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Luísa Opina

Neste blogue comentarei temas genéricos da nossa sociedade. Haverá um novo texto todas as sextas-feiras

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Luísa Opina

06
Dez24

165 - Violência doméstica II

Luísa

Já publiquei este ano um post sobre este assunto, intitulado, precisamente, Violência doméstica. Nele cingi-me à interpretação tradicional, digamos, desta expressão, ou seja, atos, físicos ou não, perpetrados por um homem sobre a esposa, namorada ou companheira. Mas como tivemos recentemente o Dia Internacional a isso dedicado, decidi voltar ao assunto.

Já agora, sou contra os Dias Internacionais disto e daquilo por duas razões principais. Primeiro, há tantos que se banalizaram – se quiser conhecer a lista definida pela ONU, basta ir a este site. Mas, acima de tudo, porque acho que não servem para nada. Sim, há discursos e manifestações diversas – às vezes... – mas na prática nada se faz. E sim, sei que a ideia é chamar a atenção para determinadas coisas, só que conversa sem atos não nos levam a lado nenhum.

Mas vamos ao cerne da questão.

Falei acima da “interpretação tradicional” do que é violência doméstica. Ora eu acho-a demasiado restritiva sob vários aspetos. É um facto que a maior parte dos casos envolve um homem como agressor e uma mulher como vítima, mas a questão é que não sabemos quantos homens a sofrem – é que se muitas mulheres não falam no assunto por vergonha, imaginem o que será para um homem atrever-se a denunciar o caso.

Não nos esqueçamos das muitas piadas e comentários depreciativos feitos à custa de homens considerados subservientes em relação à sua companheira. E, curiosamente, com tantos vidrinhos a ofenderem-se por tudo e por nada tudo isto continua a ser aceitável.

Pensemos, também, no que se passa entre casais homossexuais. Ou será que acham que a ausência da “masculinidade tóxica” – a que voltarei mais adiante – impede a violência doméstica?

Mas esta é apenas uma das razões de eu achar esta definição demasiado restritiva. Para mim, devia estender-se a todo o tipo de violência, física ou oral, que tem lugar no seio da família.

Ou seja, violência de pais contra filhos, a cada vez mais popularizada violência de filhos contra pais – nem sempre idosos – ou avós, ou a de outros membros da família, como o caso recente de uma mulher que agredia a tia. A ênfase devia estar em duas áreas, passar-se no âmbito familiar e não ser um caso isolado – este seria, simplesmente, uma agressão.

Passando a outra faceta deste problema, muito se tem escrito sobre as razões de isto acontecer, apesar de que, nos últimos tempos e a fazer fé nos cartazes e slogans que vi nas manifestações, a culpa é toda da “masculinidade tóxica” em particular e dos homens em geral. Ou seja, as mulheres não são nunca culpadas de violência doméstica nem há outras causas, como a educação recebida, por exemplo.

No post anterior falei de algumas coisas que me intrigam sobre este assunto, nomeadamente o facto de muitas jovens acharem perfeitamente natural que o namorado as impeça de falar com outros rapazes, as insulte de todos os modos ou, até, passe a atos físicos. Segundo vi em várias entrevistas há uns tempos – não muitos – são tudo provas de amor. Ou, então, surge a eterna desculpa do “pois, ele passa-se um bocadinho, mas até é bom rapaz...” Francamente, tantas aulas de cidadania e de educação sexual e é esta a sua mentalidade?

É claro que se ouvirmos certos comentadores e especialistas, estas situações, para além de se deverem apenas à maldade intrínseca dos homens, só se prolongam porque as mulheres não têm como se sustentarem caso saiam de casa, sobretudo tendo filhos. Para além de isso já não ser, muitas vezes, verdade, havendo até muitos casos em que a mulher ganha mais do que o marido, acho que as razões são outras e bem mais profundas.

As situações de violência doméstica têm um ponto em comum: não começam no auge. Ou seja, surgem de mansinho, um insulto aqui, uma bofetada acolá, e vão aumentando de tom até culminarem, demasiado frequentemente, em mortes ou ferimentos graves. E o mesmo se passa com os chamados “ciúmes violentos”, ou seja, a restrição dos contactos permitidos, muitas vezes até com a família.

Acho, pois, que em vez de tanta conversa seria, se calhar, bem mais útil educar a população, sobretudo a feminina, mas não só, para a triste realidade de que há sempre uma segunda vez – e terceira, e quarta... Ou seja, por muito grande que seja o arrependimento mostrado pelo agressor, e que muitas vezes até é genuíno, há que mostrar claramente que não os seus atos não são toleráveis.

Não estou a dizer que se ponha de imediato fim a uma relação, mas a sua continuação deverá estar sujeita a regras, nomeadamente a procura de ajuda por parte do agressor para entender as raízes do seu comportamento. E se houver repetição, bom... aí está o caldo entornado.

O que me leva à parte final deste post. É que apesar de ouvirmos vezes sem conta que crianças criadas em ambientes violentos tendem a perpetuá-los nas suas relações adultas, pouco ou nada fazemos para travar a continuação desse tipo de comportamentos. Tal como disse no post anterior, quem lida com crianças deveria estar atento ao modo como os pais se comportam entre si.

Um deles menospreza sempre o que o outro diz ou até nem o deixa falar? Não se coíbe de o insultar em público? São tudo sinais de alerta. Mas também aqui a ideia não é retirar as criancinhas aos pais, seria bem mais útil forçá-los a fazer um curso sobre relacionamento saudável e sobre o que é ou não aceitável.

Quanto aos casos de violência existentes, sejam “tradicionais” ou outros, acabemos com isso de ser a vítima a ter de sair de casa ou, pior ainda, a ter de viver escondida. Feita a denúncia – e leiam o que escrevi no post anterior sobre este assunto – o agressor é retirado  e ser-lhe-á dada uma residência fixa longe da vítima, com pulseira eletrónica paga por ele. Mais ainda, penas pesadas para quem não cumprir o afastamento. E penas a sério para os casos graves – seria bom vermos uma pena agravada para quem mate ou fira gravemente a pessoa com quem partilhava a sua vida.

Para a semana: Greves. Como seria de esperar com um governo “de direita”, há greves a torto e a direito.

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