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Luísa Opina

Neste blogue comentarei temas genéricos da nossa sociedade. Haverá um novo texto todas as sextas-feiras

Neste blogue comentarei temas genéricos da nossa sociedade. Haverá um novo texto todas as sextas-feiras

Luísa Opina

20
Jan23

68 - Respeito

Luísa

Nas manifestações que os professores têm andado a fazer, a palavra mais ouvida tem sido “respeito”. Segundo parece, os ditos senhores professores exigem ser respeitados. E eu até concordaria, se o merecessem.

Façamos uma pequena análise do nosso sistema educativo e do muito que tem mudado nas últimas décadas, infelizmente para pior.

Com a injeção enorme de alunos no pós-25 de abril, havia dois caminhos a tomar. Manter o nível de exigência, com exames e reprovações, ou alinhar na teoria do “coitadinho” e dar todo o tipo de facilidades. É claro que seguimos o caminho mais fácil.

Mas o grande problema com esta escolha é que quanto menos se exige às pessoas menos estas querem fazer, é um facto da nossa natureza humana. E entrámos, assim, alegremente numa espiral descendente em que se foram reduzindo currículos, se “estupidificaram” matérias para serem acessíveis a todos e se cortou, sem dó nem piedade, em tudo o que parecesse ser uma avaliação, “para não traumatizar as criancinhas”, que vão, assim, seguindo de ano para ano sem terem as muito necessárias bases em português e matemática, sobretudo.

E o resultado está à vista, jovens que entram para a universidade sem saberem interpretar um texto (ou uma pergunta), que acham sempre tudo muito difícil e trabalhoso, que consideram os estudos uma interrupção indesejável da distração a que se acham com direito e, acima de tudo, que não sabem pensar nem têm o menor sentido crítico perante o que ouvem ou leem. O que, diga-se de passagem, é o sonho de certas cores políticas, quanto mais ignorantes, mais caem em promessas ocas!

E por muito que digam o contrário, estas manifestações e greves não são em defesa do ensino. Aliás, os cartazes são muito claros, defendem, isso sim, o ensino público. Ou seja, os seus tachos. É que como funcionários públicos, para além de outras regalias que não existem no privado, como as famigeradas carreiras, não podem ser despedidos. Sabiam que há professores públicos que o continuam a ser mesmo após cumprirem pena por pedofilia contra alunos seus? Quanto muito ficam sem dar aulas, mas têm direito às mesmas promoções e benesses dos colegas e os anos (em casa) vão contando para a reforma.

Uma das grandes queixas que temos ouvido é que ganham pouco. Para além do facto de que um salário é sempre pequeno para quem o recebe, será que já fizeram as contas a quanto ganhariam se estivessem no privado? Aposto que era bem menos – pelo menos não vemos filas de professores a quererem ir para o privado, mesmo os que não fazem parte do quadro e que chegam a esperar anos pela hipótese de virem a ser funcionários públicos.

E nunca ninguém fala do grande filão a que muitos têm acesso, as explicações. Sabiam que há explicadores especializados no ensino primário e logo a partir da primeira classe? Já agora, se tem filhos em idade escolar ou amigos que os tenham, faça um pequenino inquérito, basicamente, quantos desses explicadores passam recibo pelas chorudas quantias que recebem. E se acredita que mesmo sem recibo declaram esses ganhos às Finanças, bom...

Como estamos sempre a ouvir dizer que os nossos professores do ensino público são o máximo, a única explicação possível é que as criancinhas portuguesas são muito, mas mesmo muito burras... Curiosamente, se forem para o ensino privado, essa burrice passa-lhes num ápice. É que com o balúrdio que os pais pagam, exigem resultados e ali não há emprego de pedra e cal.

Se houvesse manifestações e greves quando um deles é agredido por um aluno ou por pais de alunos, teriam todo o meu apoio. Mas quando se dá um caso desses, infelizmente cada vez mais frequentemente dada a impunidade de quem o pratica, os sindicatos ficam calados ou emitem apenas um comunicado a que chamar inócuo já seria muito.

Por isso está na altura de pegar na palavra destes manifestantes e exigir respeito. Sim, respeito pelos pais dos alunos e, acima de tudo, por todos os pagantes de impostos, tenham ou não filhos em idade escolar, que sustentam toda esta pesadíssima máquina a troco de nada – é que se querem que os filhos aprendam têm de arranjar maneira de os pôr no ensino privado ou, solução um pouco mais económica, pagar-lhes explicações para aprenderem o que deviam aprender nas aulas.

E, já agora, é mais do que altura de termos uma avaliação a sério dos professores – outra coisa que não lhes agrada. É que o que existe atualmente não o é claramente, é feita meramente entre eles. E nós, que lhes pagamos, temos o direito de exigir provas de que são conhecedores e competentes.

Isto para não continuarmos a ouvir professores a gabarem-se na televisão de que não sabem usar um computador. Ou vermos uma professora de português a dizer que todos os professores deviam ter a classificação de excelente!

Perante tudo isto, é mais do que tempo de implementar o cheque educação, o grande papão destes manifestantes. E após a sua entrada em vigor, escolas públicas que fiquem sem alunos suficientes para garantir a sua viabilidade económica, por serem péssimas, pois bem, que fechem as portas, com as devidas consequências para o seu pessoal.

É que, parafraseando a Catarina, sim, a do BE, “leiam a Constituição”. É que esta não diz que "o Estado tem de garantir ensino público para todos”, diz apenas “ensino para todos”. E, pequeno detalhe para a guerra contra a municipalização das escolas, a mesma Constituição diz também que as comunidades (entre outros intervenientes) têm o direito de ajudar a definir a política de educação.

Para semana: TAP e quejandos. Quanto é que andamos a gastar com empresas destas e a troco de quê?

07
Out22

53 O público é que é bom!

Luísa

Numa altura em que se recomeça a falar em privatizar a TAP, em que os problemas dos hospitais públicos continuam e há inúmeros alunos do ensino público sem professores acho que é altura de falar da dicotomia entre público e privado.

Para a nossa esquerda, e não só, falar em setor privado é pior do que falar do diabo na Idade Média. Ouvindo-os, fica-nos a ideia de que a esmagadora maioria dos problemas que nos afligem se resolviam se passasse tudo para o setor público. Repare-se que evitam cuidadosamente o termo “nacionalizar”, mas a intenção básica é a mesma dos “belos tempos” do pós 25 de abril.

Tentam, também, vender-nos a ideia de que o país pouparia imenso dinheiro se todos os serviços fossem fornecidos exclusivamente pelo setor público.

Eu até entendo, muitos são, foram ou sonham ser políticos de profissão, ou seja, uma versão glorificada do funcionário público. E uma grande parte dos que assim falam pertencem – ou pertenceram – ao dito setor público.

E é aí que está o grande problema.

Ora vamos por partes, começando pelo Ensino. Sempre que há uma greve nesse setor – e são mais que muitas – lá vem a conversa da “qualidade do ensino”, de as crianças serem o futuro do país, etc. Mas, na prática, resume-se tudo à simples exigência de mais dinheiro e regalias e, acima de tudo, de eliminar o setor privado que esse, sim, funciona e bem.

Lembram-se das parcerias que alguns estabelecimentos tinham com o Estado, permitindo aos pais pagar apenas uma parte das propinas e permitindo, assim, a sua abertura a setores mais desfavorecidos? Pois, tanto fizeram que acabaram com a esmagadora maioria, mesmo quando a escola pública da zona era mesmo muito má – mas esta ficou aberta, claro, e a funcionar nos mesmos moldes!

Falar em cheque educação é, mais uma vez, como falar do diabo numa época em que este metia pavor a todos. O facto de que o sacrossanto Estado não gastaria mais com este sistema não os afeta. Nem o pequeno detalhe de que, assim, as escolas más teriam de fechar, fossem públicas ou privadas.

E já repararam que as escolas privadas nunca fecham só porque faltou alguém do pessoal auxiliar?

Não, a solução é sempre a mesma, só ensino público e turmas mais pequenas. E isto apesar de não ter funcionado a favor dos alunos nas célebres escolas primárias que fecharam por falta estudantes. Vi até um caso em que um rapazinho tinha já feito três anos da primária sozinho com a professora e, coitado, mal sabia expressar-se e denotava uma total falta de conhecimentos de tudo.

Mas o público é que é bom!

Passemos à saúde onde, mais uma vez, a intenção, declarada ou não, é ter um setor totalmente público. E porquê? Bom, pela saúde dos portugueses não é certamente. É que sempre que falam de falta de meios – leia-se, de pessoal – a impressão que fica é que esses meios só faltam porque não os gerem como deve ser.

Veja-se o caso dos partos, tão badalado – pelas razões erradas – nas últimas semanas.

Basicamente, pretende-se que esteja sempre de serviço uma equipa completa de especialistas. A sério? Quantos partos difíceis há por mês? Ou até por ano? Não seria um melhor aproveitamento de recursos ter médicos, digamos, normais, ou até internos a acompanharem a situação, chamando o especialista apenas caso a situação o justificasse? Assim já haveria meios para todos.

Veja-se o pânico gerado por um hospital, penso que o S. João do Porto, ter usado internos “contra as regras”. E se a grávida desse à luz na ambulância dos Bombeiros? Ou até no carro da família enquanto procurava um hospital que tivesse os meios “certos”? Era melhor?

Já agora, porque é que a triagem das Urgências não é feita por um interno? Com o apoio, claro, de um médico, caso se justificasse. Se não são capazes de o fazerem, o que é que aprenderam em tantos anos de estudo?

Mais ainda, porque não podemos escolher o nosso médico de família, seja do SNS ou não, pagando-lhe o Estado um valor previamente acordado por cada consulta? Este sistema existe, com grande êxito, em vários países, aliviando assim a sobrecarga do serviço público que fica mais virado para casos complicados e que exigem recursos não facilmente disponíveis no privado.

Mas falar em otimizar o uso de recursos no SNS é pecado capital porque... pois, já sabem, o público é que é bom!

Lembram-se também do pânico quando houve a privatização dos CTT? Curiosamente, semanas antes tinham vindo a lume vários casos em que carteiros tinham sido apanhados a roubar o conteúdo de cartas e encomendas ou as tinham muito simplesmente deitado ao lixo. Mas uns CTT privados seriam um perigo para a santidade da correspondência!

E terminemos com a TAP. Quando Passos Coelho falou em vender a parte que o Estado ainda tinha dessa transportadora, chamaram-lhe tudo e mais alguma coisa. Houve abaixo-assinados, ouvimos comentadores, jornalistas, políticos e muitos outros a berrarem que “o país precisa da TAP”. Estranhamente, nunca ouvi ninguém esclarecer porquê.

Essa venda iria ser feita numa altura propícia para um negócio desse tipo.

Bom, veio a geringonça e anunciou, com pompa e circunstância, que não só não iria vender o que o Estado ainda tinha, conseguira até negociar a compra da parte anteriormente vendida. É claro que proclamaram que tinha sido um ótimo negócio! E foi-o, para quem vendeu.

E agora, após centenas de milhões de euros de prejuízos e numa conjuntura altamente desfavorável, vêm os mesmos falar em vender. Concordo, claro, mais vale perder dinheiro de uma vez do que passar as próximas décadas com esse sorvedouro agarrado a nós. Mas duvido que se venha a concretizar, as forças da reação já estão a aguçar as facas e, muito francamente, quem quer uma companhia falida, endividada até à medula e cheia de pessoal habituado a fazer greves por tudo e por nada?

Muito francamente, devíamos era obrigar os do tal abaixo-assinado e os defensores acérrimos do “só o que é público é bom” a comprar a dita TAP e a mantê-la em funcionamento. Mas bem podemos esperar sentados, ou antes, deitados numa caminha confortável.

 

Para semana: O assédio sexual é sempre assédio? Mais um tema muito “na moda”, mas com enormes restrições...

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