68 - Respeito
Nas manifestações que os professores têm andado a fazer, a palavra mais ouvida tem sido “respeito”. Segundo parece, os ditos senhores professores exigem ser respeitados. E eu até concordaria, se o merecessem.
Façamos uma pequena análise do nosso sistema educativo e do muito que tem mudado nas últimas décadas, infelizmente para pior.
Com a injeção enorme de alunos no pós-25 de abril, havia dois caminhos a tomar. Manter o nível de exigência, com exames e reprovações, ou alinhar na teoria do “coitadinho” e dar todo o tipo de facilidades. É claro que seguimos o caminho mais fácil.
Mas o grande problema com esta escolha é que quanto menos se exige às pessoas menos estas querem fazer, é um facto da nossa natureza humana. E entrámos, assim, alegremente numa espiral descendente em que se foram reduzindo currículos, se “estupidificaram” matérias para serem acessíveis a todos e se cortou, sem dó nem piedade, em tudo o que parecesse ser uma avaliação, “para não traumatizar as criancinhas”, que vão, assim, seguindo de ano para ano sem terem as muito necessárias bases em português e matemática, sobretudo.
E o resultado está à vista, jovens que entram para a universidade sem saberem interpretar um texto (ou uma pergunta), que acham sempre tudo muito difícil e trabalhoso, que consideram os estudos uma interrupção indesejável da distração a que se acham com direito e, acima de tudo, que não sabem pensar nem têm o menor sentido crítico perante o que ouvem ou leem. O que, diga-se de passagem, é o sonho de certas cores políticas, quanto mais ignorantes, mais caem em promessas ocas!
E por muito que digam o contrário, estas manifestações e greves não são em defesa do ensino. Aliás, os cartazes são muito claros, defendem, isso sim, o ensino público. Ou seja, os seus tachos. É que como funcionários públicos, para além de outras regalias que não existem no privado, como as famigeradas carreiras, não podem ser despedidos. Sabiam que há professores públicos que o continuam a ser mesmo após cumprirem pena por pedofilia contra alunos seus? Quanto muito ficam sem dar aulas, mas têm direito às mesmas promoções e benesses dos colegas e os anos (em casa) vão contando para a reforma.
Uma das grandes queixas que temos ouvido é que ganham pouco. Para além do facto de que um salário é sempre pequeno para quem o recebe, será que já fizeram as contas a quanto ganhariam se estivessem no privado? Aposto que era bem menos – pelo menos não vemos filas de professores a quererem ir para o privado, mesmo os que não fazem parte do quadro e que chegam a esperar anos pela hipótese de virem a ser funcionários públicos.
E nunca ninguém fala do grande filão a que muitos têm acesso, as explicações. Sabiam que há explicadores especializados no ensino primário e logo a partir da primeira classe? Já agora, se tem filhos em idade escolar ou amigos que os tenham, faça um pequenino inquérito, basicamente, quantos desses explicadores passam recibo pelas chorudas quantias que recebem. E se acredita que mesmo sem recibo declaram esses ganhos às Finanças, bom...
Como estamos sempre a ouvir dizer que os nossos professores do ensino público são o máximo, a única explicação possível é que as criancinhas portuguesas são muito, mas mesmo muito burras... Curiosamente, se forem para o ensino privado, essa burrice passa-lhes num ápice. É que com o balúrdio que os pais pagam, exigem resultados e ali não há emprego de pedra e cal.
Se houvesse manifestações e greves quando um deles é agredido por um aluno ou por pais de alunos, teriam todo o meu apoio. Mas quando se dá um caso desses, infelizmente cada vez mais frequentemente dada a impunidade de quem o pratica, os sindicatos ficam calados ou emitem apenas um comunicado a que chamar inócuo já seria muito.
Por isso está na altura de pegar na palavra destes manifestantes e exigir respeito. Sim, respeito pelos pais dos alunos e, acima de tudo, por todos os pagantes de impostos, tenham ou não filhos em idade escolar, que sustentam toda esta pesadíssima máquina a troco de nada – é que se querem que os filhos aprendam têm de arranjar maneira de os pôr no ensino privado ou, solução um pouco mais económica, pagar-lhes explicações para aprenderem o que deviam aprender nas aulas.
E, já agora, é mais do que altura de termos uma avaliação a sério dos professores – outra coisa que não lhes agrada. É que o que existe atualmente não o é claramente, é feita meramente entre eles. E nós, que lhes pagamos, temos o direito de exigir provas de que são conhecedores e competentes.
Isto para não continuarmos a ouvir professores a gabarem-se na televisão de que não sabem usar um computador. Ou vermos uma professora de português a dizer que todos os professores deviam ter a classificação de excelente!
Perante tudo isto, é mais do que tempo de implementar o cheque educação, o grande papão destes manifestantes. E após a sua entrada em vigor, escolas públicas que fiquem sem alunos suficientes para garantir a sua viabilidade económica, por serem péssimas, pois bem, que fechem as portas, com as devidas consequências para o seu pessoal.
É que, parafraseando a Catarina, sim, a do BE, “leiam a Constituição”. É que esta não diz que "o Estado tem de garantir ensino público para todos”, diz apenas “ensino para todos”. E, pequeno detalhe para a guerra contra a municipalização das escolas, a mesma Constituição diz também que as comunidades (entre outros intervenientes) têm o direito de ajudar a definir a política de educação.
Para semana: TAP e quejandos. Quanto é que andamos a gastar com empresas destas e a troco de quê?