94 - E são férias
O post desta semana é um pouco mais “leve”, é que como o próprio título indica... são férias!
Sem querer remoer o passado, começo por lembrar que o conceito atual de férias é relativamente recente. Sim, sempre houve férias escolares, mas para quem trabalhava eram muitas vezes apenas uns dias passados sem ir ao trabalho. Mas atualmente quem não consegue ir passar esse tempo fora de casa, seja numa praia ou no estrangeiro, sente-se lesado e miserável.
Não tenho nada contra a verdadeira “migração” anual dos meses de julho e agosto, mas dou comigo a pensar se é feita por vontade própria e prazer ou quase por um sentido de obrigação.
Passo a explicar.
Vivemos, infelizmente, cada vez mais numa sociedade de “o que vale é parecer” e de “ir na onda”. Ora está convencionado que as férias de verão, para o serem, devem ser passadas numa praia conhecida e longe de casa – a única exceção seria uma viagem a outro país.
Se é do que realmente, gosta, tudo bem. Mas... será verdade para todos? Ou muitos fazem-no porque ficar em casa – ou na sua terra – não dá a sensação de férias? Ou, pior ainda, porque ficam a pensar no que dirão amigos, colegas (deles e dos filhos) e vizinhos? E lá gastam um dinheirão para passarem esse período de repouso no meio de multidões, atropelos e ruído, isto quando não se endividam para o fazer – lembram-se da célebre campanha “viaje agora e comece a pagar quando voltar”?
E o que fazem durante esse período de lazer? Pois bem, o mesmo que todos à sua volta. Se optaram por uma praia, como a maioria, sol, mar (bom, muitos nem chegam a molhar os pés), comer e pouco mais. Se viajam, o mais provável é terem escolhido um destino de praia em que fazem exatamente o mesmo.
Ora eu acho que já é altura de repensarmos um pouco o nosso conceito de férias. Que tal mudar a expressão “período sem fazer nada” para “período a fazer algo diferente”? Se, por exemplo, trabalha num escritório, que tal experimentar algumas atividades ao ar livre? Sim, a praia é ao ar livre, mas não é bem uma atividade... Se, por outro lado, tem um emprego mais manual, digamos, porque não aproveitar as férias para aprender algo novo? E para uma mudança completa, algo que até nem tenha a ver com a sua profissão.
Se quer mesmo mudar de ares, porque não uma verdadeira mudança? Ou seja, se vive na costa, uns dias passados no interior do país. E se é do interior, praia, mas em vez dos destinos mais badalados, que tal tentar encontrar um cantinho ainda pouco conhecido? O mar está lá à mesma, será mais barato e não estará rodeado de multidões.
Uma outra opção é ficar, simplesmente, em casa. Mas atenção, não me refiro a passar os dias ali dentro, com uma rotina quase habitual exceto a ida para o emprego. Não, a casa seria apenas o poiso noturno.
E em que passar os dias, perguntarão? Pois bem, quantos conhecem verdadeiramente a terra onde vivem? A menos que seja uma povoação muito pequena, arrisco-me a dizer que quase nenhuns? E se lhe acrescentarmos os arredores num raio suficientemente curto para se poder vir dormir a casa, pois bem, não falta que ver e fazer. E quanto a refeições, apesar de muitos sítios fecharem neste período, não faltam restaurantes, cafés e outros estabelecimentos que certamente não conhece. Quem sabe, poderá até descobrir uma joia escondida! Isto seria levar ao máximo uma outra campanha, “vá para fora cá dentro!”
Para além de ser uma distração e algo diferente do seu dia-a-dia, já pensou em quanto pode poupar por não ir para um hotel na época alta? Poderá, até, pôr algum desse dinheiro de parte para aquela grande viagem que sempre quis fazer mas que é demasiado cara.
Já agora, se não tem filhos em idade escolar, já pensou em mudar a época em que tira férias? Há alturas do ano bem mais agradáveis – uma pequena nota pessoal, outubro é o meu mês favorito em Portugal – e que atraem muito menos gente. Por isso, a menos que seja fanático de praia – e no nosso país estas são viáveis uma boa parte do ano – ou trabalhe numa daquelas empresas que fecham para férias, pense nisso muito a sério.
E se tem filhos em idade escolar e uma solução para o seu acompanhamento no “excedente” das férias deles, que tal ver se pode alargar esse apoio um pouco mais e dividir as suas férias por duas épocas do ano?
Um último tema, as férias também podem ser uma boa oportunidade para olhar à volta e ver se podemos ser úteis aos outros. Sabem, o familiar que não sai de casa e que nunca visitamos por falta de tempo. Aquele vizinho idoso com quem falamos sempre a correr porque estamos perenemente atrasados. Os telefonemas a amigos e família que adiamos porque há outros afazeres que nos chamam...
E que tal o voluntariado? Há inúmeros programas para jovens, em Portugal e no estrangeiro, pode ser uma boa opção para os seus filhos adolescentes e é, sem dúvida, mais saudável e útil do que meses a fio de farra e noitadas.
Mas também o há para adultos, voluntariado em época de férias e até opções para fazer em família. Aqui ficam alguns links:
Voluntariado nas férias
https://blog.topatlantico.pt/experiencias/fazer-voluntariado-enquanto-vai-de-ferias-porque-nao
Organizações de voluntariado em Portugal
https://portugalvoluntario.pt/cs2i/organizations-list?dswid=3716
Voluntariado em família
https://www.sociomotiva.com/pt-BR/pages/50701661-3a30-4a53-a86c-2cb98ef66729
Oportunidades de voluntariado (Portugal)
https://bolsadovoluntariado.pt/pt-BR/oportunidades
Já agora, se as suas férias são passadas noutro país, não se limite a passar esse tempo parado sem fazer nada. Tente conhecer um pouco da região e dos seus usos e costumes. E, mantendo o tema do voluntariado, ver se há algo que possa fazer pelas comunidades locais. Mas informe-se devidamente, é que infelizmente há muita aldrabice mundo fora.
Para semana: Desporto feminino. A propósito do mundial de futebol