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Luísa Opina

Neste blogue comentarei temas genéricos da nossa sociedade. Haverá um novo texto todas as sextas-feiras

Neste blogue comentarei temas genéricos da nossa sociedade. Haverá um novo texto todas as sextas-feiras

Luísa Opina

26
Jul24

146 - Seria chocante... se não fosse usual

Luísa

Por diversas razões tenho visto ultimamente um pouco mais canais noticiosos nacionais e há algumas coisas, não diretamente políticas, que me chocaram, inicialmente... até me lembrar de já as ter visto vezes sem conta em meses e anos anteriores.

A primeira situação tem a ver com um idoso encontrado a viver na autêntica lixeira em que se convertera o seu apartamento quando deixou de ter capacidade física para cuidar dele... e de si. Falei deste assunto no post Chocante do meu outro blog, Ir para novo. Mas volto a repetir aqui que me ficou a ideia de que se o dito idoso não tivesse um filho e neto importantes no PSD o caso nem teria sido mencionado.

É que não faltam pessoas com bastante idade a viverem em situações totalmente degradantes sem que ninguém fale disso ou, pior ainda, sem que se faça seja o que for para lhes dar um fim de vida mais condigno. Mas não faltam vozes indignadas pelas condições em que vivem alguns dos chamados migrantes, exigindo, em altos berros, que se aja já para que possam ter uma vida condigna no país para onde vieram muitas vezes ilegalmente.

E passemos ao caso seguinte, um casal a viver numa cave sem condições, ela a sofrer de uma doença degenerativa que a impede de andar e que mal a deixa mover-se, ele, também doente, a fazer um esforço hercúleo para cuidar dela. O mais chocante é que andam há cinco anos a pedir ajuda à Segurança Social sem terem, sequer, uma mera resposta.

E, infelizmente, não são caso único, o país está cheio de pessoas com todo o tipo de problemas de saúde e sem o menor apoio. Pior ainda, o seu estado vai piorando cada vez mais devido, precisamente, à falta de cuidados, isto para não falar na sua saúde mental, um tema agora tão na moda. Como acham que se sentirão ao verem-se postos de lado, tratados como se fossem lixo?

Vamos, agora, às gémeas. Só referirei de passagem a rapidez com que foi autorizado um tratamento tão caro quando há crianças a precisarem de um bem mais barato e a que quem manda não dá resposta. Mas, como se isso não bastasse, temos as célebres cadeiras de rodas, as tais que custaram 36 000 euros, se não me engano, e que a família nem se deu ao trabalho de recolher.

Quantas cadeiras “normais” poderiam ser compradas para as muitas pessoas que esperam e desesperam por uma? Quantas crianças têm problemas porque cresceram e a que tinham deixou de ser adequada? Quantos adultos não podem ser um pouco mais independentes por não terem uma cadeira de rodas que lhes permita alguma autonomia?

Muito francamente, acho que é mais do que altura de perguntarmos em que é que a Segurança Social gasta o muito dinheiro que para ela contribuímos. Pois, o problema é que já sabemos a resposta... no erroneamente chamado Rendimento Mínimo, para onde se entra e não se sai, em bairros sociais que são, cada vez mais, antros de traficantes de drogas e outros criminosos que ganham montes de dinheiro livre de impostos, enfim, nas causas queridas à nossa esquerda – e não só.

E como o dinheiro não é elástico, é claro que depois não chega para quem realmente precisa de ajuda e de apoios.

O último assunto tornou-se cada vez mais recorrente e confesso que me intriga um pouco, já verão porquê. Refiro-me aos problemas crescentes que uma grávida tem para encontrar onde ter a criança. E intriga-me porque, com tanta conversa sobre a baixa taxa de natalidade, como é que, com o mesmo número de maternidades – ou talvez ainda mais – começaram a surgir agora e cada vez mais estas questões?

Sim, houve um período em que quase que exigiam uma maternidade em cada bairro, pelo menos era o lema quando surgia um caso de um bebé nascido numa ambulância por não ter tido tempo de chegar ao hospital. Diga-se de passagem que estes casos sempre me intrigaram, é que, na minha opinião, ou eram partos à Speedy Gonzalez ou a grávida tinha adiado demasiado a saída de casa.

Para mim, o problema tem duas raízes. Uma é a exigência de estar uma equipa completa de serviço para que a maternidade funcione. Sim, bem sei que a medicina evoluiu, mas será que todos os partos precisam desse aparato todo? Um simples médico – ou, até, uma enfermeira, lembro que é um curso de cinco anos – não dariam conta do recado na maior parte dos casos? E os tais especialistas ficariam, apenas, à espera de serem chamados caso fossem necessários.

A outra questão tem a ver com a não existência de parteiras, ao contrário do que se passa em vários países ocidentais, nomeadamente França e Inglaterra. A duração do curso varia de país para país, mas é uma formação a sério que lhes permite fazer partos na casa da parturiente. Mais importante ainda, acompanham-na durante a gravidez e têm formação para entender quando há um problema e a grávida tem mesmo de ir para o hospital.

Como as coisas estão agora no nosso país, a única opção de uma grávida que não tenha dinheiro para um parto no privado é rezar a todos os santos para que, chegado o momento, haja um vaga algures, nem que seja a muitos, mesmo muitos quilómetros da sua residência. Bom, isto se quiser jogar pelo seguro, é que há, com certeza, parteiras por aí, só que sem qualificações oficiais... ou de qualquer outro tipo.

Mas com governantes e partidos mais interessados em preservar o Sistema Nacional de Saúde – pois, tantos votos daqueles funcionários públicos todos – do que em garantir que os cidadãos têm acesso à saúde, bom, suspeito que as coisas só irão piorar.

Para a semana: Terrorismo e atitudes. A propósito dos Jogos Olímpicos, atletas, marcas desportivas e tudo isso

19
Jul24

145 - Clima, ambiente e não só

Luísa

Já falei do clima anteriormente, nomeadamente em É o clima, onde faço referência a um dos meus primeiros posts, também sobre o assunto, O céu está a cair. Não me vou repetir, este post tem outras intenções, digamos.

Pensei em escrevê-lo quando dei por mim, um dia destes, a sentir saudades dos climáticos e das suas parvoíces, perdão, das suas muito lógicas ações contra a tão badalada catástrofe climática – bom, adorava que alguém me explicasse em que é que atirar tinta à Mona Lisa ou a Stonehenge ajudam uma causa, seja ela qual for!

Mas depois ocorreu-me que, como bons filhotes esquerda caviar que são, devem ter ido de férias. Como sou uma otimista nata, imaginei de imediato inúmeros cenários em que esses tão empenhados jovens estariam a usar este seu período de lazer a bem do planeta.

Por exemplo, indo para as muitas aldeias meio abandonadas do nosso interior rural para restaurarem as poucas casas ainda habitadas de modo a torná-las “mais sustentáveis”, outra expressão que lhes é muito cara. Só quem nunca visitou familiares ou conhecidos numa dessas povoações desconhece o que são aquelas habitações após décadas – ou mais – sem manutenção.

De verão as coisas nem sempre são muito más, sobretudo em zonas em que a construção recorreu a muros espessos de pedra, mas de inverno faz tanto – ou mais – frio lá dentro como cá fora, graças ao mau estado dos telhados, fendas nas paredes, janelas que vedam pessimamente, enfim, mil e um modos de deixar entrar frio e vento.

Passei uns bons momentos a imaginá-los a calafetarem paredes e a repararem telhados, a usarem a mesada para pôr janelas de vidros duplos e, acima de tudo, uns painéis solares que permitissem usar um aquecedor elétrico em vez de uma lareira ou fogão a lenha – enfim, o ideal para quem quer salvar o planeta, pensemos em toda a lenha que deixava de ser queimada, com os seus fumos nocivos! Sem falar nas famosas dioxinas que, aparentemente, só são más quando são produzidas na tão contestada coincineração.

Mais ainda, como muitos se dizem, no mínimo, vegetarianos, poderiam, também, ensinar todos aqueles idosos a fazer agricultura biológica, a única sustentável, segundo dizem – isto independentemente do facto de eu ter quase a certeza de que os ditos jovens nunca cultivaram nada na vida...

Mas isso não é problema, o YouTube tem, certamente, inúmeros vídeos sobre o assunto, esperemos é que sejam mais credíveis do que muitos dos “factos” que os queridos climáticos debitam!

Um belo sonho... mas como todos os sonhos, altamente improvável, o mais certo é estarem a divertir-se algures, a ir a festivais de música – serão sustentáveis? – e muitas outras atividades de lazer, voltando aos protestos quando as férias acabarem.

O que me leva ao ambiente e à falta de sentido crítico com que muitos leem notícias. Por exemplo, tem circulado no Facebook uma petição sobre elefantes, porque, segundo diz, “são abatidos 20 000 todos os anos”. Atendendo a que em 1960 havia apenas 600 000 em África, a este ritmo, como é que ainda resta algum?

Este é um dos muitos exemplos do modo como autodenominados ambientalistas tratam assuntos sérios. Como a desflorestação da Amazónia, umas simples continhas mostram que, a fazer fé no que dizem há décadas sobre o seu ritmo, a dita floresta já teria desaparecido há vários anos.

Atenção, não deduzam de tudo isto que sou contra a proteção do ambiente, muito pelo contrário, aliás nos posts que citei menciono algumas medidas que, na minha opinião, percam por tardias, como albufeiras para reter água da chuva em excesso que seria depois usada para minorar os efeitos de secas.

E por falar em água, falou-se muito da sua falta no Algarve, atribuída, claro está, a campos de golfe, turismo, cultivo de frutos importados, etc. Ora um estudo da DECO – que não pode, de modo algum, ser considerada antiambientalista – diz que as fugas na rede de abastecimento de água daquela região totalizam 15 milhões de metros cúbicos, dariam para abastecer quase metade das famílias que ali residem.

Curiosamente, não vi ninguém a exigir a reparação urgente das condutas para evitar este desperdício e os problemas que isso traz para toda a região. Pois, não é tão mediático como berrar pela eliminação dos campos de golfe...

Outra coisa que me intriga, num país onde se fala tanto em energias alternativas, é não terem sido tomadas medidas nesse sentido ao nível mais baixo. Fala-se em grandiosas centrais solares – se os ecologistas de serviço não protestarem, como no Alqueva – mas que tal exigir que prédios novos tenham painéis solares nos telhados? Para uma grande construtora o acréscimo de custos seria bem menor do que para um mero particular e sempre era uma boa utilização de um espaço que agora não serve para nada.

O mesmo para estádios de futebol. Será que já fizeram as contas ao custo/benefício de porem os ditos na cobertura das bancadas? Aposto que chegavam para a maior parte do consumo, excluindo, muito possivelmente, as luzes em dia de jogo noturno.

Acima de tudo, o que mais me intriga em toda esta conversa sobre ambiente e clima é a total falta de ênfase dada a evitar desperdícios e consumos inúteis – exceto a velha história da torneira a pingar e da televisão ou computador em stand-by.

Aposto que os queridos climáticos têm um telemóvel de última geração e que já passaram por inúmeros modelos – e passarão por muitos mais nos próximos  (poucos) anos. Isso não é o tal consumismo que tanto condenam? E nem sequer vou falar em roupas e isso, o importante é “andar na moda”, nem pensar em usar coisas do ano anterior! Ou em segunda mão...

Ou seja, em vez de tantos protestos e exigências grandiosas, que tal fazer uma boa campanha contra todo o tipo de desperdícios e um regresso a hábitos de poupança que, grande novidade, não têm nada a ver com fascismo, como dizem, mas sim com zelar pelo futuro: o nosso e o do planeta.

Bom, como o post já vai longo, falarei de aldeias ecológicas noutra altura. Mas sabiam que há uma no Alentejo, chamada Tamera?

Para a semana: Seria chocante... se não fosse usual. De idosos em casas-lixeira a pessoas

12
Jul24

144 - Incongruências

Luísa

Este é mais um post sobre algumas coisinhas que me intrigam na nossa sociedade.

Comecemos pela reação à presença de cada vez mais estrangeiros no nosso país. É absolutamente anátema dizer seja o que for contra os que acampam selvaticamente em bairros de Lisboa e muito menos sobre o disparo, ou antes, a explosão nuclear da insegurança e da criminalidade. E quem acha que um país europeu tem o direito de controlar quem passa as suas fronteiras e quem ali vive é apelidado de tudo e mais alguma coisa e só não é fisicamente linchado porque ainda não calhou.

Mas...

Curiosamente, é quase obrigatório dizer mal dos muitos turistas que nos visitam e que, esses sim, sempre deixam algum dinheiro em vez de viverem do nosso. Os mesmos que acham que é tolerância deixar entrar todo o “migrante” que se lembre de aparecer, berram e barafustam contra a “invasão turística” e lastimam haver muitas zonas em que quase não se veem portugueses – mais uma vez, se forem estrangeiros não turistas, sobretudo das etnias “certas”, então tudo bem, podem ocupar à vontade o espaço todo e, pior ainda, ameaçar (e não só) os portugueses que, por azar, tenham de passar por ali ou que ali vivam.

O mesmo se passa com os vistos. Tanta indignação com os Vistos Gold porque, segundo diziam, em nada contribuíam para a riqueza do país – exceto os chorudos impostos da compra de uma casa de luxo e, mais importante ainda, o facto de não virem viver à nossa custa. Mas um “migrante” ou suposto refugiado já pode entrar à vontade e desaparecer no meio da população sem que isso os indigne? Pois, o argumento é que muitos até vêm para trabalhar – e eu é que sou otimista...

Na mesma onda, temos agora uma ministra que afirma, alto e bom som, que haverá tolerância zero para racismo e xenofobia nas polícias. E à primeira vista, eu até concordo.

Mas...

Como todos sabemos – aparentemente, ela não – se um não branco tiver um desacato com a polícia desata logo a berrar que foi atacado por racismo, etc. Está, até, muito na moda publicar vídeos em que se mostra violência policial. O que nunca vemos é o que se passou antes. Ou seja, o que levou aqueles polícias a perderem a cabeça? Que insultos e agressões sofreram? É que por muito que seja de reprovar o uso da força por parte das forças policiais, não nos devemos esquecer de que os agentes são pessoas e que só eles sabem o muito que ouvem e sofrem diariamente, o mesmo se aplicando aos guardas prisionais.

Também acho curioso o modo como o entusiasmo pelo uso de câmaras corporais da polícia tem esmorecido, já tenho, até, ouvido dizer que deviam ser proibidas porque são uma violação da privacidade das pessoas. Atendendo a que em vários casos o seu uso provou que os agentes em questão se estavam apenas a defender, ou seja, o contrário do tal ataque racista e xenófobo que a “vítima” tinha berrado aos sete ventos, fica-me a ligeira sensação de que a razão é bem capaz de ser outra...

Temos também o chamado “direito à indignação”, isto a propósito do muito que se disse e escreveu sobre o Chega e as manifestações de polícias, nomeadamente, críticas ao seu uso para fins políticos. Serei a única a lembrar-me de protestos bem mais acesos apoiados pela nossa esquerda em diversas áreas, incluindo a polícia, alguns dos quais até descambaram em violência?

Por exemplo, lembram-se do buzinão da ponte perante uma proposta do aumento das portagens por parte do governo de Cavaco Silva? Fartámo-nos de ouvir o seu promotor dizer que não era um protesto político. Só que, assim que o governo mudou e os socialistas ficaram no poder, esse mesmo senhor recebeu um tacho político algures a sul do Tejo. Ah, e pequeno detalhe, as portagens não baixaram, mas a indignação – que lembro, não era política – morreu.

Para concluir, voltámos a ouvir falar na tragédia que é o atual estado da comunicação social, ou seja, o facto de muitos jornais e revistas estarem com graves dificuldades económicas. É claro que a culpa é das pessoas, que, segundo os “especialistas”, preferem procurar informação em locais pouco credíveis ou, até, cheios de falsidades.

Mas isso será mesmo assim? Quando vim viver para Portugal, em finais dos anos 80, dei-me ao trabalho de comprar vários jornais diários para escolher o mais informativo, para além de analisar, também, diversos semanários. Só que, ao fim de alguns anos, comecei a notar que a seriedade com que os assuntos eram tratados diminuía a olhos vistos e que havia um fortíssimo pendor esquerdista em quase tudo – já agora, se o pendor fosse ao contrário também não me agradaria, isto só para esclarecer quem já o está a pensar.

Acontece que quando leio uma notícia quero saber factos, não a interpretação de quem a escreve, são notícias e não colunas de opinião, ou antes, deviam sê-lo, ou seja, deviam ser o mais neutras possível. Junte-se a isso uma escrita pouco cuidada e um autêntico festival de erros, sobretudo se um assunto exige alguns conhecimentos da matéria e o resultado foi eu ir deixando de ler os ditos. Neste momento, tenho apenas uma assinatura do Observador e apenas porque tem três ou quatro comentadores que valem, na minha opinião, o que pago, é que os outros... enfim, lixo é dizer pouco.

Ou seja, as pessoas estão a deixar a comunicação social “oficial” apenas porque esta não cumpre a sua função – que é, muito simplesmente, informar e não indoutrinar. Mas é claro que é bem mais fácil exigir programas AI que detetem discurso de ódio online – será que o do inestimável Mamadu conta? É que como os regimes comunistas bem sabem, se os cidadãos não tiverem acesso a fontes alternativas de notícias são muito mais fáceis de controlar.

Para a semana: Clima, ambiente e não só. Da “catástrofe climática” a aldeias ecológicas e muito mais

05
Jul24

143 - Falemos de férias

Luísa

Férias é, há muito, sinónimo de repouso, “feria” era, para os romanos, um dia de descanso dedicado aos deuses ou a festas públicas. Com o advento do cristianismo, surgiu o domingo como dia de repouso, levado mais ou menos a sério – em certas regiões protestantes, as crianças nem sequer podiam brincar, não se podia fazer rigorosamente nada!

A primeira grande mudança veio com a Revolução Industrial. Até aí, com muita da população no setor agrário, o repouso, relativo, vinha ao sabor dos trabalhos agrícolas. À medida que os países se industrializavam, aumentava a pressão para dar mais dias de repouso aos trabalhadores fabris, para além do domingo, dia de Natal e Sexta-feira Santa. E a partir dos anos 30 os sindicatos começaram a forçar para que fossem dados aos seus membros alguns dias anuais de férias pagas.

A França foi o primeiro país a fazê-lo, em 1936, concedendo 12 dias pagos por ano. No mesmo ano, a Organização Mundial do Trabalho (OIT), aprovou a Convenção 52 sobre férias pagas, ratificada por muito poucos países, e cuja implementação foi atrasada devido à Segunda Guerra Mundial.

Pequeno detalhe, a primeira legislação portuguesa sobre o assunto data de 1937! Só que, à semelhança de muitas outras regalias da época, esse direito não se estendia a todos, até devido ao modo como a nossa economia estava estruturada, com um forte setor primário e um setor secundário formado, na sua maioria, por empresas quase familiares, cujo funcionamento e viabilidade não se compadeciam com interrupções de serviço. Mesmo assim, foram surgindo locais e associações de lazer para os trabalhadores, como a Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho (FNAT), a precursora da INATEL,  que em 1969 tinha 150 mil associados, parques de campismo, colónias de férias, etc.

Resumindo, a ideia de um mês de férias por ano passados em lazer total numa praia, por exemplo, ou em viagem, é algo bastante recente. E lembro que há países que há países em que até é bem posterior, na China, por exemplo, só em 1999 é que os trabalhadores passaram a ter direito a uma semana de férias – alguns setores têm agora três. Ou seja, o importante a reter aqui é que a sua conotação atual, “descanso do trabalhador”, é muitíssimo recente.

A razão de ser deste tão longo preâmbulo é eu achar que está na altura de alterarmos, novamente, o conceito de férias. Não a nível institucional mas, de um modo simultaneamente mais simples e mais difícil, a nível pessoal.

Sempre achei que as férias deviam ser um período de “descanso” da nossa atividade usual. E porquê “descanso” entre aspas? Pois bem, neste contexto, para mim não é sinónimo de lazer total, de não fazer nada, é, isso sim, uma ocasião para fazermos o oposto do nosso dia-a-dia.

Por exemplo, tenho uma vida muito sedentária, o meu trabalho é todo ao computador e o meu passatempo favorito é ler. Sendo assim, quando tiro uns dias de férias gosto de andar, de me mexer o mais possível, de ver coisas. Se fosse simplesmente para uma praia relaxar, isso seria trocar sedentário por sedentário – menos a componente do trabalho, claro. Já quem tem uma profissão que obriga a muito movimento, bom, ai, sim, o relaxe é uma mudança.

Ou seja, sugiro que se comece por pensar no tipo de férias que se costuma ter e se são, de facto, as ideais – e não me refiro a suspirar por viagens caríssimas ou estadias em locais de luxo, mas sim ao que se faz habitualmente durante esse tempo e a razão para isso, quantas vezes se vai para um sítio porque todos os conhecidos fazem o mesmo. E lembro que há cada vez mais opções de todos os tipos que não exigem que se gaste um balúrdio para passar uns momentos agradáveis, revigorantes e, sobretudo, diferentes.

Mas a grande mudança está em implementar umas férias mensais ou, até, semanais. E se está a pensar, pois, que bonito, lá se vai a produtividade, não me refiro a férias a sério, no sentido atual, mas, muito simplesmente, a destinar um sábado ou domingo – ou outro dia, se trabalha nesses dias – a fazer algo diferente, algo que lhe “repouse a alma”.

Isso implica, claro está, organizar o seu dia-a-dia de modo a poder ter esse tempinho sem pensar em ir às compras, fazer limpezas ou arrumações, enfim, as mil e uma coisas que acabam por preencher todo o nosso tempo livre.

Mais uma vez, não faltam opções, de idas a museus a parques, um simples passeio, um convívio, mas não dos que fazemos por obrigação, enfim, depende totalmente do seu agregado familiar e dos seus gostos. Se tem uma vida laboral difícil, com longas deslocações, por exemplo,, que tal passar um dia em relaxe total? É claro que não é opção para quem tem filhos pequenos, mas há sempre saídas que se podem organizar e que permitam passar um dia agradável em família, calmo e sem pressões.

Isto poderá ser o primeiro passo de uma transição para a chamada “vida lenta”, de que falarei noutra altura, um conceito que começa a ganhar destaque até pelos benefícios que traz para a saúde mental e física e que se resume, basicamente, a trocar a lufa-lufa em que muitos de nós andam por um ritmo mais pausado, por uma vida menos ocupada, tendo como ponto de partida a pergunta, “tenho mesmo de fazer isto?”

Experimente um dia por mês, aposto que se sentirá “renovado” e mais disposto a rentomar a labuta semanal. Se gostar, vá aumentando a frequência até passar a ser um hábito semanal. Pense bem, o que é que tem a perder? E, muito francamente, não acha mais apetecível ter um dia de férias por semana em vez de passar 11 meses a suspirar pelo mesinho a que tem direito?

Para a semana: Incongruências. Mais algumas coisinhas que me intrigam...

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