146 - Seria chocante... se não fosse usual
Por diversas razões tenho visto ultimamente um pouco mais canais noticiosos nacionais e há algumas coisas, não diretamente políticas, que me chocaram, inicialmente... até me lembrar de já as ter visto vezes sem conta em meses e anos anteriores.
A primeira situação tem a ver com um idoso encontrado a viver na autêntica lixeira em que se convertera o seu apartamento quando deixou de ter capacidade física para cuidar dele... e de si. Falei deste assunto no post Chocante do meu outro blog, Ir para novo. Mas volto a repetir aqui que me ficou a ideia de que se o dito idoso não tivesse um filho e neto importantes no PSD o caso nem teria sido mencionado.
É que não faltam pessoas com bastante idade a viverem em situações totalmente degradantes sem que ninguém fale disso ou, pior ainda, sem que se faça seja o que for para lhes dar um fim de vida mais condigno. Mas não faltam vozes indignadas pelas condições em que vivem alguns dos chamados migrantes, exigindo, em altos berros, que se aja já para que possam ter uma vida condigna no país para onde vieram muitas vezes ilegalmente.
E passemos ao caso seguinte, um casal a viver numa cave sem condições, ela a sofrer de uma doença degenerativa que a impede de andar e que mal a deixa mover-se, ele, também doente, a fazer um esforço hercúleo para cuidar dela. O mais chocante é que andam há cinco anos a pedir ajuda à Segurança Social sem terem, sequer, uma mera resposta.
E, infelizmente, não são caso único, o país está cheio de pessoas com todo o tipo de problemas de saúde e sem o menor apoio. Pior ainda, o seu estado vai piorando cada vez mais devido, precisamente, à falta de cuidados, isto para não falar na sua saúde mental, um tema agora tão na moda. Como acham que se sentirão ao verem-se postos de lado, tratados como se fossem lixo?
Vamos, agora, às gémeas. Só referirei de passagem a rapidez com que foi autorizado um tratamento tão caro quando há crianças a precisarem de um bem mais barato e a que quem manda não dá resposta. Mas, como se isso não bastasse, temos as célebres cadeiras de rodas, as tais que custaram 36 000 euros, se não me engano, e que a família nem se deu ao trabalho de recolher.
Quantas cadeiras “normais” poderiam ser compradas para as muitas pessoas que esperam e desesperam por uma? Quantas crianças têm problemas porque cresceram e a que tinham deixou de ser adequada? Quantos adultos não podem ser um pouco mais independentes por não terem uma cadeira de rodas que lhes permita alguma autonomia?
Muito francamente, acho que é mais do que altura de perguntarmos em que é que a Segurança Social gasta o muito dinheiro que para ela contribuímos. Pois, o problema é que já sabemos a resposta... no erroneamente chamado Rendimento Mínimo, para onde se entra e não se sai, em bairros sociais que são, cada vez mais, antros de traficantes de drogas e outros criminosos que ganham montes de dinheiro livre de impostos, enfim, nas causas queridas à nossa esquerda – e não só.
E como o dinheiro não é elástico, é claro que depois não chega para quem realmente precisa de ajuda e de apoios.
O último assunto tornou-se cada vez mais recorrente e confesso que me intriga um pouco, já verão porquê. Refiro-me aos problemas crescentes que uma grávida tem para encontrar onde ter a criança. E intriga-me porque, com tanta conversa sobre a baixa taxa de natalidade, como é que, com o mesmo número de maternidades – ou talvez ainda mais – começaram a surgir agora e cada vez mais estas questões?
Sim, houve um período em que quase que exigiam uma maternidade em cada bairro, pelo menos era o lema quando surgia um caso de um bebé nascido numa ambulância por não ter tido tempo de chegar ao hospital. Diga-se de passagem que estes casos sempre me intrigaram, é que, na minha opinião, ou eram partos à Speedy Gonzalez ou a grávida tinha adiado demasiado a saída de casa.
Para mim, o problema tem duas raízes. Uma é a exigência de estar uma equipa completa de serviço para que a maternidade funcione. Sim, bem sei que a medicina evoluiu, mas será que todos os partos precisam desse aparato todo? Um simples médico – ou, até, uma enfermeira, lembro que é um curso de cinco anos – não dariam conta do recado na maior parte dos casos? E os tais especialistas ficariam, apenas, à espera de serem chamados caso fossem necessários.
A outra questão tem a ver com a não existência de parteiras, ao contrário do que se passa em vários países ocidentais, nomeadamente França e Inglaterra. A duração do curso varia de país para país, mas é uma formação a sério que lhes permite fazer partos na casa da parturiente. Mais importante ainda, acompanham-na durante a gravidez e têm formação para entender quando há um problema e a grávida tem mesmo de ir para o hospital.
Como as coisas estão agora no nosso país, a única opção de uma grávida que não tenha dinheiro para um parto no privado é rezar a todos os santos para que, chegado o momento, haja um vaga algures, nem que seja a muitos, mesmo muitos quilómetros da sua residência. Bom, isto se quiser jogar pelo seguro, é que há, com certeza, parteiras por aí, só que sem qualificações oficiais... ou de qualquer outro tipo.
Mas com governantes e partidos mais interessados em preservar o Sistema Nacional de Saúde – pois, tantos votos daqueles funcionários públicos todos – do que em garantir que os cidadãos têm acesso à saúde, bom, suspeito que as coisas só irão piorar.
Para a semana: Terrorismo e atitudes. A propósito dos Jogos Olímpicos, atletas, marcas desportivas e tudo isso
