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Luísa Opina

Neste blogue comentarei temas genéricos da nossa sociedade. Haverá um novo texto todas as sextas-feiras

Neste blogue comentarei temas genéricos da nossa sociedade. Haverá um novo texto todas as sextas-feiras

Luísa Opina

23
Fev24

124 - A esquerda afinal não é comunista!

Luísa

Ando há uns tempos a analisar a esquerda que temos, sobretudo o que seria a extrema-esquerda se a comunicação social tivesse coragem para chamar os bois pelos nomes, e cheguei à conclusão de que, afinal, até nem são comunistas, nem sequer os partidos que afirmam ser marxistas – sim, há mais que um, os outros só aparecem em alturas de eleições legislativas.

Parece absurdo? Certamente. Mas acho que no final deste post até irão concordar comigo.

Ora vamos por partes. Os grandes chavões da esquerda são distribuição igualitária da riqueza, igualdade de direitos, dar o mesmo a todos, enfim, um sem número de igualdades, tudo isso em nome da tal sociedade perfeita que querem criar, apesar de até agora não ter resultado em lado nenhum. Resumindo, somos todos iguais e temos direito à mesma parcela dos bens e riquezas da nossa sociedade.

Só que há aqui um pequeno problema. O que o santo patrono da dita esquerda disse não foi bem isso... ou antes, não foi mesmo nada disso. E para quem não a conhece ou já não a recorda devidamente, aqui vai a célebre frase de Karl Marx, que tem dado origem a tantos equívocos: De cada qual, segundo a sua capacidade; a cada qual, segundo as suas necessidades.

Comecemos pela segunda parte. Fica bem claro que para Marx, temos todos necessidades diferentes e o igualitarismo cego defendido pela esquerda não acaba com desequilíbrios e injustiças, muito pelo contrário, agrava-as, até mesmo em relação às chamadas necessidades básicas que, também essas, mudam consoante a pessoa e o lugar e não permanecem estáticas ao longo do tempo.

Mas o que mais me incomoda nesta parte da equação é que nem sequer é aplicada como deve ser. Veja-se, por exemplo, um dos meus ódios de estimação, a “carreira” dos funcionários públicos. Analisada sob este prisma, significa, muito simplesmente, que as ditas necessidades aumentam do mesmo modo para todos, sendo o único critério para as avaliar o tempo de serviço. A sério?

Outro exemplo flagrante de dizerem uma coisa e fazerem outra é o SNS. Sim, toda a esquerda berra pela defesa do dito e a eliminação de hospitais privados, parcerias, etc., mas, curiosamente, nunca vemos nenhum dos sindicatos da Função Pública que, lembro, estão mais ou menos enfeudados a esses partidos, sugerir a eliminação da ADSE, passando todos os que lhe pertencem para o SNS como os cidadãos “vulgares”.

Mas, para mim, este até nem é o grande problema, é que segundo a mesma esquerda, ainda só estamos a tentar construir a tal utopia marxista. Não, sob o meu ponto de vista, a grande questão está na primeira parte da frase, “de cada qual segundo a sua capacidade”.

Já viram a esquerda exigir seja o que for de quem diz que representa? Sim, querem mais impostos, mais taxas e taxinhas, a eliminação do privado, etc., mas nada disso tem a ver com as “capacidades” citadas por Marx.

Vejam-se os contratos coletivos de trabalho. Como sabemos, abrangem todos os trabalhadores do respetivo setor, mesmo aqueles que de “trabalhadores” só têm o nome. Ou seja, faltosos, preguiçosos e quejandos são tratados do mesmo modo que os cumpridores e trabalhadores, independentemente de, muitas vezes, até terem mais capacidades. Por exemplo, em tempos idos assisti, por várias vezes, aos cálculos complicadíssimos que alguns desses ditos trabalhadores faziam para alargar o mais possível os dias úteis de férias a que tinham direito anualmente, tendo em conta os feriados e pontes.

E querem um melhor exemplo da aplicação deste conceito do que o chamado rendimento mínimo? Ou será que acham que todos o que ali estão são uns coitadinhos sem capacidade para nada e que, sendo assim, não podem dar nenhum contributo para a sociedade?

E a falta de aplicação deste conceito começa logo na escola, onde é proibido exigir para não stressar as criancinhas. Ou seja, em vez de lhes meter na cabeça que quanto mais qualidades têm mais têm de dar à sociedade, fazemos, isso sim, o nivelamento por baixo, nada pedindo a ninguém para não magoar quem não tem aptidões.

Não, a atitude da nossa esquerda tem mais a ver com o conto “Harrison Bergeron” de Kurt Vonnegut. Para quem não leu – e, francamente, recomendo-o vivamente – a história passa-se em 2081 (foi escrito em 1961) nos EUA e, por emendas à Constituição, todos são agora iguais. Foi estabelecido um padrão médio para tudo, inteligência, beleza, elegância, proezas físicas, tudinho, mesmo, e quem estiver acima desses valores é forçado a usar peias de vários tipos. Por exemplo, uma pessoa inteligente ouve apitos, explosões e outros sons similares a intervalos mais ou menos curtos para cortar o fluir das suas ideias. Uma pessoa bonita tem de usar próteses que a desfeiem. Um bom atleta ou dançarino carrega pesos e outros entraves para ser como toda a gente. Encontram o texto original aqui e uma versão brasileira aqui.

Pois bem, a sensação com que fico é que, apesar do muito que dizem, os nossos partidos da esquerda, até os marxistas, repito, viraram totalmente as costas a Marx e querem, isso sim, uma sociedade “igualitária” do modo como um rebanho de ovelhas o é – mesmo assim, há sempre alguma que foge à norma, mas ei, a solução é fácil, a “bem da nação”, como dizia o outro, retira-se a dita.

Já agora, como prova final de que ninguém se dá ao trabalho de entender o que Marx disse, temos um debate de setembro de 2016 na Assembleia da República em que o muito “estimado” Sr. Costa parafraseou esta frase de Marx ao definir o seu conceito de sociedade decente como “uma sociedade onde cada um contribui para o bem comum de acordo com as suas capacidades, e cada um recebe de acordo com as suas necessidades”. Está neste artigo do Observador que realça, e muito bem, um pequeno detalhe que, pelos vistos, escapou ao dito senhor: Marx disse a sua célebre frase numa crítica feroz ao socialismo!

Para a semana: Desrespeitaram-nos... e agora queixam-se? Acerca dos protestos dos polícias e não só

16
Fev24

123 - Controlo da emigração

Luísa

Um dos temas que atualmente mais sangue faz correr, felizmente ainda só metaforicamente, é o controlo da emigração. Às vezes nem é preciso dizê-lo, basta os iluminados do costume acharem que é essa a ideia subjacente para desatarem imediatamente com berros e insultos e a acusarem o autor de racismo, xenofobia e, última versão muito na moda, islamofobia.

Curiosamente, tudo isto implica que para esses senhores um emigrante – ou migrante, o termo mais woke – é sempre não branco, não ocidental e, na maioria dos casos, muçulmano. Hum... e os milhares de suecos, alemães, ingleses e franceses que se têm mudado para Portugal, não contam? E os muitos chineses? Sim, é que para esses “esclarecidos”, são uma espécie de “brancos honorários” e só é xenofobia ser contra eles se for conveniente, por exemplo, para berrar contra supostas restrições comerciais à China.

Os adeptos da política de portas abertas usam sempre os mesmos dois argumentos que acham, nas suas mentes donas da verdade, serem decisivos.

O primeiro é a necessidade de aumentar a taxa da natalidade em Portugal – e na Europa em geral – para que a Segurança Social possa voltar a ser sustentável. Já agora, adoro a expressão “voltar a ser”, é que já é, há inúmeros anos, um tremendo esquema de pirâmide.

É claro que isto pressupõe que as pessoas que nos chegam, sem qualquer controlo, são todas honestas, decentes e trabalhadoras e que vão arranjar bons empregos, com descontos para a dita. Mas atendendo ao baixíssimo nível de habilitações de quem chega e à falta de qualquer profissão (sei lá, carpinteiro, pedreiro a sério, eletricista...), que tipo de emprego é que acham que vão ter? Isto partindo do princípio, repito, que vêm mesmo para trabalhar.

O segundo argumento é também da mesma área, o enorme valor em impostos pagos pelos emigrantes anualmente. Pois, o problema aqui é que se mete no mesmo saco toda a gente, os muitos que trabalham e que nos chegam, em geral, de países da Europa, China, Paquistão, Índia... e os outros.

E só quem não conhece a realidade dos chamados bairros sociais é que acha que os filhos destes emigrantes vão sustentar a pesadíssima máquina que é a atual Segurança Social ou contribuir, por via fiscal, para um futuro mais risonho.

Mais ainda, não é apenas não pagarem, há ainda a parte de receber. É que os mais “protegidos” são precisamente aqueles que, para além de não contribuírem com impostos e descontos, recebem apoios e subsídios de todos os tipos.

Uma outra questão que os iluminados nunca abordam tem a ver com a assistência médica. Há milhares de famílias portuguesas sem médico de família, as Urgências e os hospitais em geral são o caos que sabemos, e vamos deixar entrar quem quiser aparecer? Será que quem para cá vem não tem direito a assistência médica? Ou tencionam tirá-la aos portugueses para a dar aos “migrantes”?

E a habitação? Estranhamente, a nossa esquerda passa a vida a berrar contra os vistos Gold e contra os estrangeiros que compram casa em Portugal e que são, supostamente, os grandes culpados da crise da habitação. Mas acham xenófobo querer limitar o número de pessoas que só terá casa se lhes dermos uma?

E temos, depois, a criminalidade. Sim, é racista, etc., dizer que aumentou muito com a vinda descontrolada de pessoas de certas origens e, acima de tudo, que subiu imenso o seu grau de gravidade. A minha pergunta a esses “não xenófobos” é muito simples. Acham desejável termos cá a Máfia angolana que até arranja assassinos profissionais para os seus ajustes de contas? E os gangues brasileiros que quando as coisas “aquecem” lá na terra vêm para Portugal onde um polícia nem pode sacar da arma mesmo que tentem atropelá-lo?

Quantas urgências de certos hospitais estão a rebentar pelas costuras devido a ferimentos mais ou menos graves entre essas “boas pessoas que só vêm para cá porque querem uma vida melhor”? Já agora, muitas das vítimas inocentes até são pessoas da mesma etnia, muitas delas residentes no país há décadas, ordeiras, trabalhadoras e que não têm culpa nenhuma de terem sido invadidas, sim, é o termo correto, por criminosos recebidos de braços abertos por uma parte da nossa sociedade – que, diga-se de passagem, vive bem longe dessas áreas.

Temos também a parte cultural, sobretudo em relação aos muitos machos muçulmanos que nos chegam e que não têm a menor intenção de respeitar as nossas leis e costumes. É claro que quando fazem alguma, coitados, passou-lhes alguma coisa pela cabeça, não foram bem acolhidos ou, como no caso das mulheres brutalmente atacadas no Centro Aga Khan, tiveram um episódio psicótico...

Berra-se e barafusta-se contra a Arábia Saudita e o Qatar pelo seu tratamento das mulheres. Pois bem, há zonas de França – até de Paris – e da Alemanha onde são bem pior tratadas. É que nesses países, a sharia é aplicada sob controlo do governo, mas na Europa, vale tudo. Isto sem falar nos “crimes de honra”, que ninguém investiga a sério porque isso seria islamofobia. Sabiam que está a haver na Alemanha uma tentativa para que a idade do casamento para raparigas muçulmanas passe a ser os 10 anos? Pois, respeitem-se os costumes.

Mas tudo bem. A Suécia está a pensar criar autocarros só para mulheres devido ao terrível assédio que sofrem da parte de muçulmanos? Coitados, há que tirar-lhes a tentação da frente. A Itália revolta-se porque uma rapariga de 13 anos foi violada por sete egípcios? Ei, é islamofobia! Bom, se fosse cá, seriam apenas sete rapazes...

Francamente, venham emigrantes, sim, mas dos que querem ter uma vida melhor pelo seu trabalho e não à custa de quem já cá está. E, acima de tudo, exijamos que respeitem os nossos costumes e as nossas leis. Já agora, e como digo no meu livro Projeto para Portugal, porque é que os estrangeiros condenados só são expulsos depois de cumprirem a pena? Não faria bem mais sentido evitar esse custo adicional e correr com eles mal sejam condenados?

Para a semana: A esquerda afinal não é comunista! Não no verdadeiro sentido da palavra

09
Fev24

122 - Desejos para as eleições

Luísa

Primeiro, um pequeno esclarecimento. Estes desejos não são para o que venha a acontecer depois das ditas eleições em termos de realizações e projetos, são, isso sim, o que eu desejaria que acontecesse até lá... e não só.

Primeiro desejo, seria tão bom se partidos, jornalistas, comentadores e outros parassem de insultar os eleitores portugueses ou, pelo menos, os que não têm intenção de votar da maneira que consideram “certa”? É que as cenas a que assistimos e as coisas que ouvimos são francamente chocantes, sobretudo atendendo a que muitas dessas pessoas até são sustentadas pelos impostos pagos pela tal “gentinha” que tanto desprezam.

Refiro-me, claro está, à afirmação inúmeras vezes repetida de que é inútil votar no Chega. Ou que quem o faz ou tenciona fazer é fascistas, neonazi, enfim, os mimos do costume. Curiosamente, ainda não vi nenhuma dessas pessoas analisar as verdadeiras razões do aumento de popularidade desse partido pária que, acreditem, são inúmeras e nada têm a ver com o dito mas sim com o crescente descontentamento da população. Mas para quê fazê-lo se partem do princípio que é tudo gente estúpida e ignorante?

O que me leva diretamente ao segundo desejo: parem de distorcer as coisas para que encaixem na vossa visão do mundo! Voltando ao Chega – pois, com a obsessão nacional em deitá-lo abaixo é inevitável – temos, por exemplo, um suposto Fact Check do Observador. Já agora, lembro que para muito boa gente este jornal online é considerado de direita. Pois bem, Ventura terá dito que 80 % da população da cidade de Braga era estrangeira. E lá vem o dito Fact Check afirmar que é mentira, usando para isso dados do Distrito de Braga que, lembro, engloba, por exemplo, Barcelos, Guimarães e muitas outras cidades. Ou seja, são fervorosos praticantes da técnica de Mentir dizendo só a verdade.

Continuemos com os jornalistas, apesar de terem melhorado um bocadinho, talvez por verem o que está a acontecer em todo o mundo a meios de comunicação enfeudados à esquerda e extrema esquerda. Mesmo assim, o meu desejo é que comecem a fazer jornalismo a sério, com indagações sérias a toda gente e, acima de tudo, com perguntinhas inconvenientes – quantos seguiram a história da “coitadinha” da avó da Mortágua que esteve para ser despejada da casa onde vivia? Ou quantos perguntam ao PAN ou à IL se estão mesmos dispostos a venderem-se a quem lhes oferecer um tacho no governo – desde que não inclua o Chega, claro está.

E passamos agora ao senhor de Belém, que terá dito que só deixará formar governo o partido mais votado. Hum... não foi este mesmo senhor que elogiou e apoiou a geringonça, formada, lembro aos mais distraídos, com base no segundo partido mais votado? Ou será que está à espera que as sondagens tenham razão e que sejam os seus amigalhaços rosa os mais votados? Seja como for, acho inconcebíveis afirmações deste género, podem, até, muito francamente ser consideradas como uma tentativa de influenciar o voto dos portugueses que, de acordo com a nossa Constituição, deve ser totalmente livre.

Mais um desejo, gostaria imenso que os vários partidos passassem menos tempo – ou até tempo nenhum – a insultarem-se e o gastassem a explicar muito detalhadamente o que propõem fazer se chegarem ao poder e, acima de tudo, como. Já agora, que tivessem pela frente jornalistas a sério que os questionassem sobre os efeitos colaterais das medidas que afirmam que iriam tomar, por exemplo, as “soluções” do BE para a habitação ou do PCP para o SNS... mas não só, todos sabemos que o período pré-eleitoral se distingue por afirmações totalmente delirantes, mais adequadas a um qualquer filme surrealista. E ainda não chegámos aos tempos de antena...

Também em relação aos partidos, seria tão bom vermos mais caras, sobretudo nos que têm boas expectativas de elegerem vários candidatos. É que apesar de não termos nada a dizer sobre quem pomos, especificamente, na Assembleia da República, a tática atual de mostrar praticamente só os vários cabeças de lista soa um bocadinho a desprezo pelos eleitores – pois...

E passamos, agora, aos círculos eleitorais – lembro que não entendo porque existem, como disse em Adorava saber... Mas como fazem parte da nossa pesadíssima máquina eleitoral, que tal TVs, rádios e jornais nacionais passarem a ter uma secção em que mostram o que cada partido tenciona fazer por cada um dos círculos eleitorais em que concorre. E nada de “batotas”, resolver o problema da habitação é algo nacional e não regional, por isso não conta.

Finalmente, algo que também já tenho referido, a criação de uma lista, partido por partido, com todas as promessas e planos que vão lançando para o ar durante este período. E depois, os que fizessem parte do governo teriam de explicar muito bem, antes das próximas eleições, as razões do seu incumprimento – sim, não tenhamos ilusões, a quase totalidade da lista ficará, certamente, por cumprir.

Bom, acima de tudo, seria bom se, pelo menos por uma vez, tivéssemos uma campanha eleitoral cordata e, acima de tudo, informativa e esclarecedora, para que todos pudessem votar com conhecimento de causa e não por mero hábito, como muitos o fazem atualmente. Esse, sim, é o meu maior desejo.

Pois... talvez tenha mais sorte com o Pai Natal ou com a Fada dos Dentes...

Para a semana: Controlo da emigração Ao contrário do que nos querem fazer pensar, não é xenofobia.

09
Fev24

Site e livro

Luísa

Este é um post fora da sequência, refere apenas algumas novidades minhas. Mais logo publicarei o da semana.

Primeira novidade, refiz, finalmente, o meu site Luísa Escreve. Encontrará ali links para todos os posts dos meus blogues, Luísa Opina e Ir para novo, e também para antologias de Portugal e do Brasil com contos meus e livros que publiquei em português e em inglês.

Segunda novidade, acabei de publicar o livro Projeto para Portugal – notas de uma leiga em política Tem 14 secções, incluindo Educação, Saúde, Habitação, Prisões e muitas outras, cada uma delas com várias subsecções. Em relação ao blogue Luísa Opina, é um caso tipo o ovo e a galinha, a ideia surgiu mais ou menos ao mesmo tempo para ambos. Já o blogue Ir para Novo influenciou bastante a secção Terceira Idade, uma vez que esta foi escrita posteriormente.

É apenas um livro Kindle e pode encontrá-lo aqui. Se usa habitualmente a Amazon Espanha, basta substituir .com por .es

Sei que este formato não é muito popular em Portugal, talvez porque exigia, inicialmente, a compra de um leitor dedicado e nada barato. Mas há agora a app Kindle, gratuita, no Google Store e na própria Amazon. E, francamente, vale a pena descarregá-la e criar uma conta na Amazon, há sempre imensos livros a custo zero – sim, aqui há almoços grátis – ou com um preço baixíssimo que se podem ler comodamente até no telemóvel. Pequeno detalhe, se tiver a app em vários dispositivos sempre ligada à mesma conta, há sincronização automática entre eles.

02
Fev24

121 - E vivam as greves!

Luísa

Quando vim definitivamente para Portugal em finais dos anos 80 um dos aspetos da vida portuguesa que mais curiosidade me despertou foi a enorme quantidade de greves. Como eram novidade para mim, dei-me ao trabalho de ler e ouvir cuidadosamente as notícias sempre que havia uma – ou seja, quase todos os dias...

O primeiro detalhe que achei giríssimo foi ouvir sindicatos da CGTP a usarem todo o tipo de propaganda comunista para defenderem o que diziam e faziam. Acontece que eu tinha acabado de viver e trabalhar uns 4 anos num país comunista e, muito francamente, se alguém ali dissesse essas coisas teria um futuro muito negro – e curto!

Mas, enfim, cada um é livre de pensar o que quiser, pelo menos é essa a minha opinião, não partilhada, obviamente, por wokes e similares.

O detalhe seguinte foi a tremenda quantidade de greves que se realizavam neste país tão pequeno em área e população. Pensei, até, várias vezes que seria útil existir um site na Internet – que, lembro, estava na infância – onde os cidadãos normais, digamos, pudessem ir ver quais eram as greves desse dia para tomarem algumas medidas, se o pudessem fazer, ou, no mínimo, para não serem apanhados desprevenidos.

E quando comecei a analisar um pouco mais as coisas, espantou-me o modo como uma greve era decretada, pela direção do sindicado ou pelo “voto” dos sindicalizados presentes numa reunião. Sim, voto entre aspas, tive sempre muitas dúvidas sobre a validade democrática de votar de braço no ar, especialmente em certos ambientes claramente hostis a quem não fosse na onda.

Como tinha lido bastante sobre sindicalismo e greves em outros países, confesso que este sistema me chocou bastante. Em Inglaterra, por exemplo, uma greve tem de ser votada – com votos a sério – pelos sindicalizados todos, mais ainda, se a empresa estiver acima de uma certa dimensão, não muito grande, o resultado tem de ser apurado por uma empresa de fora. Pois, bem parecido...

Outra coisa que me intrigou foi ver a repetição de greves do mesmo setor, sem que percebêssemos bem o que queriam. Será que as direções dos respetivos sindicatos nunca perceberam que a habituação leva à indiferença? Lembro-me de há uns anos um dos grandes sindicatos alemães ter decretado uma greve – bom, votado, também aqui com votos a sério. Pois bem, o país inteiro ficou em polvorosa, queriam saber as razões, o que pediam, tudo. E porquê? Bom, era a primeira greve que faziam desde a sua criação décadas antes, em geral resolviam tudo a bem.

Bem parecido com o que se passa em Portugal onde, se alguém diz “Os transportes estão em greve” o comentário que mais se ouve é, “Outra vez?” E ninguém pergunta porquê.

Mas a melhor, para mim, claro, é a figura da greve de aviso. Sabem, vão começar as negociações e o dito sindicato decreta uma greve para avisar de que fala a sério!

É claro que a maioria das greves neste país são feitas pelos “coitados” dos funcionários públicos. Não que não as haja no setor privado, sobretudo as de um tipo que me deixa sempre intrigada, a greve de trabalhadores de uma empresa que está em dificuldades económicas... pois, ajuda imenso ao futuro económico da dita!

Depois há o pequeno detalhe da definição do termo “trabalhador”. É que para um sindicato só merece esse nome quem lhes pertence. Lembram-se das greves há uns anos contra a abertura de supermercados ao domingo, com o grande argumento de “os trabalhadores têm direito a descansar nos mesmos dias do resto da população”? Pelos vistos as muitas pessoas que trabalham e só podem fazer compras com mais calma nesse dia não são “trabalhadores”.

Há também a definição do termo “negociar”. Pelos vistos, para um sindicato isso significa o outro lado dar-lhes tudo o que pedem – perdão, que exigem! – sem que eles tenham de dar nada em troca.

O que me leva às exigências e justificações. A frase mais comum, sobretudo quando se trata de sindicatos das áreas dos transportes, educação e saúde, é a defesa da qualidade – ou, até, a sua melhoria. Curiosamente, mal conseguem mais dinheiro e regalias, pronto, fica tudo bem, e os papalvos que lhes pagam têm de acreditar que mais uns euros nos bolsos deles vão traduzir-se em melhoria do serviço, da qualidade do ensino e dos cuidados de saúde prestados. Pois!

Há, também, greves com que eu até concordaria, se não viesse depois a saber o que pedem. Como exemplo, há uns anos os trabalhadores de um matadouro entraram em greve porque as instalações eram antigas e potenciavam um real perigo para a saúde de quem ali trabalhava. Aplaudi, claro, quem não o faria? Só que... a sua única exigência era passarem a receber um subsídio de risco! Atenção, não enquanto renovassem o dito matadouro ou fizessem outro, isso nem foi mencionado, não, simplesmente um subsídio – e para sempre, claro, isso estava implícito.

Curiosamente, não vi ninguém fazer uma perguntinha de algibeira: se as instalações eram más a ponto de porem em perigo a saúde de quem lá trabalhava, isso não afetava a qualidade da carne que produzia?

Como último ponto, o que se passa atualmente com os polícias. Entendo que não há dinheiro para o que pedem, mas, muito francamente, porquê dar só a uns e não a todos? Ou os nossos ainda (des)governantes esperavam que não acontecesse nada?

Só mais uma coisinha, há uma greve “ameaçada” que eu adorava que se concretizasse: a dos jornalistas! Será que dávamos por ela?

Para a semana: Desejos para as eleições Como ainda falta um mês, pode ser que alguém escute...

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