181 - O que é importante...
Este vai ser um post mais levezinho ou, no mínimo, menos político. Mas falará de assuntos que sempre me intrigaram, ou antes, a ênfase que se dá a certos aspetos de uma situação, ignorando totalmente outros que são, na minha opinião, bem mais importantes.
Começo por falar de esponsais e casamento. Sei que o primeiro termo passou de moda, usá-lo-ei aqui no sentido de festa de casamento e todos os preparativos que a antecedem. E casamento será a vida a dois após a dita cerimónia.
Um pequeno aparte, li, em tempos, um estudo que mostrava que quanto mais oprimida era uma mulher numa certa sociedade e menos direitos tinha, mais faustosa era a cerimónia do casamento. Tem alguma lógica, atendendo a que nessas sociedades se casa, também, “de berço”, este seria, pois, um modo de entusiasmar as jovens a ansiarem por algo que só lhes iria trazer trabalho e, muitas vezes, maus tratos.
Curiosamente, no Ocidente continua a dar-se uma tremenda ênfase aos esponsais, continuando a ouvir-se muito a expressão “o dia mais feliz da minha vida”. E, de facto, gira tudo à volta desse dia, não faltando revistas, sites e empresas totalmente focadas no assunto, sem falar no muito dinheiro gasto nele, muitas vezes em detrimento de um começo de vida a dois financeiramente melhor.
Mas... e o casamento? Será que o parzinho lhe dedica um bocadinho do tempo gasto nos esponsais? É, até, encorajado a fazê-lo?
Passo a explicar.
Antigamente, muitas igrejas – não sei se em Portugal – tinham os chamados cursos para noivos. Eram, basicamente, uma oportunidade para discutirem as suas ideias e opiniões sobre inúmeros assuntos, as suas expectativas sobre a vida a dois, filhos, etc. E sim, sei que hoje em dia muitos casais vivem juntos durante vários anos antes de se casarem, mas não é por acaso que grassa a opinião geral de que “casamos e muda tudo”. E, muito francamente, mesmo após todo esse tempo juntos muitos ignoram totalmente o que o outro pensa sobre questões importantíssimas, pior ainda, muitos nem sequer sabem o que eles próprios pensam sobre elas até lhes caírem em cima.
Ora num mundo em que se vive cada vez mais tempo e onde as mudanças são contínuas, não seria boa ideia fazer um esforço para se conhecer melhor o outro antes de enveredar pelo casamento? Ou seja, mudar a ênfase da festa para o que vem depois? Talvez assim houvesse mais casamentos felizes e menos divórcios quezilentos. Pequeno detalhe, numa rápida pesquisa que fiz parece que os tais cursos estão de volta, quase sempre ligados a paróquias.
Outra questão tem a ver com crianças. Para se ser família de acolhimento e / ou para se adotar, passa-se por mil e um testes de todos os tipos – e mesmo assim, as coisas nem sempre resultam. Mas quando se trata de filhos naturais, digamos, qualquer um os pode ter.
E não, não estou a propor uma licença para se ser progenitor. Só acho que também aqui a ênfase devia mudar um bocadinho. Ou seja, em vez de o enfoque estar apenas na saúde física da mãe e na preparação do parto, que tal ser obrigatório fazer um pequeno curso sobre crianças? E não me refiro à parte prática, ou seja, fraldas, alimentação, etc., por muito útil e necessária que seja.
Não, a ênfase estaria nos outros elementos de criar uma criança, psicológicos, intelectuais, de socialização, até, mas falando também dos adultos que lidam com ela e das mudanças que a sua chegada acarreta, inevitavelmente. Sim, há livros para todos os gostos, mas, muito francamente, só uma minoria os lê.
Finalmente, o recente Dia da Mulher trouxe-me à mente um outro assunto em que a ênfase deveria mudar um pouco – ou muito.
Quem ouça as atuais feministas, portuguesas e não só, só há dois assuntos importantíssimos para as mulheres, todas as mulheres: aumentar o prazo para um aborto e os salários e cargos de chefia nas empresas. Só que, para mim, esta é a ênfase errada, há questões bem mais importantes que as afetam.
Olhando para as mudanças recentes na Europa e que também estão a chegar a Portugal, reparamos que há comunidades cada vez maiores em que as respetivas mulheres e raparigas, muitas vezes desde o berço, vivem de um modo inaceitável, mais próprio do atual Afeganistão do que de um Ocidente que se diz civilizado e defensor dos direitos humanos.
Mas nem uma palavra ouvimos sobre isto nos muitos discursos desse dia – e não só. Muito pelo contrário, se alguém ousa dizer algo sobre o assunto, bom, vêm logo as acusações de racismo, islamofobia, etc. Ou seja, para as tais feministas as mulheres podem ser oprimidas à vontade, desde que seja em nome do multiculturalismo.
Também a violência doméstica pouco interesse lhes desperta, limitam-se a um ou outro comentário de circunstância, quase sempre em termos da “opressão do patriarcado”, uma expressão que lhes é muito querida.
Ora eu acho que o combate a este flagelo tem de começar nas escolas e bem cedo. Em vez de dedicarem tanto tempo à questão de transgéneros, homossexuais e quejandos, muitas vezes em idades em que nada disto tem muito significado, que tal falarem dos vários tipos de violência doméstica, física e psicológica? É que, infelizmente, muitas crianças têm desde bem cedo um contacto, direto ou indireto, com ela. Ou seja, aplicar a este assunto o velho ditado, “de pequenino é que se torce o pepino”.
Para a semana: Deixámos ficar mal os jovens Questão pertinente face às inúmeras notícias recentes de crimes cometidos por jovens.
