177 - Vamos a caminho da ditadura!
Devido a declarações muito aplaudidas feitas esta semana pelo Senhor de Belém e os milhentos comentários que suscitaram decidi alterar o tema desta semana. Refiro-me, claro, às suas críticas a Trump (grande novidade...) e o seu alerta para “o deslizar da democracia para a ditadura”. Pequeno detalhe, acho muito estranho que uma pessoa que se gaba de ser tão conhecedora e culta chame aos Estados Unidos a “mais antiga democracia do mundo”... então, e a Inglaterra, não conta?
Não deixa, também de ser curioso que quem tanto bramou contra o discurso do Vice-presidente dos EUA em Munique por ser uma ingerência nos assuntos internos de um país soberano venha agora intrometer-se no modo como o líder dessa tal democracia mais antiga, nas palavras dele, gere os contactos com a comunicação social.
Mas o que me incomodou mais foi ler os inúmeros artigos e comentários de concordância. A fazer fé em toda essa gente, temos vivido em democracia ampla e o perigo está todo no Trump e nos partidos europeus da extrema-direita – não nos da extrema-esquerda, entenda-se, todos nós sabemos como o nosso PCP é fã de regimes democráticos, como Cuba e a Coreia do Norte.
Queixam-se, também, de o dito Trump estar a coartar a liberdade de expressão e a tentar espartilhar a comunicação social em regras que o apoiem e lhe sejam favoráveis, sendo o exemplo acabado a proibição da presença da Associated Press (AP) nas conferências de imprensa da Casa Branca, supostamente por não quererem chamar Golfo da América ao Golfo do México. Pois, os anos de guerra aberta e as muitas falsidades e meias falsidades da dita não têm nada a ver com o caso. Basta lembrarmo-nos que a Lusa, esse bastião de isenção, retira diretamente da AP muitas das suas notícias internacionais, sem se dar ao trabalho de as verificar.
Mas vamos ao que importa, esse tal deslizar da democracia para a ditadura.
Começando pela política, recordo que o inenarrável Sr. Costa, aquando da formação do governo geringonça, ouviu todos os outros partidos exceto o Chega “porque não vale a pena”. E o Senhor de Belém aplaudiu. Recordemos, também, a satisfação geral com a anulação das eleições na Roménia e as ameaças veladas de se fazer o mesmo na Alemanha caso a direita ganhasse.
E é o Trump e a direita europeia que nos querem levar para uma ditadura?
Isto sem contar os insultos mais ou menos soezes contra quem ousa votar de modo contrário aos ditames dos Donos da Verdade. Para essa gente não passam de pessoas estúpidas e ignorantes que não sabem o que fazem quando votam. Já só falta exigir que percam esse direito – e, muito francamente, já estivemos mais longe disso.
Em termos de liberdade de expressão, não há, certamente, melhor exemplo do que o professor de matemática de Inglaterra que foi despedido e proibido de ensinar durante três anos porque disse “muito bem, meninas” a uma turma de raparigas e uma delas “identificava-se” como rapaz. Ou a atual lei escocesa que dá penas de prisão pesadas a quem ousar rezar, mesmo silenciosamente, a menos de 500 metros de uma clínica de abortos.
Isto para não falar na proibição de espectadores de desporto liceal no Texas não poderem levar a bandeira desse estado porque pode ofender os mexicanos ou os muitos intelectuais proibidos de darem aulas ou conferências em universidades porque são “fascistas” – também já tivemos recentemente casos desses. O mais giro é quando perguntam aos alunos que exigiram esse boicote quais são, afinal, as ideias que contestam... não fazem a menor ideia, muitos até nem sabem quem é a pessoas, mas disseram-lhes que era má.
E é o Trump e a direita europeia que nos querem levar para uma ditadura?
Temos, também, a prova adicional dos cortes que o Musk quer fazer no funcionalismo americano que, apesar de não ser a “vaca gorda” que é o nosso, está bem inchado e eivado de incompetência. A grande vantagem é que é facílimo despedir e com uma compensação minúscula.
Vi – bom, de relance, já não tenho pachorra para certas coisas, se é que alguma vez a tive – numerosas entrevistas a funcionários de vários setores a bramarem contra os cortes porque vai ser o fim do mundo e o que eles fazem, todos eles, é absolutamente indispensável. Isto apesar de qualquer americano que tenha tido o azar de lidar com o governo poder dizer o contrário. Há, até, a célebre piada de a frase que mais assusta um americano ser “Somos do governo e viemos ajudar”.
Estranhamente, os mesmos que apontam o dedo ao tremendo deficit dos EUA são os que mais berram contra esta tentativa de cortar a despesa. Ou será que temem que a moda pegue e que os respetivos eleitores comecem a exigir o mesmo? Em Portugal iria resultar às mil maravilhas, atendendo a que o Passos Coelho tentou algo similar com chefes de secção – dizerem quantos subordinados tinham e o que faziam – sem êxito, apesar de saberem que um despedimento seria praticamente impossível.
Isto para não falar dos muitos anúncios em tudo quanto é rede social sobre as centenas de milhares de pessoas que irão morrer devido ao fecho da USAID – ainda hoje vi um que falava em 500 000 sul-africanos! Já agora, para quem diz que a lista de “ajudados” é falsa porque quem a citou é “um mentiroso”, bom, os democratas não negam o conteúdo, só lamentam que tenha sido divulgada.
Ou seja, é sinal de uma boa democracia esconder dos contribuintes o destino que os que elegem dão aos seus impostos. E não, Musk ter começado pela USAID não foi “inocente”, havia boatos há muito tempo mas, infelizmente, a realidade era bem pior do que o mais assanhado partidário de conspirações imaginava. Sem falar que, analisando a lista, os apoios são na sua maioria para assuntos relativos a transexualidade, fora os apoios a esses bons democratas do Hamas e do Hezbollah.
E é o Trump e a direita europeia que nos querem levar para uma ditadura?
Para a semana: Vivemos num país seguro... Pois, pelos vistos todos o sabem... exceto a população em geral
