164 - A "querida" esquerda
Como não podia deixar de ser, o primeiro tema deste post é o 25 de novembro, data que a esquerda portuguesa – pelo menos a que se considera como tal – andou 48 anos a tentar deitar no caixote do lixo do esquecimento coletivo com o pretexto de que só os saudosistas a queriam celebrar.
E quem os ouvir falar e não se dê ao trabalho de pesquisar o que se passou, de facto – ou seja, no mínimo uma boa parte da população mais jovem – fica com a ideia de que foi um contragolpe para tentar restaurar a ditadura salazarista ou impor uma parecida. Dizem, também, que querer celebrar tal dia é apenas um modo de tentar achincalhar o 25 de abril e a luta gloriosa pela democracia.
O primeiro problema com este argumento está, precisamente, na “luta pela democracia”. Impera a ideia de que quem luta contra um ditador fá-lo por ser a favor de um regime democrático – daí o apoio Ocidental à Irmandade Islâmica no Egito e aos opositores na Síria.
Infelizmente, na maioria dos casos o único problema que esses lutadores têm em relação à ditadura que combatem é... não ser a deles. Como o PCP a tentar impor, por todos os meios, uma “ditadura do povo” em Portugal e os movimentos que citei acima a quererem um estado islâmico tipo talibãs, sim, esses excelentes democratas
O problema, no nosso caso, é que convenceram muita gente da inocência das suas intenções e ninguém lhes quer apontar o dedo para não ser apelidado de fascista. Tal como se fala muito na PIDE, na censura salazaristas e nas detenções por delito de opinião até 1974, mas nada ou pouquíssimo se diz dos desmandos similares, só que de cor oposta, após o 23 de abril e a que o 25 novembro impôs alguma contenção. Reparem que digo “contenção” e não “termo” porque, infelizmente, tantos anos depois continuam as tentativas de impor modos de pensar “corretos”, de que a atual política de “cancelamento” é o mais recente exemplo.
Não falarei dos discursos, que praticamente não ouvi, mas não resisto a fazer uma breve referência ao BE e ao PAN, dois dos maiores opositores à ideia de celebrar essa data, exceto os comunistas, claro. Terão noção de que só existem graças a isso? Ou acham que o PCP, se ficasse dono e senhor do país, como esperava, permitira a criação de partidos por parte de uns burgueses, ainda por cima endinheirados?
O grande problema é que essa tal esquerda “verdadeira” não desarma nas suas tentativas de se tornarem os únicos “orientadores” do povo. Benévolos, claro, nem que para isso tenham de usar punho de ferro com espigões de aço. E os seus propósitos mantêm-se, como a luta contra o capitalismo – o Ocidental, claro, se for o chamado capitalismo selvagem chinês ou russo tudo bem – e pela nacionalização de tudo e mais alguma coisa.
São, também, ferozmente a favor da livre circulação de pessoas, mas, atenção, não de todas. Por exemplo, “migrantes” do Terceiro Mundo sem qualificações e sem a menor vontade de se integrarem são bem vindos, já turistas, reformados com dinheiro ou estrangeiros ocidentais capazes de se sustentarem ou, até, de criarem empresas, são indesejáveis.
O mesmo se passa com a economia. Os sindicatos, que, na maioria dos casos não passam de extensões desses partidos, passam a vida a fazer greves por mais regalias e direitos para os trabalhadores. Mas impor taxas a produtos vindos de países que espezinham os direitos mais simples é, claro, fascismo. Ou seja, 40 horas de trabalho é um abuso, mas trabalhar 8 horas por dia, 7 dias por semana é aceitável se for num “paraíso do povo”.
Qualquer privatização, então, é pior que vender a alma ao demónio na Idade Média. É que, segundo a dita esquerda, só serviços públicos zelam pelos interesses dos seus utentes, os privados só pensam em fazer dinheiro. E se olharmos à nossa volta não nos faltam exemplos que o comprovam...
Já agora, não seria interessante sabermos quantos professores do ensino público, o tal que é o único bom, têm os filhos no privado? Ou quantos dos que defendem o SNS como sendo o único modelo aceitável, incluindo os nossos exímios deputados de esquerda, nunca lá põem os pés – a menos, claro, que seja o senhor de Belém que, tendo sido levado para um hospital desses, afirmou que foi logo atendido e muito bem! Hum, pelos vistos acha que ser o PR ou um Zé Ninguém é a mesma coisa.
Temos, agora, a “catástrofe climática” como nova arma da dita esquerda que tenta, sobretudo, influenciar os mais novos a enveredarem pela sua política económica “a bem do planeta”. E vemos manifestações contra o uso do carvão, também aqui só no Ocidente – é que, como digo em O céu está a cair, em 2021 a China tinha, em 2021, “apenas” 1082 centrais a carvão e, pelo Acordo de Paris, que tinha subscrito, já devia ter encerrado 680 delas, indo, em vez disso, construir mais 43!
Ou a exigirem só carros elétricos, esquecendo, muito conveniente, a questão da extração do lítio e, acima de tudo, o facto de não se saber o que fazer com as ditas baterias em fim de vida, um problema que já existe e que se avoluma a cada dia que passa.
O mesmo se passa com a censura, contra a qual dizem que lutaram. E o que é a atual linguagem “woke” senão censura encapotada? Basta desagradar a algum desses bom democratas e é-se insultado na praça pública, acusado de fascista e não só, enfim, é uma sorte quando não se perde o emprego ou modo de vida. Mas, ei, não é a má censura do antigamente, é uma censura “boa” que só pretende evitar que as pessoas possam ser expostas a ideias nocivas ou, pior ainda e crime sem perdão, que fiquem ofendidas..
Como última nota, não acham curioso que o partido romeno que venceu a primeira volta das eleições, comunista de gema, seja visto como um partido fascista? Adorava ver o nosso PCP a explicar essa...
Para a semana: Violência doméstica II. Um tema abrangente que é demasiadas vezes tratado de um ponto de vista restrito