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Luísa Opina

Neste blogue comentarei temas genéricos da nossa sociedade. Haverá um novo texto todas as sextas-feiras

Neste blogue comentarei temas genéricos da nossa sociedade. Haverá um novo texto todas as sextas-feiras

Luísa Opina

25
Out24

159 - E é um país seguro!

Luísa

Face ao que se tem passado na Grande Lisboa nos últimos dias decidi arranjar um tempinho para fazer um post sobre o assunto.

Como o nosso “estimado” PM e o Sr. de Belém – e não só – se fartaram de repetir após o crime hediondo perpetrado recentemente numa barbearia, vivemos num país seguro e quem diz o contrário, mente. Pior ainda, foi dito e redito que nada justifica uma reação violenta, como queimar os carros da família daquele cobarde assassino. E lembro que matou três pessoas inocentes, ou antes, quatro, uma vez que a gravidez de uma das vítimas já tinha ultrapassado o prazo para um aborto legal.

Só que agora, perante a morte de um indivíduo com um pesado cadastro, a conversa é outra e desfazem-se em argumentos para justificar a onda de violência a que assistimos.

Não vou discutir se o morto estava ou não armado ou o que é que se passou exatamente, referirei apenas que, independentemente dos factos, o polícia em questão já está condenado à partida, qualquer investigação é um mero pró-forma só para dizerem que existiu.

A minha indignação vai, sobretudo, para o modo como a Comunicação Social, políticos e movimentos diversos estão a tratar o assunto. Pelo que temos lido, uma pessoa com cadastro por tráfego de droga e violência é “um homem bondoso” que decidiu, simplesmente, ir espairecer altas horas da noite num carro roubado, abalroando e danificando outras viaturas.

E o que é que vemos? Entrevistas a todos e mais alguns, choradinhos,  enfim, somos forçados a chegar à conclusão de que o mundo perdeu um santo!

Ouvi, até, um jornalista perguntar ao Ventura se não pensa no que a família do dito está a passar... E a família do motorista de autocarro, esse, sim, uma pessoa honesta, a tentar ganhar a vida pelo seu trabalho e não com esquemas, e que, mesmo que sobreviva, irá ter sofrimento e sequelas para a vida? Não é curioso que nada se saiba sobre ele? Onde estão os atos de revolta pelo que lhe aconteceu? O repúdio? O Sr. de Belém, sempre tão pronto a botar faladura, nada tem a dizer sobre este caso repugnante?

Melhor ainda, pelo que tenho lido, os poucos que foram presos foram logo libertados por um dos nossos excelentes juízes mediante meras apresentações semanais e a proibição de usar isqueiros! Ou seja, se usarem fósforos para incendiar mais alguma coisa ou alguém, tudo bem, não há problema. Será esta a tolerância zero declarada pelo nosso “tão dedicado” PM?

Mas o que mais me incomoda em tudo isto é ouvir os “especialistas” do costume a falarem das raízes destes problemas. Basicamente, são bairros de gente pobre, isolada da restante sociedade, habitados na sua maioria por estrangeiros que, nas palavras de uma cronista do Observador, “vivem num país que não sentem exatamente como seu”. Sem contar a muito repetida afirmação de que vivem em casas sem condições.

Sim, há muita gente pobre a viver nesses bairros, mas os únicos que lastimo são os que trabalham, os que tentam fazer pela vida mas não conseguem sair para uma zona melhor, em grande parte porque não há habitações a bons preços para quem trabalha e paga impostos, embora a haja para “migrantes”, pseudo refugiados e similares que, muitas vezes, nem a módica renda que lhes é pedida se dão ao trabalho de pagar..

Só que os ditos “peritos” metem no mesmo saco estas pessoas esforçadas e honestas e os muitos que ali vivem da criminalidade – e  do erroneamente chamado rendimento mínimo, claro – e que estragam o ambiente de todo o bairro, destruindo quaisquer tentativas de melhorias sociais.

Quanto às más condições das casas, quem as pôs assim? Lembro-me de ver, em tempos, um morador de um bairro destes a queixar-se de que as escadas do prédio em que vivia estavam sempre cheias de lixo – hum, será que ia gente de frua depositá-lo ali?

Mas o argumento mais usado é que temos de fazer mais para integrar na nossa sociedade pessoas de outras etnias, ignorando o pequeno detalhe de que só se consegue integrar quem quer ser integrado. Infelizmente, para muitos dos que têm chegado aos magotes nos últimos anos, graças à permissividade de sucessivos governos de esquerda Europa fora, essa é a última coisa que desejam. Sim, todos dizem que “vêm em busca de uma vida melhor”, só que não a querem ter à custa do seu trabalho.

Pior ainda, a partir do momento que viram a rebaldaria que é a política de “migrantes” europeia, gangues, máfias e criminosos de todo o tipo apressaram-se a vir para países de “brandos costumes” em termos penais, cuja lista lideramos por larga margem.

E não se limitam a não se quererem integrar, tudo fazem para garantir que o seu “feudo” se torna uma zona independente e isolada que gerem com punho de ferro e onde ditam as leis e punem quem se lhes opõe, vendo quem os acolheu como uns meros papalvos bons apenas para lhes darem subsídios e ajudas de todos os tipos e, claro, serem roubados e agredidos a seu bel prazer.

Não há uma solução fácil, mas podemos começar por reforçar os meios e a presença permanente da polícia nesses bairros – é difícil vender droga quando há polícia por todo o lado, Mais ainda, rever o RSI e a habitação social para quem não cumpre as suas pouquíssimas regras e considerar como terrorismo atos como os que vimos nos últimos dias, com penas sérias. E a mais longo prazo, verificar as autorizações de residência e, acima de tudo, rever o modo como são dadas e mantidas.

Já agora, investigar organizações como o SOS Racismo, vendo as etnias das pessoas envolvidas nos casos que consideram como racismo. Ou seja, se um queixoso branco nunca é aceite, por muitas provas que tenha, então é uma organização racista, proibida no nosso país! E ver o muito na moda discurso de culpabilização dos brancos como aquilo que realmente é, um incentivo ao ódio e violência raciais.

Para a semana: Não acelerem o tempo! Um post mais levezinho sobre a antecipação do Natal e festas similares.

18
Out24

158 - Vivemos mesmo em democracia? Parte 2

Luísa

Apesar de ter escrito este post há já alguns meses, ele continua, infelizmente, bem atual, sobretudo no que se refere a Portugal.

Falei, anteriormente, em democracia, nomeadamente em Vivemos mesmo em democracia? e Democracia, mas é um assunto cada vez mais importante e volto, por isso, a ele.

A definição normalmente usada para democracia é “o governo do povo, pelo povo e para o povo”. Sim, bem sei que as antigas democracias, a começar pela grega, tinham um conceito altamente restrito sobre quem constituía o povo, basicamente, homens livres. E se nos restringirmos a isso, as democracias atuais são muito mais abrangentes, incluindo tudo e mais alguma coisa na palavra povo – não nos esqueçamos que há, até, umas “boas almas” que querem dar o direito de voto aos ilegais que residem no país em questão...

Os problemas começam quando analisamos cada uma das partes da definição acima dada. Ora vamos a isso.

Governo do povo. Ou seja, é o povo quem governa, pelo menos em teoria, uma vez que os cidadãos elegem e podem ser eleitos para os órgãos governativos a vários níveis.

Mas, o que é que se passa na prática? Como é que são constituídas as listas eleitorais em que votamos? Teoricamente são criadas pelas várias concelhias dos partidos e incluem, claro, pessoas bem vistas pelo respetivo partido, ou antes, pelos dirigentes do momento. E digo teoricamente porque sempre que há eleições surgem as inevitáveis quezílias entre direções centrais e distritais sobre cabeças de lista, nomes a incluir, etc. Ou seja, com raras exceções, de que falarei a seguir, os elegíveis só são povo pela simples razão de serem cidadãos, trata-se, na prática, de pessoas pertencentes a um grupo muito, mas mesmo muito restrito. A exceção está na inclusão esporádica de nomes populares, como atores e cantores, que se espera que atraiam votos para o partido em questão.

Pior ainda, mesmo que um eleitor se dê ao trabalho de estudar as listas eleitorais da área em que vota e opte por um partido por gostar dos nomes em posições elegíveis, nada garante que não venham a ser outros da mesma lista a ocupar os seus lugares na Assembleia da República.

Praticamente a única garantia é que o líder do partido mais votado irá ser o primeiro-ministro – bom, depois da geringonça, deixou de o ser...

A nível local as coisas são um pouco melhores, uma vez que deixou de ser obrigatório pertencer a um partido para se ser eleito, algo a que os partidos, sobretudo os grandes têm tentado resistir com unhas e dentes – pelos vistos acham mais importante que o governo seja dos partidos e não do povo...

Governo pelo povo. Mas os problemas não acabam com a conclusão das eleições. Começa logo pelo papel da Assembleia da República, ou antes, pelo seu quase “não papel”. Falei disso em Adorava saber..., nomeadamente do porquê de haver círculos eleitorais uma vez que os deputados não os representam, limitando-se a fazer, dizer e votar de acordo com as instruções do seu partido.

Mas há mais. Já pensaram bem no que é o Governo em Portugal e em muitos outros países? É que, em Inglaterra, todos os ministros têm de ser deputados. E como ali os círculos eleitorais são uninominais, podem, pelo menos, dizer, que foram eleitos pelo povo, embora não necessariamente para aquela função. Ou seja, é governo pelo povo.

Mas é a exceção. Quem são os nossos ministros, secretários e todo o resto da fauna que constitui o nosso Governo, um qualquer? Pois, pessoas escolhidas pelo Primeiro-ministro com base em critérios que só ele conhece. E, a avaliar pelas “tragédias” que têm surgido ao longo dos anos, fica a suspeita, ou antes, a quase certeza de que a competência na respetiva área não é um deles.

Resumindo, temos um Governo escolhido pelo seu único membro eleito e um órgão legislativo de que os eleitores, ou seja, o povo, só muito indiretamente controlam a composição – e, pior ainda, têm zero a dizer sobre a sua atuação uma vez eleitos. E é Governo pelo povo?

Bom, resta a última parte, Governo para o povo. Pois...

Comecemos pelo nível local. Na altura das eleições autárquicas dá-se muito destaque às Câmaras, no sentido dos presidentes eleitos. O problema é que há também Assembleias Municipais – e outras a nível das freguesias – que são votadas separadamente. Ora acontece, frequentemente, o partido mais votado para elas ser o grande rival do que conquistou a Câmara.

E assistimos, então, a todos esses senhores, eleitos e pagos pelo povo, a chumbarem medidas apenas porque são sugeridas pelo outro lado, mesmo quando são coisas que eles próprios propuseram anteriormente, sem êxito pelas mesmas razões. E, enquanto se divertem a gladiar-se, o povo espera e desespera pela tomada de ações que há muito foram prometidas e que são, cada vez mais, urgentes.

Quanto aos Governos, bom, para eles o povo é constituído apenas por quem berre mais alto e por setores que acham que podem enfeudar para eleições futuras a troco de algumas benesses, por muito desastrosas que sejam para o bem-estar da população e a boa evolução económica do país.

Nos dois primeiros anos do mandato ainda tentam fazer algumas coisinhas, mas nada de muito radical para não ganharem fama de maus. Depois entram, muito simplesmente, em regime pré-eleitoral, sacrificando alegremente os interesses do país a favor dos de quem acham que virão a votar neles.

Ou seja, basicamente não chegamos a ter nunca um governo para o povo, tudo se restringe a tentar manter “o poleiro” o máximo de tempo possível.

Gostaria de dizer que isto só se passa em Portugal, infelizmente é cada vez mais geral vermos que os partidos governam para permanecer no topo, mesmo que isso afunde o respetivo país.

Haja paciência!

Para a semana: Não acelerem o tempo! Um post mais levezinho sobre a antecipação do Natal e festas similares.

11
Out24

157 - Não seria mais fácil...?

Luísa

Primeiro, uma pequena nota: por absoluta falta de tempo durante esta semana aproveitei algo escrito há uns tempos e adequado ao título proposto, mas que não inclui as discussões do Orçamento por serem atuais e que ficam para uma data posterior.

Neste post irei tratar de vários assuntos em que me intriga ver a enorme insistência em seguir por caminhos que só dificilmente darão resultado, pelo menos atendendo ao passado.

Comecemos pela habitação. Há umas semanas, o Sr. Montenegro anunciou, com a pompa e circunstância a que vários governos socialistas nos habituaram, a construção de umas 58 mil casas até 2030. Muito francamente, atendendo aos vários anúncios similares nos últimos anos, custa a crer que ainda haja necessidade de novas construções... É que por esta altura já toda a população deveria ter uma casa nova e a bom preço.

É claro que estas agora anunciadas vão, quase certamente, ter o destino das anteriores, ou seja, nem à fase de projeto chegam.

Ora não seria mais fácil e, acima de tudo, mais rápido e barato, o Estado pegar nos milhentos edifícios que possui e que estão ao abandono e renová-los para serem alugados por valores comportáveis para os salários dos portugueses? Sem contar que, em muitos casos, até nem seria preciso muito para os pôr habitáveis a curtíssimo prazo, dando-se, pois, prioridade a estes.

Esta solução teria, também, outras vantagens. Muitos destes edifícios estão no centro das respetivas cidades, ou perto deles, minorando, pois, os problemas com as deslocações e a necessidade impreterível de ter carro, e devolvendo, também, todas essas áreas a gente de cá, sem necessidade de atacar o alojamento local.

Mais ainda, esta medida evitaria a edificação em novos terrenos, ou seja, o crescimento da chamada selva de betão, algo muito desejável numa altura em que tanto se fala em ecologia e na preservação do meio ambiente. Ou isto só importa quando se fala em fazer condomínios de luxo?

E, última vantagem, evitar-se-ia o desperdício de ter tantos prédios ao abandono, cujo destino mais provável acabará por ser a demolição com a consequente eliminação – ou antes, acumulação em lixeiras – dos materiais que os constituem. Ou seja, reciclemos, aproveitemos, não desperdicemos!

Mudando de assunto, há um outro tema recorrente há anos e que é a promessa de creches para todas as criancinhas. É claro que ouvimos a mesma coisa todos os anos e, apesar da tão lastimada baixa da natalidade, continua a haver muitos pais que desesperam por encontrar um lugar para o seu filhote – e muitas vezes, nem pagando bem o têm.

Ora não seria mais fácil e, também aqui, bem mais rápido, fazer uso das chamadas forças do mercado? Ou seja, algo muito similar ao cheque educação, um dos ódios de estimação da nossa esquerda.

Basicamente, o Governo via quanto gasta com uma criancinha numa creche pública, gratuita, zona por zona – sim, duvido que os custos sejam iguais em todo o país. E era esse o montante que entregava aos pais cujos filhos não conseguiram uma vaga, para ser usado numa creche privada. Isto faria com que as privadas se tornassem acessíveis a mais pais, uma vez que estes só pagariam a diferença.

E, perante este rendimento garantido, suspeito que surgiriam muito mais creches, sobretudo em zonas com uma doce de criancinhas e pouca oferta de creches.

Sim, bem sei que o ideal seria ter creches gratuitas para todos. Só que, tal como as coisas estão agora, quem tem bons salários paga uma privada e as públicas ficam para quem não pode pagar uma privada – e encontra uma vaga, claro. Será que alguém acredita que a qualidade é a mesma?

Mas com um sistema tipo parcerias, que aumentaria a oferta, podia-se equilibrar um pouco as coisas, tornando, por exemplo, as públicas não totalmente gratuitas, mas com uma prestação consoante o salário dos pais, dando-lhes, assim, mais dinheiro – e, claro, exigindo melhor qualidade no serviço que prestam.

Finalmente, os idosos. Ouve-se, periodicamente, a queixa de que não há lares suficientes, nem nada que se pareça, para os muitos que procuram um lugar num deles. E quando se trata de cuidados paliativos, a situação é ainda pior.

Tratei destes últimos no meu outro blog, em Cuidados paliativos e Cuidados paliativos II, em que refiro, nomeadamente, que muitos desses pacientes prefeririam morrer em casa, se houvesse algum apoio e formação para quem cuida deles.

Vou, pois, falar apenas dos lares. O grande problema é que muitas pessoas vão para um lar – ou tentam ir – apenas porque não têm capacidade para viverem sozinhas em segurança ou, no mínimo, porque os seus familiares se sentem preocupados com as condições e isolamento em que vivem.

Não seria mais fácil e, mais uma vez, bem mais rápido e melhor para os visados, pensar em soluções alternativas ou, pelo menos, intermédias? Com visitas frequentes e algum apoio, muitos idosos poderiam viver ainda muitos anos na “sua casinha”, onde se sentem bem mais felizes do que num lar, por muito bom que este seja.

Também aqui, os que pudessem pagar contribuiriam com a sua parcela para este serviço, ou esta seria paga pelos seus familiares. Mas quer fosse o Estado ou a família a sustentar este sistema, ficaria, certamente, bem mais barato do que andar a construir lares, muitas vezes bem longe do local onde o dito idoso sempre residiu e que é, muitas vezes, demasiado afastado para permitir a visita de familiares ou amigos.

Quanto às soluções intermédias, já existem em inúmeros países e vão desde aldeias só para pessoas acima de uma certa idade, normalmente 65 anos, onde cada uma tem a sua casinha mas há uma sede, digamos, com diversos serviços e pessoal de apoio. Ou a mesma solução em forma de edifício urbano, com pequenos apartamentos adaptados a idosos e, também aqui, serviços e pessoal comuns.

Não nos esqueçamos que os idosos de agora já não são bem como os de alguns anos atrás, ainda têm muita energia e capacidades, só que, às vezes, torna-se um tanto complicado viver sozinho, sem apoios regulares e próximos

Para a semana: Vivemos mesmo em democracia? E não me refiro apenas a Portugal!

04
Out24

156 - A histeria dos ecrãs nas escolas

Luísa

Nas últimas semanas discutiu-se, se é que se lhe pode chamar isso, a proibição de smartphones nas escolas e, também, o uso de manuais eletrónicos. Ouvimos, como sempre, dúzias de especialistas a bramarem contra ambas as medidas O mais curioso é a “pequena” contradição que exibem quando falam de um ou do outro caso.

Ou seja, nada de manuais eletrónicos porque crianças e adolescentes já passam demasiadas horas ao ecrã, entre telemóvel, televisão e videojogos. Mas nem pensar proibir smartphones – ou outros telemóveis – nas escolas porque isso vai interferir com o desenvolvimento da personalidade das ditas criancinhas e adolescentes! Pois, como se terão desenvolvido os milhares de gerações antes do aparecimento dos ditos?

E, já agora, retirar-lhes os telemóveis não é minorar o tempo que passam frente a um ecrã?

Sou totalmente a favor da retirada desses aparelhos das salas de aulas, é que, muito francamente, não vejo em que melhoram o tal desenvolvimento social, servem, isso sim, como distração pura e simples. Ou alguém acredita que a maioria – ou até uma minoria – dos alunos os usa para pesquisar o tema da aula a que estão supostamente a assistir?

E numa época em que se fala cada vez mais no vício das redes sociais, não seria desejável um afastamento forçado durante algumas horas por dia? Mais ainda, isso não levaria, mais tarde, a uma geração adulta menos dependente do que começou por ser uma enorme conveniência e que é, agora, demasiadas vezes, uma autêntica prisão? Ou seja, de podermos ligar-nos sempre que quisermos passámos à quase obrigatoriedade de estarmos sempre disponíveis para falar, comunicar, mesmo que não estejamos com disposição para o fazer.

Último pormenor sobre este tema, acho extremamente curioso haver tantos pais que se indignam perante a ideia desta proibição. O argumento é que querem ter os filhos sempre contactáveis... será que acham que as escolas que frequentam não têm telefone nem ninguém para os chamar se for realmente urgente?

Passemos aos manuais eletrónicos. Confesso já que sou totalmente a favor... só que suspeito fortemente que não estamos a falar da mesma coisa.

É que se manual eletrónico significa apenas uma versão digital do mesmíssimo manual impresso, então, muito francamente, não lhe vejo grandes vantagens. Bom, fica bem mais barato, é muitíssimo mais fácil alterá-lo e poupa-se imenso papel – e árvores, não esqueçamos as árvores! Mas, pedagogicamente falando, é exatamente a mesma coisa.

Argumentam, também, que alguns países que os implementaram estão, agora, a regressar aos manuais impressos porque foi uma experiência falhada. E eu até acredito se, como disse, são apenas versões digitais de livros em papel e se o modo de dar as aulas se manteve o mesmo.

Passo a explicar.

No meio de toda esta polémica acho que se perde de vista o facto de as chamadas novas tecnologias permitirem revolucionar totalmente o ensino. E manuais digitais no verdadeiro sentido do termo poderiam ajudar imenso a alterar um modelo que, muito francamente, se mantém quase intacto há séculos. Ou seja, estuda-se num livro, fazem-se uns exercícios ali indicados, se for caso disso, e já está.

Sim, os manuais são agora todos bonitinhos e cheios de cores, há calculadoras, telemóveis e quadros “inteligentes”, mas a estrutura básica do modo de ensinar permanece a mesma.

E o que é um “verdadeiro” manual digital? Pois bem, para além do material básico a aprender, sempre visível, teria mais desenvolvimentos para quem tivesse interesse sobre um certo assunto, links para informação diversa – fotos, artigos, vídeos, experiências – e exercícios cujo resultado só estaria visível uma vez concluídos.

Bem sei que os atuais manuais têm partes realçadas e com setas a dizerem “isto é importante”, mas não é a mesma coisa. Estes novos manuais seriam, de facto, uma porta de acesso a todo o tipo de informação. Com a vantagem adicional de que os bons alunos deixavam de morrer de tédio nas aulas, podiam sempre ler mais, descobrir à sua vontade.

E numa época em que tanto se fala no cruzamento entre matérias e na interligação entre as várias cadeiras lecionadas, estes manuais seriam ideais para reforçar essa ideia. Por exemplo, um tema de história pode levar a geografia, ciência, literatura, etc. Ou seja, haveria interligação fácil entre os vários manuais e não, como agora, Manual de Física, Manual de História...

Resumindo, tratar-se-ia de aproveitar ao máximo a tremenda riqueza da Internet, mas no bom sentido. Já pensaram em como seria giro ver experiências de física ou de química que não é comportável fazer numa escola? Ou aprender astronomia prática, virada para o lugar onde se vive e estuda? E em vez de falar “a seco” de ecologia, que tal ter links para vídeos e fotos que mostrem o que se está a estudar?

É claro que fazer manuais destes não seria fácil, exigiriam muita pesquisa e também uma boa equipa informática, mas nada que não se consiga pôr em prática. Sem contar que em muitos casos seria preciso traduzir artigos, por exemplo, uma vez que a maior parte da informação na Internet está em inglês – e muita da que existe em português é do Brasil.

Seria, também, moroso, mais uma razão para se começar a curto prazo. E há a grande vantagem de se poder começar “devagarinho”, com pouco mais do que o básico, e ir acrescentando, aos poucos, links, informação, interligações, tudo e mais alguma coisa. Ou seja, começar por fazer uma casinha modesta, com o mínimo para ser “habitável”, que irá crescendo até se converter num daqueles arranha-céus que são uma autêntica cidade, em população e serviços.

Para terminar, porque será que quando se fala no tempo excessivo que crianças e adolescentes passam ao ecrã ninguém menciona limitar as horas gastas em videojogos? Ou em programas de TV que são pura perda de tempo ou, até, nocivos para personalidades em desenvolvimento? Isto para não falar nas redes sociais...

Para a semana: Não seria mais fácil...? A propósito das discussões do Orçamento e outros assuntos

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