173 - A economia precisa de emigrantes
Esta é uma das expressões que mais ouvimos em Portugal – e não só. Logo seguida – ou superada – por “precisamos de emigrantes para sustentar a Segurança Social”. Sem esquecer o choradinho da baixa taxa de natalidade dos “portugueses de gema”, digamos, com todas as trágicas consequências que os “entendidos” preveem que vai trazer para a nossa sociedade.
Pequeno detalhe, quando esses peritos, políticos e outros que tais falam de emigrantes referem-se, claro está, a não europeus, de preferência sem estudos, profissão ou qualquer tipo de aptidão e muito menos dinheiro. Já se for um médico sueco em busca de um país mais quente ou um empresário alemão a querer montar uma empresa, “Arreda, Satanás”, é uma invasão indesejável e que só vai descaracterizar o nosso país e cultura.
Mas vamos por partes, começando pela economia. A teoria vigente é que os emigrantes vêm fazer os trabalhos que os portugueses não querem fazer, ficando implícito que não os aceitam porque são maus e mal pagos. E eu até acredito, se olharmos para outros números que raras vezes são citados. Por exemplo, em 2023 havia em Portugal 214 000 pessoas – não famílias, pessoas – com o erroneamente chamado Rendimento Mínimo, ou seja, o Rendimento Social de Inserção (RSI). Já agora, continuo à procura, sem êxito, de dados que me digam quantas pessoas foram inseridas desde a sua criação em 1996.
Ora acham mesmo que estas pessoas, tendo um dinheirinho garantido sem nada fazerem, mais as outras benesses que estar no RSI acarreta, vão aceitar um emprego? Lembro-me de um caso de uma senhora a quem arranjaram trabalho a cuidar de uma idosa. Pois bem, nem uma semana durou. E a razão, dita por ela na TV? “Pouco mais recebo e tenho de trabalhar”...
Junte-se a isto as quase 323 000 pessoas registadas como desempregadas e com quem se passa algo curioso: muitas arranjam misteriosamente emprego quando o subsídio acaba, mas não antes. Há exceções, claro, mas é uma situação usual e que não nos é exclusiva. Em França, há uns anos, o tempo de subsídio foi reduzido em um ano exatamente pela mesma razão.
Sem contar que abrir as portas do país não é a única solução. Veja-se o caso do Japão que, perante uma situação similar optou por automatizar e arranjar novos modos de fazer as coisas, inclusive na construção civil. É que, entre outras coisas, suspeitavam que muitos dos que entram num país para “terem uma vida melhor” optam por meios menos trabalhosos, como tráfico de drogas ou outros tipos de criminalidade.
Passemos, agora, à Segurança Social. Os últimos dados dizem que são precisas 2,5 pessoas no ativo para sustentar cada reformado. Sendo assim, precisamos de “importar” pessoas. Só que... estarão a insinuar que esses tais emigrantes não vão envelhecer? Ou que sairão do país antes de chegarem à idade da reforma?
E porque digo isto? Bom, vamos a umas continhas:
- 2,5 pessoas atuais para 1 reformado
- se tudo se mantiver igual em termos de custos (e nunca fica), essas 2,5 pessoas irão precisar de 6,25 quando chegarem à reforma
- e as 6,25 precisarão, por sua vez, de 15,62
Estão a ver onde quero chegar? Ou seja, se mantivermos o esquema atual da reforma aos 66 anos – sim, eu sei, mais 7 meses – daqui a uns tempos teremos um cenário tipo “As Cavernas de Aço” do Asimov, ou seja, viveremos uns em cima dos outros. E lembro, estes números são apenas se os custos ficarem na mesma, ou seja, se não progredirmos no montante das pensões e outras regalias a dar aos reformados.
Mais ainda, essa ideia de que precisamos de emigrantes para que sustentem a Segurança Social parte da falácia de que eles irão contribuir para a dita. Só que... mesmo que sejam todos pessoas decentes e dispostas a trabalharem, com a sua falta de qualificações, teóricas ou práticas, que tipo de emprego acham que podem arranjar? Muito francamente, algo pago com o salário mínimo ou pouco mais – isto se não for menos...
Ou seja, pouco ou nada contribuirão para a Segurança Social mas, em compensação, irão usar os seus recursos em cuidados de saúde e outras coisas. Resumindo, em vez de serem a solução serão, isso sim, mais um fator para afundar esse sistema.
Último detalhe, a matemática não é a única área em que os “fazedores de opinião” esbarram, a biologia também não é o seu forte. Vem isto a propósito da suposta necessidade de aumentar a taxa da natalidade na Europa em geral e em Portugal em particular. É que não sei se já repararam, mais muitos dos “migrantes” são homens. Sim, em Inglaterra, França e Alemanha isso não é bem assim, muitos chegaram via Turquia trazendo mulheres com eles e, fazendo filhos a torto e a direito, têm aumentado muito as respetivas comunidades.
Mas... qual tem sido o seu contributo para os equivalentes locais da nossa Segurança Social? Muito francamente, negativos. É que – e ao contrário do que a religião deles ordena – muitos desses homens vivem alegremente dos subsídios e ajudas dados às suas mulheres e filhos. Bom, se queremos aumentar a taxa da natalidade só para dizer que somos muitos... parabéns, é o caminho certo. Mas se é para ajudar a garantir as reformas e outros aspetos da Segurança Social, lamento dizê-lo, mas não funciona.
Resumindo, o nosso país não precisa de emigrantes a esmo. Precisa, isso sim, de pessoas que trabalhem, sejam portuguesas ou estrangeiras e, acima de tudo, que eduquem os filhos para serem membros produtivos da sociedade. E precisa, também, de reformular a ideia do que é ser “velho” e deixar de pôr de lado pessoas perfeitamente capazes só porque atingiram uma determinada idade que fazia sentido nos anos 70 – em que a esperança média de vida era de 68,2 anos – e que deixou de o fazer atualmente – com uma esperança média de vida de 81 anos e sempre a aumentar!
Para a semana: Politizações e hipocrisias. Dos relatórios policiais a casos caricatos, têm sido umas semanas em cheio...