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Luísa Opina

Neste blogue comentarei temas genéricos da nossa sociedade. Haverá um novo texto todas as sextas-feiras

Neste blogue comentarei temas genéricos da nossa sociedade. Haverá um novo texto todas as sextas-feiras

Luísa Opina

30
Ago25

203 - Vira o disco e toca o mesmo

Luísa

Muitos ainda se lembram, certamente, da célebre “cassete” dos líderes do PCP, estava de tal modo entranhada que nem sequer fingiam estar a dar uma resposta ou a fazer um comentário, debitavam o texto decorado a alta velocidade e num tom monocórdico de fazer adormecer qualquer um.

Pois bem, apesar de não ser exatamente a mesma coisa, há certos temas e situações que levam, inevitavelmente, a respostas automatizadas por parte de políticos, “comentadores” e quejandos. E ainda falam dos perigos da inteligência artificial! Pela minha experiência pessoal garanto-vos que a maior parte desses programas fariam bem melhor figura e seriam muito menos repetitivos.

Um dos assuntos que gera esse tipo de reação é, claro está, o dos incêndios que nos assolam repetidamente, quase sempre com início, misteriosamente, durante a madrugada e que se alastram, em muito pouco tempo, a vastas áreas, muitas delas já vítimas do mesmo em anos anteriores.

E qual é a “cassete” neste caso? Os eucaliptos! Curiosamente, parece escapar a todos esses “especialistas” que os eucaliptais pertencentes a grandes empresas não ardem. Ora perante este “detalhe” não seria de analisar as diferenças entre essas situações para daí tirar conclusões?

Bom, a primeira, é que esses eucaliptais são limpos como deve ser, ou seja, não há toneladas de mato entre as árvores. Depois, são vigiados e têm bons caminhos, ou seja, caso surja um foco de incêndio, é fácil chegar-lhe.

É muito fácil acusar as populações das zonas que ardem de não limparem os terrenos. Mas quantos deles são do Estado, que nada faz? E há quanto tempo ouvimos dizer que faz falta haver atividade produtiva nessas áreas, criação de gado – nomeadamente cabras e porcos – e outras, em vez de as transformar, à força, em reservas naturais que, por falta de meios (outra das “cassetes” usuais) não são devidamente cuidados e patrulhados?

Isto para não falar nos acessos que não existem porque poderão destruir um arbusto ou similar – sim, arder tudo é uma solução bem melhor – e das penas ridículas para os incendiários, isto quando chegam a ser condenados.

Resumindo, em vez da “cassete” dos eucaliptos que tal estudarmos a questão a sério, com verdadeiros especialistas (mas com um prazo, senão daqui a 50 anos ainda estão nisso) para que se resolva ou, no mínimo, minore esta autêntica praga anual. Pequeno pormenor, quando digo especialistas, refiro-me aos autênticos, sem palas partidárias ou enfeudamentos a teorias woke.

Outra “cassete” muito popular atualmente tem a ver com os “migrantes” – muito francamente, não lhes chamarem emigrantes já diz muito sobre o pendor ideológico de quem usa esse termo. Sempre que se protesta contra a política de portas abertas instaurada no nosso país sobretudo sob o “reinado” do Costinha, lá vem a inevitável frase: “estão a esquecer-se dos muitos portugueses que foram ilegalmente para a Europa no tempo do Salazar.”

Muito francamente, em que universo paralelo é que a situação é similar? É que esses portugueses iam à boleia, de bicicleta ou até a pé! Ao passo que os tais “migrantes”, que saem, supostamente, dos seus países porque vivem na miséria, arranjam, espantosamente, milhares de euros para chegarem à Europa – há uns cinco anos, cruzar o Mediterrâneo num bote ficava entre 7 e 10 mil euros. Alguém me explica onde arranjam o dinheiro, por meios honestos, claro está?

Mais ainda, esses portugueses que foram para a França e Alemanha eram, de facto, olhados de lado pelos habitantes locais. Mas só de início, ao fim de muito pouco tempo português passou a ser sinónimo de trabalhador esforçado e engenhoso e alguém que valia mesmo a pena contratar. Podemos dizer o mesmo dos que nos entram agora portas adentro?

Ou seja, para além de errónea, esta é uma “cassete” que insulta os muitos portugueses que foram ganhar a vida, pelo trabalho e não pela criminalidade, em outras terras e que, diga-se de passagem, contribuíram, e de que maneira, para o desenvolvimento do nosso país, não só com remessas de dinheiro mas também com ideias e projetos que implementaram quando regressaram à terra.

Finalmente, a mais do que gasta “cassete” acima citada, a falta de meios, usada para tudo e mais alguma coisa. Atrasos na Justiça? Não há meios. Temos Urgências fechadas, listas de espera enormes no SNS? Pois, falta de meios. Ou seja, qualquer que seja a área de atividade ou o problema, a não resolução deve-se sempre ao mesmo, a já lendária “falta de meios”.

Para além do pequeno detalhe de que parece que temos uma pontaria exímia para escolher os meios errados – por exemplo, nos meios aéreos de combate a incêndios – será mesmo verdade ser essa a razão das coisas não funcionarem ou funcionarem mal?

A suposta falta de médicos, por exemplo. Portugal é o segundo país da UE com mais médicos por 100 mil habitantes (562), sendo batido apenas pela Grécia (629) – a média europeia é 405 (valores do Eurostat). O mesmo se passa com o número de polícias, em que somos o quarto da UE com 451 por 100 mil habitantes – média europeia, 318.

Ou seja, se calhar o problema não está na falta de meios mas, muito simplesmente, em não sabermos utilizá-los de um modo eficaz e eficiente. Por exemplo, quantos polícias estão a exercer funções que nada têm a ver com a sua profissão (motoristas, escriturários, etc.)? Isto para não falar na Polícia Municipal que, na “douta” opinião do Ministério Público, está restrita a passar multas apesar de os seus membros serem polícias a sério.

Enfim, está na altura de pormos de lado estas e outras “cassetes” e começar a olhar para os muitos problemas que afligem o nosso país não à luz de ideologias ou de interesses partidários mas com a vontade firme de os resolver, doa a quem doer.

Para a semana: Falemos de educação. Perante alguns comentários e notícias que li recentemente, é altura de voltar ao assunto.

23
Ago25

202 - O país do tudo ou nada

Luísa

Uma das (muitas) coisas que sempre me intrigaram em Portugal é esta nossa mania de não aceitar, pelo menos oficialmente, coisas a meia haste. Ou seja, se uma obra, um projeto, são complicados e dispendiosos, nem pensar em começar por uma versão básica que se vai melhorando aos poucos. Nunca, mas mesmo nunca, se devem aceitar soluções do tipo “do mal o menos”.

Vamos a uns exemplos, começando pelos inevitáveis incêndios de verão que, curiosamente, são sempre tratados como novidade em vez da praga anual que realmente são.

Sei que, pelo menos este ano, houve corporações de bombeiros citadinos, de zonas bem afastadas dos incêndios, que se ofereceram para ir ajudar. E foram logo recusados com o argumento de que “não sabem combater incêndios florestais”. Ou seja, numa situação, ou antes, em inúmeras situações em que havia uma notória falta de meios humanos, recusa-se a ajuda de profissionais porque não são... os certos.

Curiosamente, tivemos – não sei se ainda cá estão – bombeiros de um dos países bálticos que vieram precisamente porque não estavam familiarizados com este tipo de florestas e queriam alargar as suas competências.

Temos, também, os nossos militares, que só muito raramente são chamados a ajudar. Sim, não são bombeiros, mas há, certamente, inúmeras situações em que seriam um elemento importantíssimo para libertar os profissionais do fogo para o que fazem melhor. Podiam, por exemplo, abrir caminhos – sim, ouvimos, todos os anos, falar da falta de acessos que dificulta o trabalho dos bombeiros. Ou ajudar a evacuar populações, animais, alimento para estes, enfim, um sem número de coisas.

Sem falar no papel importantíssimo que poderiam ter na vigilância para evitar – ou minorar – a existência de incêndios. Se passassem uma boa parte do verão em exercícios nas nossas zonas florestais, com patrulhas noturnas que incluíssem, por exemplo, drones com câmaras de deteção de calor, incêndios e incendiários seriam muito mais facilmente detetados e, sobretudo, bem mais rapidamente. Mas, claro, “não é essa a função deles”.

Vemos, também, todos os anos, populares a tentarem combater as chamas que se aproximam das suas casas e bens, enquanto esperam pela chegada dos profissionais. Ora não seria uma boa ideia dar alguma formação a populações de áreas em risco? Mostrar-lhe como usar os seus esforços de um modo mais eficaz e menos perigoso? Mas é claro que os que mandam rejeitam logo esta opção porque... civis não são bombeiros.

Como último detalhe deste tema, sempre achei que uma boa parte da culpa de tantos incêndios se deve ao tudo ou nada dos ambientalistas. Ao contrário de muitos países europeus, não desfrutamos das nossas zonas florestadas, uma vez que não há caminhos, trilhos para bicicletas, zonas periódicas com assentos e um local para fazer lume, ou seja, elementos que nos façam sentir que a floresta é nossa. Pior ainda, acabaram com muitas atividades em parques nacionais que ajudavam imenso a reduzir o mato – cabras, por exemplo, ou porcos, limpam qualquer terreno em menos de nada.

Passando à saúde, vemos exatamente a mesma atitude em relação à suposta falta de pessoal que leva ao fecho de Urgências, sobretudo na área dos Partos. O grande argumento é que não é possível ter equipas com todas as valências e que a sua não presença poria em perigo as utentes.

Ou seja, ir para um hospital sem uma equipa completa é mais perigoso do que ter uma criança numa ambulância dos Bombeiros – ou na rua, como vimos bem recentemente? Já agora, e no seguimento do post da semana passada sobre dados – ou a falta deles – muito gostaria de saber quantas vezes é que a tal equipa com todas as valências tem de intervir!

Já não falo em criar um curso de parteiras, à semelhança do que se passa em inúmeros países europeus, mas será que as enfermeiras atuais, com o seu curso de cinco anos, não podem lidar com a maior parte dos partos? É claro que isso iria beliscar a “importância” do papel dos médicos...

Muito francamente, acho, há muito, que os hospitais subvalorizam o papel das enfermeiras – já agora, uso o feminino porque é mais tradicional... Agem como se estivéssemos ainda na época em que era um curso bastante curto e não uma licenciatura como o é atualmente. Sem contar que talvez fosse boa ideia criar uma série de cursos de menor duração para funções específicas – bom, quando o Passos Coelho o quis fazer para instrumentistas, ou seja, enfermeiras cuja única função seria cuidar dos instrumentos cirúrgicos e passá-los a quem os pedisse durante uma cirurgia, caíram-lhe todos em cima.

E porque não tornar o curso de medicina – e o de enfermagem – mais práticos, como acontece em vários países em que a parte puramente teórica é bem mais curta, mas o curso só fica concluído após mais uns anos de internato e estudo (com exames). Mas não, a atitude vigente ficou bem ilustrada com o que se passou durante o auge da pandemia, com a indignação gerada por haver alunos do quinto ano de medicina a fazerem triagem.

Ou seja, achamos, como país, que só se deve agir quando estão reunidas todas, mas mesmo todas as condições consideradas ideais. Caso falte alguma... bom, nada se faz porque se poderia pôr em perigo a população. Talvez seja altura de relembrar a velha expressão “o ótimo é o inimigo do bom”. Mas, pensando bem, se fôssemos menos “perfeccionistas” teríamos de nos mexer mais, agir, fazer pela vida... assim, temos uma boa desculpa para a inércia.

Para a semana: Vira o disco e toca o mesmo. Acusava-se o PCP de "usar a cassete", infelizmente não são os únicos.

16
Ago25

201 - Estatísticas, precisam-se

Luísa

Sempre gostei bastante de estatísticas, apesar de nunca me fiar totalmente nelas. Ou antes, na interpretação que muitos fazem dos seus resultados e que são, muitas vezes, “à medida do freguês”. Mais ainda, não nos esqueçamos de que são apenas números e que, sendo assim, o que “dizem” depende imenso dados que lhes dão origem. E, também, que nem sempre dizem o que supostamente representam – por exemplo, os dados sobre criminalidade têm implícito que todos os crimes são denunciados à Polícia, situação que está muito longe de ser verdadeira, ou seja, dizer que baixou ou subiu pode ser verdade mas pode, também, dever-se apenas a uma diminuição ou aumento de participações.

Mas vamos aos factos. Como todos, infelizmente, sabemos, vivemos num dos países mais burocráticos do mundo. Para tudo e mais alguma coisa é preciso preencher uma tonelada de papéis e ir, muitas vezes, a mais de um sítio para, com sorte, obter o que pretendemos. Temos também tido governos de várias cores políticas que se gabavam de ter modernizado o país, informatizando tudo o que, supostamente, o podia ser.

Ligando estes dois pontos, devíamos ter ao nosso dispor estatísticas atualizadíssimas sobre as coisas mais diversas, económicas, sociais, populacionais, enfim, tudinho. Só que a realidade é outra – bom, pelo menos a realidade aparente, como me lembraram num comentário sobre o post da semana passada, é muito possível que os dados até existam algures, mas não estejam disponíveis por razões diversas, quase sempre políticas.

A primeira vez que isso me chamou a atenção foi no governo do Passos Coelho, quando este pediu informações sobre os funcionários públicos, ou seja, quantos trabalhavam em cada secção e o que faziam. Seria de pensar que as receberia no máximo em 24 horas! Puro engano. Disseram-lhe que precisavam de bastante tempo para recolha de dados, este foi passando e nada. Francamente, querem mesmo que acreditemos que ninguém sabe quantos funcionários públicos temos, onde estão colocados e que funções têm?

Mantendo-nos no funcionalismo público, surge de vez em quando uma vaga notícia sobre as faltas anuais dos mesmos, quase sempre associada à ideia de que, coitados, trabalham tanto que entraram em “burnout”, um termo muito querido de sindicados e similares.

Ora como empregadora dessa gente toda – sim, são os meus impostos que lhes pagam ordenados e regalias, sem esquecer as famigeradas “carreiras” – acho-me no direito de querer ver estatísticas no mínimo mensais sobre as faltas dadas e as razões invocadas. Mais ainda, que tal incluir nesses dados o número de faltas dadas às sextas-feiras, segundas-feiras e dias entre um feriado e um fim de semana, ou seja, as pontes? Aposto que seria um leitura muito interessante...

Mudando de assunto, temos, todos os anos – sobretudo nos de eleições – a história dos alunos sem aulas. E também aqui acho extremamente curioso não se saber ao certo – pelo menos é o que dizem – quantos são, que anos frequentam e as disciplinas afetadas. Temos, assim, uma autêntica luta de números que seria cómica se não dissesse respeito ao futuro de crianças e jovens.

Ainda mais estranho é se tivermos em conta que os professores passam a vida a queixar-se das muitas horas que passam semanalmente a satisfazer requisitos burocráticos, ou seja, a preencher papelada. E com tudo isso as escolas deste país e o respetivo Ministério não sabem quantos alunos estão sem aulas num dado momento?

Temos ainda as estatísticas sobre o desemprego, que são um bom exemplo do que disse acima sobre as restrição que lhes são inerentes. É que não nos devemos esquecer que estes valores têm por base a inscrição no Desemprego e / ou num Centro de Emprego. Ora se a pessoa não tiver direito a subsídio ou não precisar da inscrição para outros fins, como o RSI, não se inscreve, pura e simplesmente e não está, oficialmente, desempregada.

É por isso que há países que dão mais ênfase aos valores da criação de emprego por os considerarem mais certos, mas também estes não são totalmente fiáveis uma vez que ignoram, como não podia deixar de ser, a economia paralela que pode, em certos casos, absorver muita gente.

Dito tudo isto, aqui ficam algumas estatísticas que eu gostaria de ver:

- Em relação ao impropriamente chamado Rendimento Mínimo, quantas pessoas têm saído dele por terem, de facto, dado a volta à sua vida e não por terem chegado à idade da reforma, é que só encontro os números de quem está nele.

- As estatísticas acima referidas sobre funcionários públicos: quantos são, por setor e subsetor, o que fazem, pelo menos em teoria, e as faltas mensais, com causa e dia da semana.

- Na criminalidade, a origem dos criminosos e não a sua nacionalidade atual, duração da residência em Portugal e, no caso dos “inquilinos” das nossas cadeias, se as famílias recebem apoio do Estado, ou seja, dos contribuintes.

- Na área escolar, valores atualizados da falta de aulas, com detalhes de anos e cadeiras, rácios de professores e pessoal auxiliar em relação ao número de alunos, faltas mensais do pessoal docente e não docente e dos estudantes.

- Quanto ao emprego / desemprego, há um número que nunca encontrei, à semelhança do que se passa com o RSI, e que é, muito simplesmente, quantas pessoas saem do Desemprego porque arranjaram emprego; mais ainda, ao fim de quanto tempo e como – ou seja, se foi através dos tais Centros de Emprego que, muito francamente, me deixam a ideia de não servirem para grande coisa.

- Já agora, e com tanto choradinho permanente sobre a falta de pessoal nas mais variadas áreas, estatísticas comparativas com o resto da União Europeia sobre o número de pessoal jurídico, médicos, enfermeiros, professores, funcionários públicos e, claro, cargos políticos por cada cem mil habitantes.

Até nem seria difícil... com tanta informatização, é só arranjarem alguém para trabalhar os números que já existem, certamente, algures.

Para a semana: O país do tudo ou nada Será a mania do perfeccionismo ou um modo de adiar tudo para "o dia de são nunca"?

09
Ago25

200 - Aulas de cidadania são precisas

Luísa

Esta semana consegui, finalmente, ir ler os documentos sobre as aulas de Cidadania, colocados na Internet para consulta pública. Para quem estiver interessado, a página principal é esta e contém, por sua vez, dois links, Estratégia Nacional de Educação para a Cidadania (ENEC) e Aprendizagens Essenciais de Cidadania e Desenvolvimento que nos levam a documentos .PDF que podem ser descarregados. Havia também um link para um formulário de contributos / opiniões, mas que caducou em 21 de julho.

E no papel, soa lindamente. Para quem não leu – ou não tenciona ler – o documento, aqui fica um extrato da introdução:

“A Estratégia de Educação para a Cidadania (ENEC) adota uma abordagem integrada e articulada. Primeiro, centrada na  interdependência entre Direitos Humanos, Democracia e Instituições Políticas, Desenvolvimento Sustentável, e Literacia Financeira e Empreendedorismo, enquanto dimensões centrais para uma cidadania ativa e participativa num Estado de Direito e em sociedades justas e sustentáveis. Segundo, integrando ainda temáticas prioritárias, tais como a Saúde, o Risco e Segurança Rodoviária, os Media e o Pluralismo e Diversidade Cultural, de forma a adotar uma visão mais abrangente e completa do exercício pleno de cidadania.”

Soa bem, não é? O problema é que, como Francisco Porto Fernandes lembra no seu artigo no Observador Educação para a Cidadania e a bolha mediática, uma coisa é o que está “no papel”, outra bem diferente é o que se passa de facto nas ditas aulas, dadas, muitas vezes, por professores sem formação na maior parte das áreas que deveriam abordar.

Sem esquecer um pequeno detalhe, é que cada professor pode abordar apenas os temas que lhe interessam, por razões pessoais ou ideológicas, e à luz das suas opiniões. Por exemplo, no assunto Os Media, quanto apostam que censura é criticar as ideias de que eles gostam, sendo defesa da liberdade de expressão se for para eliminar as que odeiam?

Houve, claro está, os usuais choros, gritos e ranger de dentes por este novo currículo não falar em Educação Sexual nem dar realce à ideia tão querida dos Donos da Verdade, a Teoria de Género. Ouvimos previsões de um autêntico Armagedão para os jovens abrangidos por este “retrocesso ao passado”, incluindo um disparo nas doenças sexualmente transmitidas.

Curiosamente, um país onde se recorre ao Tribunal Constitucional por tudo e por nada, não deixa de ser estranho esta ênfase em dar uma educação sexual explícita na escola à revelia da opinião dos pais, quando o artigo 43.º diz, no seu n.º 2: “O Estado não pode programar a educação e a cultura segundo quaisquer diretrizes filosóficas, estéticas, políticas, ideológicas ou religiosas.” E sim, a dita educação sexual está abrangida uma vez que a sua imposição se deve a um conceito ideológico de que a criança pertence ao Estado no que diz respeito à sua educação, mais uma vez à revelia da dita Constituição que diz, no n.º 5 do artigo 36: “Os pais têm o direito e o dever de educação e manutenção dos filhos.”

Pequeno aparte, há uns anos houve manifestações de alunos e fecho de escolas a exigirem uma aula de Educação Sexual. “Estranhamente”, quando se soube que seria dada para lá do horário usual, ou seja, não iria substituir uma aula de Português, Matemática ou outra, todo esse movimento desapareceu.

Um dos “argumentos” que mais ouvi foi que o atual currículo não educa as crianças e jovens para lutarem contra estereótipos de género. Francamente! É que basta ouvi-los para vermos que são eles os grandes defensores dos ditos estereótipos – recordo que se uma rapariga gosta de matemática e de brinquedos mecânicos, então é porque nasceu rapaz no corpo errado, tal como um rapaz que brinque com bonecas é, claro está rapariga. Se isto não é um estereótipo... Já agora, recomendo aos rapazes que dizem que são raparigas porque querem usar vestidos e maquilharem-se que pesquisem o que se passa mundo fora em termos de vestuário e, acima de tudo, a história do vestuário masculino na Europa, são capazes de ter uma surpresa.

Pessoalmente, acho que é importantíssimo educar os jovens para que venham a ser bons cidadãos. Aliás, no meu livro Projeto para Portugal, há todo um capítulo dedicado ao que chamei Educação para a Vida na Escola, título que, atendendo ao conteúdo que proponho, achei mais adequado.

Só que deveria ser uma aprendizagem a sério, dada por docentes formados para a darem – de preferência com o apoio de profissionais da área quando tal se justifique, como a Saúde ou a Segurança Rodoviária. E com material de apoio que garanta que não há distorções a bel prazer da ideologia de quem a dá, sobretudo em temas como Os Media, Pluralismo e Diversidade Cultural. É que o objetivo mais importante numa cadeira destas deveria ser pôr os jovens a pensarem por si e a saberem fazer pesquisas a sério, com triagem dos resultados, para que não se deixem ir na onda do assunto ou ideia da moda.

E aos preocupados com a “igualdade de género”, não seria bem mais importante educar para o facto de que todas as pessoas merecem o nosso respeito e que, em vez de berrarem contra “marginalizações”, muitas vezes fruto da mais pura imaginação, devem, isso sim, seguir o seu caminho sem se preocuparem com o “dizem” – isso ajudaria também muito com o bullying e com os inúmeros jovens que entram em depressão ou até se suicidam devido a boatos lançados por fontes mais ou menos anónimas na Internet.

Quanto à educação sexual, deem o básico em Biologia e Saúde e deixem o resto para aulas específicas dadas com a autorização dos pais – é que, lendo e ouvindo o que os críticos desta mudança dizem, chegamos à conclusão de que os alunos pouco ou nada aprendem e que as ditas aulas não passam de um pretexto para fazer avançar agendas woke.

Para a semana: Estatísticas, precisam-se Não é estranho que num país tão burocrático como o nosso se ouça tantas vezes a frase “não há dados”?

02
Ago25

199 - Repensemos as ajudas

Luísa

Gastamos anualmente muitos milhões de euros, uma boa percentagem do nosso PIB, em ajudas aos chamados necessitados – falarei mais adiante sobre este termo mais do que genérico. E se todos estes gastos ajudassem, de facto, a melhorar a vida dos visados, tudo bem, seria a última pessoa a queixar-me do uso dados aos meus impostos.

Só que... a triste verdade é que as coisas continuam na mesma, ou antes, pioram ano após anos, sendo a única solução proposta pelos usuais bem pensantes gastar ainda mais dos dinheiros do Estado – aliás, fica-nos a ideia de que para esses beneméritos o dito Estado tem uma fábrica de dinheiro cujo produto só não distribui por tudo e mais alguma coisa por pura má vontade.

Esquecem-se, se é que alguma vez pensaram nisso, que os gastos públicos  são tirados de um bem finito, os nossos impostos. E que estes não podem ser aumentados indefinidamente, correndo-se o sério risco de as pessoas preferirem deixar de trabalhar a fazê-lo “para aquecer”, ficando com pouco ou nada dos frutos do seu labor. E a teoria de taxar mais os ricos também não resulta, estes mudam simplesmente de país.

Atendendo, pois, a que o dinheiro de que podemos dispor para ajudar quem mais precisa é finito, não seria altura de pensar muito a sério em usá-lo para ajudar de facto essas pessoas?

Comecemos pelo termo “necessitado”. À partida pode parecer simples, serão pessoas sem rendimentos ou com valores abaixo de um certo valor. Mas será mesmo assim? Não nos esqueçamos de que esses cálculos são feitos com base em rendimentos declarados, sejam de um emprego ou de outras origens. Ou seja, quem recebe “debaixo da mesa” não tem, oficialmente esse rendimento. E o mesmo se aplica a valores advindos de atividades criminosas, sejam tráfico de drogas, roubos, esquemas ou outras – acham que quem aluga quartos a alunos universitários por valores astronómicos declara esses montantes?

O problema é que o sistema atual de ajudas é cego a estas nuances, limita-se a olhar para a pobreza com base em dados oficiais. E para piorar a situação, nem se pode falar disso porque somos logo apelidados de tudo e mais alguma coisa, sobretudo se os visados forem de outras etnias ou “migrantes”.

Mas não é este aspeto da ajuda que mais me incomoda.

Quando era jovem ouvi muitas vezes o provérbio, “dá um peixe a um homem e ele comerá um dia, ensina-o a pescar e comerá a vida toda” – estou a parafrasear, há inúmeras versões desta frase. E estou totalmente de acordo com a sua ideia subjacente.

Infelizmente, não sei bem quando isso começou, arreigou-se a ideia de que essa coisa de “ensinar a pescar” é uma violência contra os pobrezinhos e que a única atitude decente é ir dando, no mínimo, o tal peixe diário. E a situação complica-se ainda mais porque, ao fim de pouquíssimo tempo, o tal “peixe” não chega, os visados passam a exigir cada vez mais coisas, prontamente apoiados pelos Donos da Verdade (DdV) como sendo direitos humanos básicos.

Olhe-se para o erroneamente chamado Rendimento Mínimo – que é, de facto, o Rendimento Social de Inserção (RSI). Ando há imenso tempo a tentar descobrir quantas pessoas já foram inseridas desde a sua criação em 2003, mas sem sucesso. Sim, surgem os números referentes a pessoas que saíram dele, mas não dizem porquê – lembro que não abrange pessoas em idade da reforma, ou seja, há fortes probabilidades de terem simplesmente passado de um subsídio a outro.

Mais ainda, aquando dos seus 10 anos, vi várias entrevistas a casais que estavam nele desde o início e a única coisa que tinha mudado na sua vida era terem agora mais filhos.

Pequeno aparte para quem acha que só fica no RSI quem realmente precisa uma vez que o seu valor é baixo (aproximadamente 240 Euros para o titular, mais uns 170 por cada adulto adicional e 120 por filho), recordo que estar nesse subsídio traz consigo outras benesses em muitos municípios, renda de casa, água, luz, transportes, livros escolares, passes, acesso ao Banco Alimentar e a Lojas Solidárias, etc. Mais ainda, se é assim tão mau, não seria de pensar que tentariam arranjar um emprego, um modo de vida?

Também sei que para o receber é preciso, teoricamente, e a ênfase está neste termo, satisfazer algumas condições, como estar inscrito no Centro de Emprego – e aqui está outro dado que adoraria conhecer, a quantas pessoas estes centros arranjaram realmente emprego, fica-se com a sensação de que a inscrição serve apenas para obter o Subsídio de Desemprego e o RSI – e mais umas quantas. Só que mesmo que a parte burocrática seja cumprida, não há a menor preocupação em exigir o cumprimento do “âmago” dessas normas – de que serve a inscrição no Centro de Emprego se não houver a menor intenção de aceitar um?

E o pior é que temos uma nova geração (ou mais) filha de pais que vivem do RSI (pelo menos oficialmente) sem nada dar em troca, muito pelo contrário, berrando e exigindo sempre mais. Acham mesmo que quem foi criado nestas condições está disposto a estudar e a aprender uma profissão para não depender de subsídios? Sim, alguns fá-lo-ão, muitas vezes sujeitos à troça de quem os devia incentivar a melhorar, pelos seus próprios meios, a sua vida futura.

Resumindo, estamos mesmo a ajudar essas pessoas? Não seria preferível impor condições duras para a atribuição de um subsídio temporário (note-se a ênfase), destinando antes o dinheiro a proporcionar-lhes uma formação que lhes permita ganhar a vida? Mas uma formação a sério, não paga (já estão a receber o RSI), nada de repetirmos a saga das “formações profissionais” de um governo anterior que só eram frequentadas para receber a mensalidade... houve autênticos “profissionais” que ao fim de inúmeras formações continuavam a nada saber fazer.

E haver, também, maior exigência na determinação dos reais rendimentos das pessoas – se não os têm oficialmente, como justificam a compra de carros bons, smartphones da última geração e muitos outros luxos similares? Com o tal parco valor do RSI não é, certamente!

Para a semana: Aulas de cidadania são precisas Mas não as que temos ou as que estão no programa agora em consulta pública

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