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Luísa Opina

Neste blogue comentarei temas genéricos da nossa sociedade. Haverá um novo texto todas as sextas-feiras

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Luísa Opina

25
Ago23

98 - Hipocrisias 2

Luísa

Neste post irei um pouco “ao sabor da corrente”, mencionando casos diversos recentes que demonstram, na minha opinião, a mais acabada hipocrisia que vai grassando por estes lados.

Para começar, a petição para impedir de dar à nova ponte pedonal sobre o Rio Trancão o nome do Cardeal Dom Manuel Clemente por ser “ofensivo para com as vítimas dos abusos sexuais da Igreja”. Começo por dizer que não simpatizo, nem nunca simpatizei com este senhor, não estou, pois, a defender que se deva dar ou não dar o seu nome seja ao que for.

Mas analisemos um pouco o argumento do “pode ser ofensivo”. Quantas ruas Karl Marx existem país fora? A sua existência não ofende as muitas vítimas do comunismo de que, lembremos, ele é o pai? O mesmo se pode dizer das Ruas Lenine... E que me dizem do nome Otelo Saraiva de Carvalho? Face ao que esse senhor fez logo após o 25 de abril, não acham que haverá muitos ofendidos? Pior ainda, quem vive numa rua não tem outro remédio senão saber-lhe o nome, mesmo que o considere profundamente ofensivo. Mas... uma ponte? Quantos lhes sabem os nomes? Exceto as “grandes”, claro, como a 25 de Abril ou a da Arrábida, por exemplo.

E se o pessoal da “igualdade” se lembrar de estender a sua campanha à toponímia das nossas ruas, bom, estamos feitos ao bife. É que em Lisboa, por exemplo, das 1952 ruas com nomes de pessoas, só 207 são de mulheres!

Para finalizar este assunto, deixo-vos um pequeno exercício. Quando circularem pela vossa terra – ou consultarem um mapa – prestem atenção aos nomes de ruas e avenidas e vão tomando nota dos que “ofendem a vossa sensibilidade”. Bom, isto para já não falar de alguns nomes de ruelas ou zonas antigas... ou até de povoações.

Passemos agora à polémica do abate dos quase 2000 sobreiros em Sines por causa da construção de uma central eólica. A minha primeira estranheza é esta, os supostos ambientalistas deste país (e não só) querem, não, exigem que a muito curto prazo fiquemos apenas dependentes de energias renováveis, nomeadamente a eólica e a solar. Será que não lhes ocorre que, para instalarmos uma produção a sério, vai ser preciso destruir uma parte do que está nas zonas onde vão ser instaladas essas novas centrais? E lembro que são contra a sua instalação ao largo da nossa costa porque afeta o fundo marinho, os peixinhos, enfim, tudo.

Sim, um sobreiro demora 25 anos – e não 60, como corre por aí – até se poder extrair a primeira cortiça, podendo viver até aos 200 com descortiçamentos de 9 em 9 anos. Já agora, experiências recentes com irrigação destas árvores permite reduzir o período inicial para entre 8 e 10 anos.

Sendo assim, a plantação de novos sobreiros em substituição dos abatidos garante a continuação de cortiça de qualidade... Ou acham que os privados vão investir fortemente no plantio de novos exemplares nas suas pequenas propriedades?

Mas para mim a grande hipocrisia é esta: chora-se baba e ranho por estes sobreiros que, repito, vão dar lugar a outros noutra zona próxima, mas nada se disse quando a China, irritada com a resistência tibetana, mandou desflorestar os Himalaias naquela zona, afetando gravemente o comportamento das monções e provocando grandes cheias, nomeadamente no Bangladesh.

Mas tudo bem, “ambientalista” que se preze é de esquerda, perdão, de extrema esquerda, e nunca se lembraria de criticar nada que um dos seus países ídolos faça. Já agora, para evitar reações às aspas aqui usadas, para mim há dois tipos de ambientalistas: os que o são de facto, defendendo medidas com base em estudos e dados devidamente abalizados e criticando o que tem de ser criticado, sem olhar a quem o faz; e os das aspas, que o são só da boca para fora, vão ao sabor das últimas “modas” sem nunca se informarem devidamente e, acima de tudo, só criticam atos feitos por certas pessoas ou países.

Vamos agora aos artistas.

Começo com esse senhor Bordalo II, que se divertiu a vandalizar a placa indicadora do Campo Pequeno “como protesto contra as touradas”.  Diz-se um ativista anticapitalismo mas, curiosamente, vende as suas esculturas a grandes empresas por valores que chegam aos 72 mil euros!  Pois é, grande coerência. Usa, também, lixo como matéria-prima, como protesto contra o consumismo. Mas não faz mal criar esse mesmo lixo? E já agora, simples curiosidade, repôs a placa danificada? Foi multado? Ou por ser “artista” está acima da lei?

E que me dizem da petição, curiosamente patrocinada por uma galeria de arte de Lisboa, que pede a remoção imediata de esculturas instaladas na Praça do Município e em Belém? De acordo com a dita, as primeiras denotam “ignorância e insensibilidade, provincianismo e incompetência” e as segundas “literalidade, incompetência plástica e escultórica e a capacidade comum de afetarem negativamente o espaço público de enorme qualidade urbana.”

Não tenho opinião formada sobre estas peças, mas acho-as, francamente, bem melhores do que a do topo do Parque Eduardo VII, por exemplo, comprada a preço de ouro e que, muito francamente, foi (e é) bastante contestada.

Para mim, a grande questão é esta: os assinantes da petição são os donos do cânone artístico? Os ditadores do que é “bom” e estético? Ou será que o problema é outro, ou seja, os autores destas obras não pertencem ao seu grupinho? É que quando o são, é sempre uma aquisição mais do que válida e uma obra de grande mérito!

Para semana: Esquizofrenia Somos um país pioneiro nalgumas coisas e súper atrasados noutras

18
Ago23

97 - Vem aí a ebulição

Luísa

Já falei anteriormente nas “previsões” climáticas no post O céu está a cair, mas decidi voltar ao assunto perante as declarações recentes do tão douto Sr. Guterres de que a Terra está a entrar na era da ebulição! E, claro está, a culpa é toda da industrialização e da chamada Civilização Ocidental.

Vou começar pelo aumento de dióxido de carbono na atmosfera. Não sei se sabem mas cada ser humano emite 1 kg dele todos os dias, desde que nasce até que morre, pelo simples facto de existir. Ora acontece que de 1800 a 2015 passámos de 910 milhões de pessoas a 7,8 mil milhões, todas elas a lançarem alegremente esse gás de estufa para a atmosfera – ou seja, um “pequenino” aumento de 857 %! E, pequeno detalhe, esse aumento populacional não se deveu à Europa e a sua grande fatia teve lugar nas duas / três últimas décadas...

Sendo assim, como é que pretendem, exatamente, voltar aos níveis pré-industriais? Matando pessoas? Pois, o autêntico disparo da população mundial é o chamado “elefante na sala”, todos sabem que é um problema mas ninguém quer dizer nada porque pode ser visto como racismo.

Mas voltemos às “previsões”. Acho extremamente curioso que desde 1970 já passámos por “estamos a entrar numa nova Idade do Gelo” logo seguido do famosíssimo “aquecimento global”, depois vieram as “alterações climáticas” e, finalmente – bom, para já, veremos a moda que se segue – a “ebulição”.

E esperam que continuemos a acreditar em tudo o que nos dizem, apesar de até agora nada ter batido certo? Recordo aqui duas previsões de 2008, ou seja, de há menos de 20 anos: não haveria gelo no Ártico já em 2013 e a Inglaterra teria com um clima siberiano em 2020 – nada mau, para a ebulição!

O grande problema em tudo isto é que climatólogos sérios têm mais hipóteses de serem ouvidos se estudarem o clima de Marte ou de Vénus com base nos dados que a NASA tem recolhido. É que se fizerem estudos a sério na Terra e os resultados não indicarem uma catástrofe iminente devida a aquecimento... azar, nem publicados são.

E não nos esqueçamos de que o clima do nosso planeta é um daqueles temas em que quanto mais sabemos mais chegamos à conclusão de que nada (ou pouco) sabemos. Mas tentem dizer isso ao Sr. Guterres e aos outros donos da verdade, são logo apodados de “negacionistas das alterações climáticas”.

Diga-se de passagem, é uma expressão que me irrita imenso pela ignorância e desprezo que demonstra. Eu nego a “ebulição” e todos esses discursos de pânico mas não as alterações climáticas. E como eu, qualquer pessoa que saiba um pouco de história. Por exemplo, sabiam que entre 10 000 e 6000 anos atrás o deserto do Sara tinha pastos luxuriantes, cursos de água, hipopótamos e todo o tipo de antílopes, para além de criação de gado? Pois, tudo graças ao fim da última Idade do Gelo e ao derretimento dos glaciares.

Mas tentem dizê-lo aos proponentes de “temos de salvar o planeta!” Já agora, esta é também uma frase ridícula. Não nos esqueçamos de que a Terra não tinha, inicialmente, oxigénio na sua atmosfera e que o ar que atualmente respiramos foi de facto criado pelos primeiros organismos, que acabaram por morrer ou por ter se transformar para continuarem a existir. Mais ainda, os mamíferos, a que pertencemos, só conseguiram progredir e proliferar graças ao desaparecimento dos dinossauros. Ou seja, o planeta continuará feliz e contente da vida até o Sol o matar, não precisa, pois, de ser salvo, nós é que poderemos não estar cá para ver. Mas, quem sabe que seres maravilhosos possam vir a seguir?

E para quem aponta as atuais secas como prova do aquecimento provocado pela industrialização, bom, há climatólogos que estudam o clima do passado com base nos chamados indicadores indiretos, que vão desde os anéis das árvores a depósitos de sementes no solo e vários outros. Pois bem, houve duas grandes secas nos atuais Estados Unidos, uma entre 1276 e 1313 no Nebrasca e outra de 1276 a 1299 no Colorado, que levaram à fuga das populações dessas áreas.

Ou façam uma pesquisa por “Período Quente Medieval”, entre 1000 e 1200, época em que os Vikings chegaram à Gronelândia – pois, “terra verde” não é bem o que nos vem à mente quando vemos imagens dessa ilha. Foi seguido, curiosamente, de dois séculos extremamente frios entre 1500 e 1700 – hum... talvez seja bom tomarmos nota disto.

A grande questão é esta, sim, o clima está a mudar, mas sempre o fez, não havia era registos. O que torna absurdo ouvir cientistas dizerem “em 4000 anos nunca o nível do mar esteve tão alto”... a sério? Ou o muito habitual, “nunca houve temperaturas tão altas” – esquecendo-se de acrescentar, “desde que há registos”, algo que existe há pouco mais de 100 anos em muitos países europeus e noutros continentes são ainda mais recentes.

Enfim, na minha opinião devíamos era dedicarmo-nos a estudar este nosso planeta maravilhoso como deve ser, sem politiquices nem restrições de qualquer tipo, esforçando-nos, isso sim, por tentar entender, mas entender a sério, o seu funcionamento, em vez de embarcarmos em teorias cada vez mais histéricas cujo único objetivo parece ser a destruição da economia Ocidental e do nosso modo de vida. E em vez de condenar a ciência e a tecnologia como os grandes culpados de tudo e mais alguma coisa, que tal tentar arranjar soluções avançadas, do século XXI, para os nossos problemas relacionados com o clima?

Pois, só que isso dá trabalho e exige que se aposte em investigadores a sério e é, francamente, muito mais fácil e compensador arranjar um novo “perigo”.

Para semana: Hipocrisias 2 A propósito de ambientalistas, artistas e não só...

11
Ago23

96 - Falemos da Igreja Católica

Luísa

Agora que as Jornadas Mundiais da Juventude – e a visita do Papa – já terminaram é altura de eu falar da Igreja Católica e, acima de tudo, dos seus críticos e opositores. Pequeno detalhe para quem me lê, não pratico a religião cristã há já algumas décadas.

Uma coisa que sempre me intrigou é o modo como todos os que se acham “gente” em Portugal pensam ter o direito de criticar tudo e mais alguma coisa no cristianismo em geral e na Igreja Católica em particular, abstendo-se, claro, muito virtuosamente, de fazer o mesmo em relação a outras religiões e às suas respetivas instituições. Já agora, por “gente” quero dizer os chamados influenciadores, políticos, intelectuais, jornalistas, enfim, os que tudo fazem para moldar a seu gosto a opinião pública.

Se o Papa diz algo, bom, não era isso que devia ter dito mas sim aquilo. Saiu alguma indicação religiosa? Pois bem, é pouco ou errado ou ambas as coisas. Será que já lhes ocorreu que essas frases e orientações se dirigem aos crentes e apenas a estes?

O mais interessante é que acrescentam sempre que não são católicos praticantes... sim, sei que disse o mesmo, a diferença é que eu quando critico os efeitos nefastos de uma religião na sociedade faço-o em relação a todas, com ênfase nas que ainda são “religiões de estado”, digamos, em que os seus ditames formam – ou influenciam grandemente – as leis desse país com efeitos nefastos para a liberdade e direitos individuais.

A principal crítica que se ouve é que a Igreja devia ser mais liberal, devia abrir-se mais e ser bem mais tolerante. A sério?

Já repararam como as seitas cristãs – e não só – estão em crescimento? Todas elas com regras rígidas sobre tudo e mais alguma coisa e punições graves para quem as quebre? Isto para não falar em igrejas cristãs alternativas, também elas imensamente rígidas e bem mais intolerantes do que a Católica, que atraem milhões em todo o mundo e são uma autêntica máquina de fazer dinheiro. E sabiam que há jovens de ambos os sexos que se convertem ao Islão porque ali “as regras para a vida são claras”?

O problema, para mim, é que quando ouço falar em abertura e liberalização da Igreja o que também ouço é o texto subjacente, ou seja, a sua perda de significado e eventual desaparecimento.

Talvez seja por isso que as JMJ beliscaram tanta gente. Que ideia mais parva, tantos milhares de jovens, vindos de todo o mundo, não para destruir, insultar, queimar e odiar mas para se juntarem em paz em nome da religião! A irritação foi tal que até houve uma senhora jornalista que dedicou horas a tentar descobrir se cabiam milhão e meio de pessoas na Parque Tejo!

O que me leva ao assunto seguinte, as atitudes LGBTQIA+ (são cada vez mais letras, já não há pachorra para decorar tudo) durante este período. Tivemos, por exemplo, um jovem de bandeira arco-íris no Parque Eduardo VII, no meio de bandeiras de inúmeros países, porque estava ali “a representar o seu povo”. Já agora, não é curioso que num espaço tão a abarrotar de gente jornalistas tenham conseguido chegar até ele para o entrevistarem?

Há ainda o caso da Missa LGBTQIA+ que terá sido interrompida por “manifestantes ultracatólicos”. O meu primeiro reparo é que continuo sem entender o que é uma “Missa LGBTQIA+”. É que se estes são os únicos que lhe podem assistir, então trata-se de um claro caso de discriminação e devia ser devidamente investigado. Mas é claro que o nosso Ministério Público está é a investigar a suposta invasão de um espaço que até é público e o Governo veio pedir respeito – curiosamente, quando o caso é ao contrário, ninguém investiga nada e nem se fala em ter respeito.

E já repararam que este movimento só se manifesta contra a Igreja Católica? O Islão nem a homossexualidade reconhece, a menos que seja para condenar à morte – e de modos bem cruéis – quem dela seja acusado. Mas já viram algum protesto junto a uma mesquita? Diga-se de passagem, eu até pagava bom dinheiro para ver alguém a irromper na de Lisboa de bandeira arco-íris alçada!

Outra acusação muito frequente à Igreja é ser “antiquada”, isto quando não afirmam abertamente que a religião (atenção, só a católica) passou de modo e só é boa para velhotas beatas. Daí fazer-lhes imensa confusão verem jovens a irem à missa sem ser com os pais ou a participarem em retiros ou outras atividades religiosas. E se caem na asneira de afirmar que cumprem os seus preceitos, sobretudo no que diz respeito a sexo...

E agora, o elefante na sala, os abusos sexuais da Igreja. Já dediquei um post a este tema, A pedofilia na Igreja, por isso não me vou alargar. Só acho curioso que precisamente na semana em que um grupo de 300 pagou do seu bolso um cartaz em Oeiras (porquê aqui?) a denunciar os tais abusos li que um professor liceal tinha sido suspenso por abusar de 91 alunas!

E não é caso único, nos últimos tempos têm sido uns atrás dos outros, todos envolvendo professores ou treinadores, sem esquecer que a PJ recebe num ano mais queixas do que a tão isenta Comissão de Investigação recebeu em relação a um período de décadas. E isto sem contar que se trata de casos atuais, em que as vítimas ainda estão, muitas vezes, nessa triste situação.

Para terminar, o sempre popular argumento de que a Igreja devia acabar com o celibato dos padres porque isso é contranatura – pequeno detalhe, o “A” de LGBTQIA+ significa assexual – e isso leva à pedofilia. Pois, é óbvio que os muitos pais que abusam das filhas, filhos ou ambos praticam celibato. Mais ainda, ao contrário do que se passava outrora, em que ir para padre era muitas vezes o destino de filhos demasiado fracos para a agricultura, entrar para o sacerdócio é agora uma profissão que exige anos de estudo e de preparação. E a porta está sempre aberta para quem mudar de ideias.

Uma última questão, como se exigiu que a Igreja pedisse – e continue a pedir, indefinidamente – desculpa pelos abusos de menores, será que podemos pedir o mesmo à direção das escolas com professores pedófilos e aos respetivos sindicatos? E se for uma escola pública, ao Ministro da Educação e ao Governo em geral? É que acho muito estranho que o abuso de 91 alunas liceais tivesse passado totalmente despercebido...

Resumindo, as pessoas são livres de criticarem e de protestarem, mas não se o fizerem apenas quase por reflexo involuntário e apenas quando se trata de um certo alvo de estimação, ignorando todos os outros, muitos deles bem piores.

Para semana: Vem aí a ebulição! Pelo menos é o que diz o muito douto Sr. Guterres...

04
Ago23

95 - Desporto feminino

Luísa

Apesar da inspiração para este post ter vindo do Mundial Feminino de Futebol, ainda a decorrer, pouco falarei sobre a nossa seleção. Pessoalmente acho que estiveram muito bem no grupo mais difícil da primeira fase, mas cada um é livre de opinar à sua vontade. Limitar-me-ei a dizer que fiquei chocada com alguns comentários que li, nomeadamente um que lhes chamava, e parafraseio a segunda parte, “um grupo de sopeiras a divertir o Zé Povinho”. Francamente, mereciam bem melhor!

Mas passemos ao desporto feminino.

Atualmente está muito na moda a exigência de equiparação entre atletas masculinos e femininos em termos monetários, curiosamente da parte de muitos que acham perfeitamente normal, desejável, até, ter pessoas transgénero a competir em provas femininas – mantendo-me no futebol, sabiam que em 2015 a seleção do Irão incluía 8 homens com o pretexto de que estavam em transição, isto num país em que tal é proibido?

Há desportos – e países – em que essa equiparação forçada até pode ser justificada, depende muito do estado de evolução em que se encontram. É que sou contra equiparações às cegas, só servem para descredibilizar os esforços feminino e criar más vontades.

Tal como sou contra a exigência por parte do nosso Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol de passar o salário mínimo das jogadoras da primeira liga dos atuais 685 euros para 2280. E porquê? Bom, atualmente, só 3 das 16 equipas são totalmente profissionais, havendo no país um total de 175 futebolistas nestas condições (as restantes são semiprofissionais ou amadoras). Ora perante um aumento deste calibre, incomportável para muitos clubes, aposto que o seu número não irá aumentar num futuro próximo, para grande prejuízo de todas as jogadoras.

Na minha opinião, se queremos fazer progredir o futebol feminino em particular e o desporto feminino em geral, devíamos, sim, virar-nos mais para o seu acesso ao maior número possível de candidatas a atletas e tentar reforçar as suas receitas.

Comecemos por estas. As Federações – e não só – poderiam fazer um esforço para cativar patrocínios para equipas femininas, sejam de futebol, basquetebol ou qualquer outra modalidade, com ênfase das que estão em desportos mais recentes e menos divulgados. E se o Governo ajudasse um pouco ao permitir que uma parte desses contributos pudesse ser abatido nos impostos desses patrocinadores, pois bem, haveria por certo muitos mais.

Outra boa fonte financeira e de publicidade de todos os setores desportivos está nas transmissões televisivas. Bem sei que se a opção do espectador for entre jogos da 1.ª liga masculina ou da correspondente feminina, bom, esta ficará esquecida. Mas podia evitar-se isso escolhendo dias e horas para os jogos em que não haja concorrência direta e divulgando-os devidamente. E como nem todos podem ver desporto em canais pagos, que tal definir a transmissão de alguns em canal aberto?

Mas penso que o mais importante seria aumentar o número de atletas e, acima de tudo, modificar a ideia que se faz destes desportos femininos, vistos por muitos como simples cópia barata e sem o menor interesse. Só que não é bem assim. Por exemplo, a primeira vez que vi futebol feminino foi nos Jogos Olímpicos de Pequim de 2008. E confesso foi uma surpresa muitíssimo agradável pela sua qualidade – é que jogavam futebol e não uma misto de vale tudo em faltas e simulações como, infelizmente, é cada vez mais habitual no setor masculino. Ou seja, talvez por ser uma modalidade no seu início, joga-se a sério.

Continuando com o Mundial Feminino, surgiu umas semanas antes um anúncio televisivo em que se via um pai fanático de futebol que ficou arrasado por ter tido uma filha. Foi ignorando todos os seus feitos nessa área até ela passar a jogar na seleção nacional. Pois bem, acho que reflete bem uma parte do problema, um pai tem mais tendência de ensinar e praticar este tipo de desportos com um filho do que com uma filha.

Mas este anúncio só conta parte da história, é que muitas vezes a maior parte dos comentários adversos e travões à prática de uma modalidade destas vêm precisamente das mães e outras familiares femininas e das colegas de escola, nomeadamente por serem consideradas mais “violentas” e menos femininas.

Ora isto só muda com uma alteração radical de mentalidades que, como bem sabemos, não é nada fácil de conseguir. Mas penso que um passo na direção certa viria de disponibilizar acesso a estes desportos em tenra idade. É que nessa fase as crianças ainda não ligam muito a opiniões e os pais não se importam uma vez que... são crianças.

Um modo de o conseguir seria disponibilizar ginásios escolares e campos de treino de clubes a sessões de divulgação e treino abertas a todos, rapazes e raparigas. Acho que não há nenhuma razão para não treinarem juntos até uma certa idade, digamos, 10-12 anos. Já agora, o mesmo se aplica às academias dos clubes e às criadas por alguns jogadores de futebol e que só estão abertas a rapazes. E se o Ronaldo me está a ouvir, que tal apoiar academias e clubes secundários que tenham equipas femininas? É que com três filhas, mesmo que estas não gostem de desporto, só lhe ficaria bem...

E quando digo “sessões abertas a todos”, é mesmo a todos os que apareçam e queiram participar. É que nunca se sabe se o que começou por brincadeira não acaba por revelar um talento inato para aquele desporto, a ser acarinhado e educado em sessões de treino mais restritas.

É claro que tudo isto custa dinheiro, mesmo que os “treinadores” da fase aberta possam ser amadores – ou até pais ou outros familiares. Mas há a manutenção dos campos e ginásios e outras despesas com o próprio desporto, como o equipamento mínimo necessário (bolas e não só). Pois bem, todos sabemos que alguns desportos, nomeadamente o futebol masculino, geram milhões em receitas diretas e também indiretas, milhões esses sujeitos a impostos. Que tal canalizar uma pequenina parte para incentivar o desporto de jovens?

E outra pequenina fatia desse chorudo bolo para ajudar clubes locais a criarem e manterem equipas femininas em vários escalões etários? É que quanto maior for a base de que se parte maior é a qualidade das atletas que chegam ao topo e maior a probabilidade de atraírem receitas de bilheteira e outras, como as de publicidade e transmissão. Sem contar que muitas atletas implicam muitos familiares e amigos da família que certamente se começarão a interessar, em maior ou menor grau, pelo desporto em questão.

Acho, muito sinceramente, que tudo isto faria bem mais pelo desporto feminino do que as exigências que se ouvem por aí.

Para semana: Falemos da Igreja Católica. A propósito da JMJ... e não só.

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