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Luísa Opina

Neste blogue comentarei temas genéricos da nossa sociedade. Haverá um novo texto todas as sextas-feiras

Neste blogue comentarei temas genéricos da nossa sociedade. Haverá um novo texto todas as sextas-feiras

Luísa Opina

28
Mar25

181 - O que é importante...

Luísa

Este vai ser um post mais levezinho ou, no mínimo, menos político. Mas falará de assuntos que sempre me intrigaram, ou antes, a ênfase que se dá a certos aspetos de uma situação, ignorando totalmente outros que são, na minha opinião, bem mais importantes.

Começo por falar de esponsais e casamento. Sei que o primeiro termo passou de moda, usá-lo-ei aqui no sentido de festa de casamento e todos os preparativos que a antecedem. E casamento será a vida a dois após a dita cerimónia.

Um pequeno aparte, li, em tempos, um estudo que mostrava que quanto mais oprimida era uma mulher numa certa sociedade e menos direitos tinha, mais faustosa era a cerimónia do casamento. Tem alguma lógica, atendendo a que nessas sociedades se casa, também, “de berço”, este seria, pois, um modo de entusiasmar as jovens a ansiarem por algo que só lhes iria trazer trabalho e, muitas vezes, maus tratos.

Curiosamente, no Ocidente continua a dar-se uma tremenda ênfase aos esponsais, continuando a ouvir-se muito a expressão “o dia mais feliz da minha vida”. E, de facto, gira tudo à volta desse dia, não faltando revistas, sites e empresas totalmente focadas no assunto, sem falar no muito dinheiro gasto nele, muitas vezes em detrimento de um começo de vida a dois financeiramente melhor.

Mas... e o casamento? Será que o parzinho lhe dedica um bocadinho do tempo gasto nos esponsais? É, até, encorajado a fazê-lo?

Passo a explicar.

Antigamente, muitas igrejas – não sei se em Portugal – tinham os chamados cursos para noivos. Eram, basicamente, uma oportunidade para discutirem as suas ideias e opiniões sobre inúmeros assuntos, as suas expectativas sobre a vida a dois, filhos, etc. E sim, sei que hoje em dia muitos casais vivem juntos durante vários anos antes de se casarem, mas não é por acaso que grassa a opinião geral de que “casamos e muda tudo”. E, muito francamente, mesmo após todo esse tempo juntos muitos ignoram totalmente o que o outro pensa sobre questões importantíssimas, pior ainda, muitos nem sequer sabem o que eles próprios pensam sobre elas até lhes caírem em cima.

Ora num mundo em que se vive cada vez mais tempo e onde as mudanças são contínuas, não seria boa ideia fazer um esforço para se conhecer melhor o outro antes de enveredar pelo casamento? Ou seja, mudar a ênfase da festa para o que vem depois? Talvez assim houvesse mais casamentos felizes e menos divórcios quezilentos. Pequeno detalhe, numa rápida pesquisa que fiz parece que os tais cursos estão de volta, quase sempre ligados a paróquias.

Outra questão tem a ver com crianças. Para se ser família de acolhimento e / ou para se adotar, passa-se por mil e um testes de todos os tipos – e mesmo assim, as coisas nem sempre resultam. Mas quando se trata de filhos naturais, digamos, qualquer um os pode ter.

E não, não estou a propor uma licença para se ser progenitor. Só acho que também aqui a ênfase devia mudar um bocadinho. Ou seja, em vez de o enfoque estar apenas na saúde física da mãe e na preparação do parto, que tal ser obrigatório fazer um pequeno curso sobre crianças? E não me refiro à parte prática, ou seja, fraldas, alimentação, etc., por muito útil e necessária que seja.

Não, a ênfase estaria nos outros elementos de criar uma criança, psicológicos, intelectuais, de socialização, até, mas falando também dos adultos que lidam com ela e das mudanças que a sua chegada acarreta, inevitavelmente. Sim, há livros para todos os gostos, mas, muito francamente, só uma minoria os lê.

Finalmente, o recente Dia da Mulher trouxe-me à mente um outro assunto em que a ênfase deveria mudar um pouco – ou muito.

Quem ouça as atuais feministas, portuguesas e não só, só há dois assuntos importantíssimos para as mulheres, todas as mulheres: aumentar o prazo para um aborto e os salários e cargos de chefia nas empresas. Só que, para mim, esta é a ênfase errada, há questões bem mais importantes que as afetam.

Olhando para as mudanças recentes na Europa e que também estão a chegar a Portugal, reparamos que há comunidades cada vez maiores em que as respetivas mulheres e raparigas, muitas vezes desde o berço, vivem de um modo inaceitável, mais próprio do atual Afeganistão do que de um Ocidente que se diz civilizado e defensor dos direitos humanos.

Mas nem uma palavra ouvimos sobre isto nos muitos discursos desse dia – e não só. Muito pelo contrário, se alguém ousa dizer algo sobre o assunto, bom, vêm logo as acusações de racismo, islamofobia, etc. Ou seja, para as tais feministas as mulheres podem ser oprimidas à vontade, desde que seja em nome do multiculturalismo.

Também a violência doméstica pouco interesse lhes desperta, limitam-se a um ou outro comentário de circunstância, quase sempre em termos da “opressão do patriarcado”, uma expressão que lhes é muito querida.

Ora eu acho que o combate a este flagelo tem de começar nas escolas e bem cedo. Em vez de dedicarem tanto tempo à questão de transgéneros, homossexuais e quejandos, muitas vezes em idades em que nada disto tem muito significado, que tal falarem dos vários tipos de violência doméstica, física e psicológica? É que, infelizmente, muitas crianças têm desde bem cedo um contacto, direto ou indireto, com ela. Ou seja, aplicar a este assunto o velho ditado, “de pequenino é que se torce o pepino”.

Para a semana: Deixámos ficar mal os jovens Questão pertinente face às inúmeras notícias recentes de crimes cometidos por jovens.

21
Mar25

180 - Falemos de catástrofes

Luísa

Face ao sucedido nos últimos dias, decidi adiar o tema que tinha anunciado para esta semana e falar um pouco de catástrofes, ou antes, do que podemos fazer, sobretudo a nível pessoal e familiar.

Ao contrário de outras catástrofes, como um sismo, por exemplo, esta foi, de certo modo, anunciada. Ou seja, as pessoas foram avisadas para não saírem, a menos que fosse absolutamente necessário e, mais importante ainda, os serviços de emergência estavam em alerta máximo. É claro que agora, no rescaldo, acha-se sempre que se pode fazer mais, mas não nos devemos esquecer de que houve problemas em muitas zonas e que é preciso estabelecer prioridades. Mais ainda, há alguns problemas que não são de rápida solução, por muito boa vontade que haja.

Mas vamos ao tema deste post. É óbvio que não podemos impedir que uma tempestade fortíssima se abata sobre a região onde vivemos ou que esta seja abalada por um sismo ou fique na mira de um violento incêndio ou de cheias, como aconteceu recentemente em Espanha. Mas podemos, isso sim, tomar algumas medidas para minorar os seus resultados catastróficos a nível pessoal.

Não me refiro a coisas como seguros – sim, são importantes, mas varia caso a caso o que pode ser recuperado – nem a precauções básicas como verificar se não há árvores em mau estado na sua vizinhança, por exemplo. Não, o que vou referir é um pouco mais básico, mais pessoal, mas, infelizmente, muitas vezes descurado.

Como devem saber se veem filmes e séries americanas, há muitas zonas desse país em que as pessoas têm em casa o chamado kit de sismos – já agora, se visitar o Quake, em Lisboa, a loja tem alguns kits básicos. Não me parece que sejam necessários no nosso país, mas seria útil fazermos o nosso próprio kit, adaptado às nossas necessidades pessoais, para o caso de termos de abandonar à pressa o nosso lar. Pequeno detalhe, não me refiro a uma enorme sacola, basta uma pequena bolsa ou mochila à medida do que lhe meter, o importante é que esteja junto à porta principal para ser fácil pegar-lhe ao sair.

Como disse, é pessoal, mas há elementos que considero indispensáveis a todas as pessoas e situações:

- Uma cópia de todos os documentos de identificação dos membros do seu agregado familiar – pode ser em formato digital, numa pen, por exemplo.

- Se tem de tomar periodicamente medicamentos, tente ter no kit as doses de que precisa para uma semana – isso dar-lhe-á tempo de arranjar novos caso não possa voltar a casa.

- Se tem crianças ou idosos a seu cargo, será boa ideia incluir alguns petiscos, de preferência de longa duração e alimentícios.

- É, também, boa ideia, incluir uma garrafa de água, ou algumas mais pequenas.

- Se tem bebés, meta algumas fraldas e comida para uma ou duas vezes.

- Tente arranjar um carregador extra para pelo menos um dos telemóveis da família e / ou um chamado powerbank com o respetivo cabo, de preferência carregado – ou seja, vá-o verificando, periodicamente.

- Um pequeno kit de primeiros socorros. Nada de especial, mas se tiver um pequeno corte ou algo similar, não precisa de esperar pelos serviços de emergência que poderão estar sobrecarregados. Inclua também uma embalagem de comprimidos para febres / dores.

- Uma lanterna e respetivas pilhas.

- Caso tenha espaço, tente incluir uma mantinha ou similar, se for no inverno e não tiver tempo de se agasalhar antes de sair sempre terá algo um pouco mais quente à mão caso tenha de esperar por um abrigo. As chamadas mantas espaciais são levíssimas e ocupam pouquíssimo espaço embaladas.

- Um bom isqueiro, dos que acendem mesmo com vento, nunca se sabe se não precisará de fazer uma fogueira para se aquecer enquanto espera por ajuda.

- Algum dinheiro para as primeiras necessidades, se houver um corte de energia prolongado não poderá ter-lhe acesso.

É claro que o conteúdo fica ao critério de cada um, mas tente não criar um “caixote”, a ideia é ser algo leve e que seja fácil de agarrar e levar mesmo numa situação de pânico.

Uma coisa que se houve muito quando uma habitação é destruída é, “perdi tudo o que tinha”. E quem o diz não se refere apenas a bens puramente materiais e que podem ser substituídos, como móveis, roupas, etc. Há outros bens que, apesar de terem apenas valor para a pessoa em questão, são bem mais valiosos porque são insubstituíveis. Refiro-me, claro está, a fotos, vídeos e similares.

Sim, bem sei que hoje em dia quase toda a gente tem todas as fotos no seu telemóvel, possivelmente com uma cópia na nuvem. Mas talvez fosse boa ideia ir passando periodicamente algumas – ou todas, se o pretender – para um suporte digital a incluir no tal kit de emergências. E se tem fotografias familiares antigas, ainda em papel, pense em digitalizá-las. Assim, haja o que houver, terá sempre uma cópia disponível.

Passemos, agora, à parte da sociedade. Sei bem que quando alguma coisa acontece a nossa primeira tendência é recorrer às chamadas autoridades para resolverem o assunto. Só que, quando há uma catástrofe, as ditas ficam assoberbadas e se responderem por ordem de chegada dos pedidos poderão falhar situações gravíssimas.

Sendo assim, não seria boa ideia informar-se sobre o que pode fazer em determinadas situações? Sugiro, até, tentar conhecer os seus vizinhos, não só de casa mas também do bairro, para, caso algo aconteça, tentarem, em conjunto, responder de imediato a problemas menos graves, deixando, assim, mais livres os serviços de emergência.

Lembre-se, também, de que apesar de ser muito humano querer saber de amigos e familiares, tente reduzir essas suas chamadas ao mínimo indispensável para evitar sobrecarregar as redes. O ideal, no caso de familiares e amigos chegados, seria, até, criar a tal “árvore de chamadas” que tenho mencionado, em que A liga a B e este a C e assim por diante até que o último da cadeia contacta A como sinal de que está tudo bem com todos.

Para a semana: O que é importante... Um post mais “levezinho” sobre a ênfase que damos a certas coisas em menosprezo de outras.

14
Mar25

179 - Politiquices e politiqueiros

Luísa

Quando optei por este tema para esta semana sabia que havia um fortíssima probabilidade de acertar em cheio, ou seja, de termos uns dias repletos da politiquice mais refinada. Mas, como boa otimista nata que sou, ainda tinha uma réstia de esperança de que os que nos (des)governem provassem ser políticos e não politiqueiros e pensassem no interesse deste país e dos portugueses que não é, certamente, servido com mais uma e cara eleição numa altura em que se passam tantas coisas importantes mundo fora e em que a Europa tenta unir-se a sério.

Refiro-me, claro está, à famigerada moção de confiança que todos sabiam que estava à partida condenada ao fracasso. E, ao contrário do que aconteceu anteriormente com uma moção de censura a derrubar um governo, em 1987, permitindo que Cavaco Silva tivesse a seguir uma maioria absoluta, desta vez o derrube veio por parte de quem estava no poder.

Repito, se Montenegro fosse um político e não um politiqueiro, nunca teria tido este comportamento, que tresanda a “fuga para a frente” na esperança de que os portugueses o premeiem com uma maioria na Assembleia da República. E não me digam que não tinha outra opção, lembro que as duas moções de censura ao seu governo tinham sido chumbadas, ou seja, não precisava de uma demonstração de confiança.

Já agora, um pequeno detalhe. Tenho pouco ou nenhum respeito por “políticos de profissão”, sabem os que passaram da Juventude do respetivo partido para cargos eleitos – ou nomeados. Mesmo assim, há um abismo entre o que penso deles e a minha opinião sobre politiqueiros, mesmo que estes tenham tido outras profissões antes de se virarem para a política. E, infelizmente, estes são cada vez mais numerosos, tratando a sua alçada de influência, seja nacional ou local, como uma mera coutada ao serviço dos seus interesses e espezinhando tudo e todos, mesmo os do seu próprio partido.

Curiosamente, ou talvez não, a nossa comunicação social e também os muitos comentadores adoram-nos. Pode-se, até, dizer, que um político sério será sempre preterido por eles, pior ainda, maltratado de todos os modos. E se não acreditam, pensem na nossa história política recente, tanto em termos de Primeiros-ministros como de Presidentes e vejam quem foram os favoritos e quem foram os desprezados.

Mas, como me relembraram esta semana, a culpa é, em grande parte, dos portugueses, que continuam a votar sempre nos mesmos, indo atrás de promessas que sabem, perfeitamente, serem apenas isso: politiquices engendradas apenas para ganhar eleições. Não que haja muita escolha, mesmo nas Autárquicas há “independentes” que todos sabem estar enfeudados a um partido e que se preocupam mais em agradar a este do que em melhorar a vida de quem os elegeu – e os sustenta.

Muito francamente, a única maneira de reduzir o número de politiqueiros é os eleitores agirem, não com manifestações e similares, outra politiquice muito popular, mas promovendo para cargos locais a candidatura de pessoas que sabem que são competentes e que não estão interessadas numa carreira política. É que se os partidos, sobretudo os grandes, perderem muitas das Câmaras e Juntas de Freguesia, talvez comecem a levar a política mais a sério, reduzindo, pelo menos um pouco, a politiquice reinante.

Se calhar é por isso que o Almirante está à frente nas sondagens para a Presidência da República, algo que intriga muita gente porque, como ainda ouvi hoje, “não se sabe nada dele” e nunca diz nada. Bom, há uma coisa que todos sabemos, não está filiado em nenhum partido nem tem demonstrado simpatia por nenhum deles. E ao fim de décadas a ouvirmos dizer “serei o Presidente de todos os portugueses”, com os resultados que todos conhecemos, talvez aqui a ideia seja, precisamente, apostar em alguém que não tem demonstrado queda para a politiquice. Quanto a não falar, depois do exemplar recente...

Infelizmente, Portugal não tem o exclusivo de politiqueiros e politiquices nem isto se restringe à esfera política, muitos jornalistas e comentadores caem, e de que maneira, sob a sua alçada, como disse acima.

Penso não ter sido só eu a achar ridícula a recente atuação do nosso Costinha e da senhora Van der Leyden em relação à guerra na Ucrânia. Quem ouça as suas declarações pomposas, só pode concluir que a União Europeia é uma grande potência mundial, sobretudo em termos militares, e que o mundo treme perante a hipótese de lhe desagradar. Gostei, sobretudo, de terem dito que já tinham concluído um plano de paz! Evidentemente, perante este anúncio, Zelensky e Putin não têm outra hipótese que não seja assinarem de cruz.

Aliás, a politiquice está cada vez mais na moda, sobretudo numa versão moderna. É que agora já não se resume a factos, ao que é feito ou dito. Não, o que está a dar para comentadores e quejandos é afirmarem que A, B ou C pensa isto ou vai fazer aquilo e partir daí para os seus “doutos” comentários como se essas coisas tivessem sido realmente ditas ou feitas.

O azar é quando tratam alguém como politiqueiro e, afinal, os factos provam o contrário. Já repararam que depois da enxurrada de especulações sobre a Meloni durante a campanha eleitoral e nos seus primeiros dias de governo, esta desapareceu totalmente do mapa? Mais ainda, de fascista, o miminho usual, chamam-lhe agora “conservadora de direita”. Pois, é que segundo parece tem feito um belíssimo papel como Primeira-ministra...

Enfim, é melhor habituarmo-nos, suspeito que a politiquice não veio apenas para ficar, está, também, cada vez mais “viçosa”.

Para a semana: O que é importante... Um post mais “levezinho” sobre a ênfase que damos a certas coisas em menosprezo de outras.

07
Mar25

178 - Vivemos em segurança...

Luísa

Como o nome indica, este post é dedicado a um assunto muito badalado há umas semanas, o facto de governo, políticos e até gente “grande” da polícia terem afirmado, repetidas vezes, que a ideia de insegurança é, apenas, uma “perceção”, ficando mais ou menos subentendido de que quem a tem é xenófobo, racista e o resto dos miminhos do costume.

Ouvimos estatísticas de todos os tipos, desde a que diz que a criminalidade diminuiu à que afirma que a maioria dos presos são portugueses...

Começando por esta última, descobri, com grande espanto meu, que para se obter a nossa nacionalidade basta residir legalmente em Portugal há 5 anos! É claro que, supostamente, têm de falar razoavelmente bem português – esta parte deve funcionar lindamente, um homem do Bangladesh, nacionalizado, a ser julgado por ter posto mais de mil pessoas como tendo residência na sua casa, precisou de intérprete.

Ou seja, para além da segunda geração, pessoas nascidas em Portugal de pais estrangeiros, temos inúmeros cidadãos “nacionais” feitos a martelo. Até admira os presos não serem 100 % portugueses!

Quanto às estatísticas de criminalidade, será que quem as menciona ignora o facto de que muitos crimes não são participados porque as vítimas sabem muito bem que não vale a pena? Mesmo que os seus agressores sejam presos, há sempre um “Meritíssimo” cheio de boa vontade pronto a soltá-los. Sendo assim, só se participa um crime quando é mesmo necessário – para substituir documentos ou cartões bancários, por exemplo – ou quando teve proporções tais que a polícia foi chamada ao local.

É claro que quem fala em “mera perceção” vive em zonas “boas”, com baixa criminalidade, e não usa os transportes públicos. E tem, obviamente, os filhos em escolas privadas, onde não me consta que a criminalidade física, digamos, ocorra, pelo menos ao nível que está a ter nas públicas.

A verdade é que é raro o dia em que não se ouça falar de um esfaqueamento, muitas vezes mortal, em rixas entre grupos armados, assaltos à mão armada a estabelecimentos comerciais, enfim, o tipo de crime violento a que não estávamos habituados. Sem esquecer algo agora muito na moda, atos de vandalismo, quase sempre de noite, que, curiosamente, envolvem sempre carros incendiados.

Sim, sempre houve criminalidade, mas a maior parte da violenta restringia-se a rixas entre vizinhos, sobretudo em meios rurais, ou a atos da chamada violência doméstica.

E o que é que temos agora? Jovens em idade liceal, armados, que se atacam mutuamente, por vezes, repito, com resultados fatais. Grupos de alunos que infernizam a vida dos colegas e, à entrada, recreios e saída da escola, quem tem o azar de viver na zona. Ajustes de contas entre gangs envolvendo armas de fogo ou as cada vez mais populares armas brancas. Assédio de quem circula em determinadas zonas de Lisboa – e não só – por parte de emigrantes mais ou menos ilegais. Raptos à mão armada. Enfim, o tipo de notícias que estávamos habituados a ver vindas dos EUA, por exemplo.

A criminalidade jovem violenta é uma das que me mais me preocupa, mas, estranhamente, não parece incomodar quem faz as leis e nos (des)governa. É que é raro o dia em que não se ouça falar de um crime grave cometido por um ou mais adolescentes.

Também não admira, com a “bondade” das nossas leis e essa treta de menores de 16 anos não poderem ser julgados. Chega-se ao cúmulo de um marmanjo matar um amigo num centro comercial e não lhe acontecer nada porque lhe faltavam 2 meses para fazer 16 anos! Bom, vai para um centro educativo até aos 18...

Estamos, também, a ver cada vez mais criminalidade violenta associada a gangues, quase sempre relacionada com drogas. Escusado será dizer que muitos dos ditos gangues não são de “fabrico nacional”, cruzaram, simplesmente, o Atlântico quando as coisas começaram a ficar quentes no seu país de origem.

Também aqui o nosso sistema penal tem muitas culpas no cartório. Ouvimos muito falar nas péssimas condições das cadeias e dos coitadinhos dos presos, só que, estranhamente, de acordo com dados de 2019, a taxa de reincidência era de 75 %!

Isto para não falar nas penas absurdas que recebem – lembro que o assassino da praia do Osso da Baleia recebeu 20 anos por matar 7 pessoas, tendo saído, claro, ao fim de uns meros 9 anos e isto após inúmeras saídas precárias; conclusão, no nosso país compensa matar por atacado!

Ou seja, entre penas ridículas, a saída em condicional no máximo após cumpridos dois terços, a “bondade” dos nossos tribunais e o facto de muitos crimes nem a tribunal chegarem porque não houve “flagrante delito” – outra aberração das nossas leis – mais a impunidade de que os jovens gozam, por muito violentos que sejam os crimes que praticam, acham mesmo que as pessoas se sentem seguras?

Já agora, se querem ver o caricato do “flagrante delito”, num caso recente umas pessoas ocuparam ilegalmente duas casas, fizeram uma baixada ilegal para terem luz e roubam água aos vizinhos, mas a GNR nada pode fazer porque... adivinharam, não foram apanhados no ato de ocuparem a casa!

E depois admiram-se de as pessoas andarem a votar da “maneira errada”! É que da boca dos “bem-pensantes” só ouvem, há anos, os mesmos lugares comuns e afirmações se não falsas, pelo menos pouco significativas. Suspeito que se esses políticos fossem obrigados a passar uns meses nos bairros de quem se queixa de insegurança, “à paisana” – ou seja, sem que fosse dito quem são – e sem carro próprio, estando sujeitos a circularem a pé ou de transportes públicos, mudariam rapidamente de ideias.

Esta é só uma pequena sugestão para os que dizem ser os únicos representantes reais e dignos do povo. Haverá, certamente, muita gente pronta a trocar de casa com eles, nem que seja por uns dias...

Para a semana: Politiquices e politiqueiros Cá dentro e lá fora, infelizmente não temos este exclusivo

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