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Luísa Opina

Neste blogue comentarei temas genéricos da nossa sociedade. Haverá um novo texto todas as sextas-feiras

Neste blogue comentarei temas genéricos da nossa sociedade. Haverá um novo texto todas as sextas-feiras

Luísa Opina

27
Dez24

168 - Seria tão bom 2...

Luísa

Como sou uma otimista nata, aqui estou, de novo, com os meus desejos de 2025 para a sociedade em que vivemos. E quem sabe, pode ser que à custa de falar neles algum se realize, nem que seja parcialmente.

Poderá sempre ler os meus posts anteriores desta época do ano: Resoluções, resoluções, em que também falo de algumas pessoais e mais fáceis de cumprir, e, claro, o Seria tão bom... do ano passado.

Curiosamente, pegando neste último as situações que citei não melhoraram, pioraram, até, e bastante. E foram elas o ambiente, os nossos políticos face às eleições legislativas, os eleitores nas mesmas, as quotas para minorias e similares, o idadismo, a saúde e a justiça. E vou aqui abordar, de novo, alguns deles.

No ambiente, disse como seria bom reduzirmos o lixo produzido e, também, fazer durar mais os artigos que usamos, sobretudo os eletrónicos, em vez de andar ao sabor da última moda. Ora perante a greve da malta do lixo em Lisboa, seria mesmo bom se as pessoas só pusessem fora o que tem cheiro, digamos, e guardassem o resto até estar tudo regularizado.

Já agora, e isto aplica-se a todos os setores do funcionalismo público, seria tão bom... se houvesse um site onde nós, os contribuintes não desse setor, pudéssemos ver quanto é que ganham, setor a setor, categoria a categoria. E não apenas o salário base, todos os subsídios, ajudas e outros extras que auferem e se estão ou não incluídos no IRS. Assim, aquando de uma das muitas greves, saberíamos se são, de facto, tão “coitadinhos” como dizem.

Passando à nossa política, seria tão bom... que partidos e líderes deixassem de falar e de agir como se toda a população sofresse de amnésia. E que em vez de andarem a “brincar” a quem culpabiliza mais o outro lado pensassem, isso sim, em arranjar soluções para os muitos problemas que afetam o nosso país. E face a um apelo recente, penso que do atual Presidente da Assembleia, de aumentar os salários dos deputados, seria tão bom... ver um hemiciclo com menos gente e, acima de tudo, a proibição total de “políticos de carreira”. Ou seja, para se ser elegível é preciso ter trabalhado X anos, de preferência no setor privado.

E seria também tão bom... se acabassem as nomeações dos “boys”, ou seja, a escolha de alguém para um cargo teria de ter por base apenas a sua competência para o lugar e não a sua filiação e amizades partidárias.

Passando à educação, seria tão bom... olharmos a sério para um estudo recente que diz que muitos portugueses só entendem frases simples e quanto a matemática, nadinha. Em vez de dizerem que isso se deve à população mais idosa que pouca escolaridade tem, que tal fazerem um estudo abrangendo só pessoas até aos 45 anos? Suspeito que os resultados seriam muito similares...

Na justiça, seria tão bom... alterar as regras de modo a pôr fim a recursos ilimitados por parte de quem tem dinheiro, levando, claro, à prescrição dos crimes de que estão acusados antes de haver, de facto, um julgamento. E seria tão simples, bastaria decidir que enquanto dura um recurso o “relógio” da prescrição para. Pois, suspeito que haveria muito menos gente a recorrer de tudo e mais alguma coisa.

E que o Conselho de Magistratura se debruçasse sobre casos absurdos que abundam nos nossos julgamentos, com sentenças que não lembram a ninguém ou presos a aguardarem julgamento em liberdade apesar da tremenda gravidade dos atos de que estão acusados.

Quanto à saúde, desta vez até sou muito moderada no que peço. Seria tão bom... que em vez de a triagem para as Urgências ser feita via Linha SNS 24 fosse criada uma outra linha, só com três algarismos – tipo 112, ou seja, muito mais fácil de memorizar e usar, sobretudo quando se está aflito. Mas com cruzamento entre as várias linhas, claro, para o caso de se ter ligado para a “errada”. Isso evitaria a atual sobrecarga da Linha SNS 24, uma vez que é também usada por pessoas que apenas querem tirar umas dúvidas.

Passemos à imigração. Seria tão bom... que deixássemos de ouvir dizer que o país precisa de cem mil imigrantes para trabalhos que os portugueses não querem fazer. Isso faz-me uma tremenda confusão, atendendo a que há mais de trezentas mil famílias a receberem há anos o RSI sem nada fazerem em troca. E, lembro, chama-se Rendimento Social de Inserção, só que não vemos ninguém a ser inserido – ou reinserido na sociedade.

E quanto a imigrantes, aceitá-los se tiverem profissões realmente necessárias e se vierem, de facto para trabalhar. Ou acham que se receberem casa e um subsídio “temporário” vão à procura de emprego? Sem contar que todos nós sabemos o que “temporário” significa em Portugal. Já agora, não é curioso que não se possam importar médicos “porque podem não falar português” mas não há problema em querer mandar vir professores do Brasil?

Mais ainda, parar de falar em legalizar os ilegais, isso é um insulto para os muitos que cumpriram todas as regras – e são bastantes – para poderem residir e trabalhar em Portugal.

Deixar, também, de meter no mesmo saco todos os estrangeiros e parar de falar em xenofobia e racismo quando as comunidades que com eles lidam são contra a sua presença. Já agora, não seria bom... haver um abaixo-assinado para apresentar queixa contra os 800 e tal que protestam contra o que se passou no Martim Moniz acusando-os de encorajar a criminalidade e de discriminação contra os residentes?

Pois, suspeito – só não tenho a certeza porque, como tenho dito, sou uma otimista nata – de que para o ano aqui estarei com a mesma listinha...

Entretanto, boa Passagem de Ano e um 2025 melhor ou, no mínimo, não pior que 2024.

Para a semana: Absurdos do mundo atual Coisas que até parecem de comédia se não fossem tão trágicas.

20
Dez24

167 - Natal, tempo de paz?

Luísa

Estamos naquela época do ano em que se houve muito dizer “Só queria paz no mundo”. Um desejo muito meritório, sem dúvida, que, infelizmente, se mantém nas nossas listas ano após ano. Só que... O que fazemos, exatamente, para obter essa tal paz mundial? E aqui “nós” é toda a gente, das pessoas comuns, digamos, a políticos, jornalistas, etc. Bom, nada. Ou antes, vendo bem as coisas, tudo fazemos, por palavras e atos, para piorar as várias situações que ocorrem mundo fora.

Vamos a alguns exemplos, a começar pelo mais recente.

Os Houthis passaram os últimos anos a cometer atos de pirataria contra navios de inúmeros países, nomeadamente americanos e europeus – sem contar que internamente também são muito boa gente... E o que temos feito para os parar? Aumento da vigilância marítima e conversa fiada. Pequeno detalhe, se os barcos envolvidos na tal vigilância forem portugueses, bom, os ditos piratas podem estar descansados, serão mandados em paz mesmo que sejam apanhados em flagrante porque o nosso Código Penal não inclui o crime de pirataria!

Resultado? O que eram inicialmente ações esporádicas foram aumentando de frequência e de violência, usando como pretexto as ações de Israel em Gaza, pretexto esse aceite pelos usuais Donos da Verdade. Só que agora houve ação a sério, por parte de Israel, que lhes destruiu basicamente a economia. E sem resgates e venda de petróleo, boa sorte arranjarem quem lhes fie armas. É claro que este ato foi fortemente criticado pelos “suspeitos do costume” como sendo uma ação provocatória e sem razão de ser, esquecendo, muito convenientemente, os 200 mísseis com que os ditos atacaram Israel.

Ou seja, pelos vistos a ideia é combater os Houthis com palavras...

Passemos à Ucrânia. O Trump está a ser muito criticado por dizer que quer acabar com essa guerra. Confesso que isso me deixa confusa, será que os que o criticam desejam a continuação das hostilidades por tempo indeterminado? É claro que respondem logo que não, só são contra porque ele vai entregar a Ucrânia ao Putin – o que não deixa de ser curioso, relembro aqui que com Obama, o dito invadiu a Crimeia, com o Trump, esteve quieto como um rato e com o Biden, invadiu a Ucrânia.

A grande questão é que, mais uma vez, as coisas só chegaram a este ponto porque o Ocidente não se soube impor. Mesmo após o início da “operação especial”, a única atitude foi oferecer asilo político ao Zelensky. E só começámos a enviar apoios quando se tornou vergonhoso ficarmos de braços cruzados enquanto os ucranianos lutavam.

E, mesmo assim, tem havido a máxima preocupação para não ofender os russos. Lembra a alguém fornecer armas e impor restrições sobre o seu uso? Ou seja, a Rússia pode atacar onde bem lhe apetece, mas a Ucrânia só se pode defender no seu território? É isso zelar pela paz?

Já agora, atendendo a que a Embaixada de Portugal sofreu danos no último ataque a Kiev e que uma embaixada é território do país que representa, neste caso um membro da NATO, isto não significa que o Putin atacou esta organização? Só estou a perguntar...

Olhando à nossa volta, é sempre a mesma coisa. Quando acontece algo que põe em causa a paz mundial – ou, pelo menos, de uma parte do mundo – torcemos as mãos, choramingamos e... nada fazemos.

Deixámos instalarem-se em todo o norte de África regimes islâmicos, pior ainda, apoiámo-los, até, porque “lutavam contra ditadores”. E agora que só não vê quem não quer que são bem piores do que os regimes que substituíram, bom, encolhemos os ombros e nada fazemos. Ou antes, acolhemos, sem investigar, todos os que se lembram de nos bater à porta supostamente por estarem a ser perseguidos e deixamo-los à solta para indoutrinarem a população local.

Num post futuro falarei da inenarrável ONU, outra “defensora da paz” que só abre a boca para criticar certos países, deixando os outros cometerem as maiores atrocidades em paz e sossego. Isto quando não apoia abertamente um dos lados, numa clara violação do seu estatuto. Infelizmente, não é a única organização a fazê-lo, os exemplos são demasiado numerosos para os citar aqui.

Já o disse anteriormente, mas vale a pena repeti-lo aqui. Nunca gostei do De Gaulle, mas ele teve, certamente razão quando disse, e parafraseio, “Os pacifistas provocam mais guerras que os belicistas”.

É que a atitude vigente parece ser evitar fazer ondas para não provocar o outro lado, seja um país, um grupo armado, terroristas, enfim, tudo. A ideia subjacente parece ser que se formos boas pessoas e muito compreensivos, cedendo tudo e mais alguma coisa para manter a paz, esta será o resultado. Pois, resultou em cheio com Chamberlain e o Hitler!

Infelizmente, o único modo de manter a paz é batendo o pé e mostrando uma atitude de força, a chamada paz armada. É que a tática atual não leva à resolução de conflitos mas sim à sua exacerbação. Por muito boas que sejam as nossas intenções, o que conta é o modo como são vistas pelo outro lado. E a atitude constante de apaziguamento é considerada, pura e simplesmente, um sinal de fraqueza. Lembrem-se dos bullies, só atacam quem veem como sendo mais fracos do que eles.

Enfim, enquanto a nossa atitude não mudar e não traçarmos linhas vermelhas para as diversas situações que vão surgindo, mantendo-as com firmeza e garantindo que a sua violação terá consequências, bom, suspeito que a tal paz no mundo, tão badalada nesta época do ano, continuará a ser um dos muitos mitos que rodeiam o Natal.

E esta atitude estende-se, também, à paz interna, veja-a a indignação da nossa esquerda perante a ação policial no Martim Moniz. Ou seja, querem segurança – paz no país – mas só se isso não provocar ondas nem ofender ninguém. Quer dizer, ninguém dos “grupos protegidos”, se forem polícias ou brancos...

Para terminar, desejo Bom Natal a todos. Sim, Natal, não Festas Felizes, não pratico o cristianismo mas acho absurdo não se poder dizer isto porque “pode ofender”. Haja paciência!

Para a semana: Seria tão bom 2... À semelhança do que fiz o ano passado, a minha listinha de desejos (impossíveis) para 2025

13
Dez24

166 - Greves

Luísa

Como seria de esperar, agora que temos um governo “de direita” as greves regressaram em força. E há-as para todos os gostos e feitios. E, também inevitavelmente, ouvimos os usuais choradinhos a darem toda a razão aos grevistas, números diferentes de adesão à greve entre entidades empregadoras e sindicatos, o atirar total de culpas ao atual governo... resumindo, um vira o disco e toca o mesmo.

E há, também, um outro pequeno detalhe de muitas delas serem à sexta-feira ou à segunda-feira... ou numa véspera de feriado. Diga-se de passagem que cá em casa isso tem sido apontado há anos, mas só agora começo a ouvir alguns comentários (poucos) sobre isso.

Começo por afirmar que defendo o direito à greve... mas não nos moldes em que decorre em Portugal, onde é, basicamente, decretada pela direção do sindicato em questão. Sim, algumas são “votadas” em plenário de trabalhadores, mas eu sempre achei que uma votação de braço no ar não é uma votação a sério, há toda a pressão psicológica – e não só – dos colegas ali presentes para se ser uma “Maria vai com as outras”.

E não tenhamos ilusões, muitas greves são feitas por razões meramente políticas – é que não nos esqueçamos que as duas maiores centrais sindicais são feudo dos dois grandes partidos de esquerda, o PCP e o PS.

O resultado disto tudo é que já ninguém liga às “justas reivindicações” debitadas por rádios e televisões, a reação normal é, até, “Outra greve?” seguida de um encolher de ombros. Compare-se isso com o que aconteceu há alguns anos na Alemanha quando o maior sindicato do país anunciou uma greve: o país ficou em suspenso a tentar entender a situação, era a primeira em décadas!

Dito tudo isto, gostaria de sugerir umas alterações à lei da greve, uma bastante fácil de implementar, as outras um pouco mais morosas e, acima de tudo, mais suscetíveis de suscitar uma feroz oposição.

Vamos à primeira: as greves só poderiam realizar-se de terça a quinta-feira, mas nunca na véspera de um feriado ou no dia seguinte a um. Ou seja, fim de pontes improvisadas.

Depois, a existência de um livro de ponto da greve. Ou seja, quem tenciona fazer greve, tem de o assinar, caso contrário é simplesmente uma falta que terá de ser justificada.

E porquê? Bom, nunca vos intrigou a discrepância, às vezes enorme, entre os números indicados pelo sindicato que decretou a greve e os da respetiva entidade empregadora? Para mim, a explicação é fácil, basta ter em mente que muitas das greves, ou antes, a sua quase totalidade, ocorrem no setor público. E que este tem todo um sistema de faltas justificadas. Por exemplo, se uma situação “de doença” não exceder três dias consecutivos, duas vezes por ano, não precisa de comprovativo.

Há, ainda, o pequeno detalhe de em certos setores, como os transportes, ser muito fácil paralisar todo o sistema por parte de meia dúzia de pessoas, obrigando, de facto, a uma adesão a 100 %. Vejam-se os comboios, basta impedi-los de partir das estações terminais para ter uma paralisação total. Ou seja, os números dos sindicatos refletem quem não trabalhou nesse dia, os da entidade empregadora deduzem desse número quem ofereceu uma outra justificação para não o fazer.

É claro que a existência de um livro de ponto da greve traria consigo outros problemas, nomeadamente represálias sobre quem não assina. Sim, leram bem, sobre quem não assina. Ouvimos falar muito das pressões dos patrões sobre os trabalhadores para não fazerem greve, mas nada se diz sobre as exercidas pelos sindicatos.

Quando vim para Portugal no início dos anos 80, toda essa cena de greves fascinava-me. É que tinha estado a trabalhar numa República Democrática Popular onde, claro, não existem – supostamente porque esse tipo de país já é um paraíso para os trabalhadores... E o que mais me intrigava era ver a ação dos piquetes de greve, que insultavam e chegavam, até, a agredir quem ousava fazer-lhes frente. Espantosamente, vim a descobrir que é ilegal impedir os colegas de trabalhar, os ditos piquetes só podem, por lei, convencê-los a bem da bondade da greve.

Mas a principal mudança estaria no modo de decidir uma greve. Fim, claro, das greves decretadas apenas pelas direções dos sindicatos. E fim, também, às votações de braço no ar. Qualquer greve teria de ser votada, por voto secreto (urna fechada) pelos sindicalizados em questão. Mais ainda, só iria para a frente se tal fosse decidido por um mínimo de 51 % de votos a favor e com um número de votantes não inferior a 75 %. Parece um exagero? Bom, os sindicatos estão sempre a dizer que representam a vontade dos trabalhadores.

Porque será que fico com a ideia de que passaria a haver muito poucas greves? É que muitos sindicatos são tipo clube de futebol: muitos sócios, mas poucos pagam as quotas ou prestam atenção ao que se passa. E quantos dos atuais sindicatos que dizem representar milhares de trabalhadores o fazem de facto?

Último detalhe, a proposta de greve apresentada a votos teria de explicitar muito bem as suas razões e o que estava a ser feito em termos de negociações – isto para evitar algo muito nosso, a “greve de aviso” antes mesmo de se apresentarem as exigências – perdão, as reivindicações.

Falarei da greve do INEM noutra altura, aliás no post que planeio para este domingo no meu outro blogue, Ir para Novo, intitulado Idadismo na Medicina II, irei fazer-lhe referência. Por agora digo apenas isto: porque é que a Policia não pode fazer greve mas a Emergência Médica pode? Não são ambas igualmente importantes para a segurança dos cidadãos?

Para a semana: Natal, tempo de paz? Sei que é usual desejar paz para o mundo, mas quais são as hipóteses disso acontecer?

06
Dez24

165 - Violência doméstica II

Luísa

Já publiquei este ano um post sobre este assunto, intitulado, precisamente, Violência doméstica. Nele cingi-me à interpretação tradicional, digamos, desta expressão, ou seja, atos, físicos ou não, perpetrados por um homem sobre a esposa, namorada ou companheira. Mas como tivemos recentemente o Dia Internacional a isso dedicado, decidi voltar ao assunto.

Já agora, sou contra os Dias Internacionais disto e daquilo por duas razões principais. Primeiro, há tantos que se banalizaram – se quiser conhecer a lista definida pela ONU, basta ir a este site. Mas, acima de tudo, porque acho que não servem para nada. Sim, há discursos e manifestações diversas – às vezes... – mas na prática nada se faz. E sim, sei que a ideia é chamar a atenção para determinadas coisas, só que conversa sem atos não nos levam a lado nenhum.

Mas vamos ao cerne da questão.

Falei acima da “interpretação tradicional” do que é violência doméstica. Ora eu acho-a demasiado restritiva sob vários aspetos. É um facto que a maior parte dos casos envolve um homem como agressor e uma mulher como vítima, mas a questão é que não sabemos quantos homens a sofrem – é que se muitas mulheres não falam no assunto por vergonha, imaginem o que será para um homem atrever-se a denunciar o caso.

Não nos esqueçamos das muitas piadas e comentários depreciativos feitos à custa de homens considerados subservientes em relação à sua companheira. E, curiosamente, com tantos vidrinhos a ofenderem-se por tudo e por nada tudo isto continua a ser aceitável.

Pensemos, também, no que se passa entre casais homossexuais. Ou será que acham que a ausência da “masculinidade tóxica” – a que voltarei mais adiante – impede a violência doméstica?

Mas esta é apenas uma das razões de eu achar esta definição demasiado restritiva. Para mim, devia estender-se a todo o tipo de violência, física ou oral, que tem lugar no seio da família.

Ou seja, violência de pais contra filhos, a cada vez mais popularizada violência de filhos contra pais – nem sempre idosos – ou avós, ou a de outros membros da família, como o caso recente de uma mulher que agredia a tia. A ênfase devia estar em duas áreas, passar-se no âmbito familiar e não ser um caso isolado – este seria, simplesmente, uma agressão.

Passando a outra faceta deste problema, muito se tem escrito sobre as razões de isto acontecer, apesar de que, nos últimos tempos e a fazer fé nos cartazes e slogans que vi nas manifestações, a culpa é toda da “masculinidade tóxica” em particular e dos homens em geral. Ou seja, as mulheres não são nunca culpadas de violência doméstica nem há outras causas, como a educação recebida, por exemplo.

No post anterior falei de algumas coisas que me intrigam sobre este assunto, nomeadamente o facto de muitas jovens acharem perfeitamente natural que o namorado as impeça de falar com outros rapazes, as insulte de todos os modos ou, até, passe a atos físicos. Segundo vi em várias entrevistas há uns tempos – não muitos – são tudo provas de amor. Ou, então, surge a eterna desculpa do “pois, ele passa-se um bocadinho, mas até é bom rapaz...” Francamente, tantas aulas de cidadania e de educação sexual e é esta a sua mentalidade?

É claro que se ouvirmos certos comentadores e especialistas, estas situações, para além de se deverem apenas à maldade intrínseca dos homens, só se prolongam porque as mulheres não têm como se sustentarem caso saiam de casa, sobretudo tendo filhos. Para além de isso já não ser, muitas vezes, verdade, havendo até muitos casos em que a mulher ganha mais do que o marido, acho que as razões são outras e bem mais profundas.

As situações de violência doméstica têm um ponto em comum: não começam no auge. Ou seja, surgem de mansinho, um insulto aqui, uma bofetada acolá, e vão aumentando de tom até culminarem, demasiado frequentemente, em mortes ou ferimentos graves. E o mesmo se passa com os chamados “ciúmes violentos”, ou seja, a restrição dos contactos permitidos, muitas vezes até com a família.

Acho, pois, que em vez de tanta conversa seria, se calhar, bem mais útil educar a população, sobretudo a feminina, mas não só, para a triste realidade de que há sempre uma segunda vez – e terceira, e quarta... Ou seja, por muito grande que seja o arrependimento mostrado pelo agressor, e que muitas vezes até é genuíno, há que mostrar claramente que não os seus atos não são toleráveis.

Não estou a dizer que se ponha de imediato fim a uma relação, mas a sua continuação deverá estar sujeita a regras, nomeadamente a procura de ajuda por parte do agressor para entender as raízes do seu comportamento. E se houver repetição, bom... aí está o caldo entornado.

O que me leva à parte final deste post. É que apesar de ouvirmos vezes sem conta que crianças criadas em ambientes violentos tendem a perpetuá-los nas suas relações adultas, pouco ou nada fazemos para travar a continuação desse tipo de comportamentos. Tal como disse no post anterior, quem lida com crianças deveria estar atento ao modo como os pais se comportam entre si.

Um deles menospreza sempre o que o outro diz ou até nem o deixa falar? Não se coíbe de o insultar em público? São tudo sinais de alerta. Mas também aqui a ideia não é retirar as criancinhas aos pais, seria bem mais útil forçá-los a fazer um curso sobre relacionamento saudável e sobre o que é ou não aceitável.

Quanto aos casos de violência existentes, sejam “tradicionais” ou outros, acabemos com isso de ser a vítima a ter de sair de casa ou, pior ainda, a ter de viver escondida. Feita a denúncia – e leiam o que escrevi no post anterior sobre este assunto – o agressor é retirado  e ser-lhe-á dada uma residência fixa longe da vítima, com pulseira eletrónica paga por ele. Mais ainda, penas pesadas para quem não cumprir o afastamento. E penas a sério para os casos graves – seria bom vermos uma pena agravada para quem mate ou fira gravemente a pessoa com quem partilhava a sua vida.

Para a semana: Greves. Como seria de esperar com um governo “de direita”, há greves a torto e a direito.

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