190 - Mudar o paradigma feminino
Já falei várias vezes sobre as mulheres na sociedade atual, nomeadamente em São as mulheres que oprimem as mulheres, A anulação das mulheres e Mulheres mais uma vez. Infelizmente, tudo o que ali disse continua válido e não vejo o menor sinal de que as coisas venham a mudar a curto prazo. Já agora, neste post o termo “feministas” aparece entre aspas porque acho, muito francamente, que estão mais interessadas em ideologias – a chamada ideologia de género, por exemplo – do que em mudar, de facto, as coisas.
E, para mim, o grande problema está num pequeno detalhe: as “feministas”, ou, pelo menos, as que dizem sê-lo, limitam-se basicamente a querer mais do mesmo, ou seja, não propõem uma mudança real na sociedade e, acima de tudo, nas mentalidades, a começar pelas delas. Ou seja, querem quotas para coisas que, se calhar, até nem interessam às mulheres, como lugares de topo em empresas e lugares na Assembleia da República – ver o que disse anteriormente sobre este assunto – mas não tentam moldar uma sociedade diferente.
Mas vamos por partes, começando pelo emprego. Continuamos a ouvir dizer que as mulheres ganham, em média, menos do que os homens. E até pode ser verdade, mas aqui a expressão chave é “em média”. É que, ouvindo certos comentários, até parece que elas ganham menos fazendo o mesmo trabalho que eles. Sem contar que há muitos salários femininos que não entram para esta média porque não são declarados, alguns até bastante substanciais. Ou acham que todas as empregadas domésticas e amas o fazem?
Ora há algo nesta conversa que me incomoda especialmente. É que, quando se fala em profissões, quotas e quejandos só ouço referências aos chamados empregos de escritório ou a cursos superiores – e por falar nestes, vejam as estatísticas, em muitos cursos, como Direito e Medicina, já há bem mais mulheres do que homens.
Mas... e o ensino profissional? Quantas raparigas se estarão a preparar para serem eletricistas, mecânicas, marceneiras, canalizadoras e similares? A sério, adorava saber esses números, apesar de suspeitar que são baixíssimos. Pior ainda, quantas raparigas são encorajadas a seguir essa via de ensino? E seria bem aconselhável fazerem-no, é que, numa época em que toda gente, mais o cão, o gato e o periquito têm um curso, muitas vezes sem qualquer saída de emprego, o futuro está em ter uma profissão.
Porque é que as ditas “feministas”, tão preocupadas com o número de diretoras de empresas e deputadas, não fazem campanha para que haja mais mulheres em profissões até agora feudo (quase) exclusivo dos homens? Mais ainda, como esse tipo de ensino não cobre todas as áreas e tem poucas vagas, que tal encorajar pais com essas profissões a ensinar às filhas o que sabem para virem, um dia, a fazer o mesmo, se assim o desejarem?
Não deixa de ser curioso, pelo menos para mim, que se dê tanta ênfase a certas áreas e nenhuma a outras. Será que, bem no fundo (ou talvez não tanto), ainda permaneça a ideia de que há certos trabalhos que são um exclusivo masculino?
Passando à área dos relacionamentos, já repararam que quem tanto brada pela igualdade entre os sexos continua a torcer o nariz – ou pior ainda... – quando uma mulher está numa relação com um homem mais novo? É claro que há muitos casos de aproveitamento financeiro, mas isso também não é bem verdadeiro – ou até mais – no caso dos homens?
Felizmente, já há, sobretudo em alguns países, cada vez mais casos de mulheres em posições de destaque no mundo dos negócios e noutras áreas que não hesitam em aparecer com um “docinho” ao seu lado, uma espécie de recompensa pela vida trabalhosa que têm. Mas persiste, na mente das tais “feministas”, que são neste caso um espelho da sociedade em vez de a liderarem, a ideia de que uma mulher só se deve relacionar com um homem do mesmo calibre intelectual e financeiro ou, de preferência, melhor.
Falemos, agora, do também muito usado chavão “a mulher fica prejudicada na carreira porque tem de cuidar da casa e dos filhos”. Só que, também aqui, se um casal decide que o homem ficará em casa, no papel tradicional da esposa, chovem logo os comentários depreciativos e ele é “olhado de lado”, muitas vezes até pelos seus familiares e, sobretudo, pelos da mulher.
Resumindo, se queremos a tal sociedade igualitária que as “feministas” dizem querer está mais do que na altura de rever o papel dos membros de um casal e, também, o que é correto em termos de relações pessoais, esquecendo o que tem existido até agora.
Por fim, a maternidade. Até há uns anos, esta era um dado adquirido e uma mulher que não tivesse filhos era olhada com pena e, até, alguma censura por isso ser visto quase sempre como sendo culpa dela. É claro que a ideia subjacente é que todas as mulheres sonham, ou antes, anseiam por ser mães.
Só que... nem sempre é assim, muitas não têm a mínima vontade de o serem mas, até recentemente, não se atreviam a dizê-lo. Seria de esperar que numa época em que tanto se fala que “o corpo é da mulher, só ela pode decidir”, isto no caso do aborto, as que ousam expressar esse seu sentimento continuam a ser vistas como anormais. Ou seja, aborto, sim, não querer filhos, não. Ora não será mais do que altura de rejeitar a ideia mulher = mãe e aceitar a diversidade que também aqui existe em termos de desejos e projetos de vida?
Para a semana: Falemos de turismo. Está cada vez mais na moda maldizer os turistas e a descaracterização que supostamente trazem. Mas não será mais um exemplo da hipocrisia “bem pensante”?
