemos com a TAP. Quando Passos Coelho falou em vender a parte que o Estado ainda tinha dessa transportadora, chamaram-lhe tudo e mais alguma coisa. Houve abaixo-assinados, ouvimos comentadores, jornalistas, políticos e muitos outros a berrarem que “o país precisa da TAP”. Estranhamente, nunca ouvi ninguém esclarecer porquê.

Essa venda iria ser feita numa altura propícia para um negócio desse tipo.

Bom, veio a geringonça e anunciou, com pompa e circunstância, que não só não iria vender o que o Estado ainda tinha, conseguira até negociar a compra da parte anteriormente vendida. É claro que proclamaram que tinha sido um ótimo negócio! E foi-o, para quem vendeu.

E agora, após centenas de milhões de euros de prejuízos e numa conjuntura altamente desfavorável, vêm os mesmos falar em vender. Concordo, claro, mais vale perder dinheiro de uma vez do que passar as próximas décadas com esse sorvedouro agarrado a nós. Mas duvido que se venha a concretizar, as forças da reação já estão a aguçar as facas e, muito francamente, quem quer uma companhia falida, endividada até à medula e cheia de pessoal habituado a fazer greves por tudo e por nada?

Muito francamente, devíamos era obrigar os do tal abaixo-assinado e os defensores acérrimos do “só o que é público é bom” a comprar a dita TAP e a mantê-la em funcionamento. Mas bem podemos esperar sentados, ou antes, deitados numa caminha confortável.

 

Para semana: O assédio sexual é sempre assédio? Mais um tema muito “na moda”, mas com enormes restrições...

02
Set22

48 - E o problema é o aborto nos EUA!

Luísa

Quando anunciei este tema na semana passada não podia adivinhar a terrível pioria que esta situação ia sofrer, com a morte totalmente evitável de uma grávida. E as reações ao sucedido são bem ilustrativas do muito que está errado com o nosso sacrossanto Sistema Nacional de Saúde, o tal que é tão bom e que tem de ser salvo a todo o custo – pior ainda, que tem de ser o único disponível.

Mas vamos por partes.

Já há anos que se sabe que o atual SNS não resulta, pior ainda, que há medida que o tempo passa terá tendência para piorar. Os seus custos estão a tornar-se incomportáveis e o fortíssimo espírito corporativista de médicos, enfermeiros e funcionários públicos em geral impede qualquer reforma real. Sim, estamos sempre a ouvi-los falar na “melhoria do sistema” mas, analisadas as propostas, resumem-se sempre ao mesmo: mais dinheiro e mais regalias para eles.

Ora o grande argumento para os atrasos e não funcionalidade do SNS é sempre o mesmo, “falta de pessoal”. A sério? Com exceção do Mónaco e de S. Marinho, Portugal é o país com mais médicos, 5 por cada 1000 habitantes. Até a Alemanha e a Suíça têm menos, apenas 4.

Ou seja, dando a informação por 100 mil habitantes, como é usual, temos 566,8 médicos e, já agora, 774,4 enfermeiros – repito, por 100 mil pessoas.

Por isso, não, o problema não está na falta de pessoal, está sim, repito, nas falhas básicas do sistema do nosso funcionalismo público, que, esse sim, é único no mundo, e não no bom sentido.

Refiro-me, claro está, às famigeradas “carreiras”. Em qualquer outro país – e no setor privado – carreira implica uma mudança de funções, mediante uma avaliação e a existência de uma vaga no escalão seguinte. Mas para nós, basta ficar quietinho, a fazer sempre o mesmo toda a vida, e a chamada “progressão” vai acontecendo, mesmo que a pessoa seja péssima no que faz.

Quanto do orçamento de um hospital público é desperdiçado, sim, é o termo correto, com os acréscimos de salários devidos às carreiras do pessoal da limpeza e outro que nada tem a ver com cuidados médicos? Mais ainda, que proporcionam serviços que sairiam bem mais baratos e, já agora, melhor executados, se fossem entregues a empresas contratadas mediante concursos periódicos.

Depois, não nos esqueçamos que todo o pessoal do SNS tem o seu salário garantido – pois é, o Estado nunca vai à falência – e a tempo e horas e que não podem ser despedidos, nem que sejam do piorio. Note-se que durante a pandemia, quando empresas foram forçadas a fechar as portas ou a pagar apenas um terço do salário a quem não podia trabalhar, os funcionários públicos, esses, ficaram em casa com o salário por inteiro.

Sim, há falta de médicos em muitas zonas de Portugal, mas não porque não os há, apenas porque não querem ir para onde são precisos. E, francamente, isso sempre me fez confusão. Não há uma regra que diz que um funcionário público pode ser transferido até uma determinada distância (penso que 60 km) do seu local de trabalho usual? Porque não é invocada?

Pior ainda, temos a travagem que a Ordem dos Médicos põe à vinda de médicos de outros países que, na sua maioria, não se importariam nada de ir para o interior, muitos até o prefeririam. Não advogo que entre qualquer um que diga ser médico, teria de haver regras, claro, mas a situação atual é intolerável e muito provavelmente ilegal face à legislação europeia.

Junte-se a isso a luta da mesma Ordem contra a criação de novos cursos de medicina, mesmo em Universidades com renome em todas as áreas que cobrem, como é o caso da Católica, e fica-nos a dúvida: afinal, o que é que a Ordem dos Médicos quer? Não é certamente a nossa boa saúde!

Reparem nas reações à mais do que atrasada demissão da Ministra. Para os sindicatos, o importante é que o próximo ministro “entenda” o SNS e as preocupações dos seus trabalhadores. Para a Esquerda, bom, novo apelo a que se ponha fim ao setor privado e se “salve” e reforce o SNS. Nem uma palavra de ninguém, nem sequer do nosso sempre pronto a comentar Presidente, sobre tentar melhorar o acesso à saúde ou os serviços prestados.

Já agora, quantos dos que berram que “público é bom, privado é mau” vão ao privado quando têm problemas de saúde? Ora aí está um bom tema para um jornalista empreendedor (e com coragem...).

Que tal passarmos a fornecer serviços médicos aos portugueses, venham eles de onde vierem? É que, de acordo com a Constituição, tão usada quando é conveniente, “Compete ao Estado garantir o acesso de todos os cidadãos, independentemente da sua condição económica, aos cuidados da medicina preventiva, curativa e de reabilitação”.

Será que quem berra contra o privado já pensou no que aconteceria se este não existisse e fôssemos todos parar ao SNS? Aposto que não.

Para mim, a situação miserável do nosso sistema de saúde só se resolve criando sinergias entre público e privado. Ou seja, se o Governo decidir quanto paga por cada procedimento médico, seja consulta, tratamento ou operação, e cada hospital, centro médico e clínica, seja público ou privado, receba isso – e apenas isso – a multiplicar pelo número de atuações feitas num mês. Assim, os utentes poderiam ir onde houvesse vagas e os estabelecimentos públicos teriam de começar a rentabilizar a sério instalações e pessoal – porque não alugar as salas de operações a privados, quando não estão a uso, por exemplo?

É claro que há despesas adicionais, e não são poucas, e os serviços públicos teriam de ser compensados por elas. Mas sem carreiras ou alcavalas desse género, que são um sugadouro sem fim do dinheiro público.

Mais ainda, uma análise pormenorizada do pessoal médico e de enfermagem existente em cada local e, os que estivessem a mais, ou aceitavam uma transferência para as tais zonas com falta de pessoal ou seria despedimento com justa causa em que teriam de indemnizar o empregador – ou seja, todos nós – nos termos da lei.

E não, não se trata de querer que o SNS dê lucro, como ouvimos à nossa tão douta Esquerda que, pelos vistos, não entende a diferença entre minorar prejuízos e exigir lucros. O que todos queremos, ou devíamos querer, é ver os nossos tão pesados impostos a serem usados, de facto, para nos melhorar a vida.

Como última nota, repararam na discrepância entre o alarido provocado pela decisão do Supremo Tribunal dos EUA sobre o aborto e os quase sussurros em relação aos inúmeros problemas que as grávidas estão a ter em Portugal para dar à luz? Não esqueçamos que, pouco antes da morte de há uns dias houve uma outra grávida que teve de ser levada do Seixal para as Caldas da Rainha para poder ter a criança!

Para a semana: Alugueres, o problema impossível? – Haver casas para alugar e rendas acessíveis são mesmo problemas impossíveis?

24
Jun22

38 - Eutanásia salvará o SNS?

Luísa

Assistimos recentemente à aprovação na Assembleia da República da chamada Lei da Eutanásia, com a habitual confusão à mistura, de ambos os lados do tema.

Começo por dizer que sou totalmente contra a eutanásia e totalmente a favor da morte medicamente assistida. É que, ao contrário do que se ouve por aí, os dois conceitos não representam a mesma coisa, como expliquei no meu post Os falsos sinónimos.

Resumidamente, a morte medicamente assistida tem lugar quando uma pessoa está gravemente doente e em sofrimento, a ponto de a medicamentação de a medicamentação só funcionar a níveis que a deixam inconsciente a maior parte do tempo e pouco lúcida no restante. A eutanásia tem lugar quando a pessoa se acha em sofrimento físico ou psicológico e decide que não quer continuar a viver, mas por uma razão ou por outra não quer ou não pode pôr fim à sua vida.

Como exemplo, há uns anos houve inúmeros casos de pessoas com SIDA que pediram a eutanásia, e que a conseguiram legal ou ilegalmente, por não aguentarem saber que tinham os dias contados e que os passariam em grande sofrimento. O problema é que pouco depois houve grandes evoluções na área médica e, se não tivessem recorrido à dita, teriam tido uma vida longa e em bom estado de saúde.

Sei que retiraram do texto a expressão “doença mortal” que era, no mínimo, absurda. Sem contar que nascer é uma doença mortal, o que é que isso significa? Se me diagnosticam com um tipo de cancro com alta taxa de mortalidade, posso ir a correr pedir a eutanásia ainda antes de sentir sintomas graves? É que muito francamente, ouvindo os argumentos a favor desta lei posso concluir que a vida é minha e que tenho todo o direito de querer evitar o sofrimento.

Não tenho a menor dúvida de que muitas pessoas sofrem, fisicamente ou não, e desejam a morte como solução para esse sofrimento. E agora mais do que nunca, nesta sociedade que andamos a criar e onde se tenta quase “proibir” que se sofra, seja de que modo for. Mas se analisarmos bem a questão vemos que em muitas dessas situações esse sofrimento poderia ser muito minorado tomando algumas medidas.

Não me refiro apenas aos cuidados paliativos, que são escassíssimos e sem grande garantia de qualidade. Falo também da atitude da sociedade em geral e das famílias em particular perante pessoas com doenças permanentes, idosos a perderem capacidades, etc. Quantas vezes ouvimos dizer, “aquilo nem é vida nem é nada, se fosse eu, preferia morrer”? E acham que as pessoas a quem se referem não o ouviram centenas de vezes?

Outra expressão muito usada é, “não quero ser um fardo para ninguém”. Mas, porquê um fardo? É que muitas situações dessas derivam não da incapacidade da pessoa para cuidar de si mas da total falta de apoios que aliviem um pouco a tarefa de quem as tem a seu cargo.

É muito bonito ouvir dizer que a eutanásia só pode ser pedida por alguém com mais de 18 anos, são de espírito e consciente do seu pedido e depois de uma opinião médica. Ou seja, esperamos anos por uma cirurgia, meses por uma consulta de rotina, mas se for para a eutanásia já é rápido? E já agora, será que os autores da lei pensaram nas pressões, conscientes ou não, que familiares e amigos exercem sobre quem sofre de determinadas doenças ou incapacidades e que os levam a achar a morte preferível à sua situação atual?

Um exemplo muito usado é de pessoas com paralisia total e que vivem há anos totalmente dependentes de terceiros. Em vez de as lastimarmos e de lhes acenarmos com a eutanásia como saída airosa dessa vida monótona, não seria melhor dedicarmos recursos e ideias a tornarmos a sua existência mais plena e rica? Os meios existem, veja-se o caso do Stephen Hawkins – ora aqui está um bom candidato à eutanásia, em vez da cadeira sofisticada e do computador que podia manipular com os olhos, pois bem, deixe-se numa cama ou num cadeirão o dia todo sem qualquer controlo sobre o que faz ou vê!

E as crianças? Curiosamente, ninguém fala nisso. Sim, menores de 18 anos não podem pedir a eutanásia, mas nada se diz sobre pais a pedirem para os filhos que nascem com problemas graves, dos tais que ouvimos dizer “mais valia não ter nascido” ou algo similar. Sabem, aquelas situações em que se ouve muito falar na qualidade de vida, ou falta dela, etc.

A questão é que também aqui as coisas têm evoluído muito. Veja-se o caso da paralisia cerebral. Até há uns anos, pensava-se que essas crianças sofriam de um imenso atraso mental – veja-se o filme australiano de 1984 Annie's Coming Out - Uma razão para viver. Veio-se depois a descobrir que muitas têm uma inteligência normal, estão é presas num corpo que não reage da maneira certa. E que com fisioterapia e cuidados especiais, muitas tinham uma longa e útil vida pela frente, não sendo pois as “coitadinhas” que diziam.

O problema disto tudo é que soluções custam dinheiro e recursos ao passo que o recurso à eutanásia tem o efeito oposto, poupa-se muito em tratamentos, cuidados, etc. Parece cru? Sim, mas não deixa de ser verdade, sobretudo com um SNS como o nosso, sobrecarregado, a rebentar financeiramente, que nem as pessoas normalmente saudáveis consegue assistir quando têm algum problema, muito menos quem precise de cuidados especiais continuados e, na maior parte das vezes, de custo elevado.

E há outro aspeto de que ninguém fala, é que a triste realidade desta nossa sociedade facilitista é que o grande objetivo da maioria é, como disse acima, evitar todo o sofrimento, seja de que tipo for. Hoje em dia, sofrer é como pecar na Idade Média, algo vergonhoso que não queremos para nós e a que nos incomoda imenso assistir. E por isso, em vez de minorarmos o sofrimento ou, muito simplesmente, aprendermos a viver com um certo nível dele e desfrutar à mesma da vida, preferimos acabar com tudo.

Já agora, recomendo a leitura do artigo de Jaime Nogueira Pinto no Observador intitulado À falta de vida boa, a boa morte (cortesia do Estado): https://observador.pt/opiniao/a-falta-de-vida-boa-a-boa-morte-cortesia-do-estado/

Uma última nota, sou uma fervorosa adepta de uma boa morte e de a pessoa a poder escolher livremente. Mas a eutanásia não é a resposta. Se quiserem saber mais sobre o assunto, leiam o post da próxima semana, Viver bem para morrer bem.

Para a semana: Viver bem para morrer bem – tratar a morte como o que nunca devia ter deixado de ser, uma parte integral de viver

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