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Luísa Opina

Neste blogue comentarei temas genéricos da nossa sociedade. Haverá um novo texto todas as sextas-feiras

Neste blogue comentarei temas genéricos da nossa sociedade. Haverá um novo texto todas as sextas-feiras

Luísa Opina

31
Mai25

190 - Mudar o paradigma feminino

Luísa

Já falei várias vezes sobre as mulheres na sociedade atual, nomeadamente em São as mulheres que oprimem as mulheres, A anulação das mulheres e Mulheres mais uma vez. Infelizmente, tudo o que ali disse continua válido e não vejo o menor sinal de que as coisas venham a mudar a curto prazo. Já agora, neste post o termo “feministas” aparece entre aspas porque acho, muito francamente, que estão mais interessadas em ideologias – a chamada ideologia de género, por exemplo – do que em mudar, de facto, as coisas.

E, para mim, o grande problema está num pequeno detalhe: as “feministas”, ou, pelo menos, as que dizem sê-lo, limitam-se basicamente a querer mais do mesmo, ou seja, não propõem uma mudança real na sociedade e, acima de tudo, nas mentalidades, a começar pelas delas. Ou seja, querem quotas para coisas que, se calhar, até nem interessam às mulheres, como lugares de topo em empresas e lugares na Assembleia da República – ver o que disse anteriormente sobre este assunto – mas não tentam moldar uma sociedade diferente.

Mas vamos por partes, começando pelo emprego. Continuamos a ouvir dizer que as mulheres ganham, em média, menos do que os homens. E até pode ser verdade, mas aqui a expressão chave é “em média”. É que, ouvindo certos comentários, até parece que elas ganham menos fazendo o mesmo trabalho que eles. Sem contar que há muitos salários femininos que não entram para esta média porque não são declarados, alguns até bastante substanciais. Ou acham que todas as empregadas domésticas e amas o fazem?

Ora há algo nesta conversa que me incomoda especialmente. É que, quando se fala em profissões, quotas e quejandos só ouço referências aos chamados empregos de escritório ou a cursos superiores – e por falar nestes, vejam as estatísticas, em muitos cursos, como Direito e Medicina, já há bem mais mulheres do que homens.

Mas... e o ensino profissional? Quantas raparigas se estarão a preparar para serem eletricistas, mecânicas, marceneiras, canalizadoras e similares? A sério, adorava saber esses números, apesar de suspeitar que são baixíssimos. Pior ainda, quantas raparigas são encorajadas a seguir essa via de ensino? E seria bem aconselhável fazerem-no, é que, numa época em que toda gente, mais o cão, o gato e o periquito têm um curso, muitas vezes sem qualquer saída de emprego, o futuro está em ter uma profissão.

Porque é que as ditas “feministas”, tão preocupadas com o número de diretoras de empresas e deputadas, não fazem campanha para que haja mais mulheres em profissões até agora feudo (quase) exclusivo dos homens? Mais ainda, como esse tipo de ensino não cobre todas as áreas e tem poucas vagas, que tal encorajar pais com essas profissões a ensinar às filhas o que sabem para virem, um dia, a fazer o mesmo, se assim o desejarem?

Não deixa de ser curioso, pelo menos para mim, que se dê tanta ênfase a certas áreas e nenhuma a outras. Será que, bem no fundo (ou talvez não tanto), ainda permaneça a ideia de que há certos trabalhos que são um exclusivo masculino?

Passando à área dos relacionamentos, já repararam que quem tanto brada pela igualdade entre os sexos continua a torcer o nariz – ou pior ainda... – quando uma mulher está numa relação com um homem mais novo? É claro que há muitos casos de aproveitamento financeiro, mas isso também não é bem verdadeiro – ou até mais – no caso dos homens?

Felizmente, já há, sobretudo em alguns países, cada vez mais casos de mulheres em posições de destaque no mundo dos negócios e noutras áreas que não hesitam em aparecer com um “docinho” ao seu lado, uma espécie de recompensa pela vida trabalhosa que têm. Mas persiste, na mente das tais “feministas”, que são neste caso um espelho da sociedade em vez de a liderarem, a ideia de que uma mulher só se deve relacionar com um homem do mesmo calibre intelectual e financeiro ou, de preferência, melhor.

Falemos, agora, do também muito usado chavão “a mulher fica prejudicada na carreira porque tem de cuidar da casa e dos filhos”. Só que, também aqui, se um casal decide que o homem ficará em casa, no papel tradicional da esposa, chovem logo os comentários depreciativos e ele é “olhado de lado”, muitas vezes até pelos seus familiares e, sobretudo, pelos da mulher.

Resumindo, se queremos a tal sociedade igualitária que as “feministas” dizem querer está mais do que na altura de rever o papel dos membros de um casal e, também, o que é correto em termos de relações pessoais, esquecendo o que tem existido até agora.

Por fim, a maternidade. Até há uns anos, esta era um dado adquirido e uma mulher que não tivesse filhos era olhada com pena e, até, alguma censura por isso ser visto quase sempre como sendo culpa dela. É claro que a ideia subjacente é que todas as mulheres sonham, ou antes, anseiam por ser mães.

Só que... nem sempre é assim, muitas não têm a mínima vontade de o serem mas, até recentemente, não se atreviam a dizê-lo. Seria de esperar que numa época em que tanto se fala que “o corpo é da mulher, só ela pode decidir”, isto no caso do aborto, as que ousam expressar esse seu sentimento continuam a ser vistas como anormais. Ou seja, aborto, sim, não querer filhos, não. Ora não será mais do que altura de rejeitar a ideia mulher = mãe e aceitar a diversidade que também aqui existe em termos de desejos e projetos de vida?

Para a semana: Falemos de turismo.  Está cada vez mais na moda maldizer os turistas e a descaracterização que supostamente trazem. Mas não será mais um exemplo da hipocrisia “bem pensante”?

24
Mai25

188 - Passadas as eleições

Luísa

Muito francamente, acho que os resultados das eleições só foram um “terramoto político” para quem anda com a cabeça enterrada na areia ou vive num universo paralelo. Infelizmente, isso significa tudo quanto é jornalista, analista e comentador político (a Fauna Comentadora, ou FC) ou, no mínimo, quem diz sê-lo – e basta ligar um televisor para ver que são uma espécie bem abundante no nosso país.

Ora vamos por partes, começando pela esquerda. Para mim, o único espanto foi os três “democratas” do costume, PCP, BE e PAN terem conseguido manter o tacho na Assembleia, uns mais do que outros. E, claro, irão lutar contra o fascismo, etc., enfim, a conversa do costume.

O resultado do PS também não me espantou, achei, até, que acabou com deputados a mais. É que, ao contrário dele e de muita da FC, o povo não sofre de amnésia e só dificilmente acreditaria, em massa, que quem governou 8 anos seguidos, 4 deles com maioria absoluta, e nada fez iria agora, milagrosamente, fazer tudo e mais alguma coisa.

Quanto ao PSD, por mais que Montenegro cante vitória, as coisas não lhe correram bem como esperava, ou seja, não houve uma reviravolta à Cavaco Silva e continuará a ter um governo minoritário – e neste caso, ser por mais ou menos deputados não é realmente importante.

E vamos agora ao “elefante na sala”, o Chega. Pelos vistos, a FC e os “Partidos Bons” (PB) continuaram a achar que bastava insultar este partido ou, mais especificamente, o seu líder, para que ambos se esfumassem e pudessem voltar aos tempos áureos a.C. (antes do Chega). Sendo assim, e apesar dos avisos de um ou outros comentador mais avisado – e prontamente posto de lado pela comunicação social – continuaram a fazer ouvidos moucos às mais do que justas queixas e razões da população votante.

Senão, vejamos algumas delas.

A segurança, em primeiro lugar. Para FC e PB, qualquer sentimento de insegurança é apenas uma “sensação” empolada pelo Chega, claro, e o país nunca esteve tão seguro. E citam estatísticas mais ou menos abstrusas em apoios desta sua tese.

Só que...

Quase não há dia em que não se ouça falar de um esfaqueamento, de tiroteios com mortos e feridos graves, de assaltos à mão armada com ou sem reféns, de máfias – é o termo usado pelas televisões – que roubam com violência, enfim, um nunca acabar de crimes violentos a que estávamos muito pouco habituados.

E quantas pessoas têm pavor de sair à rua em certas zonas de Lisboa – e não só – ou temem, até, estar em casa, sabendo que podem não estar seguras? Aposto que se os membros da FC ou PB tivessem de viver nessas zonas mudavam logo de conversa.

Mas nada se pode dizer... é que isso seria racismo. E não esqueçamos aquele momento surreal de a Assembleia ter votado um voto de pesar pela morte de um criminoso violento, mas nada ter dito em relação ao condutor de autocarro que ia sendo queimado vivo apenas por ser branco.

Passando à saúde, a grande preocupação dos PB tem sido dar cuidados médicos aos ilegais que estão no nosso país. Mas o facto de muitos milhares de portugueses estarem há anos sem médico de família não os incomoda minimamente, limitam-se à mais do que gasta promessa eleitoral de que “se ganhar, haverá médico de família para todos” – curioso, ouço isso há mais de 30 anos. Como também não os incomoda o mais do que muito conveniente – para o seu pessoal, claro – fecho das Urgências aos fins de semana ou haver grávidas que não fazem ideia do que lhes irá acontecer quando entrarem em trabalhos de parto. Não, só os preocupa a situação dos ilegais.

E continuando com eles – já agora, não lhes chamo imigrantes ilegais, isso não existe, ser imigrante pressupõe fazê-lo de forma legal – está muito na moda ver reportagens com o choradinho sobre terem de estar tanto tempo à espera de documentos para se legalizarem. Mas quanto aos muitos portugueses que esperam e desesperam para resolver os seus problemas, nada. Bom, exceto a usual promessa de que “iremos simplificar a burocracia”... pois!

E o mesmo se passa em relação à habitação, reportagens sem fim sobre ilegais a viverem à molhada em locais sem condições, subentendendo-se que temos de lhes dar casa mal se lembrem de aparecer cá na terra. Mas para os portugueses... mais uma vez nada, exceto as tais promessas.

Bom, quando digo que ninguém fala nestes assuntos, não é bem verdade, a face do “terramoto” é o único a fazê-lo, sendo, por isso, insultado de todos os modos.

Pequeno detalhe, está na moda comparar os imigrantes portugueses dos anos 60 em França, e não só, com a onda invasora atual. Por exemplo, quando alguém do Chega disse, já no pós-eleição, que devíamos era encorajar a vinda de médicos e não de analfabetos, fartei-me de ler comentários sobre as qualificações educativas desses imigrantes portugueses. Será que quem faz isto não se apercebe de como está a ser insultuoso para com esses portugueses? Sim, podiam não ter grande escolaridade, mas tinham vontade de trabalhar e deitavam mão a tudo, tornando-se em pouco tempo trabalhadores muito apreciados. Podemos dizer o mesmo sobre a maioria dos que nos chegam?

O grande problema, para mim, é que fico com a ideia de que ninguém aprendeu nada com estas eleições – ou com as anteriores. FC e PB têm tanto a certeza da sua “bondade” que continuam a falar para o ar. Ou antes, comentam para se ouvirem falar, aferrolhados a sete chaves na sua torrezinha de marfim – ou antes, num universo paralelo que, para eles, é o único existente. Ouvi, até, alguns dizerem que não entendem como se vota no Chega porque este nunca poderá cumprir as promessas eleitorais – pois, são mesmo os únicos!

Quanto ao povo, bom, se vota de um modo que lhes desagrada a solução é simples: em vez de o escutarem e tentarem dar-lhe respostas e soluções, basta, muito simplesmente, dizer que são tudo pessoas burras e, claro, fascistas.

Para a semana: Mudar o paradigma feminino  Com a campanha eleitoral e casos recentes, é altura de voltar a este assunto

17
Mai25

Hipocrisias, hipocrisias

Luísa

Apesar do título, não sei bem se os muitos casos a que assistimos mundo fora são mesmo devido a hipocrisia, estupidez pura ou um misto de ambas. Já falei anteriormente nisso em Hipocrisias, relatando inúmeros casos a propósito do muito que se disse aquando do Mundial de Futebol realizado no Qatar. E muito mais haveria a dizer, mas irei referir apenas alguns casos recentes.

Começo pela “brilhante” decisão da Câmara de Lisboa de proibir um ato do partido Ergue-te – pequeno detalhe, nada sei sobre este partido nem tive curiosidade em saber, existe legalmente, é quanto me basta – que  teria lugar no Martim Moniz. E fê-lo alegando que poderia ofender os muitos muçulmanos da zona devido à presença da Cruz de Cristo e, pasme-se, de bifanas! O mais curioso é que os partidos que vemos sempre no choradinho tipo, “antigamente não podíamos fazer manifestações” nada disseram em relação a este atropelo das regras democráticas.

Para além das dúvidas surgidas sobre a legalidade da decisão da Câmara – lembro, não era uma manifestação, era um ato de um partido legal em pleno período de campanha eleitoral – fica a grande questão: a que propósito é que se proíbe o uso de um símbolo bem português - a Cruz de Cristo, que é bem nossa – e de uma das comidas mais típicas de Lisboa só porque pode ofender estrangeiros, muitos deles nem sequer legalizados?

O que é que se segue? Proibir álcool e carne de porco em bairros onde vivam muçulmanos? Obrigar as mulheres portuguesas a usarem burca? Já agora, numas eleições locais em Londres um partido concorreu tendo essa como a sua única proposta, extensível, também, a qualquer mulher que por ali passasse, e esteve muito perto de conquistar o poder local.

Já agora, o que aconteceria se os cristãos da zona protestassem ao verem a reza em público – que lembro, ocupou o espaço de circulação – aquando do fim do Ramadão? Sem contar que até há uma igrejinha no Martim Moniz... Dar-lhes-iam o direito a ficarem ofendidos? Acho que todos conhecemos a resposta.

Resumindo, o “respeito pelos costumes e religiões” é uma via de sentido único.

Passando a um nível mais global, temos a indignação demonstrada por muitos atores e similares pelo corte de verbas que o Trump está a impor a certos organismos, sem falar nas queixinhas de perseguição de que se dizem alvo devido às suas ideias. Curioso, durante os últimos anos, esses mesmos que agora tanto se lamuriam impuseram todo o tipo de regras – leia-se, censura – a ideias, obras e pessoas que não eram do seu agrado. Lembram-se do caso da autora do Harry Potter, que tentaram “cancelar” por algo que disse sobre transexuais?

E a nossa comunicação social faz eco de “vozes de resistência”, como Harvard, por exemplo, muito aplaudida por ter recusado ceder a Trump. Pois, o problema é que nos últimos anos a dita tem cedido em toda a linha a quem lhe berrava mais alto – bom, na maioria dos casos bastava até sussurrar – expulsando alunos que desagradavam aos colegas woke, despedindo professores – um, por exemplo, que se recusou a discutir igualdade de género numa aula de astronomia – e cancelando oradores, entre outras coisas.

Ou seja, também a “liberdade de expressão” é uma via de sentido único.

Passemos à política, numa vertente de certo modo relacionada com as anteriores, ou seja, democracia e liberdade. É que está agora na moda recorrer à “justiça” para tentar eliminar partidos que desagradam aos Donos da Verdade (DDV). Na Roménia, cancelaram o resultado de uma eleição, perante o aplauso dos líderes da União Europeia – pois, viva a democracia...

Em França, temos o caso da Le Penn – não digo que não seja culpada, mas é estranho ter sido a única a ser investigada e julgada e, pior ainda, a pena ter entrado em vigor antes da apresentação de um recurso, caso inédito. E por cá, todos sabemos das tentativas de ignorar, pior ainda, insultar, quem ousa votar livremente num partido “não aprovado”.

Ou seja, também a “democracia” é algo que só funciona num sentido.

Passemos à preocupação com a situação das mulheres na Igreja Católica, muito falada recentemente aquando da eleição do novo Papa. Sim, ouvimos constantemente bradar contra o facto de não poderem ser ordenadas padres, isto apesar de em muitos casos terem funções que quase se lhe equiparam.

Só que, atendendo ao alastrar do Islão na Europa, não é curioso não vermos a mesma preocupação com a posição das mulheres nas mesquitas? Nalguns casos mais liberais, são autorizadas a orientar algumas orações, mas mais nada. Já agora, ouvi em tempos o imã da mesquita de Lisboa dizer que as mulheres não entravam porque não havia espaço para as separar dos homens. E em muitas outras são relegadas para um balcão, muitas vezes por detrás de um painel em forma de grade para não serem vistas.

Mais um assunto em que a “preocupação” só tem um sentido.

Enfim, como disse, não faltam casos de hipocrisia. Como a indignação perante qualquer insulto, real ou imaginado, ao Islão, mas silêncio total quanto ao massacre de cristãos que ocorre em diversos países. Ou falar-se tanto sobre a pedofilia na Igreja mas outras, perpetrada por pessoas em quem as crianças deviam poder confiar, como pais ou professores, ser uma mera nota de rodapé, quando o é. Ou a insistência em penas pesadas de prisão para quem maltrate um animal, mas zero indignação por uns meros 5 anos aplicados a uma psicóloga que deixou o pai a sofrer e a passar fome – pois, sai daqui a um aninho...

Resumindo, a indignação é, atualmente, como muitas outras coisas: só existe numa determinada direção, se for em sentido contrário é ignorada ou, em muitos casos, vilipendiada.

Para a semana: Passadas as eleições  Considerações no rescaldo das eleições

10
Mai25

187 - Eleições... mas não só

Luísa

Com a alteração da data em que sai este blogue, decidi também alterar o artigo desta semana. E, apesar do título, pouco falarei sobre as eleições que se aproximam a passos galopantes, sobretudo para quem vota antecipadamente. Para quem tenha interesse, já falei da minha opinião sobre o nosso sistema eleitoral em Adoraria saber... Pequeno detalhe, todas as questões que ali pus continuam sem resposta.

Direi apenas que estou a achar muito curioso não termos visto apelos a que as pessoas vão votar mas apenas para que o façam no chamado “voto útil”. Pois, como as últimas eleições mostraram, quando os “comodistas” decidem exercer o seu direito democrático as coisas podem não correr bem para os partidos do costume... sobretudo os de esquerda que, muito francamente, são agora quase todos desde que o PSD decidiu deslizar para fora do centro.

Sou, como penso que o serão cada vez mais portugueses, uma desiludida da democracia que supostamente temos. Só que, ao contrário de muitos – e lembro que a abstenção já é, em algumas das nossas eleições, a vencedora com maioria absoluta e para lá caminha nas outras – faço questão de votar sempre porque acho que isso me dá o direito de vociferar quanto ao que se passa, tipo, cumpri o meu dever, cumpram, agora, o vosso.

O primeiro passo para quebrar esse desencanto surgiu com a possibilidade de haver candidatos autónomos às eleições autárquicas, apesar de, convenhamos, estes sejam muitas vezes mais ou menos enfeudados a partidos. Falarei disso noutra altura.

Mas esta semana descobri que há cada vez mais portugueses a agirem e a tomar um outro tipo de medidas para lidar com os milhentos problemas que os sucessivos governos prometem, eleição após eleição, resolver – ando desde os anos 80, altura em que vim para Portugal, a ouvir falar em médico de família para todos, infantários e creches para todos, habitação acessível, burocracia simplificada...

E de que se trata? Muito simplesmente, de movimentos cívicos.

Há-os de todos os tamanhos e feitios, políticos, culturais, generalistas, muito específicos, enfim, um pouco de tudo. Existe, até, uma Plataforma de Associações da Sociedade Civil que reúne 67 delas, mais 4 observadoras. Mas há muitíssimas mais. Seria bom que alguém com mais tempo disponível do que eu se dedicasse a fazer uma listagem completa e a publicasse, muitos encontrariam ali, sem dúvida, algo que lhes enchesse as medidas.

Até as nossas empresas começam a agir nessa área, existe, por exemplo, a Vá lá, Portugal Merece, que já engloba mais de cem empresas e que aposta em mudar mentalidades e em contribuir para o crescimento do tecido empresarial do país.

Para mim, é um caminho a seguir se quisermos, realmente, recuperar algum do poder que o povo supostamente adquiriu com o 25 de abril. Pode-se dizer que a democracia é, apesar de tudo, o melhor regime, mas será mesmo isso que temos atualmente?

Para além das distorções do nosso sistema eleitoral causadas pelo famigerado método de Hondt, quem é que nos governa, independentemente da sua cor política? Pessoas sem o mínimo interesse em fazer as reformas que todos sabemos que deviam ter sido feitas há anos porque sabem que isso lhes iria custar votos – leia-se, o chorudo tacho de serem membros da Assembleia da República ou do Governo – e que “governam”, se é que se lhe pode chamar isso, ao sabor de quem berra mais alto ou das causas da moda, no nosso caso, a pesadíssima máquina do funcionalismo público e, nestes últimos anos, os imigrantes, sobretudo os ilegais, a “catástrofe climática” e similares.

Se queremos recuperar o poder que nunca devia ter deixado de ser nosso, temos de começar pela base, olhar à nossa volta, ver o que precisa de ser feito e, em vez de ficar no café a lastimarmo-nos e a criticar, tentar organizar pessoas com as mesmas ideias de modo a agirem.

Já agora, sabia que é facílimo criar uma organização? Encontrará as regras todas aqui. Pequeno detalhe, na maior parte dos casos custa 300 euros.

Poderão dizer, grande coisa, um movimento cívico! Pois, até o pode ser, se for bem pensado e atrair pessoas com algum peso nessa área – e um ou outro advogado seria sempre bem-vindo... É claro que se estivermos a pensar em termos de governos nacionais, bom, será definitivamente um peso pluma. Mas muitos dos que existem surgiram a nível local e podem pressionar muito a sério Juntas de Freguesia e Câmaras.

Lembro, também, que nas últimas eleições autárquicas tivemos alguns partidos meramente locais e que até tiveram resultados muito bons, apesar de ser, para muitos – se não todos – uma estreia. Mais uma vez, é esse o caminho a seguir, criar partidos locais ou regionais e tentar conquistar Juntas de Freguesia, Câmaras e, sobretudo, as muito importantes Assembleias Municipais, de modo a termos um poder autárquico realmente virado para os interesses das pessoas que representa, ou devia representar, e não enfeudado a partidos nacionais.

Mais ainda, à medida que esse movimento ganhe um certo peso, estará em posição de exigir uma maior descentralização ou, no mínimo, de pôr em prática medidas adaptadas às necessidades locais e não feitas a pensar no “universo paralelo” em que parecem viver muitos dos nossos governantes.

Dir-me-ão, mas o que é que tudo isto tem a ver com eleições legislativas? A curto prazo, pouco ou nada. Mas o que é que acham que acontecerá quando os “partidos do costume” descobrirem que perderam o poder a nível local? E que estão, basicamente, “a falar para o boneco”?

Aposto que a primeira solução será tentar pôr-lhes cobro, mas duvido que resulte – lembro o que aconteceu quando tentaram impor um número de assinaturas absolutamente desmesurado para se ser candidato independente, nalguns casos superior ao número de eleitores em causa, só que a resposta foi os ditos candidatos dizerem que formariam um partido, Os Independentes...

Pois é, a verdadeira democracia tem de começar pela base. Dito isto, e até a termos, vá votar – mas esqueça o “voto útil”, vote, isso sim, de acordo com a sua vontade. Não é isso a democracia?

Para a semana: Hipocrisias, hipocrisias...  Se não existissem, tinham de ser inventadas, cá e lá fora.

02
Mai25

186 - A propósito do apagão... e não só

Luísa

Mais um adiamento do tema anunciado, mas não podia deixar passar em branco este acontecimento que marcou o início desta semana e que se tem prestado a tantos comentários, críticas e ataques políticos, ou não estivéssemos em campanha eleitoral.

Mas pouco falarei disso, concentrar-me-ei, isso sim, no que podemos fazer para nos precavermos caso volte a acontecer algo que nos deixe sem os “luxos” a que a vida moderna nos habituou. Recordo, também, que já tratei de certo modo deste tema em Falemos de catástrofes aquando da tempestade Martinho. Mas há aspetos que a falta de energia durante horas a nível do país inteiro fez sobressair e de que não falei na altura ou fi-lo, apenas, pela rama.

Primeiro, uma breve referência ao acontecimento em si. Sim, há bastantes fragilidades na interconexão da nossa rede à de Espanha e na desta à de França, mas, pelo que tenho lido, a retirada da chamada inércia das redes foi feita para satisfazer os proponentes da histeria da “catástrofe climática”.

Quanto a explicações, a única que falta é a razão dos célebres 15 Gigawatts terem desaparecido repentinamente e, aqui para nós, suspeito que teremos de esperar bastante para o sabermos, se é que chegue, até, a acontecer. Lembro, também, que isso se deu em França e que, dependendo do que encontrarem, poderá não ser boa ideia gritar a resposta aos sete ventos, sobretudo se tiver sido um ciberataque.

Finalmente, sei que pareceu ter demorado imenso tempo a repor a normalidade mas, se lerem sobre o que se tem passado em situações similares noutros países, até foi bastante rápido. Por exemplo, nos últimos anos tem havido apagões na zona central dos EUA em pleno inverno que chegam a durar uma semana no caso de vilas e povoações mais pequenas.

Passemos agora a algumas indicações sobre como nos precavermos. É que ficou bem claro que continuamos a ser um povo grande adepto do velho ditado, “casa roubada, trancas à porta.” E fica-me a ideia de que, passado o susto inicial, muitos irão reverter para os seus velhos hábitos.

Comecemos pela iluminação. Houve, pelo que li, uma corrida a velas e a pilhas e lanternas. Agora, que o pior já passou, que tal ir, com calma e ponderação, procurar o melhor sistema – para si – de iluminação alternativa? Não sou contra o uso de velas, mas sejamos sinceros, pouca iluminação dão e um descuido pode ser perigoso, devem, pois, existir apenas como último recurso.

Mas há agora inúmeras lanternas – se é que lhe podemos até chamar isso – LED, a pilhas ou de carregamento USB, com uma luz fortíssima e que, em certos modelos, até podem ser penduradas. É claro que, como segunda parte desta precaução, convém ter sempre em casa pilhas da variedade certa e, no caso das de carregamento USB, verificar, periodicamente, se estão carregadas. Vi, até, recentemente, anúncios a lanternas de carregamento solar!

Temos, depois, a água. Sei que faltou em certas zonas do país, não em todas, felizmente, o que levou a nova corrida às poucas lojas abertas. A questão é que há cortes de água por diversas razões, de acidentes, digamos, a trabalhos de substituição e manutenção, que chegam a durar um dia inteiro. Convém, pois, tomar algumas precauções.

A primeira é, claro, ter um ou dois garrafões de água em casa – ou mais, depende do tamanho da sua família. A segunda é ter garrafões ou outros recipientes fechados com água para usar nas sanitas e para usos similares, mais uma vez a quantidade depende do agregado familiar. E se tenciona usá-la para cozinhar, não se esqueça de a renovar periodicamente.

Temos, depois, as refeições. Para quem tem gás em casa, esse não foi um problema. Mas há zonas do país, o Porto, por exemplo, onde é tudo elétrico em casa. O que aqui aconselho é válido para todos, mas sobretudo para quem tem bebés ou crianças pequenas em casa – é que os adultos aguentam bem com umas sandes ou algo similar não cozinhado. Já agora, apesar de menos comuns do que os da água, também há, de vez em quando, cortes de gás.

A solução? Um fogão de campismo! Sim, um daqueles pequeninos com uma botija também pequena. São bastante baratos – por cerca de 20 euros pode ter fogão e botija da marca de campismo mais famosa – e dão perfeitamente para aquecer água para biberões ou papas ou, claro, para cozinhar.

Passemos aos telemóveis. Para além das redes terem ido abaixo, muitos tiveram problemas por a bateria se ter esgotado. Pois bem, um ou mais power banks resolvem esse problema. Mas, atenção, só se estiverem carregados... Ou seja, vá-os verificando. E, para o caso das comunicações “normais” falharem, invista – são baratíssimos – num rádio a pilhas para se manter informado do que se passa. Mas adquira-o agora, com calma, não espere que haja uma crise para ir a correr tentar comprar um. Pequeno detalhe, tenho visto anúncios de sistemas de comunicações que funcionam durante emergências – mas atenção, pelo que tenho lido o seu uso pode não ser legal na Europa, informe-se, pois, antes de adquirir um.

Houve, também, problemas com carros que ficaram sem gasolina devido aos tremendos engarrafamentos. Contra mim falo, mas não é boa ideia andar com o depósito quase vazio. Não digo que se torne um maníaco do tanque cheio, mas é bom ter sempre o suficiente para o percurso que vai fazer, mais uma boa reserva para o caso de encontrar problemas de trânsito ou a bomba com que estava a contar estar fechada.

Finalmente, dinheiro. Houve pânico por não se ter acesso às ATM e haver necessidade de pagar coisas – pilhas, por exemplo – a dinheiro. Que tal ter sempre consigo uma pequena reserva de 20, 50 euros, mas não na carteira, ponha-os noutro lado para evitar a tentação de os gastar numa situação normal. E seria também boa ideia ter uma pequena reserva em casa para os mesmos fins. É claro que se começar a criá-la já, pode ir pondo de parte uma pequeníssima quantia diária até ter um valor razoável que dê para uns dias. E se não precisar dela... bom, sempre é uma poupança.

Acima de tudo, tente manter a calma, é que, muito francamente, irritar-se e vociferar contra tudo e todos não irá fazer o problema resolver-se mais depressa, sendo assim, não acha que mais vale não se enervar? 

Para a semana: Falemos de novo da mulher  À luz de acontecimentos recentes, é altura de voltar a este tema

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