Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Luísa Opina

Neste blogue comentarei temas genéricos da nossa sociedade. Haverá um novo texto todas as sextas-feiras

Neste blogue comentarei temas genéricos da nossa sociedade. Haverá um novo texto todas as sextas-feiras

Luísa Opina

29
Nov24

164 - A "querida" esquerda

Luísa

Como não podia deixar de ser, o primeiro tema deste post é o 25 de novembro, data que a esquerda portuguesa – pelo menos a que se considera como tal – andou 48 anos a tentar deitar no caixote do lixo do esquecimento coletivo com o pretexto de que só os saudosistas a queriam celebrar.

E quem os ouvir falar e não se dê ao trabalho de pesquisar o que se passou, de facto – ou seja, no mínimo uma boa parte da população mais jovem – fica com a ideia de que foi um contragolpe para tentar restaurar a ditadura salazarista ou impor uma parecida. Dizem, também, que querer celebrar tal dia é apenas um modo de tentar achincalhar o 25 de abril e a luta gloriosa pela democracia.

O primeiro problema com este argumento está, precisamente, na “luta pela democracia”. Impera a ideia de que quem luta contra um ditador fá-lo por ser a favor de um regime democrático – daí o apoio Ocidental à Irmandade Islâmica no Egito e aos opositores na Síria.

Infelizmente, na maioria dos casos o único problema que esses lutadores têm em relação à ditadura que combatem é... não ser a deles. Como o PCP a tentar impor, por todos os meios, uma “ditadura do povo” em Portugal e os movimentos que citei acima a quererem um estado islâmico tipo talibãs, sim, esses excelentes democratas

O problema, no nosso caso, é que convenceram muita gente da inocência das suas intenções e ninguém lhes quer apontar o dedo para não ser apelidado de fascista. Tal como se fala muito na PIDE, na censura salazaristas e nas detenções por delito de opinião até 1974, mas nada ou pouquíssimo se diz dos desmandos similares, só que de cor oposta, após o 23 de abril e a que o 25 novembro impôs alguma contenção. Reparem que digo “contenção” e não “termo” porque, infelizmente, tantos anos depois continuam as tentativas de impor modos de pensar “corretos”, de que a atual política de “cancelamento” é o mais recente exemplo.

Não falarei dos discursos, que praticamente não ouvi, mas não resisto a fazer uma breve referência ao BE e ao PAN, dois dos maiores opositores à ideia de celebrar essa data, exceto os comunistas, claro. Terão noção de que só existem graças a isso? Ou acham que o PCP, se ficasse dono e senhor do país, como esperava, permitira a criação de partidos por parte de uns burgueses, ainda por cima endinheirados?

O grande problema é que essa tal esquerda “verdadeira” não desarma nas suas tentativas de se tornarem os únicos “orientadores” do povo. Benévolos, claro, nem que para isso tenham de usar punho de ferro com espigões de aço. E os seus propósitos mantêm-se, como a luta contra o capitalismo – o Ocidental, claro, se for o chamado capitalismo selvagem chinês ou russo tudo bem – e pela nacionalização de tudo e mais alguma coisa.

São, também, ferozmente a favor da livre circulação de pessoas, mas, atenção, não de todas. Por exemplo, “migrantes” do Terceiro Mundo sem qualificações e sem a menor vontade de se integrarem são bem vindos, já turistas, reformados com dinheiro ou estrangeiros ocidentais capazes de se sustentarem ou, até, de criarem empresas, são indesejáveis.

O mesmo se passa com a economia. Os sindicatos, que, na maioria dos casos não passam de extensões desses partidos, passam a vida a fazer greves por mais regalias e direitos para os trabalhadores. Mas impor taxas a produtos vindos de países que espezinham os direitos mais simples é, claro, fascismo. Ou seja, 40 horas de trabalho é um abuso, mas trabalhar 8 horas por dia, 7 dias por semana é aceitável se for num “paraíso do povo”.

Qualquer privatização, então, é pior que vender a alma ao demónio na Idade Média. É que, segundo a dita esquerda, só serviços públicos zelam pelos interesses dos seus utentes, os privados só pensam em fazer dinheiro. E se olharmos à nossa volta não nos faltam exemplos que o comprovam...

Já agora, não seria interessante sabermos quantos professores do ensino público, o tal que é o único bom, têm os filhos no privado? Ou quantos dos que defendem o SNS como sendo o único modelo aceitável, incluindo os nossos exímios deputados de esquerda, nunca lá põem os pés – a menos, claro, que seja o senhor de Belém que, tendo sido levado para um hospital desses, afirmou que foi logo atendido e muito bem! Hum, pelos vistos acha que ser o PR ou um Zé Ninguém é a mesma coisa.

Temos, agora, a “catástrofe climática” como nova arma da dita esquerda que tenta, sobretudo, influenciar os mais novos a enveredarem pela sua política económica “a bem do planeta”. E vemos manifestações contra o uso do carvão, também aqui só no Ocidente – é que, como digo em O céu está a cair, em 2021 a China tinha, em 2021, “apenas” 1082 centrais a carvão e, pelo Acordo de Paris, que tinha subscrito, já devia ter encerrado 680 delas, indo, em vez disso, construir mais 43!

Ou a exigirem só carros elétricos, esquecendo, muito conveniente, a questão da extração do lítio e, acima de tudo, o facto de não se saber o que fazer com as ditas baterias em fim de vida, um problema que já existe e que se avoluma a cada dia que passa.

O mesmo se passa com a censura, contra a qual dizem que lutaram. E o que é a atual linguagem “woke” senão censura encapotada? Basta desagradar a algum desses bom democratas e é-se insultado na praça pública, acusado de fascista e não só, enfim, é uma sorte quando não se perde o emprego ou modo de vida. Mas, ei, não é a má censura do antigamente, é uma censura “boa” que só pretende evitar que as pessoas possam ser expostas a ideias nocivas ou, pior ainda e crime sem perdão, que fiquem ofendidas..

Como última nota, não acham curioso que o partido romeno que venceu a primeira volta das eleições, comunista de gema, seja visto como um partido fascista? Adorava ver o nosso PCP a explicar essa...

Para a semana: Violência doméstica II. Um tema abrangente que é demasiadas vezes tratado de um ponto de vista restrito

22
Nov24

163 - Eleições americanas

Luísa

Falei um pouco sobre este tema em Seria um espanto..., mas, como foi apenas um dos três temas tratados nesse post e a “saga” continua a todo o gás decidi voltar ao assunto.

Começo, de novo, pela surpresa e choque demonstrados por comentadores, jornalistas e outros que tais perante os resultados. Mas, passados quase 20 dias, ainda não vi uma análise a sério das razões desse descalabro. Pior ainda, continuamos a ouvir que os que votaram Trump estão todos errados e foram influenciados por forças malignas – Vade retro, Satanás!

Confesso que tenho adorado o choro, ranger de dentes e arranque de cabelos que a dita vitória despoletou. Temos “sumidades” como a Whoopi Goldberg a aderirem a uma greve de sexo! Outras rapam o cabelo em protesto à retirada (suposta) dos seus direitos reprodutivos, ou seja, o aborto.

Voltámos, claro, a ouvir juras de saída do país. Confesso que algumas me deixaram um tanto confusa, é que ouvi as mesmas pessoas dizerem o mesmo há 8 anos e, que me conste, ficaram por lá. Sem falar nos anúncios, com pompa e circunstância, da saída do X (ex-Twitter) de pessoas que nem sabemos quem são e nem queremos saber. O problema é que o Musk já avisou que quem sair, sai mesmo – ou seja, não há regressos daqui a uns dias ou semanas quando virem que perderam a grande maioria dos seus seguidores.

Ora se toda esta gentinha parasse para pensar um niquinho era bem capaz de descobrir a resposta ao muito badalado “Como foi possível?!!!” É que continuam a manter na sua mente o mito da esquerda defensora dos pobres e oprimidos, da classe trabalhadora e das minorias, quando na realidade não fazem a mais pálida ideia sobre o que são e como pensam essas pessoas.

Já há anos que os EUA embarcaram numa onda de reescrever a história, de vitimizar grupos que lhes caiam no goto, de embarcarem numa política de evitar “agressões” – com sentido definido por eles, claro. Temos também as “causas”. A catástrofe climática, a igualdade de género e, mais recentemente, a “identidade de género” – para os mais distraídos, deixou de haver dois sexos.

Com tudo isto, conseguiram um brilharete: acordar a enorme massa que, em geral, não pensa em política, está demasiado ocupada a tentar sustentar-se e à família ou, também acontece, é demasiado comodista para ir votar. Já agora, sempre achei que foi por isto que a nossa Constituição, tão de esquerda, não inclui a obrigatoriedade de ir votar – é que muita da abstenção costuma vir do chamado centro-direita...

Infelizmente, não aprendem a lição. Continuamos a ter a mesma desinformação, desde que seja contra o Trump. Por exemplo, ainda outro dia ouvi uma “perita” a falar na lei de proibição de muçulmanos viajarem para os EUA quando, na realidade, a lista de países tinha sido feita pelo Obama e incluía a Venezuela – alguém avise o Maduro que governa um país muçulmano!

Mas as minhas cenas favoritas têm sido o modo como anunciam as várias nomeações para o governo Trump. Procurem os nomes no Google e verão que o “apresentador de TV” é um militar condecorado com bestsellers na Amazon sobre defesa e política externa e que a tal “magnata da luta livre” tem um longo historial de dedicação a causas de educação e pertence, até, à direção de um universidade, isto só para dar dois exemplos.

Ora para mim, a conclusão mais importante destes resultados eleitorais é outra. Durante os últimos anos, demasiados, aqui para nós, a esquerda e os “bem-pensantes” faziam e diziam o que muito bem lhes apetecia, sem oposição e sem controlo. Movimentos inicialmente justos – como salários iguais e respeito pelas diferenças – tornaram-se autênticos ogres, prontos a eliminar quem ousasse criticar ou mostrar alguma renitência.

Pior ainda, em muitos casos nem era preciso fazer nada, bastava que os Donos da Verdade (DDV) achassem mal – por exemplo, dizer “branquear os factos” passou a ser racista!

Ou seja, a ideia de dar a todos um lugar na sociedade, independentemente da sua raça, sexo, crença ou outras diferenças, transformou-se em militância para elevar certos setores com base em alegadas discriminações anteriores, muitas vezes mero fruto da imaginação delirante de algum DDV.

Passámos, pois, a viver numa sociedade em que quem mais protesta, berra e incomoda “leva a taça”, pior ainda, fá-lo espezinhando quem acham que não está de acordo. E o respeito pelas minorias transformou-se, sem mal darmos por isso, na ditadura absoluta das minorias.

Ora o que estas eleições americanas – e algumas europeias – mostram é que a tão esquecida “maioria silenciosa” fartou-se, finalmente. Fartou-se de ser gozada, insultada e desprezada por trabalhar, por tentar levar uma vida decente e honesta, por querer educar os filhos de modo a tornarem-se cidadãos produtivos, enfim, de serem tratados como cidadãos de vigésima categoria apesar de serem eles quem sustenta o respetivo país.

Sim, é muito possível que se tivessem uma boa opção não teriam votado no Trump. Mas lembremo-nos que era ele ou a Kamala, o exemplo acabado de tudo o que eles estão a contestar. E o facto de os andarem a insultar por terem votado deste modo só reforça a ideia de que está na altura de porem fim ao regabofe.

Pior ainda para wokes, DDV e esquerda em geral é ter-se arreigado nessa maioria pacata a ideia de que ninguém zela pelos seus interesses e que se não fizerem algo acordarão um dia sem direitos de qualquer tipo. E perante “o mais do mesmo” a que temos assistido por parte de políticos, comentadores, etc., suspeito que vai haver muito mais “espantos” aquando das próximas eleições nos vários países ocidentais.

Para a semana: A “querida” esquerda. Da celebração (tardia) do 25 de novembro à “catástrofe” climática e ao papão da privatização e muito mais

15
Nov24

162 - Voltemos ao clima

Luísa

Neste post irei falar mais detalhadamente sobre a catástrofe de Valência, que só referi, quase de passagem, no da semana passada.

Começo por reconhecer que errei ao dizer que o Vox fazia parte do Governo da Comunidade Valenciana e agradeço imenso a quem me chamou a atenção para isso. Mesmo assim, não deixo de condenar ter organizado a “receção / protesto” contra Sánchez e os reis de Espanha, foi puro aproveitamento político de uma situação trágica. Atenção, se essas ações tivessem partido da população, tudo bem, tinham todo o direito a estar indignados.

Já agora, realço a diferença de comportamento entre Sánchez e os reis: o político profissional fugiu logo a sete pés, escoltado pela polícia que não mandara para a zona, os reis, esses, enfrentaram a situação de frente.

Antes de passar ao clima, farei um pequeno resumo do que se passou, ou antes, dos inúmeros erros cometidos, tendo em conta que, se fosse cá, há fortes probabilidades de se passar o mesmo – ou pior.

O tal fenómeno, DANA, não surgiu de repente, houve inúmeros avisos sobre a fortíssima probabilidade de acontecer, avisos esses que não foram passados, devidamente, à população que, essa sim, foi apanhada de surpresa.

Mas o pior em termos de ação, ou antes, de inação, veio depois. Com casas soterradas na lama, familiares, amigos e vizinhos desaparecidos, a população ficou por conta própria nas suas tentativas de tentar salvá-los. Valeu-lhes a boa vontade de pessoas de povoações vizinhas que imediatamente acorrerem, por conta própria, para ajudarem no que pudessem.

E, pasme-se, os governos em causa (central e da região), não só nada fizeram durante dias como, até, tentaram pôr todo o tipo de obstáculos à ida de voluntários para as regiões afetadas. Sabemos, até, que inúmeros militares e polícias foram ajudar, à paisana e quando não estavam de serviço, após terem-lhes sido recusados os pedidos para o fazerem oficialmente. Mais ainda, pelos vistos o governo recusou, até, a ajuda de outros países – o que explica o atraso com que a ajuda portuguesa seguiu para lá.

Francamente, tudo isto é lastimável. E se as regras da autonomia impediam o governo central de agir antes de receber um pedido oficial de ajuda daquela região, bom, é mais do que altura de as alterar, tal como os EUA fizeram após o Katrina – sim, agora o governo federal desse país já pode enviar ajuda sem ter de ficar à espera de pedidos locais.

E porque não surgiu esse pedido? Bom, segundo parece, o “grande” líder regional, Mazón, estava num almoço privado de várias horas e com o telemóvel desligado e, aparentemente, ninguém se lembrou de o avisar... Como desculpa, talvez valha para as primeiras horas, mas recordemos que o exército só foi enviado sete dias depois! É claro que há que ter em conta que os dois governos têm cores políticas diferentes...

Mas passemos à “explicação” das causas da tragédia. Como não podia deixar de ser... são as alterações climáticas! Só que toda aquela região sofre cheias catastróficas há pelo menos 800 anos e, segundo parece, as tais alterações são um fenómeno recente, totalmente devido à ganância dos brancos.

Só que... as coisas não são bem assim. Todas as regiões afetadas têm algo em comum, o Barranco del Poyo, identificado há muito como suscetível de causar todo o tipo de cheias e catástrofes deste tipo, ou seja, o chamado “desastre anunciado”. De tal modo que existe desde 2007 um plano concreto para lhe fazer frente, nomeadamente com a construção de pequenas represas de contenção do excesso de água e, também, o reflorestamento da zona para impedir a erosão do solo.

Já agora, todas estas obras custariam à volta de 150 milhões de euros, uma ninharia comparado com o que se vai gastar agora, isto para não falar na tremenda perda de vidas humanas. E o seu único problema foi nunca passarem do papel.

Mas há mais. Para satisfazer o Pacto Verde europeu, o governo espanhol mandou destruir barragens, açudes e represas para “libertar” os rios. Proibiu, também, a limpeza dos rios e das suas margens, porque isso era “interferir com a natureza”. E o desastre só não foi maior porque o rio Turia, que atravessava o centro de Valência, foi desviado, há uns anos, da cidade através de um canal, poupando, assim, esta cidade ao seu enorme aumento de caudal devido à chuva intensa.

Já agora, esta obra foi muito combatida pelos “suspeitos do costume”, só que, felizmente, sem êxito, ao contrário de outras propostas de transbordo de águas entre rios precisamente para minorar problemas de secas e de cheias. Soa-vos familiar?

É claro que, perante a enorme quantidade de água que caiu os rios encheriam, mas a presença das tais represas previstas no plano de 2007 teriam retido uma boa parte dela, evitando as enxurradas de água e lama que se abateram em zonas onde até não choveu.

Mas é o que dá preferir os fanáticos do clima a cientistas e técnicos. Já agora, será que os “meninos” que andam por aí a atirar tinta e a cortar o trânsito “em nome do clima” partiram para ajudar estas vítimas?

O que me custa mais em tudo isto é que me fica a ideia de que nada vai mudar, os políticos continuarão a pôr os seus tachos acima do bem-estar de quem os sustenta e entre entenderem-se para ajudar ou manterem quezílias de sacristia – como vimos em Espanha, entre PSOE e PP – a escolha nunca recairá no entendimento.

E se fosse em Portugal, seria diferente? Hum, não me parece. As cheias em Lisboa duram há anos, houve imensas propostas para as resolver e, quando se começou, finalmente, a fazer algo choveram as críticas porque a Câmara é da “cor errada”. Mais ainda, as atuais cheias no Algarve mostram que, também ali, há problemas de escoamento nas suas cidades e aposto que há planos para os minorar ou resolver.

E não só. Há zonas do nosso país que alternam entre seca e cheias, sem que nada se faça para combater essa situação – pois, as tais represas e transbordos tão odiados pela nossa esquerda e pelos climáticos, curiosamente os mesmos que nada têm a dizer sobre a grande barragem da China que, segundo a NASA, atrasou a rotação da Terra em 0,066 milissegundos devido à sua enorme dimensão!

Para a semana: Eleições americanas. Jornalistas, comentadores, "espanto"...

08
Nov24

161 - Seria um espanto... se não fosse usual

Luísa

Vou mudar, mais uma vez, o tema desta semana face a acontecimentos recentes ocorridos no estrangeiro e em Portugal.

Começo, claro, pelas eleições americanas e pelo espanto de jornalistas, comentadores e outros que tais em relação à vitória esmagadora de Trump. Muito francamente, só quem vive numa bolha – a versão atual da torre de marfim de outrora – ficaria admirado com este resultado. É que, para quem conhece bem as manipulações da comunicação social, “empate nas sondagens” significava, claro, que os Republicanos iam bem à frente.

Da noite eleitoral, a minha parte favorita foi ver a CNN (a americana) a tentar adiar o anúncio da vitória do seu inimigo de estimação até bem depois de até chefes de estado – e a própria Kamala – a terem admitido. Adorei, também, no dia seguinte ouvir os “especialistas” que sabiam que Trump ia perder a dar voltas e reviravoltas para explicar o sucedido, embora tudo bem espremido se resumisse a “os eleitores são estúpidos” ou, como ouvi dizer, sofreram uma lobotomia.

O que não ouvi foi uma análise a sério às verdadeiras razões deste resultado – ou de resultados similares na Europa. Os donos da verdade (DDV) continuam a considerar os eleitores uns acéfalos que TÊM de seguir as suas indicações e só votar em quem eles, os únicos inteligentes e entendidos, claro, acham que é digno de governar.

Ou uma explicação para uma frase muito usada, “Não gostava da Kamala, mas era melhor que o Trump”. A sério? Em quê? É que note-se que não se viu uma análise a sério sobre ela durante a campanha, evitou-se falar da sua vida, das suas votações e afirmações, só se ouviam podres, reais ou imaginários, sobre o outro.

Uma coisa é certa, este resultado facilitou muito a vida a políticos “bem” e a comentadores, só têm de ir buscar à gaveta os inúmeros cenários de catástrofe que anunciaram há 8 anos, acrescentando-lhe, apenas, a Ucrânia. Pois, vem aí o fim do mundo... pela segunda vez.

Até a ignorância sobre o sistema governativo americano é a mesma. Sim, Senado e Casa dos Representantes são agora Republicanos, mas isso não significa “rédea solta” para o Trump, como dizem. É que, ao contrário do que se passa em Portugal, cada um desses congressistas vota como quer, mais ainda, responde perante os seus eleitores. Ou seja, não votam de cruz, como cá.

Mas passemos a outro tema, este bem local. Como seria de esperar, o Senhor de Belém foi visitar a viúva do “bom” cidadão morto pelo “mau” do polícia, em mais uma prova da total falta de respeito que sente pelas Forças da Lei. Bom, é claro que foi até ao dito bairro rodeado... de polícias! Já o motorista de autocarro barbaramente queimado e ele, sim, um cidadão honesto e trabalhador, mereceu apenas um telefonema. E os passageiros esfaqueados... nada.

É bom sabermos que o “Presidente de todos os portugueses” só se preocupa com alguns, normalmente aqueles que dedicam o seu tempo a prejudicar os outros, os que, com os seus impostos, lhe pagam o salário e as mordomias. Mas tudo bem, o importante é mostrar que está do lado “do povo”. E depois admiram-se quando o dito povo vota em partidos do desagrado dos “bem-pensantes”!

Mas há pior. O Chega foi criticado por apoiar a Polícia “antes da averiguação dos factos”. Mas o BE tomou a posição oposta sem qualquer problema. E não nos esqueçamos do seu cartaz de 2020 a dizer “Um polícia bom é um polícia morto”. Já agora, em que ficou a queixa do sindicato da PSP sobre esse caso? E houve algum baixo assinado de queixa ao Ministério Público, como vimos agora perante declarações de membros do Chega?

Temos, ainda, a polémica da perda de casa para quem cause distúrbios. Mas que grande onda de indignação! Até as “mulheres socialistas” vieram em defesa do sistema atual – aqui para nós, isto só demonstra o que dá usar quotas para encher lugares na Assembleia da República, as mulheres competentes fogem a sete pés da política nacional.

Pelos vistos, para toda essa gente “bem”, as casas camarárias, pagas com os impostos de quem trabalha, devem continuar nas mãos de criminosos de todo o tipo. Ou seja, os impostos de Tiago, o motorista do autocarro incendiado, e os da sua família, vão, alegremente, para dar casa a bom preço – isto se pagarem a renda, o que muitos não fazem – de quem o pôs no hospital e lhe arruinou o resto da vida.

É um tema a que voltarei a curto prazo.

Finalmente, a tragédia de Valência – e foi, de facto, uma tremenda tragédia, infelizmente já aproveitada para fins políticos. Sobre as suas causas, sobretudo o sempre popular “a culpa é das alterações climáticas” falarei no post da próxima semana. Para já, mencionarei apenas duas coisas que me intrigam.

Quanto à primeira, toda aquela região quer ser independente de Espanha, a simples autonomia não lhes serve. Mas quando as coisas correm mal culpam o governo central por não agir mais depressa? Sim, concordo que deviam ter despachado logo o exército e declarado o equivalente à nossa “catástrofe nacional”, mas será que o podiam fazer face às regras da autonomia daquela região?

Mais uma vez, é uma explicação que fica por dar, apesar das milhentas reportagens no local.

A minha segunda dúvida tem a ver com o modo como Sánchez e os reis de Espanha foram insultados e agredidos, sabendo-se agora que essas manifestações foram organizadas pelo partido Vox. O problema é que o Vox faz parte, desde 2023, do governo daquela região autónoma. Ou seja, se houve atrasos nos avisos à população e, acima de tudo, nos pedidos de ajuda – e parece que é verdade em ambos os casos – o Vox está, necessariamente, implicado. Bom, pelos vistos a hipocrisia e o “dois pesos e duas medidas” não são exclusivos da direita!

Para a semana: Voltemos ao clima? Com a catástrofe de Valência voltámos, claro, a ouvir falar nas alterações climáticas

01
Nov24

160 - Não acelerem o tempo

Luísa

Este será um post mais “levezinho” sobre algo em que penso há já bastante tempo. Bem sei que vivemos cada vez mais numa “época acelerada” e surgem coisas novas em todas as áreas quase. Já não estamos, definitivamente, num mundo em que os dias eram (quase) todos iguais e em que se vivia ao ritmo lento das estações. Mesmo assim, há “acelerações” que são, na minha opinião, totalmente desnecessárias.

Por exemplo, já repararam que as lojas se enchem de coisas para o Natal uns bons três meses antes da data? Francamente, adoro essa época festiva, mas quando finalmente chega já estou farta. E só não me farto mais porque saio raras vezes, mesmo para compras básicas, e quanto a anúncios... bom, digamos que sou um ás a fazer o chamado zapping.

Neste aspeto, os americanos têm um bocadinho mais de sorte, tudo o que tenha a ver com o Natal só aparece depois do Dia de Ação de Graças, ou seja, a quarta quinta-feira de novembro. Sempre lhes poupam uns mesinhos.

Mas não é só o Natal. Logo a seguir ao Ano Novo entramos no período carnavalesco e pouco depois, chega a vez da Páscoa. Ou seja, temos ovos e amêndoas à venda em janeiro!

Quanto à política, bom, basta dizer que não faz o menor sentido haver um período de campanha eleitoral oficial, é que ainda mal saímos de uma eleição e já vemos atos e discursos de preparação da seguinte. Mas lá vamos mantendo o mito do período de propaganda – sem esquecer o “dia de meditação” que, esse sim, faz cada vez menos sentido face à cada vez maior utilização das redes sociais por parte dos portugueses.

Também as épocas oficiais dos saldos terminaram, existem agora durante todo o ano. Mas esta é talvez a faceta que menos me incomoda, talvez por ter crescido onde ou não existiam ou não eram levadas muito a sério. E, de todas as “perturbações” de datas é a que faz mais sentido, para quê prolongar a existência de algo que já desaparecera, na prática, há muito? É que entre promoções, vendas especiais e outros tipos de descontos, já havia saldos durante todo o ano, embora não pudessem usar esse nome.

Curiosamente, nunca vi campanhas para limitar os períodos de venda de artigos específicos de certas épocas festivas. Não, a ênfase vai sempre para tentar fechar lojas – e sobretudo centros comerciais – ao domingo. E embora as razões apresentadas sejam diversas, fica-me sempre a ideia de que, subjacente a tudo isso, está um certo saudosismo pelos “bons velhos tempos” em que esse era um dia de pasmaceira, de nada fazer – até porque quase nada estava aberto.

Há, ainda, uma outra faceta a que poderemos chamar o “baralhar” do tempo. Basicamente, uma das coisas que tornava certas épocas especiais era o facto de só então podermos encontrar certos produtos. O bolo-rei, por exemplo, começava a ver-se umas semanas (poucas) antes do Natal e desaparecia após o Dia de Reis. Mas agora vemo-lo à venda durante todo o ano, o que desvirtua, pelo menos para mim, a sua especificidade, o seu caráter de exceção.

Pessoalmente, acho que seria ótimo voltarmos a criar esse sentimento de antecipação, sobretudo entre as camadas mais jovens. Talvez ajudasse um pouco a combater o estado de tédio permanente de que muitos parecem sofrer e a ideia do “quero isto agora” e a incapacidade para esperarem por algo.

Passando a outro assunto, começo por esclarecer que não sofro de saudosismo e muito menos da ideia de que “antigamente era tudo melhor”. Mais ainda, em termos alimentares agrada-me bastante ter de tudo durante todo o ano, falo, claro, de frutas e legumes. Ou seja, já lá vão os tempos em que certos menus indicavam, na secção de sobremesas, “fruta da época”.

Mas sei também que há um movimento crescente de regresso a hábitos alimentares antigos, entre eles o uso de produtos da época. E acho, até, que seria uma boa ideia vermos dar mais ênfase a esse aspeto.

Não estou a defender, como alguns fazem, que só se vendam produtos locais – ou seja, produzidos até uma determinada distância. Mas que tal os grandes supermercados terem uma zona na secção de fruta dedicada à que é da época? O mesmo se passando com a dos legumes e vegetais. Já agora, quando digo da época é mesmo da época, não me refiro a produtos criados em estufas e que crescem durante todo o ano (ou quase).

Assim, quem quisesse podia facilmente comprar apenas esses, sem precisar de saber de antemão o que surge naturalmente em cada época do ano, algo cada vez mais difícil para pessoas nascidas e criadas em grandes cidades – sim, há sempre a Internet, mas assim seria mais rápido. E com tanta informação que todos esses produtos têm de mostrar, por lei, era apenas mais uma.

Seria, também, um bom exercício educativo para quem tem filhos, sobretudo agora com a ênfase que as novas gerações dão ao clima. É que apesar de tanta conversa, não me admira nada descobrir que ignoram que cada produto agrícola tem a sua própria época, curta ou longa, é o tipo de conexão que se perdeu com o aumento da vida citadina.

Resumindo, tentemos desacelerar e “desbaralhar” o tempo, penso que isso nos permitiria apreciar melhor cada época do ano e o que ela nos traz.

Para a semana: Protegemos mesmo as crianças? Sobre atos e inércias da Proteção de Menores e não só

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Calendário

Novembro 2024

D S T Q Q S S
12
3456789
10111213141516
17181920212223
24252627282930

Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2023
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2022
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2021
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D