Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Luísa Opina

Neste blogue comentarei temas genéricos da nossa sociedade. Haverá um novo texto todas as sextas-feiras

Neste blogue comentarei temas genéricos da nossa sociedade. Haverá um novo texto todas as sextas-feiras

Luísa Opina

31
Mai24

138 - Não é censura

Luísa

A origem deste post está no burburinho que se gerou na Assembleia da República face às palavras de Ventura de que “os turcos não são conhecido como um povo muito trabalhador”. Muito francamente, não entendi tanta indignação, ele nem disse que não são trabalhadores, apenas que não são conhecidos como tal – o que até é verdade, se fizerem um inquérito de rua sobre povos conhecidos como sendo muito trabalhadores, alguém acha que os turcos entram na lista?

Mas tudo bem, os “vidrinhos” ficaram ofendidos por interposta pessoa e exigiram logo que o punissem por ter dito o que disse. Mas atenção, não é censura, nem pensar! É apenas o justo repúdio por afirmações xenófobas. Que saudades devem ter do Sr. SS – já agora, li ontem este artigo do Público, já de 2007, que mostra bem o que era esse senhor...

Curiosamente, as deputadas que mais protestaram nunca se inibem de dizer, por tudo e por nada, que “os portugueses são racistas” ou que “os portugueses são xenófobos”. Hum...

A censura encoberta é algo que me preocupa há bastante tempo, falei, até, nisso, em Novo dicionário precisa-se, Parte 1. Só que a situação tem piorado imenso e já ninguém está a salvo, vejam-se os ataques ferozes a Margaret Atwood, sim a autora de A história de uma serva, J.K. Rowling e outras autoras por terem dito coisas que “ofenderam” o pessoal do alfabeto.

Aquando dos 50 anos do 25 de abril fartámo-nos de ouvir falar da censura do Estado Novo, sempre seguido, claro, da afirmação de que agora vivemos em liberdade, pode-se falar à vontade. A sério?

Pelo menos nessa altura as regras eram claras e havia inúmeras maneiras de as contornar. Mas, agora, a questão não está em uma frase ser realmente ofensiva mas sim na maneira como alguém a pode interpretar – ou seja, a ofensa está na mente de quem ouve. E muito francamente, da maneira como as coisas estão, tudo, mas mesmo tudo pode ofender, pelos vistos até dizer boa noite... Mas, mais uma vez, atenção, isto só é verdade se for dito pelas pessoas “erradas”, claro.

Achei curioso ler que várias associações, entre elas a APEL, assinaram recentemente uma declaração sobre Liberdade de Expressão, de Publicação e de Leitura. Pois, que tal liderarem pelo exemplo e porem fim às tais comissões de revisão do conteúdo de livros?

É claro que há muita gente de esquerda, muitos DDV (Donos da Verdade) a bramarem contra as novas censuras. Só que... os exemplos que dão são sempre contra a chamada direita. Por exemplo, houve grande indignação por uma professora de uma escola nos EUA ter sido demitida por ter mostrado aos alunos uma imagem da estátua de David de Miguel Ângelo, que alguns pais cristãos consideraram ofensiva pela sua nudez – bom, se fossem muçulmanos, tudo bem, temos de respeitar os costumes.

Mas ninguém se indigna pelas centenas de professores de todos os níveis despedidos pelos motivos mais ridículos. Por exemplo, num liceu inglês um professor de matemática foi despedido e proibido de ensinar em todo o país porque, numa turma só de raparigas, na conclusão de um exercício difícil disse, “Muito bem, meninas.” Grande azar, uma delas sentia-se rapaz e ficou ofendida...

Se pedirem no Google livros banidos recentemente, surgem imensos títulos retirados de bibliotecas escolares dos EUA por ação de pais que acham que os seus conteúdos ferem as suas convicções religiosas em matéria de sexo ou porque, com o pretexto de serem antirracistas, atacam e insultam os brancos.

Mas ninguém fala dos muitos livros retirados de bibliotecas de todos os níveis, até as públicas e universitárias, por imposição dos bem pensantes. Soube, também, esta semana, que bibliotecas de Devon, Inglaterra, só disponibilizam versões “não ofensivas” de muitos livros – como os da Enid Blyton – e que, para se ter acesso à versão original, é preciso fazer um pedido específico e receber uma advertência de que o conteúdo pode ofender!

Mas ei, não é censura, são os DVD a zelarem pelos interesses do povinho que, segundo eles, não sabe o que é bom para si e tem, pois, de ser orientado para “o bem” por todas as formas possíveis.

Temos, também a questão de não se poder mencionar raças ou nacionalidades quando há crimes ou perturbações da ordem pública – exceto se os seus autores forem brancos e portugueses, claro. Acho que já todos percebemos o que significam frases como “um grupo de homens envolveu-se numa cena de pancadaria” ou “duas mulheres entraram em desacato e uma delas foi morta” ou o sempre popular “os assaltantes” sem mais detalhes. É que citar a sua etnia, o termo da moda, ou nacionalidade, pode incentivar ao ódio racial...

Mas há pior. Uma professora do 1.º ciclo da Escola Manuel Teixeira Gomes, em Chelas, Lisboa, está sob alçada disciplinar por ter referido a nacionalidade de uma aluna, oriunda da Ásia interior, num documento interno em que falava das dificuldades que a dita tinha para acompanhar as aulas – é que isso viola as diretivas do Ministério de promoção da paz social.

E a tão badalada notícia do célebre e inexistente “linchamento” de uma criança nepalesa que foi, segundo diz a autora da denúncia, acompanhado de insultos racistas e xenófobos, não viola essa tal paz? Já agora, porque é que a dita Ana Mansoa não foi já formalmente acusada de afirmações racistas e de incentivo à violência racial?

Já agora, aconselho a leitura deste artigo do Jornal i, deste outro da Gazeta do Interior e, finalmente, deste da Visão, que tem uma análise muito curiosa sobre fluxo de informação – bom, é claro que nas “fake news” tenta insinuar que são todas obra da direita... Notem que nenhuma das publicações que aqui cito são conhecidas como sendo de direita, muito pelo contrário em certos casos.

É também um tema que tem sido tratado frequentemente no Observador, mas desta vez decidi seguir outros rumos.

Para a semana: Os apoios da cultura Talvez seja altura de os rever...

24
Mai24

137 - Violência doméstica

Luísa

Com o recentíssimo caso a envolver os chamados colunáveis, é inevitável que este tema volte à ribalta. É claro que houve outros casos igualmente maus ou piores nos últimos dias, com pelo menos uma mulher hospitalizada em estado grave, mas, como se tratava de pessoas “normais”, não mereceram o mesmo destaque e rios de tinta.

Falarei de violência sobre idosos no meu outro bloque, Ir para novo, daqui a duas semanas, que considero um caso particular e ainda mais grave deste fenómeno, e neste post restringir-me-ei à violência doméstica genérica.

Uma das coisas que sempre me incomodou nestes casos é o inevitável aparecimento de vizinhos, familiares e outros depois de as coisas terem um desfecho mau ou péssimo para a vítima. E a conversa é sempre a mesma, sabiam de tudo, assistiram a inúmeras cenas, enfim, atiram, após o facto consumado, o máximo de achas para a fogueira.

Ora atendendo a que a violência doméstica é um crime público desde 2000, a minha pergunta é muito simples: porque não denunciaram a situação? Porque não intervieram e fizeram algo para ajudar a atual vítima antes que fosse tarde demais?

Sim, eu sei que ainda impera a ideia de que o que se passa entre um casal, sejam namorados, amantes ou casados, só a eles diz respeito, mas, muito francamente, acho isso uma mera desculpa para nada fazer. Reconheço, também, que muitas vezes é a própria vítima a virar-se contra quem a tentou socorrer, mas algo tem de mudar se não quisermos continuar a ler sobre estes casos semana após semana, mês após mês.

Curiosamente, existe uma lei sobre omissão de ajuda, com penas que podem, inclusive, ir até aos seis meses de prisão – mais, se a pessoa em causa tiver causado a situação, um atropelamento e fuga, por exemplo. O seu texto no Diário da República não inclui a violência doméstica, sugiro, pois, a sua alteração para a especificar. Mais ainda, que haja uma grande campanha mediática a explicitar, precisamente, a natureza pública deste crime de violência doméstica, o que isso significa e a cumplicidade implícita de quem assiste e não denuncia.

Outra coisa que me faz confusão é o alastramento deste crime a camadas cada vez mais novas. Sim, eu sei que “antigamente” os namorados pouco tempo passavam a sós e que, além disso, o que hoje vemos como violência, sobretudo a não física, era considerado normalíssimo. Mas com tantos discursos sobre paridade, tantas aulas de cidadania, não espanta ver raparigas bem novas a aceitarem esse comportamento por parte de quem diz amá-las?

E também aqui colegas e professores assistem e nada fazem. Pior ainda, muitas vezes o agressor é até considerado pelos seus amigalhaços como uma espécie de herói de trazer por casa precisamente pelos seus comportamentos condenáveis.

Em vez de se discutir sobre quotas nas direções de empresas e similares, que tal olharmos como deve ser para esta questão e fazer a pergunta que, pelos vistos, ninguém faz: onde é que errámos na educação destes jovens? E, também, o que podemos fazer, o mais depressa possível, para pôr cobro a esta situação ou, no mínimo, reduzir o número de casos? Já agora, acredito firmemente que essa educação tem de abranger ambos os sexos.

Um outro aspeto é que, como se sabe há muito, crianças que crescem em ambientes de violência doméstica, verbal ou física, têm uma maior tendência de vir a ser agressores ou vítimas, consoante o progenitor em que se reveem. É, pois, imperativo que se fale deste assunto com elas o mais cedo possível, com níveis de complexidade adequados à sua faixa etária. E que se eduquem professores, vigilantes, treinadores, etc. para sinais que possam indicar uma situação destas em casa, mais ainda, como muitos até lidam periodicamente com os pais, que estejam atentos ao modo como estes interagem com os respetivos filhos e cônjuges.

Há ainda a ideia, muito divulgada pelos chamados “especialistas” na TV e não só, de que muitas mulheres ficam nesta situação porque não têm meios para se afastarem. Um partido de esquerda, penso que terá sido o BE, até propôs um subsídio para refazer a vida como solução para esta chaga social...

Este argumento já foi decisivo, mas com cada vez mais mulheres a trabalhar, muitas, até, em bons empregos, é-o cada vez menos. E não explica casos que envolvem mulheres com bons rendimentos, ricas, até, que se veem apanhadas nesta teia.

Mas para os casos em que é verdade, a minha proposta é que, em vez de um subsídio, solução a que sou sempre avessa pelas tristes experiências que temos tido, que tal alterar o que for preciso a nível penal para que o agressor passe a ter de sustentar a sua vítima e respetivos filhos, pelos menos do modo como o fazia antes da separação?

Infelizmente, a justiça que temos também não ajuda – e não me refiro apenas ás penas patéticas aplicadas, com condicional ao fim de pouco tempo e nenhuma imposição de distanciamento entre vítima e agressor. O problema é bem pior, abrange quem tem por dever proteger-nos.

Não nos esqueçamos da juíza que mandou em paz um homem que arrastara, em público, a mulher pelos cabelos para a forçar a entrar no carro porque, nas suas palavras, “o nível de violência não era suficiente”! Ou o juiz que ilibou recentemente um homem acusado de maus tratos violentíssimos e até de tentativa de homicídio porque, nas suas palavras, a esposa era claramente uma mulher independente, moderna e com um bom salário e, sendo assim, não podia ser vítima de violência doméstica!

Pois é... e admiram-se de haver tantos casos!

Para a semana: Não é censura... Pelo menos é este o argumento da esquerda.

17
Mai24

136 - As reparações

Luísa

Nas últimas semanas, depois das afirmações “infelizes”, para não usar outro termo, do senhor de Belém, tem-se ouvido falar muito em pagar reparações às ex-colónias pelos “males do colonialismo”. Houve logo quem pusesse o dedo no ar, claro, uns dinheirinhos extra vinham mesmo a calhar aos seus líderes e apaniguados...

E eu até concordo que se pague! Só que... pois, comigo há sempre um “só que”, desde que se façam muito bem as contas de quem deve o quê a quem.

O primeiro ponto que quero referir tem, precisamente, a ver com a tal expressão “os males – ou crimes – do colonialismo”. E, na boca dos cada vez mais numerosos woke da nossa sociedade, são muitos e terríveis.

A começar pela escravatura, claro. Quem os ouça fica com a ideia de que só os brancos a praticaram, quando a realidade é que fomos, de facto, os únicos, em toda a história da humanidade, a acabar com ela. Mas este será tema para um outro post.

Temos, depois, a aculturação provocada pelo cristianismo. Curiosamente, o Islão, que se impôs pela força a uma boa parte de África, está totalmente inocente deste crime.

E há também os massacres, é que, evidentemente, só existiram com os brancos – pois, o que se passou recentemente em Cabo Delgado, Moçambique, deve ter sido ficção, ou os muitos outros de que ouvimos falar há décadas um pouco por todo o continente.

É claro que surgiram também muitas vozes a falar em reparações aos portugueses por parte dos árabes, franceses, etc., pelas ocupações, saques, massacres e razias que nos fizeram. Sobretudo os árabes. Só que quando se fala na sua muito longa ocupação da Península Ibérica surge logo o argumento do muito de bom que nos deixaram. Curiosamente, os mesmos que o dizem acham que os brancos só fizeram mal em África e no Brasil!

Pois bem, vamos lá analisar um pouco isso, começando pela alimentação. É que muitos dos alimentos que associamos a África não são nativos de lá, foram, isso sim, levados pelos portugueses do Oriente e da América. Falo de coisas tão simples como a mandioca, a batata-doce, o inhame, pimentos, o cafeeiro-arábica, o cajueiro e muitas outras. E reparem, muitas destas plantas são agora alimentos base das populações, devem-nos, pois, pelo seu transporte e divulgação.

Temos, depois, a mulher africana. A sua situação nas sociedades africanas era francamente má, casada sem consentimento seu mal atingia a puberdade, forçada a ter filhos frequentes sob o risco de ser considerada estéril, sobrecarregada de trabalho e a quem nem a viuvez libertava porque era entregue em casamento a um dos irmãos do marido falecido.

E foi precisamente o colonialismo branco que lhe deu direitos, que tentou acabar com costumes que lhe eram altamente perniciosos – como a circuncisão feminina que, com a teoria do “respeito pelas outras culturas”, até é praticada em Portugal. Ou seja, somos a razão de essa senhora Van Dunen se poder pavonear à vontade e dizer mal do país que a acolheu, achando muito boa ideia haver reparações. Ótimo, ela pode ser a primeira a pagar-nos.

Temos, depois, a exigência de devolução das coisas tiradas de África, coisas essas que nunca são especificadas. Vamos a isso! Mas só se houver, claro, uma total reciprocidade.

E como muito do que teriam de nos devolver não pode sair do sítio, proponho que nos paguem por cada quilómetro de estradas e vias férreas, por cada casa, prédio, fábrica, hospital, etc. que lá construímos, para além das plantações, criações de gado e tudo isso. E isto sem falar no que espoliaram aos portugueses que ali viviam aquando da independência e que foram forçados a sair de mãos a abanar após uma vida de trabalho.

E não podemos esquecer o aumento da esperança de vida das populações e o enorme aumento da natalidade que melhores cuidados de saúde e outros têm causado. Hum... mesmo a um valor modestíssimo por cabeça, aposto que dará uma muito boa maquia.

Temos, ainda, a língua, um fator unificador nesses países que são uma manta de retalhos de línguas e dialetos, em que duas pessoas de tribos diferentes só se entendem se usarem o português.

Passemos, agora a Cabo Verde. Atendendo a que ninguém lá vivia antes de os portugueses terem chegado a essas ilhas, pois bem, devem-nos uma parcela adicional pela criação do país.

Temos, ainda, de pôr na coluna Receber os muitos milhões que temos enviado para esses países em ajudas de todo o tipo e que, estranhamente, são sempre ignoradas por quem fala em reparações. E tem sido muito, mas mesmo muito dinheiro, direta ou indiretamente sob a forma de bens para todo o tipo de desgraças – e sim, contam, é que, a menos que vá alguém vigiar a sua distribuição, são pura e simplesmente vendidos, pelo menos uma boa parte deles, para encher alguns bolsos.

Quanto ao Brasil, o primeiro a pôr o dedo no ar, aplica-se muito do que disse acima – sim, também levámos para lá inúmeras plantas, de África e do Oriente, a língua e muito mais. Mas temos, também, a coisa mais importante que receberam de nós, em termos de turismo e dinheiro: o Carnaval! Podem tê-lo mudado, tornado, até, quase irreconhecível, mas sem o colonialismo português não o teriam em aos milhões que lhes rende anualmente.

E se falam em reparações pela escravatura, lembro-lhes que a mantiveram décadas depois de ter sido abolida na Europa. Ou seja, devem reparações a eles mesmos!

Resumindo, se fizermos as contas como deve ser, todas as ex-colónias devem-nos uma boa maquia. Daí eu sugerir que avancemos rapidamente com o processo de reparações, seria, certamente, um bom modo de pôr em ordem as nossas contas públicas...

Para a semana: Violência doméstica. Pequenas coisas que me intrigam...

10
Mai24

135 - Em vez de...

Luísa

De um modo geral, sempre que há um problema neste país a solução proposta envolve sempre atirar-lhe com dinheiro. Segundo parece, quem nos governa, e a esquerda em particular, pode não acreditar que o dinheiro traz a felicidade mas é, sem dúvida, crente da teoria de que resolve tudo – talvez não a morte, mas tudo o resto.

Só que andamos há anos a desbaratar o muito dinheiro que nos tem vindo de Bruxelas e os muitos milhões arrecadados com os pesadíssimos impostos que nos oneram sem que se veja qualquer melhoria, muito pelo contrário, é, até, frequente as coisas piorarem.

Basicamente, acho que isso vem de não se seguir uma regra muito repetida nos numerosos programas de renovação de casas que vemos na TV e que é, muito simplesmente, “mede duas vezes para cortares só uma”. Traduzido para a resolução dos problemas nacionais daria algo como, “analisa duas vezes antes de gastares uma”.

E tendo isto em vista, aqui ficam algumas pequenas sugestões minhas.

Em vez de... uma imigração descontrolada porque precisamos de mão-de-obra para setores básicos onde falta, que tal pensarmos em modos diferentes de fazer as coisas?

A construção civil, por exemplo, um dos setores sempre citados – e com toda a razão, no panorama atual. Ora acontece que há cada vez mais empresas, até em Portugal, a fabricarem elementos para construção civil que basta, depois, instalar no local. E a variedade de elementos disponíveis também disparou, há até quem faça edifícios inteiros desse modo e não estou a falar de pequenas moradias.

Mais ainda, a ideia de construção modular ganha cada vez mais terreno sobretudo por ser muito mais rápida – e como sabemos, ou devíamos saber, quanto mais depressa um edifício ficar pronto, mais depressa pode começar a render.

Há, ainda, a vantagem adicional de converter muita da mão-de-obra não qualificada atual em trabalhadores fabris, melhorando consideravelmente a sua qualidade de vida. E, vantagem adicional, o mesmo número de pessoas estaria a trabalhar em inúmeros edifícios ao mesmo tempo, diminuindo, em muito, a procura de pessoas não (ou pouco) qualificadas.

E quem diz a construção civil diz outros setores, como a agricultura, fazendo um estudo a sério – não um daqueles que são um mero pretexto para pagar chorudos salários a um monte de gente durante imenso tempo – sobre o que se dá melhor em cada zona e região, o que é mais rentável e o melhor modo de o produzir. É que vendo certos problemas que se arrastam há anos neste setor, apesar de todos os subsídios e ajudas, fica-me a ideia de que o problema está em querer continuar a fazer o mesmo que sempre se fez e do mesmo modo, modo este que nem sempre se adequa ao nosso país.

Em vez de... querer mais camas de hospitais e recursos similares, que tal usarmos melhor os recursos que temos?

Vi há uns dias que o Hospital de São João, no Porto, criou um programa inovador em fisioterapia, ensinando os cuidadores a orientá-la no conforto do lar. Sim, nem sempre é possível, claro, mas há muitos casos em que é um desperdício de tempo o paciente ter de se deslocar para a fazer – isto para não falar do incómodo e despesa que isso muitas vezes lhe traz – e da espera por uma vaga...

E há muitas outras áreas em que se podia inovar, melhorando, ainda, o bem-estar dos pacientes. Vi um documentário francês há uns tempos sobre um modo inovador de fazer hemodiálise. Em vez de os abrangidos passarem longas horas num hospital ou centro médico, com grave prejuízo para a sua vida laboral ou escolar, recebiam pequenas máquinas de uso individual que aprendiam a usar – caso fossem crianças, seria um adulto a ter isto a seu cargo. Podiam, assim, fazer o tratamento ao fim do dia, mantendo o seu emprego ou uma vida escolar normal, mais ainda, sem se sentirem “diferentes”.

Não sei se este programa ainda se mantém, mas seria, certamente, algo a explorar. Ou seja, a ênfase nos gastos com a saúde deveria ser o que é melhor para os seus utentes – e muitas vezes isso implica arranjar soluções que levem a saúde até eles em vez de os forçarem, como agora, a irem ter com a saúde.

Em vez de... tanta indignação por haver escolas que começam a impor um código de vestuário, que tal preocuparem-se com a suposta igualdade nas aulas? Refiro-me, claro, a não poder haver turmas de “bons” e turmas de “maus”, supostamente porque isto traumatizaria as criancinhas.

Resultado de estar tudo à molhada? Os alunos com dificuldades não melhoram porque não têm apoio adicional. Mais ainda, muitos sentem que nunca conseguirão acompanhar o ritmo dos outros e desistem, muito simplesmente.

Mas também é péssimo para os bons alunos. É que como as aulas são dadas nivelando por baixo, digamos, morrem de tédio e acabam, também eles, por se desinteressar, embora por razões diferentes.

Não seria melhor criar turmas mais pequenas para os chamados “alunos maus”, onde estes teriam um acompanhamento mais pessoal? E outras para “alunos bons”, onde o ritmo já poderia ser mais acelerado e o nível de dificuldade maior?

Mais ainda, atendendo a que há alunos que são bons em certas matérias e maus noutras, que tal não os pôr na mesma turma para tudo? Ou seja, teriam uma para as matérias em que têm dificuldades e outra para o resto. E assim que melhorassem, ou piorassem, mudariam de turma – isto poderia ser um bom incentivo para se interessarem mais pelas aulas, é que muitos só têm problemas porque começaram a ficar para trás e, com o passar dos anos e as tais turmas “à molhada”, esse atraso foi-se agravando.

E há, certamente, muitas outras áreas em que esta “técnica” de em vez de... poderia dar ótimos resultados e, se não fosse com custos menores, seria, certamente, com uma melhor aplicação do dinheiro gasto.

Para a semana: As reparações. Ou, título alternativo, quem deve a quem

03
Mai24

134 - Só alguns são trabalhadores...

Luísa

A minha vinda definitiva para Portugal deu-se no início dos anos 80, apesar de ter passado anteriormente dois anos neste país, a partir de 76 / 77, mas como estudante. Como sempre faço quando mudo de país, dediquei-me a ler jornais de fio a pavio e a ver o máximo de noticiários – bom, na altura só existia a RTP – para tentar perceber o que se passava no meu novo lar.

E uma das coisas que me chamou de imediato a atenção foi o número de greves e protestos laborais, era rara a semana em que não houvesse pelo menos um desses acontecimentos. E posso garantir-vos que tentei, muito a sério, entender o que se passava e o que pretendiam, até porque tinha lido bastante sobre sindicalismo.

Houve várias coisas que me chocaram, digamos, sendo a principal o enfeudamento – sim, é o termo correto – da maioria esmagadora dos sindicatos a partidos políticos, sobretudo de esquerda. E também, provavelmente por influência destes, as votações de braço no ar, com a inevitável pressão para “ir na onda” com o que quer que a respetiva direção quisesse.

Mas aquilo que mais me intrigou foi o modo como usavam o termo “trabalhador”. Ouvindo-os, acabei por chegar à conclusão de quem trabalhava por conta própria ou até mesmo quem o fazia por conta de outrem, mas sem ser sindicalizado, não entrava nessa definição.

Infelizmente, esse foi uma dos conceitos que perdurou até hoje.

Por exemplo, quando “especialistas” – e se costumam ler-me sabem porque usei aspas – afirmam que se pode pôr o funcionalismo público com a semana de quatro dias porque isso não trará grandes contratempos financeiros. Espantoso! É esse o único critério? Pelos vistos, é, pelo menos para os ditos e também para os sindicatos.

Mas... e o resto da população, a tal que não tem direito a um dia por mês para tratar de assuntos? Se com cinco dias já é complicado resolver as coisas, imagine-se como será em quatro! Mas tudo bem, na maior parte dos casos não entram na definição de “trabalhador”.

À parte tudo isto, já repararam que a definição de trabalho e de emprego têm evoluído imenso em todo o mundo Ocidental mas que para muitos dos nossos partidos – e sindicatos – continua tudo na mesma? E que, por defeito profissional ou por nunca terem trabalhado, como acontece com muitos dos nossos políticos, não fazem a menor ideia do que se passa o mundo real?

Por exemplo, durante a pandemia, em que as empresas que o podiam fazer optaram pelo trabalho à distância, só ouvimos falar de problemas, na maior parte inexistentes exceto nas suas cabecinhas. Basicamente, era uma desgraça a ser evitada a todo o custo porque trabalho a sério só é num local de trabalho de betão e aço, com horários a cumprir e rodeado dos restantes trabalhadores.

Hum... porque será que suspeito que muitos dos abrangidos só não ficaram nessa opção após a pandemia porque não lhes foi proposta? É que a tendência mundo fora é haver cada vez mais pessoas a escolherem trabalhar em casa, até mesmo em tarefas que à partida se poderia julgar serem inadequadas para tal. E fazem-no por vontade própria e com grande satisfação pessoal e profissional, tanto deles como de quem os contrata.

Mas políticos, sindicatos e até muitos patrões continuam parados no tempo, pior ainda, muitos trabalhadores, no sentido amplo do termo, também, não tentando, sequer, explorar outro modo de fazerem o que fazem ou, até, de passarem a fazer outra coisa, o mundo atual está cheio de possibilidades para quem não está agarrado à ideia do “emprego para a vida”.

E sim, estou ciente de que ainda há muitos portugueses sem habilitações para muitos destes empregos, mas, em vez de choradinhos, que tal possibilitar-lhes uma mudança de rumo? A começar logo no ensino obrigatório, aposto que muitos dos alunos nem sequer fazem ideia deste tipo de opções, a menos que conheçam alguém a trabalhar deste modo.

E como um dado recente diz que os patrões portugueses são dos menos qualificados da UE, que tal fazer ações educativas que os tenham como alvo? É que este novo mundo é algo verdadeiramente assustador para muitos deles, de tal modo que nem tentam começar a conhecê-lo ou às vantagens, muitas delas financeiras, que lhes poderia trazer.

Há ainda um outro aspeto, o chamado trabalho precário. Diga-se de passagem que, tantos anos depois da minha chegada a Portugal, esta expressão ainda me faz imensa confusão. É que nunca entendi como pode ser o sonho de um jovem entrar para uma empresa – ou para o Estado – onde ficará, muito quietinho, até à Reforma e a fazer, de preferência, praticamente sempre a mesma coisa.

Se fosse essa a minha perspetiva de vida, garanto-vos que entraria em depressão profunda. Sim, trabalho há muitos anos como freelancer na mesma área, mas apenas porque o que faço é suficientemente variado para não se tornar rotina. E sim, não tenho um salário garantido ao fim do mês, mais o resto das regalias que muitos parecem ver com o Bem Supremo, mas posso trabalhar à minha vontade.

E não sou a única, é que trabalhar por conta própria está a tornar-se uma opção cada vez mais popular, sobretudo aliada ao uso de novas tecnologias. É que se pode ser, até, um chamado nómada digital, ou seja, alguém que anda a viajar, parando uns tempos em cada local, mas mantendo-se a trabalhar a maior parte do tempo. Há cada vez mais profissões e trabalhos em que não interessa onde estamos, desde que haja uma boa ligação à Internet, o que importa a quem nos contrata é que as tarefas sejam cumpridas.

Ora aqui está uma boa opção para as aldeias desertificadas, torná-las apelativas para esta nova onda de trabalhadores à distância, em muitos casos bastava garantir a tal boa ligação à Internet que o resto iria aparecendo.

Só que, para quem manda na política e para os sindicatos, todas estas pessoas não têm direito pleno ao nome de trabalhador...

Para a semana: Em vez de... Sugestões de opções para alguns problemas  atuais

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Calendário

Maio 2024

D S T Q Q S S
1234
567891011
12131415161718
19202122232425
262728293031

Arquivo

  1. 2025
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2024
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2023
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2022
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2021
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D