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Luísa Opina

Neste blogue comentarei temas genéricos da nossa sociedade. Haverá um novo texto todas as sextas-feiras

Neste blogue comentarei temas genéricos da nossa sociedade. Haverá um novo texto todas as sextas-feiras

Luísa Opina

28
Fev25

177 - Vamos a caminho da ditadura!

Luísa

Devido a declarações muito aplaudidas feitas esta semana pelo Senhor de Belém e os milhentos comentários que suscitaram decidi alterar o tema desta semana. Refiro-me, claro, às suas críticas a Trump (grande novidade...) e o seu alerta para “o deslizar da democracia para a ditadura”. Pequeno detalhe, acho muito estranho que uma pessoa que se gaba de ser tão conhecedora e culta chame aos Estados Unidos a “mais antiga democracia do mundo”... então, e a Inglaterra, não conta?

Não deixa, também de ser curioso que quem tanto bramou contra o discurso do Vice-presidente dos EUA em Munique por ser uma ingerência nos assuntos internos de um país soberano venha agora intrometer-se no modo como o líder dessa tal democracia mais antiga, nas palavras dele, gere os contactos com a comunicação social.

Mas o que me incomodou mais foi ler os inúmeros artigos e comentários de concordância. A fazer fé em toda essa gente, temos vivido em democracia ampla e o perigo está todo no Trump e nos partidos europeus da extrema-direita – não nos da extrema-esquerda, entenda-se, todos nós sabemos como o nosso PCP é fã de regimes democráticos, como Cuba e a Coreia do Norte.

Queixam-se, também, de o dito Trump estar a coartar a liberdade de expressão e a tentar espartilhar a comunicação social em regras que o apoiem e lhe sejam favoráveis, sendo o exemplo acabado a proibição da presença da Associated Press (AP) nas conferências de imprensa da Casa Branca, supostamente por não quererem chamar Golfo da América ao Golfo do México. Pois, os anos de guerra aberta e as muitas falsidades e meias falsidades da dita não têm nada a ver com o caso. Basta lembrarmo-nos que a Lusa, esse bastião de isenção, retira diretamente da AP muitas das suas notícias internacionais, sem se dar ao trabalho de as verificar.

Mas vamos ao que importa, esse tal deslizar da democracia para a ditadura.

Começando pela política, recordo que o inenarrável Sr. Costa, aquando da formação do governo geringonça, ouviu todos os outros partidos exceto o Chega “porque não vale a pena”. E o Senhor de Belém aplaudiu. Recordemos, também, a satisfação geral com a anulação das eleições na Roménia e as ameaças veladas de se fazer o mesmo na Alemanha caso a direita ganhasse.

E é o Trump e a direita europeia que nos querem levar para uma ditadura?

Isto sem contar os insultos mais ou menos soezes contra quem ousa votar de modo contrário aos ditames dos Donos da Verdade. Para essa gente não passam de pessoas estúpidas e ignorantes que não sabem o que fazem quando votam. Já só falta exigir que percam esse direito – e, muito francamente, já estivemos mais longe disso.

Em termos de liberdade de expressão, não há, certamente, melhor exemplo do que o professor de matemática de Inglaterra que foi despedido e proibido de ensinar durante três anos porque disse “muito bem, meninas” a uma turma de raparigas e uma delas “identificava-se” como rapaz. Ou a atual lei escocesa que dá penas de prisão pesadas a quem ousar rezar, mesmo silenciosamente, a menos de 500 metros de uma clínica de abortos.

Isto para não falar na proibição de espectadores de desporto liceal no Texas não poderem levar a bandeira desse estado porque pode ofender os mexicanos ou os muitos intelectuais proibidos de darem aulas ou conferências em universidades porque são “fascistas” – também já tivemos recentemente casos desses. O mais giro é quando perguntam aos alunos que exigiram esse boicote quais são, afinal, as ideias que contestam... não fazem a menor ideia, muitos até nem sabem quem é a pessoas, mas disseram-lhes que era má.

E é o Trump e a direita europeia que nos querem levar para uma ditadura?

Temos, também, a prova adicional dos cortes que o Musk quer fazer no funcionalismo americano que, apesar de não ser a “vaca gorda” que é o nosso, está bem inchado e eivado de incompetência. A grande vantagem é que é facílimo despedir e com uma compensação minúscula.

Vi – bom, de relance, já não tenho pachorra para certas coisas, se é que alguma vez a tive – numerosas entrevistas a funcionários de vários setores a bramarem contra os cortes porque vai ser o fim do mundo e o que eles fazem, todos eles, é absolutamente indispensável. Isto apesar de qualquer americano que tenha tido o azar de lidar com o governo poder dizer o contrário. Há, até, a célebre piada de a frase que mais assusta um americano ser “Somos do governo e viemos ajudar”.

Estranhamente, os mesmos que apontam o dedo ao tremendo deficit dos EUA são os que mais berram contra esta tentativa de cortar a despesa. Ou será que temem que a moda pegue e que os respetivos eleitores comecem a exigir o mesmo? Em Portugal iria resultar às mil maravilhas, atendendo a que o Passos Coelho tentou algo similar com chefes de secção – dizerem quantos subordinados tinham e o que faziam – sem êxito, apesar de saberem que um despedimento seria praticamente impossível.

Isto para não falar dos muitos anúncios em tudo quanto é rede social sobre as centenas de milhares de pessoas que irão morrer devido ao fecho da USAID – ainda hoje vi um que falava em 500 000 sul-africanos! Já agora, para quem diz que a lista de “ajudados” é falsa porque quem a citou é “um mentiroso”, bom, os democratas não negam o conteúdo, só lamentam que tenha sido divulgada.

Ou seja, é sinal de uma boa democracia esconder dos contribuintes o destino que os que elegem dão aos seus impostos. E não, Musk ter começado pela USAID não foi “inocente”, havia boatos há muito tempo mas, infelizmente, a realidade era bem pior do que o mais assanhado partidário de conspirações imaginava. Sem falar que, analisando a lista, os apoios são na sua maioria para assuntos relativos a transexualidade, fora os apoios a esses bons democratas do Hamas e  do Hezbollah.

E é o Trump e a direita europeia que nos querem levar para uma ditadura?

Para a semana: Vivemos num país seguro... Pois, pelos vistos todos o sabem... exceto a população em geral

21
Fev25

176 - Poder Local

Luísa

Como parece que a Assembleia da República vai anular o veto presidencial sobre a desagregação de freguesias, ainda por cima a uns meros meses das eleições autárquicas, achei que era altura de escrever sobre o chamado poder local.

Em termos autárquicos, o nosso país contém, atualmente, 308 Câmaras Municipais e 3091 freguesias (sendo 115 nos Açores e 34 na Madeira)  - número reduzido de 4259 em 2013 e que está prestes a aumentar... Para comparação, a Grécia, com uma população similar à nossa, tem 325 concelhos (reduzidos de 1034 em 2020 para poupar dinheiro) e não tem juntas de freguesia.

Pequeno detalhe, obviamente sem importância para quem nos (des)governa, existe o chamado critério populacional que diz que um concelho não deve ter menos de 10 000 habitantes. E, à luz desta lei, um em cada três concelhos desapareceria uma vez que 110 dos 308 municípios não atingem esse número! Já agora, há centenas de freguesias na mesma situação – em compensação, há outras com um valor elevadíssimo de habitantes, como a maior do país, Algueirão-Mem Martins, com 68 649 habitantes (4193,6/km2) e que talvez fosse conveniente dividir. As duas freguesias mais pequenas são a de Paradela (Tabuaço) e Granjinha (Viseu) com 99 habitantes (Censos de 2021).

Resumindo, em vez de tentar manter – e criar, com esta nova lei – tachos e tachinhos era mais do que altura de olharmos com olhos de ver para o nosso mapa administrativo e reformulá-lo à luz dos valores atuais e não os do século 19, quando foi criado. Lembro que as juntas de freguesia surgiram em 1832 como juntas de paróquia, mudando apenas de nome em 1916.

Irei concentrar-me nas juntas de freguesia, que são constituídas por um presidente e vários vogais – bom as Câmaras têm também a Assembleia Municipal e, caso Presidente e a dita sejam de “cores” diferentes isso pode causar imensos problemas porque, “estranhamente”, põem frequentemente os interesses partidários à frente dos legítimos interesses de quem dizem representar.

No papel, uma Junta de Freguesia assegura variados serviços aos habitantes da zona, que vão desde o trabalho de atendimento ao público, até à gestão de equipamentos desportivos, educativos, sociais e culturais, e que, supostamente, contribuem para a proximidade e dinâmica da freguesia para com a população.

Curiosamente, uma das suas responsabilidades mais importantes – e estou a citar – é “contribuir para as políticas municipais de habitação através da identificação de carências habitacionais; definir critérios especiais nos processos de realojamento; participar em programas e projetos de ação social e promover e executar projetos de intervenção comunitária”. Hum... quem diria!

São, também, responsáveis pela gestão, manutenção e limpeza dos espaços públicos e equipamentos, exceto os chamados estruturantes: grandes vias de circulação ou grandes espaços verdes.

E asseguram todo o licenciamento das seguintes atividades: realização de acampamentos ocasionais; exploração de máquinas automáticas de diversão; realização de espetáculos desportivos e de divertimentos públicos nas vias, jardins e demais lugares públicos ao ar livre; venda de bilhetes para espetáculos ou divertimentos em agências ou postos de venda e realização de leilões.

Existe um Portal das Freguesias que permite procurar a que nos interessa. Só que, aberta a respetiva página, a informação é nula, nem os nomes dos autarcas inclui, exceto, às vezes, o Presidente da Junta.

Mas se quiser uma lista completa das autarquias, encontra-a aqui, com contactos e Website, caso exista.

Dizem os grandes defensores da nova lei e da manutenção e criação de freguesias que isto permite uma maior aproximação entre a população e o poder autárquico. Mas será mesmo assim? Lembro que muitos casos de idosos encontrados mortos semanas – ou meses – depois se deram em freguesias relativamente pequenas e que em várias freguesias de Lisboa há moradas com mais de mil pessoas registadas na respetiva junta sem que esta se apercebesse dessa impossibilidade.

Pior ainda, transparência não abunda. Se forem à lista que citei acima de todas as freguesias do país verão que poucas têm um Website e, pior ainda, muitos deles estão vazios de conteúdo ou não são atualizados há anos, não permitindo, pois, que os residentes saibam o que a respetiva Junta anda a fazer – as Câmaras são um pouco melhores neste aspeto e muitas têm, até, sites muito completos e, acima de tudo, muito informativos.

Último detalhe, de acordo com os dados oficiais da DGAEP, as juntas de freguesia têm, agora um quadro com 16 681 trabalhadores, tendo acrescentado 586 no último ano. E os municípios empregam agora 115 367 pessoas, com um acréscimo de 3700 em 2024. E queriam a regionalização, com mais uma boa dose de novos funcionários públicos!

Em grande parte a culpa de tudo isto até é nossa, dos eleitores. Limitamo-nos a pôr a cruzinha nos boletins de voto – quando o fazemos, a abstenção nas últimas autárquicas foi de quase 46 % - e consideramos que o nosso papel acabou. E quantas vezes votamos às cegas, escolhendo apenas um partido e sem nos darmos ai trabalho de saber quem está nessa lista ou, até, se há candidatos independentes ou de outros partidos que conheçamos e que poderão fazer um bom trabalho. Na minha opinião, é precisamente esta a causa da pressa em desagregar as freguesias, é que a meses das eleições os partidos – sobretudo os grandes – estão em melhor posição para preparar atempadamente listas concorrentes.

Para concluir, se gostaria de se candidatar à sua junta de freguesia ou conhece alguém que acha que faria melhor do que quem lá está, encontra aqui o mais recente Manual de Candidatura de Grupos de Cidadãos Eleitores a Órgãos de Autarquias Locais – o texto é de 2021, mas este tem como data de publicação 2025 – que inclui, entre outras coisas, o número de “assinaturas” (proponentes) para os vários cargos.

E a Comissão Nacional de Eleições disponibiliza aqui uma aplicação informática que permite escolher, em concreto, o órgão autárquico a que se pretende apresentar a candidatura e obter a informação sobre o número necessário de proponentes.

Para a semana: O que é importante... Um post mais “levezinho” sobre a ênfase que damos a certas coisas em menosprezo de outras.

14
Fev25

175 - Mulheres, mais uma vez

Luísa

Como muitas outras coisas, também o feminismo foi bem útil e necessário quando surgiu, tendo descambado posteriormente. Ou seja, o que começou como um movimento para dar às mulheres os mesmos direitos dos homens – nomeadamente o voto – e a possibilidade de estudarem e terem profissões sem restrições devidas ao seu sexo foi-se transformando em quotas e numa espécie de ditadura contra, precisamente, as mulheres.

Com a minha idade e o facto de ser portuguesa, assisti a várias dessas etapas, umas mais pessoalmente do que outras. Por exemplo, lembro-me de ter ficado chocada por uma colega do liceu, uma vez terminado o 5.º ano em Moçambique não ter podido ir fazer um curso de secretariado na então Rodésia porque o pai, separado da mãe – lembro que na época não havia divórcio – não autorizou a sua saída do país e era o único a poder fazê-lo.

Comecei a ler e a informar-me e alguns anos depois reparei num pequeno fenómeno: se uma mulher dizia que era “dona de casa”, bom, era olhada de lado por muitas outras mulheres e vista quase como uma coitadinha vítima da subjugação masculina – por muito mentira que fosse, quantas vezes era ela que mandava nas finanças domésticas e não só. Ou seja, para não ser menosprezada, uma mulher tinha de arranjar um emprego.

Daí até aos berros por quotas e equidade foi um passinho.

Uma afirmação muito repetida e que sempre me intrigou é a de que o mundo seria um lugar melhor se fossem as mulheres a mandar porque têm mais empatia e são menos violentas – pois, perguntem à polícia americana, por exemplo, quem é “melhor”, gangs de rapazes ou de raparigas, a resposta poderá espantar-vos. Só que quando se trata de empregos e carreiras, as mesmas que o dizem agem como se, afinal, homens e mulheres fossem iguais no modo como pensam e, acima de tudo, nas suas aspirações.

Enquanto que para muitos homens a vida resume-se ao trabalho e pouco mais – daí a dificuldade acrescida que têm em adaptar-se à vida após a reforma – muitas mulheres aspiram por algo mais, ou seja, por terem vida pessoal e familiar. Pode-se, até, dizer, que são muito mais fãs do famoso equilíbrio entre vida laboral e vida pessoal que tantos apregoam como desejável.

Só que quem quer quotas para tudo e mais alguma coisa parece ignorar ou, no mínimo, desprezar, esta diferença. E é importante porque é praticamente impossível chegar a dirigente de topo sem dedicar ao trabalho a maior parte do seu tempo e atenção – bom, exceto os “boys” de ambos os sexos, claro. Por isso quem quer o mesmo número de mulheres nesses cargos, das duas uma: ou quer que as mulheres esqueçam aquilo que as faz feliz para se converterem em máquinas de trabalho; ou esperam que os homens trabalhem ainda mais para compensar...

Estranhamente, as quotas só vêm a lume quando as mulheres estão em número inferior. Mas se for o contrário, então está tudo bem. E, pequeno detalhe, há agora bastantes profissões – e cursos universitários – em que as mulheres ultrapassaram os homens. Por exemplo, juízes, em 2006 havia 809 mulheres e 841 homens e em 2020 passaram a ser 1072 mulheres para 659 homens – vamos criar uma quota?

Quanto à sobrecarga que as mulheres têm porque, para além do emprego, cuidam da casa e dos filhos, já falei anteriormente nisso, vou só referir um pequeno detalhe. Há países em que a luta pela igualdade já tem umas boas três gerações, como a Suécia. Estamos, pois, a falar de pelo menos uma geração de rapazes que foram educados por mães feministas que, supostamente, tratavam filhos e filhas de igual modo. E não aprenderam nada? Ou não lhes foi ensinado que um lar é uma partilha – como digo num dos primeiros posts deste blog, Os homens não devem ajudar em casa (leiam, não é o que pensam...)?

Tudo isto me leva a um novo movimento que começa a surgir em vários países conhecidos pelo que têm feito pela igualdade das mulheres na sociedade, nomeadamente a Suécia, essa pioneira que se gaba de garantir a equidade em todas as áreas. Em inglês chama-se “soft girls” – raparigas suaves, numa das suas aceções – e que tem atraído a ira das atuais feministas.

Basicamente, uma adepta da “soft life” não se interessa por progredir numa carreira, dá, sim, valor a cuidar de si e a apreciar a vida, de preferência tendo alguém que cuide dela. Ou seja, dias calmos, exercício suave e não sessões árduas num ginásio, basicamente, deixar correr o marfim. O seu grande objetivo é vir a ter uma vida que consista, para além de cuidar de si, em tratar do namorado ou marido e cuidar da casa de ambos e dos filhos, caso os tenha,

Curiosamente, ou talvez não, muitas das que aspiram a este tipo de vida são filhas de mulheres com boas carreiras e que as educaram para serem iguais aos homens em termos de trabalho e de estudos. Um inquérito recente na Suécia mostrou que 14 % das raparigas entre os 14 e os 25 anos almejam, acima de tudo, virem a ser “soft girls”. E esse número está a aumentar ano a ano. De tal modo que a maior agência de encontros do país alterou os seus serviços uma vez que muitas das mulheres que a procuram querem agora um homem 10 a 15 anos mais velho e com uma vida económica estável... hum, definitivamente um regresso ao passado.

Penso que este é mais um dos casos em que se esticou demasiado a corda, levando muitas mulheres a sentirem-se culpadas por não quererem ter uma carreira – em vez de um emprego – e por gostarem de coisas “femininas” no sentido tradicional do termo. E o mal foi alguém ter começado a dizê-lo nas redes sociais, muitas outras descobriram que, afinal, não eram as únicas a pensar assim e... pronto, surgiu o movimento “soft”.

Para a semana: Poder local. A propósito da lei vetada de voltar a desagregar freguesias

07
Fev25

174 - Politizações e hipocrisias

Luísa

A moda de politizar o que não devia ser politizado não começou em Portugal, mas foi sendo mais ou menos descaradamente adotada por cá nos últimos anos por pessoas que, pelas funções que exercem, deviam ter mais respeito pelos cidadãos que os sustentam. Mas ultimamente, talvez devido a um certo desespero da esquerda ao ver fugir-lhe o título de Dona da Verdade, tem alastrado de forma alarmante.

A segurança, por exemplo. Ouvimos recentemente um responsável dessa área dizer publicamente que, ao contrário do que a direita apregoa, e de acordo com os dados da Polícia, a criminalidade geral há 10 anos que não estava tão baixa. Hum...

Vamos ao grande  problema com esta afirmação, “de acordo com os dados da Polícia”. Será que não ocorreu a essa sumidade que estes dados se baseiam, única e exclusivamente, nas queixas apresentadas? É claro que para quem vive na nuvem cor-de-rosa da esquerda bem pensante, qualquer cidadão vítima de um crime, por muito leve que seja, vai a correr queixar-se à esquadra mais próxima. E se fosse assim, esses dados refletiriam, de facto, a verdade.

Só que... Quem vive no mundo real sabe muito bem que só há dois tipos de circunstâncias em que se apresenta queixa: quando é precisa para resolver certos assuntos, como seguros e recuperação de documentos e cartões bancários; ou quando o crime “deu nas vistas” e levou à intervenção da dita polícia. Nos outros casos nem vale a pena, não por desconfiança das forças policiais mas porque já todos conhecem a “bondade” e morosidade do que passa por justiça neste país e os muitos juízes beneméritos prontos a dar uma oportunidade aos criminosos. E isto sem contar que, se os alegados criminosos forem de uma “espécie protegida”, a vítima vê-se nas bocas do mundo e não é levada muito a sério – veja-se o caso das jovens estrangeiras recentemente violadas em Lisboa.

Mais ainda, e como muitos sabem que é verdade, por experiência própria, não faltam casos em que é a própria polícia que tenta dissuadir a vítima de apresentar queixa porque sabem bem que não terá qualquer resultado.

Perante isto, acham mesmo que a ideia de insegurança crescente é apenas “uma perceção”? Bom, não tenho a menor dúvida de que o que é uma perceção é a ideia de um país / cidade seguros por parte de quem vive em bairros de luxo e só se desloca em viatura privada...

Na mesma onda, temos a afirmação de que, também ao contrário do que diz a tal direita, a maioria dos presos em Portugal são portugueses. E até são bem capazes de o serem. Só que... Sabiam que qualquer estrangeiro que resida legalmente no país há 5 anos pode requerer a nacionalidade? Isto para além do casamento... É claro que a lei diz que não pode ter cadastro e deve ter conhecimentos razoáveis de português.

Bom, lembro que o cadastro tem a ver apenas com penas a que a pessoa foi, de facto, condenada. E com a maravilha que é o cruzamento de dados no nosso país, o dito candidato a português tem tempo de cometer uma série de crimes e, se não tiver sido julgado e condenado... não tem cadastro. E o conhecimento da língua também funciona lindamente. Um senhor do Bangladesh, naturalizado português em 2022 – ou seja, está em Portugal no mínimo há 8 anos – está a ser julgado por ter dado a sua morada como sendo a de mais de 1000 conterrâneos da sua nacionalidade de origem. Pois bem, apesar da exigência de saber a língua para poder ser português... está a usar um intérprete.

Mas pior ainda do que tudo isto é a profunda hipocrisia que reina por aí, entre os nossos políticos e não só.

Por exemplo, foram divulgados recentemente dados referentes a casos de mutilação genital feminina detetados – e lembro que, a menos que a vítima se queixe, só se dará conta deles se houver uma ida a um ginecologista ou similar,  ou seja, os números dados são, literalmente, a ponta do icebergue. Apesar da pouca divulgação da notícia, fiquei à espera – confortavelmente sentada, claro, sei bem do que a casa gasta – que o partido da Lei do Piropo berrasse e exigisse medidas drásticas, por exemplo, exame obrigatório de todas as raparigas das etnias que praticam esse “costume”. Mas... nada.

Pequeno detalhe, Portugal tomou, de facto, medidas contra esta prática nefanda: declarou-a “crime autónomo” e criou este mês uma Pós-graduação em Mutilação Genital Feminina – as raparigas e mulheres abrangidas que vivam em Portugal já podem dormir descansadas!

Para terminar, falemos do que se tem passado recentemente com deputados do Chega, nacionais ou não, e do modo como o PS reagiu. Vi um senhor deste partido a gozar com o Ventura na Assembleia da República por o Chega se dizer o partido da lei e justiça. A sério? Um PS cheio de pessoas acusadas ou sob suspeita de roubos vultuosos que nos lesam a todos acha que tem o direito de gozar com um Arruda e as suas malas? Já agora, que tipo de segurança têm os nossos aeroportos para que um caso deste se arrastasse tanto tempo “sob investigação”? E não teria sido mais útil impedir que a situação se repetisse em vez de tentar encontrar um culpado?

Há, ainda, o deputado apanhado com álcool a mais – outro fartote de críticas. Só que não causou nenhum acidente, ao contrário daquele outro senhor que desapareceu do local onde a sua viatura oficial tinha colhido e morto um homem... E nem falo da pedofilia, sempre achei curioso terem achado as vítimas da Casa Pia credíveis... exceto quando falaram em membros de um certo partido.

Enfim, sei perfeitamente que não há pessoas totalmente isentas, mas quem tem certos cargos e ocupações – políticos, jornalistas, influenciadores no sentido clássico do termo – devia, no mínimo, fazer um pequeno esforço para não ser totalmente “enviesado”.

Para a semana: Mulheres, mais uma vez. Do atual "feminismo" às muitas hipocrisias e a um novo movimento que está a surgir

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