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Luísa Opina

Neste blogue comentarei temas genéricos da nossa sociedade. Haverá um novo texto todas as sextas-feiras

Neste blogue comentarei temas genéricos da nossa sociedade. Haverá um novo texto todas as sextas-feiras

Luísa Opina

28
Jun24

142 - Indisciplina e violência na escola

Luísa

Comecemos por separar as águas, ou seja, a indisciplina da violência. É que, apesar de na minha opinião a primeira ser muitas vezes um fator contributivo para a segunda, são questões separadas, até porque um aluno pode ser indisciplinado e perturbar as aulas por diversas razões. Por exemplo, entediar-se nas aulas porque o nível de ensino não o desafia. Ou ter certos comportamentos para dar nas vistas e ser uma “estrela” para alguns colegas, isto por pensar que de outro modo ninguém dará por ele.

Ou seja, um primeiro passo será tentar investigar o que se passa e tomar medidas adequadas à situação do aluno específico. O que se segue tem a ver com indisciplina genérica, digamos, que tem mais a ver com o ambiente em que o aluno vive e com a sociedade em geral do que com quem ele realmente é.

Logo após o 25 de Abril surgiu, como reação, compreensível, aliás, ao que se passava antes, a ideia de que dizer não a uma criancinha ou impor-lhe qualquer tipo de regras ou limites era fascismo. E isso estendeu-se, claro está, ao nosso ensino. De uma disciplina férrea e, muito francamente, exagerada, passou-se ao “vale tudo”, o importante era não traumatizar as sensibilidades frágeis dos alunos de todas as idades.

Junte-se a isso o aumento enorme de estudantes em todos os níveis escolares e o laxismo porque todo o ensino passou durante uns anos e até admira os problemas atuais não serem ainda mais graves. Não nos esqueçamos de que essas tais criancinhas que nunca ouviram um não e que cresceram sem imposições ou deveres, mas cheias de direitos, são os pais dos atuais alunos que enchem as nossas escolas.

Sim, fala-se agora muito da indisciplina que reina nas escolas e da falta de respeito pelos docentes – sobretudo quando é altura de negociar os contratos e salários... Mas o problema não surgiu de modo instantâneo, foi aumentando ao de leve, inicialmente, até atingir uma massa crítica, digamos. E o grande mal foi não se terem tomado medidas logo de início, é que, como em muitos outros casos, agora é bem mais complicado inverter toda esta situação.

Um dos grandes argumentos apresentados para “desculpar” o enorme nível de indisciplina é que os alunos em questão vêm de bairros problemáticos. Pois bem, essa é precisamente uma boa razão para lhes impor regras e limites, é que fora da escola ninguém o faz, muito pelo contrário.

E como muitos estudos provam que esses jovens espelham apenas o que se passa nos seus lares e bairros, é altura de envolver os pais. Mas envolvê-los a sério, não se trata apenas de uma reunião apressada na escola em que, diga-se de passagem, muitos aproveitam para insultar e, até, agredir, professores e outro pessoal – já agora, sugiro penas a sério e imediatas para os que o fazem.

Não, a minha ideia é outra. Se um aluno perturba sistematicamente o ensino, impedindo os colegas de o aproveitarem, toda a família tem de frequentar aulas sobre comportamentos adequados. E como muitas vivem do erroneamente denominado rendimento mínimo, pelo menos é o que nos dizem, bom, se não aparecerem e não mostrarem uma mudança no modo como se comportam, toquem-lhes no que mais lhes interessa, o dinheiro. Quanto aos que trabalham, bom, multas a sério pela não comparência. Pequeno detalhe, estas “aulas” seriam dadas ao fim de semana para não prejudicarem o emprego.

E se a indisciplina passa a violência, seja física ou verbal, bom, aí, para além de uma “reeducação” – um termo muito querido da nossa esquerda e muito usado nos países que eles mais adoram – há penas monetárias pesadas aplicadas de imediato e, caso os comportamentos persistam, retirada de todas as ajudas e subsídios.

É claro que tudo isto implica a criação de um regulamento para as escolas, com regras bem definidas e as respetivas sanções pelo seu não cumprimento, regras essas que alunos e pais terão de ler e assinar no início de um ano letivo. Já agora, não falo de um calhamaço mas de apenas algumas regras simples e bem expostas.

Sim, há estudos que mostram que atos reativos quanto a indisciplina e violência nas escolas têm um efeito oposto e que o que funciona é uma atitude preventiva que passa por envolver pais e alunos. Acho ótimo... a médio e longo prazo. Mas as coisas estão tão graves em certos locais que é preciso agir já e isso passa por penalizações.

Já agora, não é estranho que o Ministério da Educação, e não só, tenha logo anunciado reforço de policiamento e de segurança quando se falou no “linchamento” de um nepalês, presume-se que por colegas brancos, mas nada diga perante os muitos vídeos de ataques, esses sim, bem reais, que têm aparecido ultimamente na TV? Recordo, particularmente, um grupo de raparigas a agredirem brutalmente uma colega ou um rapaz bem novo aos socos, pontapés e puxões de cabelos a uma rapariga?

E, outra coisa que sempre me intrigou, onde estão as auxiliares de educação no meio disto tudo? Não faz parte das suas funções garantirem a segurança dos alunos da respetiva escola?

É que a situação está a agravar-se a olhos vistos. Segundo a PSP, através do seu programa Escola Segura, houve 2617 ocorrências nos primeiros seis meses de 2023 – e lembro que são apenas as que envolvem a polícia – das quais 855 por ofensas corporais e 571 por injúrias e ameaças, números estes que têm estado a aumentar todos os anos.

Pior ainda, os casos que se passam fora do estabelecimento escolar não estão incluídos nestes números, como os esfaqueamentos agora tão na moda, alguns até com consequências fatais. Mas tudo bem, são obra de jovens, nada lhes acontece porque são menores ou, quanto muito, são enviados para um centro educativo de onde saem aos 18 anos, no máximo, nada tendo aprendido e destinados a um futuro de prisão a sério uma vez que nada veem de errado no que fizeram.

A grande questão aqui é que estamos a deixar ficar mal os nossos jovens, todos eles, os agredidos e os agressores. É que o papel da escola não devia ser só transmitir conhecimentos, devia também ser ensinar comportamentos e modos de estar na sociedade sem prejudicar os outros.

Ou será que isso só se aplica quando se trata de temas do agrado do pessoal woke?

Para a semana: Falemos de férias. Um post mais levezinho para espairecer um pouco

21
Jun24

141 - O passado é o passado

Luísa

Graças ao movimento woke, está cada vez mais na moda “rever”, à luz de critérios modernos de esquerda, claro, a história do nosso país e não só, toda a história do mundo ocidental, leia-se, dos brancos. O grande argumento é que a história tal como tem sido contada é eurocêntrica e feita pelos vencedores e que é mais do que altura de repor a verdade dos factos.

Eu até poderia concordar, ao fim e ao cabo temos cada vez mais acesso a documentos e outros elementos que nos permitem colmatar muitas falhas naquilo que sabemos. Só que a intenção de todos esses “defensores da verdade” não é essa, muito pelo contrário. Ou seja, os factos só lhes interessam se vierem em apoio da sua tese básica que é, muito simplesmente, “o branco e o cristianismo são maus, belicistas e exploradores, todas as outras raças e religiões são boas, amantes da paz e muito progressivas”.

Veja-se a escravatura. A fazer fé nesses “historiadores”, só os brancos foram esclavagistas. Conta-se – ou antes, romanceia-se – a história dos pobres escravos levados à força pelos colonialistas brancos. Mas... onde está a história dos muitos milhões de escravos levados pelos árabes para o Norte de África? Pois é, não conta, os árabes não são brancos. Já agora, um “pequeno detalhe”, ainda há escravatura em muitos países de África, mas, mais uma vez, só interessa o que se terá passado há 400 anos e envolvendo brancos.

Mais ainda, nunca é mencionado que as sociedades africanas da época eram esclavagistas, para além de terem escravos vendiam-nos copiosamente aos árabes e, posteriormente, aos europeus. E, claro, omite-se totalmente um outro detalhe, o simples facto de que, em toda a história da humanidade, os europeus, leia-se, os brancos, foram os únicos a considerar a escravatura errada e a pôr-lhe fim.

Bom, é claro que também não se fala nos muitos europeus levados como escravos para o Norte de África, esses, sim, pessoas livres raptadas em razias cometidas pelos chamados Piratas da Berbéria até bem tarde, pasme-se, até ao século 19! Mas como são brancos, não contam...

Aliado a tudo isto surgem cada vez mais “heróis” africanos, que o são apenas por terem lutado contra os brancos. É claro que os “iluminados” que os elogiam não se dão ao trabalho de analisar as razões dessa luta – por exemplo, Gungunhama lutou contra os portugueses apenas porque queria manter o seu muito lucrativo comércio de escravos com os árabes.

É, também, chique encontrar todo o tipo de falhas e defeitos em figuras de renome europeias. Já as de outras raças eram todas umas santas almas que só faziam o que faziam por terem em mente o bem-estar dos seus povos...

Mais ainda, fica-me a sensação de que se procura denegrir, precisamente, as figuras que mais significam para os portugueses, isto para referir apenas o nosso caso. Ainda muito recentemente tivemos dois casos paradigmáticos referentes a Camões e a D. Afonso Henriques.

Uma iluminada berrou alto e bom som a sua indignação face à celebração dos 500 anos de Camões porque ele terá sido, na sua douta opinião, um explorador, um racista e um colonialista. E tivemos a senhora Ana Gomes a dizer que não podemos ser contra os muçulmanos em Portugal porque eles já cá estavam antes de D. Afonso Henriques! Pois, devem ter surgido aqui de geração espontânea...

Tenho, até, ouvido e lido que não houve Reconquista do que é hoje Portugal, tratou-se, isso sim, de uma violenta Conquista de territórios a que não tínhamos qualquer direito. Não admira haver movimentos muçulmanos que afirmam, alto e bom som, que a Ibéria é deles e que tudo farão para a reconquistar.

O cristianismo também recebe o mesmo tipo de tratamento. Passamos a vida a ouvir falar na sua expansão pela força e nos crimes que cometeu para o fazer, mas se for o Islão, a história é outra, segundo parece espalhou-se totalmente de um modo pacífico.

Curiosamente, as igrejas cristãs viradas para povos nativos, fosse na terra deles ou entre escravos, sempre assimilaram rituais e deuses locais. Mais ainda, a maioria esmagadora dessas populações mantinha as suas religiões onde sempre as praticara, ou seja, nos seus lares, perante a indiferença das autoridades.

Mas o islão não permite o mínimo desvio, uma cerimónia numa mesquita no interior rural de África é exatamente igual à mesma numa de uma grande capital do Norte de África. E há um outro aspeto, os tais esclavagistas árabes de que não se fala levavam, preferencialmente, mulheres e rapazes até aos 8/9 anos – e alguns homens adultos para as minas e outros trabalhos duros onde a esperança de vida era curtíssima. Esses rapazes eram transformados em fanáticos religiosos e reenviados para as suas terras de origem como um grupo armado que destruía todos os sinais de cultos locais e impunha, sobretudo às mulheres, uma versão rígida da sua religião. Mas tudo bem, era apenas uma luta gloriosa contra a ignorância e a crendice.

Como último ponto, vou relatar algo que se passou durante a minha visita à barragem de Assuão. Alguém comentou o facto de os negros que ali residiam há séculos terem sido confinados em aldeias onde viviam parcamente do turismo, ou seja, de serem exibidos aos muitos grupos que visitam aquele local e de umas pequenas vendas de artesanato aos ditos, tendo perdido as suas terras de cultivo e de pastoreio. Comentário do guia egípcio muçulmano? Pois, é o que acontece quando uma civilização superior encontra uma inferior.

Imaginem se fosse um branco a dizer isso!

Para a semana: Indisciplina e violência nas escolas. É altura de fazer alguma coisa.

14
Jun24

140 - Falemos da União Europeia

Luísa

Passadas que foram as eleições europeias, achei que era a altura ideal para falar um pouco sobre a União Europeia e o que tem de bom e de mau. Mas primeiro, recordemos que tudo começou modestamente com a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA), criada em 1951, e que incluía a Alemanha, Bélgica, França, Itália, Luxemburgo e Países Baixos (Europa dos Seis).

Várias peripécias e múltiplos tratados depois, temos a atual União dos 27 - Bélgica, Bulgária, Chéquia, Dinamarca, Alemanha, Estónia, Irlanda, Grécia, Espanha, França, Croácia, Itália, Chipre, Letónia, Lituânia, Luxemburgo, Hungria, Malta, Países Baixos, Áustria, Polónia, Portugal, Roménia, Eslovénia, Eslováquia, Finlândia e Suécia – e os seus diversos órgãos: Conselho Europeu (constituído pelos chefes de estado dos países membros), Comissão Europeia, Tribunal de Justiça da União Europeia, Banco Central Europeu e Tribunal de Contas Europeu.

Ora na minha opinião, muitos dos problemas que envolvem a UE, nomeadamente o falhanço em criar uma Constituição Europeia que seja aprovada por todos os seus membros, vem, precisamente, desta sua história. É que foi evoluindo um pouco ao sabor da maré, sobretudo nas suas primeiras décadas, sem um plano específico. Falou-se – e continua a falar-se – em criar um Estado Federal, à semelhança da Suíça e dos EUA, mas essa ideia enfrenta uma feroz oposição por parte de muitos dos estados membros. E atendendo ao modo como regras e leis ditas europeias são atualmente implementadas, espantoso seria se a ideia agradasse a todos.

Outro grande problema da imagem da UE é que os seus dirigentes e funcionários são vistos por uma boa parte das populações como um mero bando de burocratas que criam todo o tipo de regras absurdas basicamente para “mostrar quem manda”. E se acham que não é verdade, aqui ficam dois exemplos que contribuíram bastante para o descontentamento dos britânicos.

O primeiro tem a ver com a definição do que é um pepino... a sério. Todos conhecemos os encurvados à venda em Portugal, mas há também os totalmente retos, que já começam a aparecer por cá e que são os favoritos na Grã-Bretanha. Pois bem, um “génio” de Bruxelas, aparentemente com muito tempo livre, decidiu que só os curvos é que poderiam chamar-se pepinos. É claro que os ingleses adoraram!

O outro exemplo tem a ver com a imposição do sistema métrico. Acontece que os ingleses adoram o seu sistema de medidas, apesar de ser dificílimo fazer contas com ele – quem vê programas de restauro de casas americanos sabe bem a que me refiro. Claro está que quando talhos e supermercados começaram a mostrar pesos só em quilos, foi a indignação geral. Os ingleses ainda tentaram uma medida conciliadora, expor os pesos nos dois sistemas, mas sem resultado.

Temos, depois, as decisões que saem do Tribunal de Justiça da União Europeia e de que não há recurso. E aqui temos o problema acrescido do pendor político de muitas das leis transeuropeias que esse tribunal defende, como a Lei do Asilo, altamente lesiva para os interesses de vários países da UE e que, lembremos, se foi votada por eles isso aconteceu muito antes da verdadeira tragédia que se vive atualmente em muitos desses países com a vinda descontrolada de pessoas supostamente em busca do tal asilo e que prontamente desaparecem no meio dos seus conterrâneos locais.

Pior ainda, a própria Comissão Europeia e os chefes de estado de muitos dos países membros fazem política à sua maneira, não aceitando resultados eleitorais que lhes desagradem e fazendo “cara feia” a líderes que não pertencem à “cor política” certa – lembremo-nos do modo como isolaram Haider, da Áustria, apesar de uns dias depois de lhe terem feito má cara numa “foto de família” estarem aos beijinhos e abraços com esse grande democrata, o Mugabe.

E não esqueçamos os chorudos salários que toda essa gente recebe, com o pretexto de que Bruxelas é uma cidade cara – e estou só a falar dos deputados do Parlamento Europeu, há ainda os seus muitos assessores, sem esquecer os funcionários permanentes de todas as instituições da UE, ou seja, muitos milhões por ano só para sustentar toda essa pesada máquina, o que leva muitos a perguntarem, sobretudo nos países que mais contribuem, se esse dinheiro está mesmo a ser bem empregue.

Sem contar que muitos cargos de responsabilidade são atribuídos após renhidas conversações entre os vários estados, ficando-nos a dúvida se o escolhido é, de facto, a pessoa mais competente para o cargo.

Podia-se dizer, mas são eles que lutam pela democracia e bem-estar das populações dos seus estados membros. Mas será mesmo assim? Veja-se o pânico que os resultados das últimas eleições trouxeram, com a grande subida da direita e da extrema-direita. Há, até, quem não se iniba de dizer que a democracia está em perigo. Veja-se, também, o que tem acontecido com a Hungria após a eleição do Orbán. Têm feito tudo para a isolar e hostilizar de modo a forçá-la a voltar “ao bom caminho” – pois, suspeito que vai acontecer precisamente o contrário, como se vê em Portugal com a guerra da esquerda, e não só, ao Chega.

Com tudo isto, admiram-se da tremenda abstenção nas eleições europeias? É que, muito francamente, os eleitores acham que irem ou não votar não irá influenciar em nada as decisões tomadas em Bruxelas, quer as económicas quer as outras, passará tudo por negociatas para que não são chamados a opinar.

Mais ainda, a abstenção que tivemos tem também outras leituras. Como se sabe há muito, pessoas de extrema esquerda votam sempre, ou seja, os resultados do PCP e do BE são verdadeiramente patéticos. Já as pessoas de direita são mais comodistas, só trocam o sofá pela mesa de voto se acharem que os seus interesses estão em jogo – daí ter aparecido a “votação em mobilidade”, que, mesmo assim, não foi suficiente. E numas eleições europeias, não estão mesmo nada – pelo menos na sua opinião.

Para a semana: O passado é o passado. Chega de tentar ler a história à luz de ideias atuais

07
Jun24

139 - Os apoios da cultura

Luísa

Ouvimos continuamente dizer que “faltam apoios à cultura” ou que “a cultura devia ser mais protegida”. O problema, para mim, é que quando ouço isto faço imediatamente a pergunta: que cultura? E se acham que é algo descabido, façam uma pequena experiência, tentem definir esse termo. Pois é...

É claro que fica implícito que cultura é apenas o que a nossa “elite cultural” decide que o é. Veja-se o que se passou com duas esculturas que a Câmara de Lisboa pôs no Largo do Município e que tiveram direito a um abaixo assinado de inúmeras “luminárias” a exigir que fossem retiradas porque lhes faltava qualidade e constituíam poluição visual! E o monumento no topo do Parque Eduardo VII é ótimo?

O problema é que esta atitude de Donos da Cultura (DDC) – não confundir com Donos da Verdade (DDV), embora muitas vezes sejam os mesmos – se estende a todas as outras áreas da dita cultura e tem subjacente a ideia de que se os portugueses não frequentam certos espetáculos ou espaços é porque são incultos e ignorantes e as suas ideias devem ser ignoradas. Mas não os seus impostos, bem entendido.

Veja-se o teatro. Já repararam no disparate que é o horário dos espetáculos para o estilo de vida atual? Sim, antigamente funcionava muito bem. É que dava perfeitamente para as pessoas saírem do emprego, irem a casa jantar e mudar de roupa – pois é, ia-se ao teatro “bem vestido” – e voltar a sair para o teatro. Mas agora, entre o trânsito e a distância cada vez maior a que muitos vivem do emprego, a única solução é deambularem a esmo até às 21, quando o espetáculo começa. E deitarem-se tardíssimo, o que não se coaduna com terem de se levantar cedo para chegarem a horas ao trabalho.

Curiosamente, em Londres e Nova Iorque muitos espetáculos começam às 19h30, terminando, pois, a uma hora decente para os seus frequentadores irem para casa e terem umas boas horas de sono. Mas, ei, são só duas grandes capitais, nada que valha a pena seguir!

E, é claro, os senhores do teatro fazem apenas peças a seu gosto e se os “pategos” dos portugueses não gostarem, azar. E não lhes ocorre irem encenando peças mais populares, digamos, para atrair as pessoas que os sustentam, pelo menos parcialmente, com os seus impostos, mais ainda, para lhes irem despertando o gosto pelo teatro.

Outra questão que me intriga na área teatral é as companhias estarem “de pedra e cal” na cidade onde se instalaram. Nos EUA há o chamado “summer stock”, basicamente teatro de verão, que também existia no Reino Unido – francamente, não sei se se mantém tal como era, mas sei que há uma versão de teatro ao ar livre em Londres e noutras cidades durante o verão.

Basicamente, uma companhia de teatro escolhia peças que pudessem ser feitas com poucos atores e pouquíssimos cenários, metiam tudo numa ou mais carrinhas e passavam o verão a percorrer o país, parando em pequenas vilas onde atuavam em celeiros, ginásios, ao ar livre, enfim, onde houvesse espaço.

Muitos atores consagrados passaram por isto e consideraram-no uma boa aprendizagem, até porque não se limitavam a atuar, tinham de ajudar com cenários, guarda-roupa, iluminação, tudo. E para muitos nessas terras pequenas era a sua primeira introdução às artes teatrais. Já agora, as peças também eram escolhidas de modo a terem boas hipóteses de agradarem a pessoas com pouco ou nenhum contacto com esta arte. E, apesar de os bilhetes serem baratos, conseguiam, em geral, mais do que o suficiente para pagarem as despesas e ainda terem um pequeno lucro.

Não acham que algo semelhante faria bem mais pela divulgação e futuro do teatro em Portugal do que a mão eternamente estendida à espera de “ajudas”? Sem contar que levaria às tais populações do interior, tão lastimadas, quando convém, pelo seu abandono e isolamento, uma amostra do que os seus impostos sustentam.

Quanto aos museus estatais, proponho duas coisas. Primeiro, definir o seu orçamento para três ou quatro anos, e não ano a ano como atualmente. Poderiam, assim, planear a tempo e horas exposições temporárias e outras ações que os tornariam mais interessantes para visitas repetidas em vez de em cima do joelho como muitos são forçados a fazê-lo agora.

Segundo, exigir uma gestão como deve ser do que possa gerar dinheiro nesse museu. Durante uns tempos ia com frequência ao Museu de Arte Antiga de Lisboa por causa das suas exposições temporárias e terminava sempre na loja para ver se havia algo que me interessasse. Pois bem, os postais com imagens dos Painéis de Santo Antão estavam quase sempre esgotados, apesar de serem o artigo mais pedido pelos seus inúmeros visitantes!

Acho, também, que é mais do que tempo de expor os muitos interesses ocultos dos tais DDC. Falo por mim, claro, mas estou farta de os ver dizer que “isto é cultura e deve ser apoiado” ou a denegrir o que não é feito por eles e pelos seus apaniguados. E se estão tão preocupados com a “ignorância” e “mau gosto” das pessoas da província, como se costumava dizer, que tal saírem das grandes cidades, pelo menos de vez em quando, para espalharem as benesses da sua superioridade?

O mais giro é que toda esta questão dos apoios não se fica apenas por coisas mais óbvias como museus, teatros e uma certa música e dança – os audiovisuais são outro assunto de que falarei um dia destes. Não! Já ouvi até dizer que devia haver apoios para escritores. Hum... como é que se define quem é escritor? Ter uns manuscritos inacabados na gaveta? Ter obra publicada? Bom, em qualquer dos casos, também eu tenho direito a uma ajudinha... venha ela!

Para a semana: Falemos da Europa. A propósito das recentes eleições para o Parlamento Europeu

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