Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Luísa Opina

Neste blogue comentarei temas genéricos da nossa sociedade. Haverá um novo texto todas as sextas-feiras

Neste blogue comentarei temas genéricos da nossa sociedade. Haverá um novo texto todas as sextas-feiras

Luísa Opina

20
Set24

154 - Voltemos aos incêndios (infelizmente)

Luísa

Não é o tema que anunciei a semana passada, mas, perante a tragédia que se abateu mais uma vez sobre o nosso país, achei mais relevante falar precisamente disso. Não é o meu primeiro post sobre este assunto e espero, muito sinceramente, não voltar a ter ocasião de falar dele – pois, sou mesmo uma otimista nata. Esse meu post anterior já data de 2022 e intitula-se A eterna praga dos incêndios. Infelizmente, muito do que ali digo continua a ser relevante.

Vou tentar não me repetir muito, ou seja, este post será uma espécie de Parte 2 do acima citado.

Uma coisa que sempre me intrigou foi a divulgação das zonas do país em alerta vermelho e amarelo de perigo de incêndios. E não sou a única, tenho lido nestes últimos dias inúmeras perguntas a esse respeito, nomeadamente uma que o meu pai repetia sempre: será que é para alertar os incendiários sobre as zonas “mais apetecíveis” nesse dia?

Não tiro valor à lista, seria, de facto, muito útil se fosse entregue apenas à Proteção Civil e Bombeiros. Mas, francamente, não vejo a menor utilidade nesta divulgação geral. Sim, o que é que as populações dessas zonas podem fazer? Armarem-se em vigilantes e patrulharem a vizinhança em busca de incendiários ou de pessoas suspeitas? Infelizmente, acho que todos sabemos o que aconteceria se o fizessem, em menos de nada estariam a ser denunciadas e condenadas por vigilantismo...

Passemos, agora, às causas dos incêndios. Às já usuais – madeireiros, eucaliptos, raios, descuido humano – juntaram-se agora duas novinhas em folha: a ganância de lucro de quem fornece aviões e outro equipamento especializado e, claro está, as alterações climáticas.

Curiosamente, e atendendo que foram descobertos depósitos de gasolina perto de uma mata estatal, nunca se põe a hipótese de terrorismo. Já agora, refiro-me a terroristas caseiros, digamos, bem portugueses, e não necessariamente a estrangeiros, este não é bem o seu tipo de ação.

É que, muito francamente, para quem ambiciona destruir o nosso país, a nossa economia, esta é a forma mais fácil e com menos custos pessoais. Pois, mesmo que sejam apanhados, terão, no máximo, uma pena ridícula, isto se um dos muitos juízes benevolentes que temos não os mandar em paz porque “não foram apanhados com o fósforo na mão” – e mesmo assim, não sei, podem sempre dizer que era só para acender um cigarrinho...

No post anterior falei bastante da limpeza das matas. Surgiu agora um novo “argumento”, que seria caricato se não fosse verdadeiro: é que, em muitos casos, dizem, o Estado não sabe quem são os donos. E, como digo, até é verdade. Num país com tanta burocracia é incrível descobrir a falta de dados sobre propriedades rurais.

Há uns anos conheci uma senhora formada em história que trocou o ensino pela pesquisa de registos de terrenos, sendo muito bem paga por herdeiros que só sabiam vagamente que tinham direito a umas terras algures na província e que não tinham tempo nem disposição para descobrirem onde ficavam, exatamente, e quais os seus limites.

Mas não saber quem é o dono não pode ser desculpa., até porque muita da zona florestada do nosso país pertence ao Estado, sim, ao mesmo Estado que exige que as pessoas limpem os terrenos que lhes pertencem e que nada faz pelos seus. E não me venham dizer que não há dinheiro nem pessoas para o fazerem!

Pequena sugestão, ponham as 214 000 pessoas que recebem o erroneamente chamado rendimento mínimo a fazê-lo, se quiserem continuar a ter essa benesse. E que tal as penas de prisão remíveis por multa passarem a ser obrigatoriamente remíveis por trabalho cívico, incluindo esta limpeza? Pelo que me diz respeito, adoraria ver os meninos climáticos a fazerem, finalmente, alguma coisa útil!

Também não se diz que a floresta é agora muito menos explorada porque há pouca gente nas povoações em redor e não só. Há uns anos, eram uma fonte de alimento para animais – muitos tinham pelo menos uma ovelha ou uma ou duas cabras – e de material para lareiras e fogões para cozinhar. Mas isso tem mudado muito e essa espécie de “limpeza natural” deixou de ser feita, aumentando a carga térmica dessas zonas e a dificuldade em fazer uma limpeza a sério antes da época dos incêndios.

Mudando de assunto, quando vejo na televisão pessoas, muitas vezes não muito novas, a lutar para salvar as suas casas com simples mangueiras de quintal e sachos e com grave risco de vida, faço sempre a pergunta: onde para o nosso exército?

Sim, bem sei que não são bombeiros, mas há tanta coisa que podiam fazer! Por exemplo, seguirem para zonas em perigo com alguns camiões para ajudarem a retirar alguns bens das casas em risco de arderem. Assim, as pessoas já não perderiam tudo o que têm, como temos visto em demasiados casos. Mais ainda, ajudarem a retirar o gado dessas zonas, algo que a população não tem meios para fazer a tempo de evitar a sua morte.

Podiam, também, ajudar a cortar mato e árvores na frente do incêndio, são, certamente, mais jovens e mais atléticos do que os habitantes locais. E têm, sem dúvida, camiões tanque que poderiam ser levados até perto dos carros de bombeiros para os abastecer mais rapidamente. E se fosse difícil fazê-lo por não haver compatibilidade, ei, temos fama de sermos um povo engenhoso! Quem sabe, até poderiam inventar algo bem útil para outros países.

Mais ainda, atendendo a que voltou a haver problemas de comunicações, aí está outra área em que poderiam brilhar, que eu saiba têm sido bastante inovadores nesse setor. Já agora, poderiam desempenhar um papel importantíssimo na vigilância e prevenção, como disse no post acima citado, em que só faltou mencionar os agora muito populares drones.

Duas últimas notas. Sei que é notícia, mas talvez fosse boa ideia não mostrar tantas imagens do fogo em si. É que, sejamos sinceros, sobretudo de noite o que vemos é espetacular, se não fosse trágico. E sabe-se há muito que há quem ateie fogos simplesmente por adorar ver fogo a arder.

E, finalmente, uma nota positiva. Parece que o apoio europeu funcionou, pelo menos não me lembro de ter visto em anos anteriores vários Canadair a voarem em grupo sobre o mesmo incêndio, algo bem mais eficaz uma vez que permite várias descargas sobre uma mesma área. Parecia, até, em versão reduzida, claro, as cenas de filmes da Segunda Guerra Mundial com ondas de bombardeiros americanos!

Para a semana: O nosso sistema penal. A propósito da recente fuga e não só

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Calendário

Setembro 2024

D S T Q Q S S
1234567
891011121314
15161718192021
22232425262728
2930

Arquivo

  1. 2025
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2024
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2023
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2022
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2021
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D