103 - Democracia
Concluídas as eleições na Madeira pareceu-me apropriado voltar a este tema, que já tratei anteriormente neste blogue, nomeadamente em Vivemos mesmo em democracia? e, indiretamente, em Novo dicionário precisa-se – Parte I e Novo dicionário precisa-se – Parte II. Infelizmente é um tema que nunca é demais tratar e pelas piores razões.
Comecemos, então, pelas eleições na Madeira. Não acompanhei a campanha eleitoral, aliás nunca o faço em detalhe, mesmo assim houve alguns detalhes caricatos como o candidato do PAN – ou do BE... – a dizer que tinham imenso apoio mas que as pessoas tinham medo de o dizer por receio de represálias! A sério? Num país em que a extrema esquerda é a dona da verdade e quem discordar de algo que diga é imediatamente apelidado de fascista, nazi, etc.?
Na noite das eleições acompanhei até certo ponto os resultados por várias razões. A primeira, a tremenda margem de erro das projeções – francamente, será que pagaram mesmo por esse brilharete? Segundo, para ver se o PSD/CDS tinha maioria absoluta, desejando, aqui para nós, que não a tivesse uma vez que queria ver o que faria nesse caso o Sr. Albuquerque – sabem, o tal que se demitiria se isso acontecesse. Terceiro, e mais importante para mim, para assistir aos malabarismos da nossa comunicação social caso os resultados não lhe agradassem.
Bom, quanto ao Sr. Albuquerque, enfim, devia ter adivinhado que um político daqueles não tem palavra. Pior ainda, chama-nos estúpidos ao afirmar que não foi isso que disse, foi mal interpretado, só se demitia se não conseguisse formar governo ou, última versão, “foi só uma tática de campanha”! Resumindo, um bom democrata! Ainda por cima com uma tal ganância de manter o tacho que até se alia à deputada do PAN, uma “inteligentíssima e culta” criatura, como podem ver nesta entrevista. Mas tudo bem, o importante foi traçar uma linha vermelha em relação ao Chega.
Passemos aos nossos jornalistas. Já falei deles anteriormente em Jornalismo ou Jornalixo, mas é “bom” ver que nada mudou. Ou se mudou foi para pior. Senão, vejamos.
O PS perdeu 40 % dos votos e 8 deputados. Mas isto só foi referido muito de passagem, quase por obrigação, sem comentários.
Em compensação, adivinhem quem foi o grande perdedor? Pois, aposto que adivinharam, o Chega! Curiosamente, passou de 619 para 12 028 votos e de 0 para 4 deputados, mas ei, foi a quarta força mais votada e não a terceira e não ia fazer parte de uma solução de governo – por isso, grande perdedor. Pois, a mim ficou-me a dúvida, será que quereriam governar com o Sr. Albuquerque? E o JPP, o tal terceiro mais votado? Não perde pela mesma razão?
Infelizmente, tudo isto não passa de um sintoma de algo bem mais grave que se passa um pouco por todo o Ocidente. Ou seja, o resultado de uma eleição só é “válido” (não no sentido legal, bem entendido) se for ganha por um partido ou pessoa considerados desejáveis. Caso contrário, a democracia está ameaçada, vem aí a ditadura, enfim, os mimos do costume.
Veja-se o caso bem recente de Itália. Como um dos poucos analistas credíveis que ainda nos restam antecipou, nunca mais ouvimos falar do que ali se passa – exceto agora quando o mau do governo “extremista de direita” quer ver se os migrantes que se dizem menores o são realmente. Mas se nos dermos ao trabalho de ir procurar notícias, descobrimos que a Sra. Meloni até tem tomado medidas económicas sensatas e algumas que até são favoritas da nossa esquerda, como taxar lucros extraordinários da banca. Mas é de direita, por isso tudo o que faz é mau e tem de ser ignorado.
Temos também o aumento do desprezo total pelo povo e pelas suas opiniões, com ameaças mais ou menos veladas de que o seu voto só contará se for para um “partido bom”. Sim, ameaças, no fundo todas essas afirmações de “nunca nos ligaremos ao Chega” são isso mesmo, dizer a muitos portugueses que o que pensam não conta para nada, que a sua opinião livremente expressa nas urnas é para deitar fora se votarem “mal”.
Já agora, não seria interessante incluir nos boletins de voto das legislativas uma perguntinha sobre coligações? Um boletim separado com PS e PSD e por baixo de cada um deles punha-se a lista dos outros partidos, com o respetivo quadradinho ao lado, para que os eleitores pudessem votar em quem gostariam de ver numa coligação governativa... confesso que morro de curiosidade para ver esses resultados, era capaz de haver grandes surpresas!
Enfim, temos um governo que não governa, ministros que nunca sabem de nada, inúmero pessoal ministerial envolvido em todo o tipo de negócios escuros, um presidente que só se cala quando devia falar, mas a ameaça à democracia está na chamada extrema direita? E não é curioso que esse termo abranja tudo o que não seja centro esquerda – ou considerado como tal – mas que nunca se ouça falar de extrema esquerda ou de esquerda radical?
Só um último ponto. Ouve-se muito dizer que uma das razões de a direita ser um perigo é que tenta tudo para ser poder, para depois governar em ditadura. A sério? Sem voltarmos à muito nossa geringonça, por acaso já repararam no que se está a passar em Espanha, com o Sánchez disposto a aliar-se a extremistas que nem sequer reconhecem a existência da Espanha só para ficar no poleiro? Mas tudo bem, é socialista, ou seja, é um bom “democrata”.
Para semana: O ativismo climático Sim, o dos protestos, tinta atirada, etc.
