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Luísa Opina

Neste blogue comentarei temas genéricos da nossa sociedade. Haverá um novo texto todas as sextas-feiras

Neste blogue comentarei temas genéricos da nossa sociedade. Haverá um novo texto todas as sextas-feiras

Luísa Opina

24
Nov23

111 - Não podemos confundir...

Luísa

Esta é uma frase que, infelizmente, ouvimos cada vez mais frequentemente e da boca de pessoas que, pela posição que ocupam, deviam ter mais juízo e que vem, quase sempre, acompanhada de uma outra expressão também muito popular, “temos de compreender”. Sabem como é, sempre que há crimes, protestos ou outros atos que caem nas boas graças da nossa esquerda ou a que esta fecha os olhos para não ser “má”. Curiosamente, é uma via de sentido único, como verão nos casos que cito abaixo.

Por exemplo, se um membro da religião da paz e do amor atacar pessoas à facada (ou à catanada, ou a tiro), “não podemos confundir” a parte com o todo, é só um caso individual que nada tem a ver com o resto da comunidade a que pertencem. Mas... se um branco atacar um membro da dita religião com quem tem quezílias pessoais de longa data, bom, aí, sim, já se pode confundir, é uma prova clara de intolerância religiosa e de racismo e ninguém se dá ao trabalho de tentar saber o que realmente se passou.

E, claro, no primeiro caso “temos de compreender” que o criminoso, perdão, a santa alma que cometeu o crime estava a ter um surto psicótico, a vida de refugiado não era bem o que pensava, “passou-lhe uma coisa pela cabeça”, enfim, mil e uma desculpas interessantíssimas que nunca, mas mesmo nunca, se aplicam no caso oposto.

Veja-se, também, o que se passa com as manifestações pró-palestinianos, toleradas, não, encorajadas, porque não “devemos confundir” palestinianos e Hamas, isto apesar de os ditos terem elegido esses terroristas para o seu governo e os acolherem e protegerem. Houve até uma invasão do Capitólio em Washington, esta sim, com entrada à força e distúrbios, mas que passou quase sem dar nas vistas porque “temos de compreender” que a causa é boa e é natural que alguns ânimos se exaltem. Será que vai haver um investigação do Congresso, prisões e penas pesadas? Pois...

Basicamente, há dois pesos e duas medidas. É que a nossa esquerda tem tanto medo de ser acusada de intolerância ou, pior ainda, de racismo, que tolera tudo e mais alguma coisa da parte dos não europeus – esta também é uma dúvida minha de “estimação”, porque é que se diz sempre africanos e brancos e não africanos e europeus? É claro que fazer esta pergunta converte-me instantaneamente em racista.

Continuando com o Islão, inúmeros atos terroristas não permitem que se diga seja o que for contra essa religião, é que “não podemos confundir”, isto apesar de nunca se verem manifestações de muçulmanos contra esses atos que são, supostamente, contrários ao que praticam. Mas pode-se dizer “os padres são pedófilos”, supostamente porque a Igreja não os denunciou, independentemente de, em muitos casos, haver zero provas de que os ditos crimes realmente aconteceram.

Os “costumes” também entram nesta equação. Como a mutilação genital feminina, que ocorre alegremente por toda a Europa, incluindo Portugal. E quando um caso é denunciado, pois, lá vêm as desculpas usuais, apesar de toda a comunidade da zona saber perfeitamente o que se estava a passar e nada ter dito ou comunicado. Mas se um pai cristão não quiser que os filhos não aprendam certas coisas na escola, grande azar, só não vai imediatamente preso porque ainda não se descobriu como fazê-lo dentro da legalidade, mas fica sob vigilância do Serviço de Menores, ao contrário do caso anterior, em que nada acontece, nem à família nem a quem praticou a mutilação. Pois, nada de confundir!

E temos, depois, a política. Se alguém considerado de direita for acusado de qualquer crime de corrupção ou de não divulgação de dados financeiros, para além de ser imediatamente considerado culpado, independentemente de não haver provas, a “nódoa” estende-se, de imediato, ao respetivo partido. Mas perante os atuais factos gravíssimos respeitantes a ministros, assistentes e não só, e que duram há anos, pois é, “não podemos confundir” algumas maçãs podres com a bondade do PS.

Há algum caso que abranja o PSD, por exemplo, e alguém desse partido queixa-se da morosidade da investigação? Estão a pressionar a justiça! Mas ministros, ex-presidentes da Assembleia e muitos outros podem berrar à vontade contra o Ministério Público e dar-lhe “conselhos” a torto e a direito que isso não pode ser confundido com pressões.

Lembram-se das “forças de bloqueio”? Segundo parece, dizer isso era sinal de desespero da direita. Mas dizer que o MP arranjou maneira de derrubar ministros e outros mimos similares, bom, não confundamos a “justa indignação” – outra expressão favorita da esquerda – com pressões ou insultos.

Um último exemplo, as supostas manifestações relativas ao clima. Partem montras, destroem propriedade privada, insultem e agridem pessoas, perturbam gravemente a vida de quem tem de trabalhar para sobreviver? Ei, não podemos confundir esses atos com vandalismo ou, porque não chamar os bois pelos nomes, terrorismo. Mas se membros de um partido da cor “errada” fizer uma manifestação devidamente autorizada contra um outro da cor “certa” e que nos desgoverna há anos, pois, também aqui “não podemos confundir”, não é um ato de democracia em ação, é uma expressão de nazismo, fascismo e quejandos.

Pois é, perante tudo isto só me resta concluir que “não devemos confundir” esquerdistas com democratas e “temos de compreender” que para a nossa esquerda, e a europeia também, vale tudo para conquistar e deter o poder, veja-se o que se passa atualmente em Espanha – já agora, aposto que se as manifestações que duram há dias fossem contra um Feijóo primeiro-ministro ouviríamos todos os dias a exigência da sua demissão por jornalistas, analistas e políticos, mesmo os de topo, ou acham que Costa e os seus muchachos se calavam?

Para semana: Adorava saber...  Agora que se aproximam eleições, há certas coisinhas que eu adorava que me dissessem

17
Nov23

110 - Jornalismo ou jornalixo? Parte 2

Luísa

Os acontecimentos desta semana levam-me, mais uma vez, a alterar o tema que tinha programado para publicar hoje. Mas houve vários “detalhes” que me incomodaram bastante, bom, alguns já duram há algum tempinho. E para quem estiver interessado e não tenha lido, a parte 1, sem esta identificação, está em Jornalismo ou Jornalixo?

Comecemos pela política. Eu já estava a estranhar ver a nossa comunicação social a atacar socialistas de topo e até o nosso PM. Pelos vistos deve ter sido o choque das acusações terem surgido sem que soubessem de nada, ou seja, sem as tão famosas fugas ao famosíssimo segredo de justiça.

É que, menos de uma semana depois, voltou tudo ao “normal”. Comentadores e jornalistas repetem à saciedade o chavão da presunção de inocência que, curiosamente, só existe para quem alinha pela cor política “certa”, é que em casos em que se falou vagamente em acusações similares de pessoas da chamada direita – atenção, boatos, não indiciamentos formais – os mesmos berravam por demissões e aí a presunção era de culpa – lembram-se de Carmona Rodrigues e dos terrenos da Feira Popular?

Mais ainda, acham perfeitamente normal que um governo demissionário por corrupção tome decisões económicas importantes como a Linha Violeta do Metro e a TAP? Ora isto só é possível graças ao prazo alargadíssimo que o senhor de Belém decretou para as novas eleições e que continua, também, a não merecer reparos contra.

Mas temos melhor. Começaram, agora, a esmiuçar as acusações do Ministério Público, numa tentativa clara de as tornar nulas. Já agora, com o tipo de erros que têm aparecido, acho que o MP devia era investigar a fundo quem os cometeu – filiação partidária ou simpatias políticas, círculo de conhecidos e amigos, contas bancárias... é que são mesmo estranhos.

Mas o que me deixa curiosa é passarem horas a discutirem, por exemplo, o facto de terem apontado mal o local de uma reunião, como se isso fosse o mais importante e não o facto de esse encontro ter acontecido!

Enfim, a sensação que fica é que, passado o tal choque inicial que referi, os nossos jornalista meteram mãos à obra para tentar ilibar todos os envolvidos e, acima de tudo, para que o seu bem-amado PS ganhe as próximas eleições e nos continue a dar mais do mesmo.

E, última nota sobre este assunto, já ouviram criticar o Sr. SS – para os mais distraídos, o Santos Silva da AR – pelo que tem dito sobre o MP e a necessidade de celeridade da justiça? Primeiro, como segunda figura do estado, algo que repete vezes sem fim, e líder do seu órgão legislativo, a famosa separação de poderes deveria impedi-lo de abrir a boca. Segundo, e mais importante a meu ver, porque é que o caso de um ex-ministro ou outro amigo do PM precisa de ser resolvido rapidamente mas o do Zé dos Anzóis pode arrastar-se anos a fio, muitas vezes sem uma acusação formal? De acordo com a Constituição, outra vaca sagrada da esquerda, não somos todos iguais perante a lei?

Passemos agora ao que se passa em Israel e que ainda dá uma imagem pior do que é o jornalismo atual, neste caso, infelizmente, em todo o Ocidente.

Ouvindo as notícias, fica-nos a dúvida se estamos perante órgãos de uma imprensa livre ou de meros porta-voz do Hamas. É que tudo o que estes terroristas dizem é aceite como sendo a verdade pura e dura e ninguém faz perguntas que essas criaturas possam achar inconvenientes.

A preocupação com os civis, por exemplo. Já ouviram alguém perguntar porque não os deixam refugiar-se nos célebres túneis enquanto decorrem os combates? Mais ainda, vemos em imagens muitas vezes em direto disparos de todo o tipo, até de rockets, vindos de prédios de apartamentos. E quando o dito edifício é destruído... pois, só lá havia civis, ou antes, mulheres e crianças.

Pelos vistos ninguém ouviu o líder civil do Hamas dizer que esta guerra está a criar mártires e “estamos dispostos a que haja muitos mártires”. Ou seja, o dito “senhor” continua na sua vida de luxo no Qatar enquanto os civis são convertidos em mártires!

Mas o que se tem dito sobre os hospitais, sobretudo o Al-Shifa, ultrapassa todo o bom senso. Independentemente de termos visto, bom, quem quis ver, rockets e tiros a serem disparados do interior daquele enorme complexo, há a crença feroz na nossa comunicação social de que só lá estão médicos, doentes e outro pessoal de saúde! Como li num comentário feito a um artigo do Observador, se só houvesse lá dentro esse tipo de pessoas, porque é que as tropas israelitas levaram vários dias sem lá entrar, cercando-o, aos poucos, até deixar de haver resposta militar?

Sim, atacar hospitais é contra o direito internacional. Mas o mesmo direito diz que se um hospital for usado como centro militar ou base para ataques, então passa a ser um alvo legítimo. Mas só ontem é que ouvi um comentador a falar disso e na ilegalidade de o Hamas estar a usar escudos humanos – suspeito que não volta a ser convidado, não seguiu a cartilha...

Último ponto, a quase agressão física e os insultos que sofreu a deputada Rita Matias do Chega numa Faculdade de Lisboa onde estava a distribuir panfletos, com berros de abaixo os fascistas e viva a democracia. Pelos vistos, os “filhotes da esquerda caviar”, mais conhecidos como climáxicos, acham que democracia significa ninguém se poder opor ao que dizem e fazem. Mais ainda, que eles têm toda a legalidade de cortar estradas e atacar edifícios mas o Chega “não tinha legitimidade para estar ali”. Imaginem as notícias e comentários da nossa comunicação social se isso tivesse acontecido com alguém do PCP, BE ou até do PS!

Para semana: Não podemos confundir...  É o que se ouve se há certos protestos, mas nunca se estes forem contra outros alvos

10
Nov23

109 - E haja eleições!

Luísa

Os acontecimentos desta semana levam-me, mais uma vez, a alterar o tema que tinha programado. Mas não podia, de modo algum, nada dizer perante a conjuntura atual.

Em primeiro lugar, não entendo o espanto que alguns mostraram por ministros importantes do (des)governo Costa terem sido indiciados por crimes de corrupção. Muito francamente, a escrita estava há meses na parede e só o mais total sentido de impunidade levou o nosso ex-PM a não se distanciar dos seus amigalhaços e a tentar salvar-se enquanto ainda ia a tempo... bom, talvez, pelos vistos a ferrugem tinha penetrado bem mais fundo do que se pensava.

Para mim, o único espanto foi o Ministério Público ter agido contra nomes chorudos do PS e, milagrosamente, sem fugas de informação! Sim, esse foi sem dúvida um verdadeiro milagre de Natal antecipado.

Gostei, em particular, da descontração desse homem honestíssimo que até mereceu ser o interlocutor do OE com Marcelo, o Sr. Galamba. Mas talvez o haxixe, o tal que é apenas ilegal, tenha algo a ver com isso... Já agora, alguém é capaz de me explicar quem é que esse senhor queria enganar com a camisa aberta e sem gravata, muito à “homem do povo”, mas com fatos de marca?

Passemos agora às opiniões dos vários partidos sobre o futuro imediato.

Para o PS tudo devia continuar como dantes, mudando-se o PM, claro, mas apenas porque ele se tinha demitido apesar de nada ter a ver com nada, como sempre foi, aliás, o seu hábito durante os últimos anos. Propuseram, até, como seu substituto, o SS, sim, o arruaceiro de serviço do partido e que tão “bom” e “isento” serviço tem prestado ao nosso país com presidente da AR.

O PCP e o PAN eram ferozmente contra eleições, apresentando inúmeras razões para essa sua atitude. Só que, cá para mim que ninguém nos ouve, acho que têm é medo de desaparecer de vez, ligados como estão à geringonça.

O BE parece que ainda não entendeu que vai a caminho do fosso e que está, na mente do povo, também totalmente ligado ao Costa e seus muchachos, daí querer eleições. Acho ótimo, com alguma sorte, desaparece também.

Já o PSD queria eleições, ou antes, o Sr. Montenegro era grande fã dessa opção. É que se houvesse um novo governo PS de transição, com eleições só daqui a quase um ano ou mais, já não estaria, certamente no poleiro e lá se ia a sua única oportunidade de ser PM.

O Chega e o IL têm, claro está, tudo a ganhar com nova campanha eleitoral, será mais uma tentativa de se afirmarem no palco político português, a sua atitude foi, pois, totalmente esperada e coerente.

Falemos, agora, da terceira parte desta peça que seria uma farsa se não fosse tão triste a imagem que dá do nosso país, isto para não falar das consequências internacionais e económicas. Refiro-me, claro está, ao senhor de Belém.

Adorei, adorei, adorei, isto para copiar uma frase de Recordações da Casa Amarela. Foi um belíssimo exemplo do “cá se fazem, cá se pagam”.

O dito senhor andou estes anos todos a engolir sapos do Costinha e a aparar-lhe o jogo “pela estabilidade do país”. Pois, valeu bem a pena, num ápice lá se foi tudo isso ao ar e, pelo que pudemos ver, sem o menor aviso prévio.

E de presidente das selfies e das viagens passou, em minutos, a presidente que tem de tomar a decisão mais grave que um PR português pode tomar e que é dissolver ou não a Assembleia da República.

E porque é que citei aquele ditado? Pois bem, lembram-se do governo de Santana Lopes e da sua eliminação pelo outro amigalhaço de Marcelo, o Sr. Sampaio, sem nenhuma razão válida? Sim, sem qualquer razão, acho que o “perigo de instabilidade” não convenceu ninguém, o Sr. Sampaio esteve simplesmente à espera que o PS tivesse um presidente não associado, pelo menos na mente popular, ao caso Casa Pia para avançar para eleições.

E qual foi a reação do então comentador Marcelo? Um aplauso de pé, porque “os portugueses não tinham votado em Santana para PM”. Para além disso me fazer uma certa confusão, que eu saiba o boletim de voto só tem nomes de partidos, há ainda o detalhe de o mesmo Marcelo ter acho ótima a ideia da geringonça, apesar de, aí sim, não termos votado no PS para governar o país.

Mas onde quero chegar é que agora, tantos anos depois, essa sua atitude ressurgiu para o queimar. Se aceitasse um novo governo PS, mesmo de transição, não haveria quem lhe lembrasse, alto e bom som, que “o povo não tinha votado no novo PM”. Alguém acha que o Ventura ficaria calado?

Mesmo assim, tentou fugir com o rabo à seringa, como se costuma dizer, convocando o Conselho de Estado. Atenção, numa situação grave como a que vivemos o dito Conselho deve ser consultado, supostamente é para isso que existe, apesar de a sua composição me fazer imensa confusão... Lídia Jorge?!!! O problema aqui é que Marcelo estava à espera de uma decisão contra eleições e, apesar de esta não ser vinculativa, citaria no seu discurso o respeito pela opinião das sumidades que o constituem, alinhando na não dissolução.

Grande azar, o resultado foi 8-8, teve, pois, de ser ele o único responsável pela decisão. Mesmo assim repare-se que deu o máximo de tempo possível ao PS para pôr a casa em ordem e, ao permitir a votação do OE antes da dissolução, garantiu que o partido culpado da crise pode meter à última hora todo o tipo de benesses no dito de modo a garantir os chamados votos cativos, nomeadamente reformados (do Estado) e funcionários públicos.

Seria mau não ter OE? Possivelmente, mas que tal garantir que a votação na especialidade não introduz modificações de peso? Ou, melhor ainda, exigir um OE mínimo, só com o suficiente para o país funcionar. É que, para além do que disse acima, o próximo governo, seja de que cor venha a ser, começará o seu mandato com o peso de despesas que não são, muito provavelmente, as que gostaria de fazer.

Só duas últimas notas.

Tenho falado várias vezes dos “peritos” e comentadores “profissionais” que nos enchem os ecrãs e que não acertam uma seja em que assunto for. E foi para mim um tremendo prazer vê-los a debaterem-se para tentar defender o indefensável, ou seja, a inocência e honradez dos acusados, e justificar não terem tido a menor suspeita do que iria acontecer. Isto fora os usuais cenários de catástrofe caso a AR fosse dissolvida.

Segundo, será que o Sr. Marcelo nunca ouviu falar de separação de poderes? Refiro-me, claro está, ao que disse sobre desejar que o MP seja rápido a bem da justiça e do bom nome das pessoas. É que se fosse o Zé da Esquina a dizê-lo, tudo bem, era uma opinião válida e justificada pela tremenda morosidade do que passa por justiça no nosso país. Mas vindo da boca do Presidente da República, bom, soa a pressão...

Para semana: Não podemos confundir...  É o que se ouve se há certos protestos, mas nunca se estes forem contra outros alvos

03
Nov23

108 - Já não há bom senso?

Luísa

Devido a alguns factos desta última semana decidi não fazer o tema anunciado e tratar de dois outros assuntos, Israel e o SNS.

Comecemos por Israel. Estou cada vez mais chocada com comentários que ouço um pouco por todo o lado, alguns vindos até de pessoas que conheço pessoalmente e que julgava detentoras de um mínimo de bom senso. O principal é que “Israel deve entregar os territórios ocupados, só assim haverá paz”, frase essa também muito usada por aquela “boa gente” que se manifesta na Europa a favor dos palestinianos. Só que, pelos vistos, andam distraídos e ainda não repararam que o principal “território ocupado” é... Israel!

Ou seja, para ter paz, Israel deve eliminar-se do mapa e, para fazer face à segunda exigência dos “ocupados”, obrigar os seus cidadãos a suicidarem-se em massa para que “não fique um único judeu naquela região”.

E se acham que exagero, aconselho-vos a ouvirem as entrevistas com o líder do Hamas, e não só, ainda ontem esteve na televisão a dizer precisamente isso, e, lembro, este movimento foi eleito para o governo dos territórios palestinianos precisamente com esta agenda.

Curiosamente, não vemos manifestações em massa a exigir a libertação dos reféns, apesar de alguns serem cidadãos europeus ou, no mínimo, com dupla nacionalidade. É que pelos vistos os “civis inocentes” de que tanto ouvimos falar não nascem todos iguais, os que foram raptados são maus, os que protegem os criminosos que os raptaram são bons.

E por falar em civis, não é estranho que comentadores e analistas passem a vida a falar em crimes de guerra por Israel atacar zonas civis mas que nada digam por o Hamas as usar como base para os seus ataques? Usar escudos humanos não é contra o direito internacional? Mais ainda, com tantos quilómetros de túneis, se o Hamas está tão preocupado com os “milhares” – números deles, lembro – de mulheres e crianças que estão a ser mortas, porque não lhes dão abrigo nos seus túneis? Ou porque não as encoraja a irem para o sul da Faixa de Gaza, onde não tem havido ataques? Pois...

E lá temos a ONU e esse Sr. Guterres com condenações – curioso, também eles nada disseram até agora sobre reféns e escudos humanos – e, claro a pedir milhões para ajuda humanitária, a serem entregues, claro está, ao Hamas como legítimo representante do povo palestiniano.

E, último detalhe, o hospital de Gaza está para entrar em rotura total há vários dias, mas afinal ainda está a funcionar, o seu pessoal até tem tempo para publicar nas redes sociais...

O que me leva ao segundo assunto, a saúde. Ou antes, ao caos em que se encontra e às negociações e finca-pé dos vários sindicatos de enfermeiros e médicos. Atendendo a que saem todos os dias notícias pavorosas sobre o que se passa nos hospitais e sobre o fecho de Urgências a torto e a direito, acham que é a altura melhor para falarem em salários, redução do horário de trabalho e carreiras? Que tal um pouco de bom senso na escolha da altura para negociar? Ou será que se querem aproveitar da confusão para insinuar que se vos derem tudo o que pedem a situação melhorará logo?

Francamente, considero isso um verdadeiro insulto a quem vê uma boa fatia do que tanto se esforça a ganhar ir sustentar toda essa pesadíssima máquina do SNS e sem receber nada em troca. Mas parece que não contamos para nada exceto ir abrindo os cordões à bolsa, cada vez mais vazia.

Adorei ouvir uma sindicalista falar da justeza da redução do horário de 40 para 35 horas semanais porque “queremos poder equilibrar vida profissional e pessoal”. E as horas que fazem no privado, em suplemento do horário oficial, essas não interferem com a vida pessoal?

Sim, é muito bonito quererem mais equilíbrio nas suas vidas. Mas sabem o que é que as pessoas que vos sustentam querem? Viver! Não é viver à grande ou com tempo livre, é, muito simplesmente, continuarem vivas.

Mais ainda, querem saber que se tiverem um problema de saúde ou se um seu familiar o tiver serão atendidos e bem tratados, em vez do que acontece agora que nem se sabe onde há uma Urgência aberta. Ou, se estiver para nascer um bebé, que haverá um sítio onde isso possa acontecer em segurança. Sim, o hospital de Gaza tem problemas, mas há uma guerra ali. Qual é a vossa desculpa?

O grande engano é a ideia de que precisamos de um Sistema Nacional de Saúde público. Não! Precisamos, isso sim, de um SNS que cumpra os seus deveres, independentemente de quem o faz. Ou seja, que tal o governo definir quanto paga por cada caso que vai às Urgências – uma tabela, claro, dependendo do que se passa – e por cada parto realizado e deixar que o utente escolha onde vai, seja público ou privado? Aposto que com esta comparticipação muitos, se não todos os hospitais privados abririam uma secção de Urgências, além do mais ajudariam a rentabilizar equipamento e instalações.

Mas isto é anátema para a nossa esquerda, não querem um SNS que funcione, querem apenas um que seja público. Já agora, que fatia do aumento anual de custos com a saúde se deve à roubalheira das carreiras? Sim, roubalheira, somos o único país que premeia pessoas – pessoas, não, funcionários públicos – por passarem anos a fazer sempre a mesma coisa.

E se realmente há falta de médicos ou se os atuais acham que estão mal no público e querem sair, à vontade, importem-se de outros países, esses, sim, são migrantes que nos interessam. Com controlo, claro, mas a Ordem dos Médicos teria um prazo curto para avaliar as suas habilitações – semanas e não meses ou anos. Aqui o grande argumento que tenho ouvido é que “muitos não falam português.” Pois, têm capacidade para tirar medicina e não conseguem aprender uma língua? E, como dizia um velhote algures numa zona interior onde puseram um médico “importado” que ainda mal falava a nossa língua, “quero lá saber o que ele fala, o que eu quero é ter médico”.

E o nosso governo, em vez de tentar, no mínimo, remediar o que não funciona, anda a gastar horas e horas a negociar com quem deixou o sistema chegar a este estado. Mas são funcionários públicos, ou seja, eleitores cativos da esquerda e, como tal, merecem todo o seu respeito e consideração.

É o que se chama ter o sentido das prioridades!

Para semana: Os impostos baixam...  Quem diria! E nem estamos em abril...

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