206 - Falemos de educação
Começou mais um ano letivo – bom, já há umas semanas, mas entre férias e outros assuntos fui adiando este post. E, espanto dos espantos, tivemos quase a mesma repetição das queixas e problemas de inúmeros anos anteriores, sendo a exceção algo relacionado com o Ensino Superior. Sendo assim, irei tratar da questão sob três vertentes: creches, ensino primário / liceal e universidades.
Começando pelas creches, crescem os protestos de quem não arranja lugar numa do estado e não ganha o suficiente para pôr os filhos num estabelecimento privado. A novidade foi terem surgido afirmações de que estrangeiros, sabe-se lá em que situação de legalidade, estavam a ocupar vagas, deixando de fora crianças filhas de pais portugueses de longa data.
Não irei falar desta questão, apesar de não me admirar nada que seja verdade, limitando-me a sugerir algumas pequenas alterações que garantiriam, isso sim, lugares para quem deles realmente precisa.
Primeiro, as creches do estado seriam apenas para crianças em que os dois pais – sejam eles de que “género” sejam – trabalhem ou para filhos de pais / mães solteiros que tenham a sua guarda exclusiva e trabalhem. É que se um progenitor ou companheiro dele nada faz, como justificam a ocupação de uma das poucas vagas existentes com o seu filhote?
Mais ainda, as ditas vagas estariam vedadas a crianças de agregados familiares que recebem o erroneamente chamado Rendimento Mínimo e pela mesma razão. E sim, sei que uma creche é muito útil para a socialização das crianças, mas enquanto não houver vagas para todas, deve-se dar prioridade a quem precisa desesperadamente de um sítio para deixar os filhos enquanto trabalha e contribui para o nosso país.
É claro que ouvimos, ano após ano, a promessa de criação de mais creches estatais. Só que o seu custo é enorme, graças em grande parte à “carreira” dos funcionários públicos. Até termos acesso a um pote de ouro sem fim, que tal o Governo decidir, zona por zona, quanto gasta com cada criança numa creche, atribuindo-lhe um cheque a ser entregue na creche que viesse a frequentar?
Perante esta ajuda, muitas famílias já poderiam suportar os custos de um estabelecimento privado e, mais ainda, aposto que o número destes aumentaria em flecha...
Passando à escola propriamente dita, anda tudo preocupado com a falta de “mediadores” para os alunos estrangeiros – e pasme-se, estes incluem até as crianças brasileiras que precisam de ajuda para entenderem as aulas!
O chocante é que estamos sempre a ler notícias sobre a falta de apoios para alunos com necessidades especiais, sejam físicas ou outras. Muitos alunos autistas, por exemplo, precisam mesmo de quem os acompanhe e entenda, não sobrecarregando os respetivos professores com algo que está para além das suas funções.
Não seria altura de pormos a ênfase em quem precisa realmente de ajuda e gastar com sensatez os fundos públicos? Quanto aos alunos estrangeiros, tudo bem, haja mediadores ou lá o que são, mas pagos pelos respetivos pais. E com um prazo curto para aprenderem a nossa língua e se integrarem nas aulas sem causarem perturbações no seu andamento regular.
Ou seja, o ónus da adaptação deve estar em quem vem para o nosso país e não o contrário, como se passa atualmente. Podemos, claro, pôr ao seu dispor as ferramentas de que precisam, mas deixando bem claro que não temos a menor obrigação de o fazer e que o seu uso não é gratuito, juntando-lhe, também, penalizações, em apoios e similares, para quem não se adapte dentro de um prazo razoável.
Finalmente, o Ensino Superior, que este ano apresentou novidades em termos das queixas mais ouvidas. É que o tema do dia foi a diminuição no número de alunos que se candidataram – e entraram, claro.
A culpa foi prontamente atribuída ao custo astronómico dos quartos e à falta de residências universitárias. Concordo que pode levar alguns a pensarem duas vezes antes de programarem tirar um curso, mas será esta a única razão?
A questão aqui é que esta baixa em alunos universitários está a ser notada em vários países ocidentais em que os custos são diferentes, sobretudo graças à omnipresença de empréstimos a começar a pagar bem depois dos estudos. O que nos devia levar a uma análise mais profunda do que se passa de facto.
Limitando-nos ao nosso país, passámos rapidamente de uma fase em que quem tinha um curso superior era “rei” para outra em que todo o gato sapato, mais o periquito e o papagaio, tem um curso, na maior parte das vezes com uma utilidade prática nula.
Ora muitos jovens começam a olhar à sua volta e a verem que inúmeros licenciados não arranjam um emprego que considerem à altura da sua dignidade de licenciados. Há quem imigre, mas nem todas as profissões dão para isso e, muito francamente, nunca vi reportagens ou análises a sério sobre o que os nossos jovens emigrados fazem, de facto, lá fora.
Acontece que há inúmeras profissões em que falta gente – eletricistas, por exemplo – e onde se pode ganhar bom dinheiro. Mais ainda, começa a haver uma melhor oferta de cursos profissionais e suspeito que se mais vagas houvesse mais jovens os frequentariam.
Ou seja, em vez de arrepelarmos os cabelos porque há menos jovens nas Universidades devíamos, isso sim, fazer um esforço para lhes dar outras opções profissionais, muitas delas com bem melhores saídas do que muitos dos cursos que vemos por aí. E com tanta conversa sobre os “jovens serem o nosso futuro”, que tal prestar atenção ao que eles realmente querem? É que se calhar “ser doutor” não é bem o que anteveem para si...
Para a semana: Quando é que a Europa acorda? Cedências e decisões idiotas (a Palestina), a passividade perante provocações russas, estamos à espera de quê para começarmos a pensar em nós?
