56 - Com papas e bolos...
O post desta semana surgiu após uma “promessa” eleitoral de Lula da Silva. Não sigo as eleições brasileiras, acho até bem acertado algo que li sobre a escolha este dia 31 de outubro ser entre “morrer queimado ou morrer afogado”, mas, de passagem por um outro assunto vi este título bem sonante:
“Se for eleito, Lula acabará com a fome e a miséria nas favelas”!
Bom, devemos estar mesmo perto do fim do mundo! É que de acordo com a Bíblia, este evento será precedido da Segunda Vinda de Cristo e, muito francamente, para cumprir uma promessa destas, só se isso já tiver acontecido e Lula não seja quem pensamos que é...
Não que o Brasil tenha o exclusivo de promessas. Mantendo o temo dentro das nossas quatro paredes, não faltam propostas de “dádivas” e benesses de todo o tipo, um verdadeiro bodo aos pobres, ou antes, aos pobres “oficiais” (como explicarei mais adiante).
Durante bastante tempo, este tipo de coisas era praticamente exclusiva de períodos eleitorais e não era exclusiva de um único partido ou cor política. A conversa era sempre a mesma, elejam-nos e instalaremos o Paraíso na Terra! É claro que esse fazedores de promessas nunca explicavam como o iriam conseguir ou, caso se tratasse de uma reeleição, porque não o tinham feito durante o último mandato.
Daí termos o que eu chamo de promessas perenes neste nosso belo jardim à beira-mar plantado. Como as tão famosas “reformas estruturais” que saem do baú mesmo antes das eleições e para ele voltam prontamente até ao período eleitoral seguinte, cada vez mais poeirentas e bafientas e, já agora, sem que cheguem sequer a explicar em que consistem exatamente.
Infelizmente, as coisas pioraram neste aspeto – e não só. É que agora este tipo de discurso aparece em todas as épocas, eleitorais ou não, derramando benesses e acenando com um futuro risonho. Só que, mais uma vez, ninguém faz as tais perguntinhas essenciais e, claro, muitíssimo inconvenientes. Em especial, a mais essencial delas e que é: quem vai pagar isso tudo?
Após tantas “dádivas” generosas começa a haver, felizmente, bastante gente que deixou de acreditar em almoços grátis e que, perante esse tipo de discurso, antecipa imediatamente um aumento de impostos ou a criação de mais uma taxa ou taxinha que recupere todo o dinheiro “dado” e muito mais. Só que não são em número suficiente e uma boa percentagem da nossa população continua a ir atrás do engodo que lhes é posto à frente do nariz.
Vejamos casos recentes.
O primeiro deles é o célebre adiantamento de parte do valor das pensões que foi pago em outubro. Repare-se na habilidade com que a notícia foi sendo dada. Primeiro falaram num reforço de meia pensão. E os que acreditam que o dinheiro cai do céu deliraram, claro. Só que depois veio o esclarecimento: é que esse valor vai sair dos aumentos que deveriam receber em 2023!
Francamente, não entendi! Será que este nosso esclarecidíssimo governo acha que a inflação que se faz sentir agora vai durar apenas um mês? É que, de acordo com analistas sérios, o seu valor irá piorar e bastante nos próximos meses. Ora se as pessoas tinham dificuldade em fazer face às despesas com a sua reforma atual, como será em 2023, com um aumento inferior ao previsto? E lembro que esse valor era de 5 %, ou seja, bem inferior à inflação.
Temos também o célebre apoio de 125 euros (mais os 50 a dependentes com menos de 24 anos). E, mais uma vez, não entendo. Se é para fazer face ao aumento dos preços, francamente, um pagamento único deste montante para pouco serve. E como vai ser pago a 1,6 milhões de portugueses, estamos a falar de 200 milhões de euros – fora o montante correspondente aos tais 50 euros.
Pois é! Estranhamente, ou talvez não, ninguém pergunta de onde vai sair esse dinheiro, o enfoque está só no “vamos receber!”
Que a população – ou uma boa parte dela – se deixe enganar, enfim, até entendo. Mas jornalistas supostamente especializados em notícias económicas? Analistas? Comentadores?
É que, como disse acima, não há mesmo almoços grátis e aquilo que alguns recebem, muitas vezes de modo mais ou menos dúbio, acaba, necessariamente, por sair do bolso de todos nós. Pior ainda, dinheiro gasto neste tipo de pseudo ajudas não fica disponível para coisas bem mais urgentes e úteis para o país.
E porque é que usei o termo dúbio? Bom, isso está ligado à expressão “pobres oficiais” que usei mais acima. É que a classificação de alguém como pobre tem a ver com a declaração dos seus rendimentos às Finanças. Se essa pessoa tiver receitas que não declara, é bem fácil entrar na categoria de pobre apesar de ser tudo menos isso.
E não me refiro apenas a traficantes de drogas e outros criminosos. Há muito boa gente que se considera honestíssima e que, na prática, nos anda a roubar a todos. Pensem nas muitas vezes em que pagaram por um serviço ou biscate – como explicações, limpezas, reparações – sem recibo. Acham mesmo que essa pessoa declarou esse montante às Finanças?
Mas é claro que em época de promessas, época essa que parece ser agora não sazonal, o que muitos gostam de ouvir é a chegada de novas ajudas, subsídios e tudo isso. E acabam sempre por votar em quem mais promete, isto apesar de, bem no fundo, saberem que um dia terão de pagar a conta de tudo isso. E, acreditem, com o muito que tem sido “dado” nos últimos anos, o momento de pagar a muito choruda fatura aproxima-se a passos largos!
Para semana: Afinal, que feministas temos? Ou seja, porque será que as ditas umas vezes reagem tipo bomba atómica e outras nem piam?