47 - A eterna praga dos incêndios!
Para variar, estamos novamente em plena época de incêndios, devastadores para as populações dessas áreas e para o país em geral.
E voltamos a ver pessoas sem a menor formação para isso a tentarem ajudar no seu combate, numa tentativa desesperada de salvarem pelo menos parte dos seus bens. E voltamos a ouvir a eterna conversa de falta de meios, de dificuldades de acesso, de falhas do sistema de comunicações, de suspeitos de fogo posto detidos, enfim, um vira o disco e toca o mesmo que, infelizmente, já se arrasta há anos.
Para mim, uma das causas desta triste situação está no que eu chamo, por falta de um termo melhor, de “preconceitos” de quem nos governa, da comunicação social em geral e da usual gente bem pensante.
Ora vamos por partes.
Vim para Portugal já em plena década de 80 e só algum tempo depois comecei a prestar atenção a este problema recorrente. Ora nos primeiros anos em que acompanhei o assunto, a culpa dos incêndios era claríssima para políticos, jornalistas e comentadores em geral: os madeireiros!
Sim, esses repelentes capitalistas pagavam para que incendiassem florestas a fim de poderem comprar a madeira ardida por baixíssimo preço. Provas? Nenhumas, obviamente. O que não impediu que se gastasse imenso dinheiro a criar parques para essa madeira, comprada com o dinheiro dos contribuintes, claro, para além de um sem fim de regras e leis.
Curiosamente, os incêndios continuaram, chegando até a surgir em zonas já quase totalmente ardidas e onde qualquer aproveitamento do que sobrevivesse seria de lucro mais do que duvidoso.
Culpado seguinte? Os eucaliptos! Da maneira como falavam, quase dava a sensação de que entravam em combustão espontânea, pegando fogo a tudo e mais alguma coisa. Houve o usual choro e ranger de dentes, queria-se a proibição geral e imediata do seu cultivo – apesar do seu fortíssimo contributo para a economia deste país – enfim, histeria até dizer chega.
Estranhamente, ninguém chamou a atenção para o pequeno detalhe de que eucaliptais privados, pertencentes a empresas de papel ou a quem para elas vendia, não ardiam, isto apesar de ficarem muitas vezes totalmente cercados de matas públicas, que, essas sim, ardiam totalmente, com ou sem eucaliptos.
Mas, em vez de tentar perceber porquê, ver o que essas empresas faziam para impedir a catástrofe, preferiu-se restringir o dito eucalipto.
Infelizmente, a catástrofe continuou a repetir-se, ano após ano, com gravíssimas consequências, incluindo mortos e feridos. E, espanto dos espantos, muitos desses incêndios eram em zonas onde nem eucaliptos havia!
Mas continua a perdurar a ideia de que os fogos surgem “por obra e graça do Espírito Santo” e, mais recentemente, com a ajuda do aquecimento global, ou antes, das alterações climáticas, apesar de surgirem, na sua maioria, de madrugada – que, como todos nós sabemos, é o período mais quente do dia...
E continua-se a falar em ordenamento do território e limpeza das florestas e compram-se a preço de ouro meios aéreos antiquados e nada adequados ao nosso país – primeiro, os célebres Kamov, agora uns Canadair, que até são ótimos, se forem bem escolhidos. Mas, na prática, nada se faz.
Veja-se a limpeza de florestas e matos. Os privados fazem-no, que remédio, apesar de muitos não terem forças para isso e, mesmo que pudessem pagar, o que é muito duvidoso, dificilmente arranjariam quem o fizesse por eles. Mas, e o que é do Estado?
Bem sei que a maior parte desse tipo de terrenos está nas mãos de pequenos proprietários, só que têm muitas vezes por perto terrenos que são públicos e que são deixados ao abandono.
Lembro-me do caso de um casal algures no norte que tinha uma floresta pública mesmo junto às traseiras da sua propriedade. Começou a exigência da limpeza de matos, fizeram-na no que era seu, só que tinham mato altíssimo mesmo junto ao seu muro – uma pequena faísca e de nada lhes valeria terem cumprido as regras. Após inúmeras tentativas, em vão, de resolução do caso, optaram por limpar uma faixa de 3 metros junto ao muro. Pois bem, aí já houve celeridade, surgiu logo a GNR a multá-los por terem “cortado coisas” em terras públicas!
Os acessos são outro problema perene. Mas se uma Câmara, uma Junta, tentar abrir caminhos como deve ser, caem-lhes logo em cima porque estão a estragar a natureza e a dar acesso fácil aos incendiários – sim, pelos vistos, não haver acessos tem-nos impedido de atear fogos!
Junte-se a isso, como o meu pai sempre dizia e alguém lembrou recentemente, que o mapa de zonas de alerta máximo serve, basicamente, para que os ditos incendiários saibam onde poderão operar com o máximo sucesso.
Para mim, há algumas medidas que urge tomar.
Primeiro, abrir o acesso a matos e florestas. Havendo caminhos e locais preparados para piqueniques ou mero descanso, como há, nomeadamente, na Alemanha, a população da zona começa a ver esses terrenos um pouco como seus, como algo de que pode desfrutar. Sem contar que o trabalho dos bombeiros fica muito mais facilitado.
Mais ainda, porque não voltar a uma prática medieval que voltou a estar na moda em Inglaterra e que é a criação de porcos nas florestas? Como são animais inteligentes, basta criar estruturas para colocação de alguma ração nas bordas das ditas, tocando uma sineta diariamente à mesma hora, e eles surgem logo a correr. No resto do dia, procuram alimento por conta própria, revolvendo o mato e matando-o eficazmente.
Segundo, no seguimento do que disse no post anterior, a criação de pequenas albufeiras ou reservatórios para água da chuva, e não só, que possam também dar apoio ao combate a incêndios, evitando assim as longas deslocações e esperas para que os carros de bombeiros se possam abastecer.
Terceiro, a compra de meios aéreos adequados ao tipo de incêndios que temos e a responsabilização pessoal (e financeira) de quem tem tomado as catastróficas decisões que todos conhecemos.
Quarto, e importantíssimo, a profissionalização total dos bombeiros. Sim, há sempre lugar para a existência de bombeiros voluntários, mas como complemento de um grupo nuclear profissional. Podia, por exemplo, funcionar em paralelo com o serviço militar, dando uma outra opção similar.
E, como as populações acabam sempre por ter de participar ativamente no combate a incêndios nas zonas em que residem, que tal dar-lhes também alguma formação nessa área? Assim, seriam bem mais eficazes e correriam muito menos perigo. Haveria ainda a vantagem de poderem fazer o chamado apoio de retaguarda, deixando as frentes ativas para quem o faz profissionalmente.
Temos ainda os incendiários e as “penas suficientes”, segundo alguém do atual Governo. Pois, as penas são tão graves que a maioria dos detidos são mais do que reincidentes. E, atenção, detido não significa condenado, há sempre a falta de provas... Como um jovem que há uns anos foi apanhado três vezes, de madrugada, a andar de mota muito perto da zona onde estava a começar um grande incêndio e nada lhe aconteceu, estava só a passear...
E caso não o saibam, o jovem que ateou um grande incêndio na Madeira, em que morreu gente, foi condenado em 2017 a 14 anos de cadeia, o que significa que deve estar a sair, pronto para outra.
Só mais um detalhe, como a vigilância florestal seria economicamente incomportável, que tal pormos as nossas Forças Armadas a acamparem durante o verão em várias zonas do país? Teriam um acampamento base em cada uma dessas áreas, de onde sairiam diariamente em patrulha diurna – e, sobretudo, noturna. Faziam exercício, apanhavam ar puro e contribuíam para o bem-estar do país que os sustenta. E podiam, até, testar o uso de drones para vigilância.
Para a semana: E o problema é o aborto nos EUA! – A decisão do Supremo dos EUA é mais importante que não haver onde dar à luz em Portugal...