142 - Indisciplina e violência na escola
Comecemos por separar as águas, ou seja, a indisciplina da violência. É que, apesar de na minha opinião a primeira ser muitas vezes um fator contributivo para a segunda, são questões separadas, até porque um aluno pode ser indisciplinado e perturbar as aulas por diversas razões. Por exemplo, entediar-se nas aulas porque o nível de ensino não o desafia. Ou ter certos comportamentos para dar nas vistas e ser uma “estrela” para alguns colegas, isto por pensar que de outro modo ninguém dará por ele.
Ou seja, um primeiro passo será tentar investigar o que se passa e tomar medidas adequadas à situação do aluno específico. O que se segue tem a ver com indisciplina genérica, digamos, que tem mais a ver com o ambiente em que o aluno vive e com a sociedade em geral do que com quem ele realmente é.
Logo após o 25 de Abril surgiu, como reação, compreensível, aliás, ao que se passava antes, a ideia de que dizer não a uma criancinha ou impor-lhe qualquer tipo de regras ou limites era fascismo. E isso estendeu-se, claro está, ao nosso ensino. De uma disciplina férrea e, muito francamente, exagerada, passou-se ao “vale tudo”, o importante era não traumatizar as sensibilidades frágeis dos alunos de todas as idades.
Junte-se a isso o aumento enorme de estudantes em todos os níveis escolares e o laxismo porque todo o ensino passou durante uns anos e até admira os problemas atuais não serem ainda mais graves. Não nos esqueçamos de que essas tais criancinhas que nunca ouviram um não e que cresceram sem imposições ou deveres, mas cheias de direitos, são os pais dos atuais alunos que enchem as nossas escolas.
Sim, fala-se agora muito da indisciplina que reina nas escolas e da falta de respeito pelos docentes – sobretudo quando é altura de negociar os contratos e salários... Mas o problema não surgiu de modo instantâneo, foi aumentando ao de leve, inicialmente, até atingir uma massa crítica, digamos. E o grande mal foi não se terem tomado medidas logo de início, é que, como em muitos outros casos, agora é bem mais complicado inverter toda esta situação.
Um dos grandes argumentos apresentados para “desculpar” o enorme nível de indisciplina é que os alunos em questão vêm de bairros problemáticos. Pois bem, essa é precisamente uma boa razão para lhes impor regras e limites, é que fora da escola ninguém o faz, muito pelo contrário.
E como muitos estudos provam que esses jovens espelham apenas o que se passa nos seus lares e bairros, é altura de envolver os pais. Mas envolvê-los a sério, não se trata apenas de uma reunião apressada na escola em que, diga-se de passagem, muitos aproveitam para insultar e, até, agredir, professores e outro pessoal – já agora, sugiro penas a sério e imediatas para os que o fazem.
Não, a minha ideia é outra. Se um aluno perturba sistematicamente o ensino, impedindo os colegas de o aproveitarem, toda a família tem de frequentar aulas sobre comportamentos adequados. E como muitas vivem do erroneamente denominado rendimento mínimo, pelo menos é o que nos dizem, bom, se não aparecerem e não mostrarem uma mudança no modo como se comportam, toquem-lhes no que mais lhes interessa, o dinheiro. Quanto aos que trabalham, bom, multas a sério pela não comparência. Pequeno detalhe, estas “aulas” seriam dadas ao fim de semana para não prejudicarem o emprego.
E se a indisciplina passa a violência, seja física ou verbal, bom, aí, para além de uma “reeducação” – um termo muito querido da nossa esquerda e muito usado nos países que eles mais adoram – há penas monetárias pesadas aplicadas de imediato e, caso os comportamentos persistam, retirada de todas as ajudas e subsídios.
É claro que tudo isto implica a criação de um regulamento para as escolas, com regras bem definidas e as respetivas sanções pelo seu não cumprimento, regras essas que alunos e pais terão de ler e assinar no início de um ano letivo. Já agora, não falo de um calhamaço mas de apenas algumas regras simples e bem expostas.
Sim, há estudos que mostram que atos reativos quanto a indisciplina e violência nas escolas têm um efeito oposto e que o que funciona é uma atitude preventiva que passa por envolver pais e alunos. Acho ótimo... a médio e longo prazo. Mas as coisas estão tão graves em certos locais que é preciso agir já e isso passa por penalizações.
Já agora, não é estranho que o Ministério da Educação, e não só, tenha logo anunciado reforço de policiamento e de segurança quando se falou no “linchamento” de um nepalês, presume-se que por colegas brancos, mas nada diga perante os muitos vídeos de ataques, esses sim, bem reais, que têm aparecido ultimamente na TV? Recordo, particularmente, um grupo de raparigas a agredirem brutalmente uma colega ou um rapaz bem novo aos socos, pontapés e puxões de cabelos a uma rapariga?
E, outra coisa que sempre me intrigou, onde estão as auxiliares de educação no meio disto tudo? Não faz parte das suas funções garantirem a segurança dos alunos da respetiva escola?
É que a situação está a agravar-se a olhos vistos. Segundo a PSP, através do seu programa Escola Segura, houve 2617 ocorrências nos primeiros seis meses de 2023 – e lembro que são apenas as que envolvem a polícia – das quais 855 por ofensas corporais e 571 por injúrias e ameaças, números estes que têm estado a aumentar todos os anos.
Pior ainda, os casos que se passam fora do estabelecimento escolar não estão incluídos nestes números, como os esfaqueamentos agora tão na moda, alguns até com consequências fatais. Mas tudo bem, são obra de jovens, nada lhes acontece porque são menores ou, quanto muito, são enviados para um centro educativo de onde saem aos 18 anos, no máximo, nada tendo aprendido e destinados a um futuro de prisão a sério uma vez que nada veem de errado no que fizeram.
A grande questão aqui é que estamos a deixar ficar mal os nossos jovens, todos eles, os agredidos e os agressores. É que o papel da escola não devia ser só transmitir conhecimentos, devia também ser ensinar comportamentos e modos de estar na sociedade sem prejudicar os outros.
Ou será que isso só se aplica quando se trata de temas do agrado do pessoal woke?
Para a semana: Falemos de férias. Um post mais levezinho para espairecer um pouco