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Luísa Opina

Neste blogue comentarei temas genéricos da nossa sociedade. Haverá um novo texto todas as sextas-feiras

Neste blogue comentarei temas genéricos da nossa sociedade. Haverá um novo texto todas as sextas-feiras

Luísa Opina

25
Abr25

185 - Mais um 25 de abril

Luísa

Quando anunciei o tema desta semana, esqueci-me por completo de que calharia no chamado Dia da Liberdade – uma pequena explicação, com o tipo de trabalho que faço, raramente tenho a agenda aberta no dia atual, chega a estar uma semana ou mais à frente, daí eu ser muitas vezes apanhada desprevenida ao ver a data em que realmente estamos.

Se houver interesse, também nos anos anteriores falei desta data em Não à liberdade, E viva o 25 de Abril e O 25 de Abril. Infelizmente, muito do que ali digo ainda é tão pertinente – ou mais – do que quando o escrevi.

Os festejos deste ano tiveram a complicação adicional dos três dias de luto pelo Papa. E, muito francamente, acho que com as eleições legislativas a menos de um mês desta data, discursos e cerimónias deviam ter sido reduzidos o mais possível em vez de se tornarem mais uma ocasião para propaganda eleitoral mais ou menos encapotada – apesar de eu supor que muitos já não se dão sequer ao trabalho de ouvir sempre as mesmas coisas, o combate pela liberdade e a luta contra o fascismo, etc., da boca de partidos e pessoas que mostram, sobejamente, não respeitarem o direito à livre expressão de ideias, entre outras coisas.

A Europa em geral corre, cada vez mais, o risco de perder a liberdade de expressão, só que, desta vez, com o pretexto do “respeito pelos outros” que, bem entendido, não retribuem esse sentimento e fazem, até, os possíveis, para nos impor as suas ideias e normas. E Portugal, embora um bocadinho mais tarde do que a maioria, está a começar a alinhar pela mesma cartilha.

As universidades, por exemplo, seguindo o exemplo das suas congéneres americanas, restringem cada vez mais a livre troca de ideias e deixaram de ser – ou estão a caminho disso – locais onde os jovens possam ter contacto com uma grande variedade de opiniões, aprendendo a analisá-las e combatê-las, caso não concordem com elas. Não, com o tal pretexto de não ofender, só se convidam oradores que encaixem em determinados parâmetros e tenta-se, também, o mais possível, eliminar professores que desagradem a certos grupinhos de alunos. É essa a liberdade de abril?

Temos, também, as mulheres. Já há zonas das grandes cidades onde não podem circular livremente sob risco de serem assediadas ou, até, violadas. E aumentam as pressões para que estas se vistam e se comportem de modo a “não ofender” as mentalidades de imigrantes, muitos deles ilegais, que aqui se instalaram e se sentem à vontade para agirem como muito bem entendem. E com mais de uma geração criada no pós-ditadura, não é estranho que a violência doméstica persista, pior ainda, atinja níveis elevadíssimos até mesmo entre os mais jovens? É essa a tão apregoada liberdade que as mulheres conquistaram com o 25 de abril?

Passando à democracia, começam, finalmente, a surgir cada vez mais artigos que demonstram a distorção que o nosso sistema eleitoral aplica aos votos angariados e que favorece, claramente, os grandes partidos. Diga-se de passagem que, com exceção da Madeira e dos Açores, nunca entendi a existência de círculos eleitorais em Portugal para as eleições legislativas, assunto a que voltarei noutro post.

Lembro, também, as tentativas recentes para dificultar a presença de candidatos independentes em eleições autárquicas, isto numa altura em que são cada vez mais numerosos e apreciados pelos eleitores, sem esquecer os também cada vez mais frequentes partidos locais. Segundo parece, a sua existência “fere” a democracia, tradução, os grandes partidos querem continuar a ser os únicos a mandar neste país. E é essa a liberdade de abril?

É, agora, a vez da comunicação social, a tal que tanto sofreu com a ditadura e que pôde, após o 25 de abril, ser livre e isenta. Mas é-o mesmo? Veja-se a campanha eleitoral – ou antes, a pré-campanha – que está a decorrer e o modo como os vários partidos e os seus dirigentes são tratados por ela. A uns, tudo se perdoa, tudo se justifica. A outros, bom, o que rende é empolar o mais possível tudo o que possa ser visto como mau, distorcendo, até, os factos ou ignorando-os. E é essa a liberdade de abril?

Mas penso que o que mais me incomoda na celebração desta data está nos seus mitos e na perpetuação dos ditos. Sim, a ditadura foi péssima, sem dúvida, e muitos sofreram imenso com ela. Apesar de não deixar de ser curioso que os que mais a denunciam defendam comportamentos piores nas chamadas “ditaduras do povo”. Lembro-me de um escritor que, numa entrevista, dedicou imenso tempo a falar do lápis azul da censura e como lhe cortavam muito do que escrevia. Só que, mais adiante, disse ser compreensível a então URSS enviar escritores para o Gulag ou para asilos de loucos porque “eram inimigos do estado”.

Para terminar, deixo aqui o meu desejo neste Dia da Liberdade. Gostaria imenso ver, antes de morrer, alguém a escrever a história factual dos primeiros anos após o 25 de abril, sem lentes cor de rosa, citando nomes e factos e o muito de mal que foi então feito em nome do povo. Mas, atendendo ao modo como a censura atual, cada vez menos encoberta, alastra e sobe de tom, suponho que terei muito que esperar!

Para a semana: Falemos de novo da mulher  À luz de acontecimentos recentes, é altura de voltar a este tema

18
Abr25

184 - Vida Justa

Luísa

Não vou falar do movimento com este nome, mas confesso que foi, de certo modo, a inspiração para este post. É, supostamente, algo que defende os bairros, certos bairros, entenda-se, impedindo despejos e ações similares. Curiosamente, muitos dos seus protestos têm a ver com a defesa de pessoas que ocupam ilegalmente casas ou terrenos. O seu mote é que todos têm direito a casa e sustento, mesmo se estiverem ilegalmente no país.

E eu até concordaria, se não fosse o pequeno detalhe de que quem assim fala ignora totalmente o direito à tal vida justa dos donos desses prédios e terrenos e dos muitos portugueses que labutam para sustentar todas essas benesses que movimentos desse tipo exigem para quem nada faz – pelo menos de bom, é que se a criminalidade pagasse imposto...

É muito popular e de bom tom mostrar preocupação com os muitos ilegais que se encontram em Portugal. Ouvimos continuamente o choradinho sobre as más condições em que vivem, o seu direito a ter a uma casa condigna e, claro está, subsídios que lhes permitam viver “com dignidade”.

Mas... será que os que cá vivem legalmente, sobretudo os portugueses que sempre trabalharam e veem uma fatia cada vez maior do seu salário a ser-lhes retirada em impostos e taxas de todo o tipo, não têm o mesmo direito a uma casa decente e que possam pagar? A ajudas e subsídios razoáveis quando atingem uma idade avançada e só têm a chamada pensão social?

Ouvimos, também, falar de estrangeiros que vivem num quarto com os filhos menores ou num apartamento pequeno para o tamanho da família. Pergunto eu, quantos portugueses vivem à molhada com os filhos adultos, às vezes casados e com filhos, porque estes não conseguem pagar uma casa sua? Onde está a vida justa para estas pessoas?

O termo “justo” é, também, muitas vezes aplicado aos supostos maus tratos infligidos pela polícia a alegados criminosos, sim, alegados porque, facto curioso, quando há desacatos ou crimes a polícia erra sempre o alvo e os que prendem são sempre uns inocentinhos que estavam ali por acaso...

Mas será justo que portugueses decentes e honestos vivam aterrorizados nas suas próprias casas e locais de trabalho devido ao aumento crescente de crimes violentos perpetrados, quase sempre, por pessoas estrangeiras que, em muitos casos, nem deviam cá estar? Lembro que um “bom” cidadão estrangeiro matou um jovem em Braga, isto apesar de ter sido extraditado pelos EUA para o Brasil devido ao seu cadastro violento como membro de um perigoso gangue – mas aposto que agora cumprirá pena em Portugal – isto se não for ilibado – e no final não faltarão almas caridosas a pedir que cá fique porque, claro está, tem filhos nascidos neste país.

Continuando o tema dos ilegais, não vos choca o tom acusatório com que os ditos falam de estarem horas – ou dias – à espera de serem atendidos? Ou seja, cometeram um crime – sim, a permanência ilegal num país é crime – e querem ser tratados com paninhos quentes? Acham que têm o direito de verem a sua situação resolvida com toda a celeridade, sabe-se lá à custa de quantas irregularidades? Ou será que alguém acredita que vão manter o suposto emprego que lhes deu a legalização? Isto para não falar no local de residência que apresentam na altura, lembro as mil e tal pessoas que residiam, supostamente, no mesmo pequeno apartamento em Lisboa, morada oficial de alguém do Bangladesh naturalizado português, apesar de precisar de intérprete no tribunal – lembro que o processo de nacionalização exige um bom conhecimento da língua portuguesa.

Temos, também, a notícia recente de que as escolas vão ter elementos – pagos por todos nós, é claro – para ajudar à integração das crianças imigrantes. Ou seja, não há dinheiro para apoiar o ensino especial nem sequer para ter auxiliares de apoio a crianças com deficiências, físicas ou mentais, mas quando se trata de imigrantes abrem-se os cordões à bolsa? Até poderia ser uma boa solução para evitar problemas futuros, supostamente por inadaptação das ditas criancinhas, se não soubéssemos que não vai dar em nada, muitos imigrantes, direi, até, uma boa fatia deles, não se integra porque não quer. Mais ainda, vêm para o nosso país com a ideia fixa de nunca, mas mesmo nunca, deixar os filhos – e sobretudo as filhas – adotarem os usos e costumes locais.

E por falar em escolas, atendendo à tremenda falta de creches, infantários e pré-escolas que existe há anos no nosso país, será justo que muitos desses lugares sejam ocupados pelos filhos de pessoas que não trabalham, pior ainda, que vivem do erroneamente chamado rendimento mínimo? Porque não se dá preferência a quem precisa mesmo de um lugar decente onde deixar os filhos enquanto está a contribuir para a economia deste país? Onde está a tal vida justa para quem se esforça?

Já agora, será justo que os pais que conseguem, muitas vezes à custa de grandes sacrifícios, porem os filhos no ensino privado para receberem uma educação decente, terem de pagar, à mesma, por um sistema educativo público de qualidade muitas vezes medíocre ou até duvidosa e que seria ainda pior se não fossem os explicadores? Sim, espantosamente, há-os até para o primeiro ano! Isso não é pagamento duplo?

Finalmente, a saúde. Será justo vermos tanta preocupação devido à falta de acompanhamento médico de quem aqui reside ilegalmente quando há tantos portugueses que esperam há anos por um médico de família? Ou que desesperam por uma operação que lhes pode dar, no mínimo, uma melhor qualidade de vida e que chega, sabe-se lá quantas vezes, tarde demais?

Pois, como em muitas outras áreas, a exigência de uma “vida justa” é apenas para alguns, os do costume.

Para a semana: Falemos de novo da mulher  À luz de acontecimentos recentes, é altura de voltar a este tema

11
Abr25

183 - Contradições e má fé

Luísa

As últimas semanas têm sido férteis em casos relevantes para este post, quer a nível do nosso país, quer internacionalmente.

Comecemos pelo nosso país e pela campanha eleitoral – ou antes, campanhas, há ocasiões em que fica a dúvida sobre o alvo dos discursos que ouvimos, se são para as legislativas ou para as autárquicas. Sem esquecer os candidatos presidenciais que vão, na sua maioria, metendo a colher.

Foi com bastante espanto, estupefação, até, que tenho ouvido o dirigente do PS anunciar tudo o que irá fazer se for primeiro-ministro. A fazer fé nas suas promessas, iremos ser, a curto prazo, um verdadeiro paraíso à beira-mar plantado. Mas...

Será que esse senhor acha que os eleitores são estúpidos e, acima de tudo, desmemoriados? É que estou certa de que muitos recordam que saímos há apenas um ano de 8 anos de governação PS, 4 deles com maioria absoluta na Assembleia da República. Ora se o partido tem ideias tão boas, porque não as implementou durante esse períodos? Sobretudo no segundo mandato do Senhor Costa

Aliás, olhando para os muitos governos que tivemos – 16, desde 1976 – não deixa de ser curioso notar que o maior partido da oposição, seja o PS ou o PSD, está sempre cheio de boas ideias, não lhe faltam frases do tipo, “se fôssemos nós a governar...”, mas quando passam a governo... nada! Dá a impressão de que a cerimónia da tomada de posse inclui um sérum do esquecimento.

Temos, também, a questão da imigração, parece que os grandes partidos despertaram, finalmente, para a noção de que é um tema que preocupa, e de que maneira, os eleitores. E aqui sou forçada a referir, de novo, o PS.

Não ficam pasmados ao ouvir esse partido afirmar que irá “firmar” as leis de entrada de emigrantes e as da nacionalização? Se bem me recordo, foram eles, na douta pessoa do Senhor Costa, a escancarar as portas do país, a dar a residência a originários dos PALOP e a permitir a nacionalização após uns meros 5 anos no país.

E, lembro, isto não foi há décadas, o governo que fez tudo isto terminou o seu mandato há apenas 1 ano!

Passemos, agora, ao plano internacional e, inevitavelmente, ao Trump, Putin, Ucrânia, tarifas e isso.

Comecemos pela Ucrânia. Ouvindo os líderes europeus ficamos com a ideia de que sempre apoiaram este país contra a agressão russa, juntamente com o seu muito queridinho Biden. Mas foi mesmo assim?

Bom, quando a invasão começou, a única coisa que membros da UE e EUA fizeram foi oferecer asilo político ao Zelensky. Atendendo a que o Putin afirmava na altura que só queria “retomar” duas zonas junto da fronteira russa, esta oferta equivaleu a anuir, pelo menos implicitamente, com a invasão e ocupação total da Ucrânia.

E só se começou a apoiar militarmente esse país quando começou a ser vergonhoso ver tantos ucranianos a lutar e a morrer enquanto permanecíamos de braços cruzados. Mesmo então, foi um apoio de mansinho, para não irritar muito o Putin, a começar pelas sanções, suaves até dizer chega e que só se agravaram perante a continuação da agressão.

Mas o mais absurdo ainda estava para vir. É que o armamento fornecido ia com condições! Ou seja, só podia ser usado dentro do território ucraniano e nunca, mesmo nunca, em contra-ataques em solo russo. Leio muita história e, francamente, esta é uma estreia.

As coisas só mudaram com o “mau” do Trump, reparem que desde outubro, quando foi eleito, os ucranianos passaram a atacar fortemente em solo russo.

Temos, depois, a ideia muito divulgada de que Trump não quer saber da Europa, pior ainda, quer entregar a Europa a Putin. Pois, não deixa de ser curioso ver que, devido ao seu discurso, começa a concretizar-se um dos pesadelos do ditador russo, uma Europa armada e com consciência de que “tem de fazer pela vida” nessa área – lembro que a Alemanha alterou, até, a sua Constituição para se poder rearmar sem as restrições financeiras em vigor.

Quanto às tarifas, não entendo o espanto que suscitaram. Foram um dos grandes temas de campanha de Trump e mal foi eleito anunciou que seriam um dos seus primeiros atos mal tomasse posse. Eu até entendo, onde é que já se viu um candidato a cumprir promessas eleitorais? Se a moda pega...

E o que é que a UE e os outros países fizeram? Nada. Pior ainda, quando surgiram as primeiras tarifas contra o México e Canadá, suspensas de imediato porque esses dois países entraram logo em negociações, continuámos a assobiar para o ar. Daí a surpresa total perante o cumprimento de algo que foi repetidas vezes anunciado.

O mais curioso é que, com tantas opiniões, tantos comentadores, ainda não vi uma tabela a mostrar, para os principais produtos em causa, o que se paga para exportar para os EUA e o que estes pagam na reciprocidade. Conheço alguns elementos e até entendo a omissão, não correspondem ao discurso oficial de EUA maus, todos os outros vítimas.

Já agora, a suspensão não significa uma mudança de ideias, é que 70 dos países abrangidos começaram, finalmente, a negociar. O que me leva ao último ponto, ouvi muito dizer que, claro, esses países irão tentar obter o melhor acordo para si. Obviamente! Só que quando o Trump faz o mesmo, é protecionismo...

Finalmente, a China, a grande “vítima” de Trump. Até concordo que este começou uma guerra comercial com ela, é que até agora a China tem feito o que muito bem lhe apetece. Exporta sem restrições produtos feitos por mão-de-obra escrava, perdão, cidadãos desviados enviados para centros de “reeducação”, ou por em locais sem leis laborais de jeito – lembro que em muitas fábricas trabalham 8 horas por dia, 7 dias por semana, sem férias. Mas, curiosamente, a nossa esquerda, tão preocupada com os direitos dos trabalhadores, nada diz a este respeito.

O pior é que se queremos exportar para a China, pois bem, surge todo o tipo de restrições, obrigações, pagamentos, atrasos, enfim, é extremamente difícil, quase impossível, até. E é a vítima?!!!

Para a semana: Vida justa E não estou a falar do movimento com este nome.

04
Abr25

182 - Deixámos ficar mal os jovens

Luísa

Nas últimas semanas temos sido inundados com notícias de crimes, na sua maioria bastante graves, cometidos por jovens. Já não são simples desacatos numa escola, até estes envolvem, agora, muitas vezes esfaqueamentos. Fora carros incendiados e a já famosa violação em grupo de uma jovem, filmada e posta na Internet onde mais de 30 000 pessoas – presume-se que jovens – a viram e nada fizeram.

É opinião generalizada entre comentadores, sociólogos e muitos outros supostos especialistas que os jovens atuais têm mais problemas e uma vida bem pior do que os que os antecederam. Mas será mesmo verdade? E, claro está, falam sempre da dificuldade de arranjar o que chamam um emprego condigno e uma casa acessível. Mas serão mesmo essas as preocupações de jovens de 14, 16 ou até 18 anos?

A sensação com que se fica é que os jovens atuais andam à deriva, focados apenas em coisas materiais, no “parecer” e no ilusório das redes sociais. Vi, aliás, algo recentemente que me chamou a atenção, uma imagem de jovens de telemóvel na mão com a legenda: nunca uma geração se documentou tanto a não fazer nada (estou a parafrasear).

Pessoalmente, acho que a culpa não é dos jovens mas sim da sociedade em que cresceram. E não me refiro a dificuldades económicas, bairros sociais, etc., os argumentos usuais para justificar o que se passa. Não, para mim, a questão é outra, está na falta de limites dados pelos seus supostos educadores e, também, na falta de contacto dos ditos jovens com o mundo real.

Há a ideia espetacular, nascida do 25 de abril, de que dizer não a uma criancinha, impor-lhe limites e regras, é fascismo. Junte-se-lhe a impunidade de que gozam – lembro que um rapaz não foi condenado a uma pena a sério por esfaquear e matar um amigo porque lhe faltava um mês para fazer 18 anos! – e temos uma receita para o descalabro total a que assistimos. Ou seja, a criancinha que se porta mal aos 8, 10 anos, sem ser sequer repreendida, acaba, muitas vezes a cometer coisas bem mais graves com a ideia subjacente de “sou menor, não me vai acontecer nada”.

Junte-se a isso o sistema atual, em que a maioria dos jovens chega à maioridade sem nunca ter feito nada, em muitos casos nem estudam a sério, porque “não vale a pena”, não há exames. Será mesmo o melhor para esses jovens e para a sociedade? Pior ainda, muitos têm uma ideia muito vaga do que é trabalhar, ter um emprego, enfim, fazer pela vida, mesmo quando têm bons exemplos em casa – refiro-me, claro, a pais que trabalham e não os que vivem do chamado Rendimento Mínimo, suplementado ou não por atividades paralelas.

Não estou a defender um regresso aos “velhos tempos” em que se começava a trabalhar cedo e em que mesmo muitos dos que estudavam tinham de contribuir para os fundos familiares – e render na escola, claro, ser estudante estava dependente de ter bons resultados.

Penso que já referi anteriormente um estudo feito num liceu com alunos dos últimos anos em que tinham de preencher uma folha com o custo de alguns produtos. Estes iam dos chamados bens necessários – leite, pão, etc. – a telemóveis e jogos de computador. Pois bem, nos primeiros, erravam por baixo, mesmo muito por baixo. Já nos segundos, acertavam ao cêntimo.

Na minha opinião, este clima de não os disciplinar e de nada fazerem até aos 18 anos, ou bem mais, exceto divertirem-se, tem consequências péssimas para os jovens. Penso, pois, que deveria haver dois tipos básicos de medidas.

A primeira seria a implementação do serviço cívico – estranho, até, como um país dominado durante anos pelo PCP no pós-25 de abril não o tenha feito! E a começar logo aos 12 anos, com obrigações e horários adequados à respetiva idade – podiam ir a centros de dia ou lares fazer companhia a idosos, por exemplo.

Haveria, depois, vários escalões etários, cada um com a sua carga horária e tipo de trabalhos possíveis. E, pequeno detalhe, não haveria entrada numa universidade ou curso prático nem qualquer tipo de subsídio se esse serviço cívico não tivesse sido cumprido.

Para além de ocupar os jovens, teria a vantagem de os pôr em contacto com o mundo real, de criarem hábitos de trabalho e, acima de tudo, de fazerem a sua quota parte pela sociedade, ao arrepio da atitude atual de que o mundo lhes deve tudo e eles não devem nada a ninguém.

Já agora, os jovens de famílias endinheiradas precisam talvez ainda mais disto. A menos que os pais os eduquem devidamente em vez de se limitarem a dar-lhes mesadas quantas vezes superiores aos salários de muito boa gente que se esfalfa a trabalhar. Pensemos no exemplo americano, em que muitos filhos de milionários trabalham no verão no que calha e, a menos que tenham um Fundo à sua espera, fazem pela vida porque a lei americana de heranças pode deixá-los sem nada...

A segunda alteração, mais difícil de implementar rapidamente, seria a já bem tardia alteração do Código Penal. Basicamente, se têm idade para cometer um crime, têm idade para serem punidos por ele. Criação, pois, de Centros de Detenção a sério para jovens onde, à semelhança do que se passa noutros países, tudo tem de ser conquistado com bons comportamentos, até um telefonema para a família.

E pô-los fora dos grandes centros urbanos, de preferência em zonas rurais onde possam trabalhar a terra para fazer face a algumas das despesas do dito Centro – ou seja, uma versão atualizada da Casa do Gaiato de outrora, mas para jovens condenados. Sim, ficam longe da família e amigos, mas não são estes muitas vezes a raiz do seu mau comportamento ou, o mínimo, os seus facilitadores?

Último detalhe, para crimes graves, como mortes e violações, condenação à pena total prevista para adultos, que seria cumprida num Centro de Menores até aos 18 anos, passando, depois, para uma cadeia normal. Ou seja, nada de “sou menor, assim que for adulto estou livre” dos poucos casos que dão detenção num centro juvenil.

Para a semana: Contradições e má fé Pequenas dúvidas que acontecimentos recentes me deixaram

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