145 - Clima, ambiente e não só
Já falei do clima anteriormente, nomeadamente em É o clima, onde faço referência a um dos meus primeiros posts, também sobre o assunto, O céu está a cair. Não me vou repetir, este post tem outras intenções, digamos.
Pensei em escrevê-lo quando dei por mim, um dia destes, a sentir saudades dos climáticos e das suas parvoíces, perdão, das suas muito lógicas ações contra a tão badalada catástrofe climática – bom, adorava que alguém me explicasse em que é que atirar tinta à Mona Lisa ou a Stonehenge ajudam uma causa, seja ela qual for!
Mas depois ocorreu-me que, como bons filhotes esquerda caviar que são, devem ter ido de férias. Como sou uma otimista nata, imaginei de imediato inúmeros cenários em que esses tão empenhados jovens estariam a usar este seu período de lazer a bem do planeta.
Por exemplo, indo para as muitas aldeias meio abandonadas do nosso interior rural para restaurarem as poucas casas ainda habitadas de modo a torná-las “mais sustentáveis”, outra expressão que lhes é muito cara. Só quem nunca visitou familiares ou conhecidos numa dessas povoações desconhece o que são aquelas habitações após décadas – ou mais – sem manutenção.
De verão as coisas nem sempre são muito más, sobretudo em zonas em que a construção recorreu a muros espessos de pedra, mas de inverno faz tanto – ou mais – frio lá dentro como cá fora, graças ao mau estado dos telhados, fendas nas paredes, janelas que vedam pessimamente, enfim, mil e um modos de deixar entrar frio e vento.
Passei uns bons momentos a imaginá-los a calafetarem paredes e a repararem telhados, a usarem a mesada para pôr janelas de vidros duplos e, acima de tudo, uns painéis solares que permitissem usar um aquecedor elétrico em vez de uma lareira ou fogão a lenha – enfim, o ideal para quem quer salvar o planeta, pensemos em toda a lenha que deixava de ser queimada, com os seus fumos nocivos! Sem falar nas famosas dioxinas que, aparentemente, só são más quando são produzidas na tão contestada coincineração.
Mais ainda, como muitos se dizem, no mínimo, vegetarianos, poderiam, também, ensinar todos aqueles idosos a fazer agricultura biológica, a única sustentável, segundo dizem – isto independentemente do facto de eu ter quase a certeza de que os ditos jovens nunca cultivaram nada na vida...
Mas isso não é problema, o YouTube tem, certamente, inúmeros vídeos sobre o assunto, esperemos é que sejam mais credíveis do que muitos dos “factos” que os queridos climáticos debitam!
Um belo sonho... mas como todos os sonhos, altamente improvável, o mais certo é estarem a divertir-se algures, a ir a festivais de música – serão sustentáveis? – e muitas outras atividades de lazer, voltando aos protestos quando as férias acabarem.
O que me leva ao ambiente e à falta de sentido crítico com que muitos leem notícias. Por exemplo, tem circulado no Facebook uma petição sobre elefantes, porque, segundo diz, “são abatidos 20 000 todos os anos”. Atendendo a que em 1960 havia apenas 600 000 em África, a este ritmo, como é que ainda resta algum?
Este é um dos muitos exemplos do modo como autodenominados ambientalistas tratam assuntos sérios. Como a desflorestação da Amazónia, umas simples continhas mostram que, a fazer fé no que dizem há décadas sobre o seu ritmo, a dita floresta já teria desaparecido há vários anos.
Atenção, não deduzam de tudo isto que sou contra a proteção do ambiente, muito pelo contrário, aliás nos posts que citei menciono algumas medidas que, na minha opinião, percam por tardias, como albufeiras para reter água da chuva em excesso que seria depois usada para minorar os efeitos de secas.
E por falar em água, falou-se muito da sua falta no Algarve, atribuída, claro está, a campos de golfe, turismo, cultivo de frutos importados, etc. Ora um estudo da DECO – que não pode, de modo algum, ser considerada antiambientalista – diz que as fugas na rede de abastecimento de água daquela região totalizam 15 milhões de metros cúbicos, dariam para abastecer quase metade das famílias que ali residem.
Curiosamente, não vi ninguém a exigir a reparação urgente das condutas para evitar este desperdício e os problemas que isso traz para toda a região. Pois, não é tão mediático como berrar pela eliminação dos campos de golfe...
Outra coisa que me intriga, num país onde se fala tanto em energias alternativas, é não terem sido tomadas medidas nesse sentido ao nível mais baixo. Fala-se em grandiosas centrais solares – se os ecologistas de serviço não protestarem, como no Alqueva – mas que tal exigir que prédios novos tenham painéis solares nos telhados? Para uma grande construtora o acréscimo de custos seria bem menor do que para um mero particular e sempre era uma boa utilização de um espaço que agora não serve para nada.
O mesmo para estádios de futebol. Será que já fizeram as contas ao custo/benefício de porem os ditos na cobertura das bancadas? Aposto que chegavam para a maior parte do consumo, excluindo, muito possivelmente, as luzes em dia de jogo noturno.
Acima de tudo, o que mais me intriga em toda esta conversa sobre ambiente e clima é a total falta de ênfase dada a evitar desperdícios e consumos inúteis – exceto a velha história da torneira a pingar e da televisão ou computador em stand-by.
Aposto que os queridos climáticos têm um telemóvel de última geração e que já passaram por inúmeros modelos – e passarão por muitos mais nos próximos (poucos) anos. Isso não é o tal consumismo que tanto condenam? E nem sequer vou falar em roupas e isso, o importante é “andar na moda”, nem pensar em usar coisas do ano anterior! Ou em segunda mão...
Ou seja, em vez de tantos protestos e exigências grandiosas, que tal fazer uma boa campanha contra todo o tipo de desperdícios e um regresso a hábitos de poupança que, grande novidade, não têm nada a ver com fascismo, como dizem, mas sim com zelar pelo futuro: o nosso e o do planeta.
Bom, como o post já vai longo, falarei de aldeias ecológicas noutra altura. Mas sabiam que há uma no Alentejo, chamada Tamera?
Para a semana: Seria chocante... se não fosse usual. De idosos em casas-lixeira a pessoas