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Luísa Opina

Neste blogue comentarei temas genéricos da nossa sociedade. Haverá um novo texto todas as sextas-feiras

Neste blogue comentarei temas genéricos da nossa sociedade. Haverá um novo texto todas as sextas-feiras

Luísa Opina

28
Jul23

94 - E são férias

Luísa

O post desta semana é um pouco mais “leve”, é que como o próprio título indica... são férias!

Sem querer remoer o passado, começo por lembrar que o conceito atual de férias é relativamente recente. Sim, sempre houve férias escolares, mas para quem trabalhava eram muitas vezes apenas uns dias passados sem ir ao trabalho. Mas atualmente quem não consegue ir passar esse tempo fora de casa, seja numa praia ou no estrangeiro, sente-se lesado e miserável.

Não tenho nada contra a verdadeira “migração” anual dos meses de julho e agosto, mas dou comigo a pensar se é feita por vontade própria e prazer ou quase por um sentido de obrigação.

Passo a explicar.

Vivemos, infelizmente, cada vez mais numa sociedade de “o que vale é parecer” e de “ir na onda”. Ora está convencionado que as férias de verão, para o serem, devem ser passadas numa praia conhecida e longe de casa – a única exceção seria uma viagem a outro país.

Se é do que realmente, gosta, tudo bem. Mas... será verdade para todos? Ou muitos fazem-no porque ficar em casa – ou na sua terra – não dá a sensação de férias? Ou, pior ainda, porque ficam a pensar no que dirão amigos, colegas (deles e dos filhos) e vizinhos? E lá gastam um dinheirão para passarem esse período de repouso no meio de multidões, atropelos e ruído, isto quando não se endividam para o fazer – lembram-se da célebre campanha “viaje agora e comece a pagar quando voltar”?

E o que fazem durante esse período de lazer? Pois bem, o mesmo que todos à sua volta. Se optaram por uma praia, como a maioria, sol, mar (bom, muitos nem chegam a molhar os pés), comer e pouco mais. Se viajam, o mais provável é terem escolhido um destino de praia em que fazem exatamente o mesmo.

Ora eu acho que já é altura de repensarmos um pouco o nosso conceito de férias. Que tal mudar a expressão “período sem fazer nada” para “período a fazer algo diferente”? Se, por exemplo, trabalha num escritório, que tal experimentar algumas atividades ao ar livre? Sim, a praia é ao ar livre, mas não é bem uma atividade... Se, por outro lado, tem um emprego mais manual, digamos, porque não aproveitar as férias para aprender algo novo? E para uma mudança completa, algo que até nem tenha a ver com a sua profissão.

Se quer mesmo mudar de ares, porque não uma verdadeira mudança? Ou seja, se vive na costa, uns dias passados no interior do país. E se é do interior, praia, mas em vez dos destinos mais badalados, que tal tentar encontrar um cantinho ainda pouco conhecido? O mar está lá à mesma, será mais barato e não estará rodeado de multidões.

Uma outra opção é ficar, simplesmente, em casa. Mas atenção, não me refiro a passar os dias ali dentro, com uma rotina quase habitual exceto a ida para o emprego. Não, a casa seria apenas o poiso noturno.

E em que passar os dias, perguntarão? Pois bem, quantos conhecem verdadeiramente a terra onde vivem? A menos que seja uma povoação muito pequena, arrisco-me a dizer que quase nenhuns? E se lhe acrescentarmos os arredores num raio suficientemente curto para se poder vir dormir a casa, pois bem, não falta que ver e fazer. E quanto a refeições, apesar de muitos sítios fecharem neste período, não faltam restaurantes, cafés e outros estabelecimentos que certamente não conhece. Quem sabe, poderá até descobrir uma joia escondida! Isto seria levar ao máximo uma outra campanha, “vá para fora cá dentro!”

Para além de ser uma distração e algo diferente do seu dia-a-dia, já pensou em quanto pode poupar por não ir para um hotel na época alta? Poderá, até, pôr algum desse dinheiro de parte para aquela grande viagem que sempre quis fazer mas que é demasiado cara.

Já agora, se não tem filhos em idade escolar, já pensou em mudar a época em que tira férias? Há alturas do ano bem mais agradáveis – uma pequena nota pessoal, outubro é o meu mês favorito em Portugal – e que atraem muito menos gente. Por isso, a menos que seja fanático de praia – e no nosso país estas são viáveis uma boa parte do ano – ou trabalhe numa daquelas empresas que fecham para férias, pense nisso muito a sério.

E se tem filhos em idade escolar e uma solução para o seu acompanhamento no “excedente” das férias deles, que tal ver se pode alargar esse apoio um pouco mais e dividir as suas férias por duas épocas do ano?

Um último tema, as férias também podem ser uma boa oportunidade para olhar à volta e ver se podemos ser úteis aos outros. Sabem, o familiar que não sai de casa e que nunca visitamos por falta de tempo. Aquele vizinho idoso com quem falamos sempre a correr porque estamos perenemente atrasados. Os telefonemas a amigos e família que adiamos porque há outros afazeres que nos chamam...

E que tal o voluntariado? Há inúmeros programas para jovens, em Portugal e no estrangeiro, pode ser uma boa opção para os seus filhos adolescentes e é, sem dúvida, mais saudável e útil do que meses a fio de farra e noitadas.

Mas também o há para adultos, voluntariado em época de férias e até opções para fazer em família. Aqui ficam alguns links:

Voluntariado nas férias

https://blog.topatlantico.pt/experiencias/fazer-voluntariado-enquanto-vai-de-ferias-porque-nao

Organizações de voluntariado em Portugal

https://portugalvoluntario.pt/cs2i/organizations-list?dswid=3716

Voluntariado em família

https://www.sociomotiva.com/pt-BR/pages/50701661-3a30-4a53-a86c-2cb98ef66729

Oportunidades de voluntariado (Portugal)

https://bolsadovoluntariado.pt/pt-BR/oportunidades

Já agora, se as suas férias são passadas noutro país, não se limite a passar esse tempo parado sem fazer nada. Tente conhecer um pouco da região e dos seus usos e costumes. E, mantendo o tema do voluntariado, ver se há algo que possa fazer pelas comunidades locais. Mas informe-se devidamente, é que infelizmente há muita aldrabice mundo fora.

Para semana: Desporto feminino. A propósito do mundial de futebol

21
Jul23

93 - É censura

Luísa

Tivemos recentemente o caso altamente badalado do chamado “cartoon do polícia”. Para os mais distraídos, vê-se um polícia a disparar uma pistola e depois vemos os resultados: três alvos, um de cor branca, outro levemente castanho e outro bem escurinho. Pois bem, o alvo branco não tem um único acerto, o pouco tingido, digamos, tem alguns (poucos) e o alvo escuro está cheio deles.

A interpretação mais comum que se ouviu é que “expressa a realidade”. Pois, só um pequeno detalhe, a frase correta devia ser “expressa a realidade tal como é transmitida pelos jornalistas. É que andamos dias a fio a ler e a ouvir notícias quando um polícia mata um não branco, mas se dispara contra brancos... não é notícia de primeira página nem de abertura de noticiários e morre prontamente.

Acham que não tenho razão? Quantos ouviram falar de Justine Damond, uma americana morta a tiro por um polícia de origem somali quando ligou para o 112 a comunicar uma ataque a uma mulher numa ruela junto à sua casa? Quando o carro da polícia chegou, ela dirigiu-se a ele de roupão de verão e foi prontamente baleada e morta. Mas não foi notícia cá e mesmo nos EUA este caso quase passou despercebido.

Mas divago, a intenção deste post é falar das reações ao cartoon.

A polícia ficou indignada, como seria de esperar, e foi prontamente condenada por isso. Mas o mais interessante foi ouvir dizer que as pessoas que estavam contra o dito cartoon eram de extrema direita e a favor da censura! Ainda mais interessante foi ver os mesmos que, a propósito da caricatura do nosso “estimadíssimo” Sr. Costa (lembram-se, a do “é racismo”!) diziam que era péssima, que nunca devia ter visto a luz do dia, que a reação do PM era totalmente compreensível, virem agora defender com unhas e dentes o dito cartoon com o pretexto de que é “liberdade de expressão”.

Pois bem, senhores jornalistas tão liberais, aqui vão duas propostas de cartoons sobre a vossa profissão.

No primeiro, vemos numa primeira imagem um motim na rua de uma cidade, vandalismo, carros queimados, violência de todos os tipos. A segunda imagem mostra o mesmo mas mais de cima, vendo-se claramente jornalistas – com a respetiva placa ao peito – a deitarem gasolina para o que se passa lá em baixo.

No segundo, começamos por ver um jornalista a empunhar todo ufano um artigo em que bate forte e feio num determinado partido. A imagem seguinte foca-o mais de perto, vendo-se claramente meio a sair do bolso um cartão de inscrito no partido oposto.

Que tal? O quê, não gostam? Estão indignados com as acusações aqui subjacentes? Então quando vos diz respeito a sacrossanta liberdade de expressão já não vale?

Já falei de censura em Novo dicionário precisa-se - Parte 1 e de liberdade de expressão em O mito da liberdade de expressão. Volto repetidamente a este assunto por duas razões. Uma, incomoda-me qualquer tentativa de calar as pessoas. E dois, incomoda-me bem mais a hipocrisia de quem o faz em certas circunstâncias e berra e barafusta noutras.

Um bom exemplo disto é o que se passa com livros. Ouvi recentemente um comentário muito indignado porque algures (não em Portugal) uma organização local tinha querido banir da biblioteca o livro Orlando de Virgínia Woolf por retratar o que hoje veríamos como um transexual. Estranhamente, nunca vi protestos pelos muitos livros banidos de bibliotecas escolares (e não só) nos EUA por diversas razões – por exemplo, Tom Sawyer, porque às tantas aparece o termo “nigger”, muito usado na época em que foi escrito.

Ah, mas essa é uma boa razão, pode ferir as sensibilidades “certas”. Já quem se sentir ofendido pela ideia da transexualidade, bom, é fascista, nazi, etc. Ou seja, um dos casos é totalmente justificável, o outro é apenas a abominável censura em ação.

E já ouviram falar dos “leitores de sensibilidade” que muitas editoras já usam para avaliar o “perigo” dos livros que tencionam publicar? Pois, esses “consultores” bem se fartam de dizer que não impõem nada, limitam-se apenas a sugerir... Pois, os censores de Salazar também nada impunham, limitavam-se muito simplesmente a “sugerir” o que tinha de ser cortado se o autor quisesse ver o seu texto publicado.

Dir-me-ão, não é a mesma coisa. A sério? Se esses leitores disserem que o que eu escrevi pode ferir a sensibilidade de pessoas não brancas, de não cristãos, de mulheres ou do pessoal LBGBTQ+ alguém acredita que o texto será publicado como eu o quero e escrevi? Ou até que eu venha a ser publicada? Não nos esqueçamos da campanha para banir JK Rowling (a do Harry Potter) por ter dito numa entrevista algo que foi visto como transfóbico – mas atenção, isto não é censura!

E a moda atual de alterar livros por razões de sensibilidade? Como as obras de Roald Dahl, onde gordo passa a forte e outros mimos similares. E a lista de autores abrangidos não para de aumentar. Fica-se até com a impressão de que há muito boa gente por aí que só consegue ler livros se tiver um lápis vermelho na mão para ir marcando tudo o que possa ser ofensivo para alguém – bom, menos para brancos, cristãos, heterossexuais e homens...

Para terminar, voltemos ao cartoon. Pessoalmente, acho que nunca devia ter sido publicado, não por censura mas por outras razões.

Primeiro, porque mostra a ideia mais do que simplista que quem o fez tem do que se passa nestas situações de confronto com a polícia. Já agora, gostaria de ver essa pessoa a passar uma semana em patrulha em certos bairros de Lisboa e outra semana de serviço numa dessas esquadras. Mas sem câmaras à vista e sem qualquer identificação como não polícia. E já agora, acompanhado de um segundo elemento, não jornalista, para garantir que o relato dessa experiência era o mais factual possível.

Acho também que este tipo de imagens só serve para arreigar em certos elementos da nossa população a ideia de que podem fazer o que quiserem, incluindo insultar, ferir e matar polícias, porque se estes ripostarem... é racismo puro e simples.

Mais ainda, todas estas acusações acabam por levar polícias a hesitarem em reagir, com consequências que podem ser gravíssimas para eles.

Ou seja, o autor do dito cartoon e quem o publicou deviam ter medido as consequências do que faziam – lembram-se das críticas às caricaturas de Maomé em que muitos dos que condenavam o ataque ao jornal, os anti-censura, nunca se esqueciam de acrescentar que não tinha sido boa ideia publicá-las, quem o fez devia ter tido em conta que poderiam ferir suscetibilidades...

Pois, é o velhinho “dois pesos e duas medidas”.

Para semana: E são férias! Um post um pouco mais “leve”...

14
Jul23

92 - Quando é que a Europa aprende?

Luísa

Vou finalmente falar dos distúrbios que ocorreram – mais uma vez – em França, supostamente devido à morte de um jovem não branco baleado por um polícia.

Não vou discutir o mérito da reação do agente em questão. Não consigo encontrar números para França, mas em Portugal, um país bem menor e com menos problemas de segurança (por enquanto), entre elementos da PSP e da GNR foram mortos 4 e 3090 ficaram feridos desde 2019. Imagino, pois, que seja bem pior nesse país, não me admirando nada que os agentes estejam sempre com “o dedo no gatilho”, sobretudo em determinadas zonas.

Mas o que me chamou especialmente a atenção em tudo isto foi o já habitual choradinho de que, como sempre, a culpa é dos brancos.

O grande argumento esgrimido nestas situações é que devíamos ter feito mais para integrar quem vem de fora. Note-se que nunca se diz isto em relação a chineses, indianos, paquistaneses, sul-americanos... Não, esses estão por conta própria.

Ora, na minha opinião, não somos nós que temos de fazer esse esforço, quem chega é que tem de fazer tudo para se integrar na sociedade que os recebeu, tal como fazem os portugueses ou outros europeus quando vão viver e trabalhar fora da Europa.

Só que a grande diferença é que as “boas almas” europeias decidiram, há anos, que era uma violência exigir que quem para cá vem respeite as nossas leis e costumes. Nos últimos anos, isso passou, até, a ser considerado racismo, fascismo, nazismo... enfim, o usual.

Resultado? A criação de comunidades inteiras que, mal têm uma massa mínima, tudo fazem para recriar o ambiente social de que supostamente fugiram por ser mau, fazendo a vida negra a quem não lhes pertence para que dali saiam, deixando-os “a viver entre nós”, como também já ouvi.

Fala-se, também muito, de que criámos guetos nas grandes cidades. Tal como referi no parágrafo anterior, isto é, mais uma vez, um bater no peito sem razão de ser. Sim, há-os por toda a Europa, mas, ao contrário dos verdadeiros guetos, estes foram criados por quem lá vive. O que é que acham que aconteceu aos brancos que viviam nesses bairros? Ou aos cristãos? Pior ainda, aos que tentam permanecer, por não terem para onde ir nem ajuda para o poderem fazer? Querem uma amostra? Experimentem ir dar uma volta por certos bairros de Lisboa...

É que toda essa conversa de integração esquece um pequeno detalhe, só se integra quem tem vontade de se integrar.

E muito francamente, porque é que se dariam a esse trabalho? Podem ignorar-nos, insultar-nos, atacar-nos à vontade, os subsídios e ajudas continuam a ser-lhes entregues. Sem contar que basta arranjarem uma criança nascida na Europa e pronto, legais ou não, ficam cá de pedra e cal para todo o sempre.

Uma outra coisa que sempre me meteu confusão é o modo como certos elementos da nossa sociedade (refiro-me à Europa), sempre de ouvido afiado para tudo o que lhes soe a racismo e xenofobia, fiquem totalmente surdos quando as declarações são no sentido contrário.

Vejamos o caso de Abu Hamza al-Masri, um imã egípcio que foi para Inglaterra em 1979 com um visto de estudante, tendo logo em 1980 casado com uma inglesa para garantir a residência. Acusado de vários atos de incitamento ao ódio racial e de violência em Inglaterra, foi finalmente extraditado para os EUA para ser julgado por terrorismo, isto após uma bem onerosa batalha legal de 8 anos.

Mas há uma razão para eu o mencionar. É que, num comício com muitos milhares de pessoas, afirmou, alto e bom som, “usaremos todos os meios para tornar toda a Europa muçulmana”.

Soa a alguém que se quer integrar?

Ele disse-o alto e bom som, mas há zonas de França, da Alemanha e de outros países europeus que já vivem sob um regime muçulmano bem mais feroz e rígido do que o da Arábia Saudita, que tão criticado é, com a sharia aplicada a muçulmanos e não muçulmanos e ao sabor dos caprichos de quem manda naquele bairro ou até naquela rua.

Outro argumento também muito ouvido é que as pessoas de certos bairros são discriminadas na procura de emprego, por exemplo. Até é verdade nalguns casos, o que não nos dizem é que isso não surgiu do nada. Essa repulsa veio como consequência da desordem e criminalidade que começaram a reinar ali. Os poucos que se deslocam a esses locais, quase sempre por obrigação profissional, sabem bem as precauções que têm de tomar, apesar de o seu trabalho ser em prol daquela comunidade.

Ou seja, não é um caso da galinha e do ovo, aqui há uma ordem clara, primeiro veio a criação dos guetos por quem lá vive e a sua crescente criminalidade e violência e só depois é que veio a desconfiança em relação aos seus moradores.

Sim, os europeus são culpados de toda esta situação, mas não pelas razões que se badalam por aí, muito pelo contrário. Somos culpados, isso sim, de não ter exigido mais a quem para cá vem, de não termos criado regras rígidas sobre quem pode manter a residência neste continente e, acima de tudo, de, a pretexto da tolerância pelos costumes e religiões de outros povos, termos deixado alastrar extremismos que têm como único objetivo a total destruição dos nossos.

É mais do que altura de a Europa aprender que não tem qualquer obrigação de receber todos os que nos batem à porta. Bom, na realidade, nem isso fazem, limitam-se a aparecer e a exigir ser acolhidos e sustentados, mais ainda, isso terá de ser feito de acordo com as regras deles.

Sabiam que elementos da Cruz Vermelha foram brutalmente atacados quando estavam a acolher “migrantes” recuperados de uma série de botes? Pois, é que as garrafas de água tinham o símbolo da instituição, o que levou a essa reação. Belo sinal de tolerância e de vontade de integração!

Para semana: É censura! A propósito do cartoon do polícia e não só

07
Jul23

91 - Estão a gozar?

Luísa

Perante umas “coisinhas” que se passaram esta semana, decidi alterar o tema anunciado para este post, adiando para a próxima vez a “justa indignação” em França.

Comecemos pelo senhor de Belém. Segundo parece, sentiu-se mal, terá até desmaiado e foi levado para o hospital. Até aqui, tudo bem, é o que acontece nestes casos. O que me incomodou não foi isso mas sim o seu discurso à saída do dito hospital.

Com o seu habitual ar de boa disposição, o que é que este “presidente de todos os portugueses” disse? Pois bem, que tinha sido muitíssimo bem tratado e que isso só prova que o Serviço Nacional de Saúde funciona bem! Estão a gozar?

Então este senhor acha que o Zé dos Anzóis e o Presidente da República, seja ele quem for, recebem o mesmo tratamento por parte do SNS? Já agora, quando digo tratamento, não me refiro aos cuidados médicos em si quando se tem a sorte de ser atendido, quero crer que são os mesmos. Não, refiro-me, precisamente, a essa sorte de ser visto.

Alguém acredita que o dito senhor passou pela triagem e depois esteve à espera que casos considerados mais graves fossem vistos antes dele? Mais ainda, que aguardou a sua vez, pela ordem de chegada da pulseira colorida que lhe foi – ou não foi – atribuída? E que depois foi para a sala comum das Urgências com todos os outros que esperavam ser atendidos e aguardou a sua vez para fazer testes e exames?

Mais ainda, quantos utentes tiveram de esperar ainda mais tempo do que o usual enquanto cuidavam de “sua excelência”? Quantos médicos, enfermeiros e outro pessoal foram desviados das suas funções por causa dele?

Pois é, o SNS funciona às mil maravilhas... para alguns.

Não teria sido bem mais honesto ter sido levado para um hospital privado para não interferir com o já de si mau e lento funcionamento de um hospital público? Pessoalmente, acho que políticos e companhia deviam passar pelo SNS, tal como os que os elegem e pagam, mas neste país isso não resulta, todos sabemos, infelizmente, que até aí têm direito a tratamento VIP.

E vamos ao segundo motivo, o relatório da comissão de inquérito à TAP.

Tivemos semanas de audições a todos e mais alguns (só faltou o cãozinho e o gatinho...), com transmissão direta na televisão. Ouvimos declarações, contra-declarações e contra-contra-declarações para todos os gostos e feitios, isto para não falar nos discursos de circunstância de PM e outros governantes.

Após todo este circo esperava-se, no mínimo, que a dita comissão tivesse a decência de fazer um relatório mais ou menos sério. Pois...

Afinal – e apesar de tudo o que ouvimos e lemos – o Governo e todos os que o compõem agiram bem, mais do que bem, até, os únicos culpados são gestores da TAP e quem os nomeou, ou seja, Passos Coelho, claro. Estão a gozar?

Sei que é otimismo a mais esperar honestidade de uma comissão PS, mas, francamente, que tal um niquinho mais de seriedade? É que, perante este belo resultado, fica-nos a dúvida: terá o relatório sido escrito ainda antes de todo este aparato? Pelo menos é o que parece.

Já agora, uma pequena sugestão. Da próxima vez que criarem uma comissão destas para “investigar” algo em que este (des)goveno ou o PS estejam envolvidos, não ocupem horas de um canal de notícias com as audições de toda a gentinha que se lembrem de chamar, enviem-nas para o canal que dá o Big Brother (ou o que lhe ocupa atualmente o lugar, não ando a par deste tipo de programas). É que é mais TV Realidade, no pior sentido da expressão, do que algo para ser levado a sério.

Finalmente, o Sr. Medina, esse incomparável Presidente da Câmara de Lisboa e agora, como prémio de consolação por ter perdido as eleições, Ministro das Finanças deste cada vez menos jardim à beira-mar plantado.

Pois bem, o dito senhor declarou como direitos de autor os seus ganhos como comentador no Correio da Manhã, Rádio Renascença e TVI enquanto ainda era Presidente da Câmara. Para além de pagar muito menos impostos sobre o que recebeu, isso permitiu-lhe continuar a receber por inteiro o seu salário na autarquia. Estão a gozar?

Pelos vistos não sou só eu a estranhar esta manigância, o próprio Tribunal Constitucional tem dúvidas sobre tudo isto. É claro que se em vez da pessoa em questão fosse um Ventura ou até mesmo um Montenegro, teriam logo a certeza absoluta de que estava mal...

Resumindo, temos à frente das Finanças, o Ministério mais importante na conjuntura atual, alguém que, ou desconhece as leis que nos regem ou conhece-as e decide, muito simplesmente, contorná-las a seu gosto.

Mas tudo bem, de acordo com o seu patrão, o Sr. Costa, temos um Governo sério e que funciona às mil maravilhas num país que não podia estar melhor. Estão a gozar?

Para semana: Quando é que a Europa aprende? A propósito das últimas cenas de “justa indignação” em França.

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