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Luísa Opina

Neste blogue comentarei temas genéricos da nossa sociedade. Haverá um novo texto todas as sextas-feiras

Neste blogue comentarei temas genéricos da nossa sociedade. Haverá um novo texto todas as sextas-feiras

Luísa Opina

30
Jun23

90 - Orgulhosamente sós

Luísa

A expressão “orgulhosamente sós” está ligada, na mente de todos nós, a Salazar.

E é bem verdadeira, até certo ponto. Recordemos que, quando os Estados Unidos quiseram incluir Portugal no Plano Marshall de reconstrução da Europa, como paga pelo uso da Base das Lajes, Salazar recusou porque não queria dar a imagem de estar dependente de terceiros. Aliás, toda a sua política económica tinha por base a mesma ideia, gastar só o que tínhamos e, acima de tudo, poupar para o que pudesse vir a acontecer – pois, mal sabia ele...

Na política externa fez o mesmo, sem alianças ou sequer relações chegadas com outros países – sim, até mesmo com Franco, que era supostamente da mesma cor política. Basicamente, se queriam falar com ele, tudo bem, mas não se enfiava à força em lado nenhum.

Ora o nosso atual (des)governo conseguiu algo que, à partida, poderia parecer impossível, a adoção do mesmo princípio, mas invertendo-o totalmente.

Passo a explicar.

Em termos económicos, bom, acho que poucos duvidam de que nos tornámos os pedinchões da Europa. Não há ajuda ou benefício que não nos interesse, pior ainda, estamos sempre prontos a choramingar por mais e mais, numa espiral ascendente sem fim à vista.

Já agora, também internamente temos a situação oposta à de outrora, tudo fazem para que quem reside neste paraíso à beira-mar plantado – de acordo com eles – não tenha nem condições nem interesse em poupar, tudo graças à pesadíssima carga fiscal e às ameaças não muito veladas de passarem a tributar os míseros tostões que mesmo assim conseguimos arrecadar.

A outra diferença flagrante está nas nossas relações internacionais. Podem dizer que agora fazemos parte do mundo, ao contrário do que então se passava, que já não vivemos isolados. Mas fazemos mesmo? Que imagem acham que dá do nosso país o virote permanente do atual senhor de Belém? Será que todos aqueles passeios, perdão, viagens de estado, foram em resposta a convites a sério? É que, curiosamente, não tem havido assim muitos chefes de estado a visitarem-nos e estas coisas costumam ser recíprocas.

E nem vou falar da ida do nosso “estimadíssimo” PM à Hungria, de que ouvimos – com atraso – inúmeras explicações, quando a real era tentar convencer alguém de quem tem dito cobras e lagartos (fascista, nazi...) a tê-lo em conta para o seu tão almejado tacho europeu. Sim, sei que agora diz que nem pensou nisso, mas com a atual composição política da Europa e a viragem de muitos países à direita, sendo a Grécia o mais recente, que hipóteses tinha realmente? Pois, soa-me um pouco a “as uvas estão verdes”.

Mas há outros aspetos em que levam o “orgulhosamente sós” aos píncaros.

A TAP, por exemplo. Numa altura em que a maioria esmagadora dos países eliminava ou privatizava as suas companhias aéreas, fizeram precisamente o contrário, pior ainda, renacionalizaram-na quando estava no bom caminho para deixar, finalmente, de ser um encargo de todos os portugueses.

No ensino, agora que o resto da Europa descobriu que facilitismos não dão bons resultados, sobretudo para os jovens, por cá reduz-se cada vez mais os programas, “estupidificam-se” os exames – quando existem – enfim, faz-se tudo para ficarmos com uma ou mais gerações de analfabetos funcionais. Para quem não conhece o termo, pois bem, são pessoas que têm oficialmente a escolaridade obrigatória, ou até um curso, mas que na prática não sabem entender um texto, a menos que seja mesmo muito básico, que têm dificuldade em apreender ideias que não lhes sejam apresentadas sob a forma de clichés e, em termos de matemática, bom, pouco ou nada entendem, daí a exigência de mais benesses sem sequer pensarem de onde sai o dinheiro.

Mas para mim, a gota de água foi a recente decisão de manter a bitola ibérica para os nossos caminhos de ferro. Francamente, acho que o primeiro passo terá mesmo de ser mudar-lhe o nome, é que a Espanha já a largou, por isso de ibérica nada tem. Ou seja, é mesmo o exemplo acabado do tal “orgulhosamente sós”, como disse acima.

É realmente uma decisão espetacular, sobretudo feita por quem anunciou, com a pompa e circunstância usuais, uma remodelação profunda do nosso sistema ferroviário!

Para os mais distraídos, isto significa que comboios portugueses que sigam para Espanha e o resto da Europa terão de sofrer uma adaptação na fronteira – ou até, o transbordo de carga e passageiros, o que custa tempo e dinheiro. E vice-versa, claro.

Ora numa época em que se fala cada vez mais em usar portos portugueses, nomeadamente Matosinhos e Sines, para evitar a entrada de navios cargueiros no mais do que sobrelotado Mediterrâneo, como é que isto faz sentido? Não devíamos, isso sim, construir ou modernizar algumas linhas que permitissem o transporte rápido e barato de contentores para os seus locais de destino? Não seria esta uma belíssima fonte de rendimentos para o país? Isto sem falar na componente ecológica, é que pelo menos por enquanto os ambientalistas são grandes fãs do transporte ferroviário de mercadorias.

E já agora, uma perguntinha de algibeira: o TGV tão do apreço de “Costa e sus Muchachos” também vai usar a bitola ibérica? Ou terá uma linha exclusiva para um comboio por dia, como queria o tão saudoso Sr. Sócrates?

Para semana: Quando é que a Europa aprende? A propósito das últimas cenas de “justa indignação” em França.

23
Jun23

89 - É o racismo, senhores!

Luísa

E aconteceu finalmente! O nosso “estimadíssimo” primeiro-ministro puxou da carta do racismo!

Aqui para nós, eu já andava a estranhar que não o tivesse feito nestes longuíssimos anos dos seus (des)governos. Enfim, aplaudo-lhe a contenção, mas, muito francamente, acho que foi mais por falta de oportunidades. É que sindicatos e, sobretudo, a comunicação social têm sido sempre muito comedidos nas críticas que lhe fazem... isto quando as fazem. Veja-se o que aconteceu nesta situação, não ouvi ninguém a criticá-lo abertamente, quando o faziam nunca se esqueciam de acrescentar algo sobre ter sido provocado, a caricatura ser má... enfim, um monte de desculpas que só se entendem por ser alguém de esquerda.

Só que desta vez, fugiu-lhe mesmo a boca para o populismo. Sim, para o populismo. É que o que está bem na moda é levar tudo para o racismo, ou antes, tudo, não, só quando a situação se processa numa determinada direção. Não acreditam? Vamos a alguns exemplos.

Lembram-se da campanha eleitoral do Obama? Andavam uns supostos repórteres pelas ruas a perguntar às pessoas se iam votar nele. Se um branco dizia que não, vinha logo o comentário cheio de subentendidos de racismo, “É por ser negro, não é?” Porque, evidentemente, a única razão para não votar nele era a cor da pele. Curiosamente, quando faziam a mesma pergunta a um negro e este respondia “No Obama, claro!” ninguém o acusava de racismo.

Aqui passa-se a mesma coisa. Se há uma quezília entre vizinhos e só um deles é branco, lá vem inevitavelmente a queixinha do “não gosta de mim por sou... (acrescentar a raça ou etnia ou o que for).

Os polícias de uma certa área sofrem insultos e agressões contínuas por parte dos não brancos dessa área? Tudo bem, são as condições de vida dessas pessoas decentíssimas. Mas se um dia ripostam, aqui d’el rei, é o racismo da polícia e os factos já não interessam.

Temos cenas ridículas como uma a que assisti às tantas da noite num dos nossos canais televisivos. Mostravam uma operação Stop – penso que era uma sexta-feira ou sábado, as noites da farra – e um dos indivíduos que tinham mandado parar após provocar um embate estava “podre de bêbado”, como se costuma dizer, mal se aguentava de pé. Ainda por cima era do tipo de bêbado agressivo. Pois bem, quando finalmente o prenderam por ter agredido polícias e outras pessoas presentes no local – fora o acidente – é claro que não foi pelo álcool nem pelo seu comportamento... sim, adivinharam, “só me prendem porque sou negro”.

Mas tudo isto é alimentado por uma esquerda que, pelos vistos, sofre de complexos por ser branca e que incentiva todo este tipo de comportamentos, como se tem visto repetidamente ao longo dos anos, sobretudo no que diz respeito a certas comunidades.

Sentem-se muito antirracistas por tomarem estas atitudes, infelizmente não veem que são eles os maiores racistas de todos.

É que quando desculpam o não cumprimento de certas leis do nosso país – como a educação das raparigas – com a etnia ou religião dessas pessoas, no fundo o que estão a dizer é que não são cidadãos como nós. Pior ainda, chamam racista a quem exige que todos se comportem com decência e dentro dos mesmos padrões de convívio, ou seja, a quem defende a verdadeira igualdade.

Há uns anos deram grande destaque a um jovem que dizia que lhe tinham negado a entrada numa discoteca por ser cigano. Bom, a minha primeira dúvida foi logo, perante o aspeto do dito jovem, como é que o segurança sabia? Claro que entrevistaram o pai, o clã todo, vieram os discursos do costume contra o racismo em Portugal, enfim, o circo usual. Como sou curiosa, fiz questão de acompanhar o assunto – e acreditem, não foi fácil. Pois bem, tinham-lhe negado a entrada porque era um frequentador habitual e que provocava sempre lutas e todo o tipo de distúrbios. Mas ei, o importante é que era cigano.

Muito francamente, o termo “racista” sofre atualmente do mesmo descrédito de “fascista” e “nazi”. Basicamente, são todos atirados a esmo a quem ousa pensar por si e não se deixa ir na onda do politicamente correto... perdão, na onda woke, para sermos mais modernos.

Tudo está a atingir as raias do ridículo. Sabiam que uma jornalista inglesa disse,, e estou a parafrasear, ao ver a imagem da varanda da coroação de Carlos III, que a família real era demasiado branca? Ouvimos repetidamente as mesmas queixas em relação aos nossos governos e Assembleia da República, mas nunca se ouve dizer o mesmo em relação a instituições similares de África e da Ásia, por exemplo.

E para concluir, só umas perguntinhas ao “coitadinho” do Sr. Costa.

Depois do modo asqueroso como comentou o discurso de Cavaco Silva, não lhe parece patético vir exigir que o respeitem porque “sou o primeiro-ministro”? Lembro que para além de PM – e sem truques – Cavaco Silva foi também Presidente da República, ou seja, dois níveis acima de si.

Não acha ignóbil falar em respeito depois da cena a que todos assistimos das risadinhas de recreio de infantário protagonizadas pelo supostamente trio do topo da nossa pirâmide institucional contra deputados eleitos pelo povo português?

Sabe, é muito simples. Quer ser respeitado? Pois bem, comece por respeitar os outros, a começar pelo povo português com quem anda a gozar há anos! E deixe-se dessa do racismo, não convence ninguém, nem os mais “antirracistas” e só o tornam em motivo de chacota.

Para semana: Orgulhosamente sós! Pois, parece que esta ideia não morreu com Salazar...

16
Jun23

88 - Educar?

Luísa

Haverá alguém sério que duvide que a educação em Portugal vai de mal a pior? É um dos pouquíssimos pontos em que a maioria concorda, infelizmente por razões totalmente opostas.

Passo a explicar.

Para a nossa “bem-pensante” esquerda, o ensino só não está melhor porque há falta de investimento na educação. E eu até estaria de acordo, só que quando falam em “investir” referem-se meramente em pôr muito mais pessoal nas escolas, docente e não docente, em colocar toda a gente no quadro e em aumentar em muito salários e diversas regalias. Isto para não falar no fim do ensino privado, o ódio de estimação para esses senhores.

Os sindicatos de professores, esses, para além destas reivindicações querem também fim de avaliações, redução drástica do currículo, mais férias, enfim, tudo coisas em contracorrente com o que se passa nos restantes países ocidentais.

Há anos que andamos a ouvir dizer, por altura das greves no mínimo anuais, que a culpa dos maus resultados é de as turmas serem grandes, de haver indisciplina nas escolas, dos alunos de “bairros problemáticos”...

A estas queixas habituais a pandemia veio trazer mais uma: as aulas à distância. Semana após semana vimos professores na TV quase de lágrimas nos olhos a lastimarem a triste sorte dos seus alunos que, por não poderem frequentar fisicamente as aulas, iriam sofrer pesados atrasos na sua educação.

Irei voltar a alguns dos pontos acima, mas antes só queria focar um pequenino detalhe. Não acham curioso que, passada a época do isolamento forçado, esses mesmos professores tenham passado todo este ano letivo em greves e ações de protesto? Quantas aulas é que os seus alunos perderam? E perderam totalmente, uma vez que nem telescola há nestas circunstâncias. Mas tudo bem, tudo o que estes sindicatos têm andado a fazer é para bem do ensino!

Ora vamos por partes. Somos certamente um dos países em que os alunos têm a vida mais facilitada em matéria de avaliações. Os exames surgem tarde na sua carreira escolar e no ano em que calham os senhores professores passam o ano – ou uma boa parte dele – a preparar o exame com base em provas de anos anteriores. Ou seja, não se insiste na ideia de que o estudo deve ser feito ao longo de todo o ano, não, a ideia é tentar fazer em semanas o trabalho todo “para passar no exame”. Mas tudo bem, inculcar bons hábitos não faz parte de educar.

Temos também as turmas. Estive a ver uns dados e variam entre 24 e 28 alunos. Em que universo paralelo é que isso é muito? O que é que querem, um professor para cada aluno? Já agora, isso não resulta, lembro-me da época em que andaram a fechar escolas primárias com menos de 10 alunos (ao todo), ou seja, em que o rácio chegava a ser de 1 para 1, e as criancinhas, quando entrevistadas, eram uma desgraça de falta de conhecimento da língua e não só.

E há a sempre muito popular frase de “o ensino público” é excelente. Pois é... Deve ser por isso que os nossos políticos de esquerda – só falo destes porque são fãs desta frase – têm os filhos no privado. E quantos professores públicos conhecem que fazem o mesmo? Mais ainda, já repararam na proliferação de centros de explicações e de explicadores? Sabiam que há até alguns especializados no ensino primário e logo a partir do 1º ano?

Se o ensino público é assim tão bom, como é que explicam isso? Ou estarão a insinuar que as criancinhas portuguesas são burras? Estranho, se as puserem numa escola privada, a maioria esmagadora deixa de precisar de explicações.

E depois vem a indisciplina. Sim, existe e de que maneira. Mas, de quem é a culpa? Este tipo de situação não surge da noite para o dia. Foi crescendo sem que se pensasse sequer em fazer algo, para “não traumatizar os jovens”. Sim, porque para os “bem-pensantes” cá da terra, haver regras e exigência de bom comportamento é “fascismo”, é uma violência gravíssima.

A situação piora ainda mais quando os indisciplinados não são “europeus”, digamos. É que aí, e à semelhança do nosso “estimadíssimo” Sr. Costa, passa-se logo para as acusações de racismo.

E o que começou por pequenas desordens e um ou outro aluno mais rebelde, digamos, foi aumentando rapidamente passando até à violência pura – mas não faz mal, somos um país de brandos costumes e nada acontece a jovens que atacam outros, mesmo que usem armas brancas, isto para não falar em insultos, bullying, etc.

Sim, sei que se fala muito em controlar o bullying nas escolas, só que só falam disso quando a vítima pertence ao “alfabeto” – sabem o LBG... são cada vez mais letras – ou de certas etnias, como está na moda dizer.

Ou seja, entre greves, bullying e falta de exigência, os jovens são deixados à deriva numa época que devia ser formativa em todos os sentidos. Mas alegremo-nos, está em preparação uma lei que cria nas escolas responsáveis por implementarem o uso dos pronomes pessoais da escolha dos alunos. Isso, sim, é o mais importante!

Para semana: É o racismo, senhores! A propósito da reação do nosso “muito estimado” PM

09
Jun23

87 - Não viram, não sabem, mas governam

Luísa

Por muitos ziguezagues, curvas, contracurvas e desvios que o Sr. Costa e os seus “muchachos” deem, por muitas incoerências que demonstrem, há uma frase lapidar que se tem mantido constante ao longo dos anos e de todos eles: não fui informado!

Pois é, os ministros nunca sabem o que os seus assessores, secretários de estado ou outros do seu ministério andaram a fazer, mesmo quando são atos ou decisões que seria de pensar terem de ser decididas ao mais alto nível. É claro que os ditos secretários de estado também nunca são informados do que é decidido pelos seus supostos subalternos. E quanto ao nosso “estimadíssimo” PM, bom, esse então nunca sabe nada, mas mesmo nadinha de coisa nenhuma.

Há despedimentos ao mais alto nível na TAP? Não foi informado, nem antes nem depois. Há problemas gravíssimos na saúde? Não está a par de nada. Há falhas e problemas por todos os lados? Coitado, ninguém lhe diz nada. Mas, estranhamente, tem sempre a certeza de que agiram todos bem e que devem continuar a merecer toda a sua confiança. É que também faz parte deste processo ele nunca correr com ninguém. Não, se um ministro ou secretário de estado sai, fá-lo por decisão própria e por razões pessoais – estou em pulgas para saber quais serão as do tal Sr. Galamba...

E, como disse, a mesma ignorância dos factos alastra pelos restantes membros do seu (des)governo. Mais ainda, estou convencidíssima de que se perguntarem a um chefe de secção, mesmo uma das mais pequeninas, o porquê de algo que ali foi feito ou decidido, pois... não foi informado e de nada sabe.

Outro que também nunca está a par de nada, apesar de estar sempre a abrir a boca, é o senhor de Belém. É curioso, tem opiniões sobre tudo e mais alguma coisa, nunca perde uma oportunidade de aparecer em público a mostrar a sua “sapiência”, mas quando é um caso realmente grave... não sabe de nada. Ou, quanto muito, “está a acompanhar a situação” e não comenta por não ter todos os factos.

Seria interessante perceber como é que se governa um país no meio de tanta ignorância dos factos, só que, vendo o que se tem passado nestes últimos anos, a estranheza até desaparece. Sim, a única explicação para alguns dos mais recentes descalabros só pode mesmo ser a de que as decisões mais importantes estarem a ser tomadas por não se sabe quem, não se sabe onde, à revelia de quem usa o título de governante.

Talvez por só ter lidado profissionalmente com o setor privado, vivi sempre com a ilusão de que o papel de um chefe é saber o que se passa. Atenção, isso não quer dizer que tenha de ser ele a decidir tudo, isso seria o que se chama “micromanagement”, muito pouco aconselhável. É preciso delegar, claro, o mais possível até, mas um chefe a sério deve manter-se a par das decisões tomadas pelos seus subordinados, pelo menos a partir de um certo grau de importância. Ou seja, não lhe interessa saber se compraram canetas azuis ou pretas, já a compra ou leasing de carros para o seu setor é algo bem diferente.

O que eu critico nestes ministros e, sobretudo, no PM é que, pelos vistos, passa-lhes tudo ao lado. Segundo parece, estão no cargo apenas para desfrutar das suas muitas regalias e fazer anúncios bem sonantes de obras e quejandos. Mas até aqui as coisas correm mal uma vez que esses comunicados pomposos são sempre, mas sempre, seguidos de emendas, recuos ou até cancelamentos discretos porque, afinal, não se coadunavam com a realidade. Sim, a tal realidade que, adivinharam, eles desconheciam porque “não tinham sido informados”.

Pois é, os nossos governantes parecem tentar desesperadamente imitar os célebres três macacos – sabem, aqueles em que um tapa os olhos, um segundo os ouvidos e o terceiro a boca. Só que também aqui... foram mal informados. A verdadeira interpretação desta imagem é, de facto, “não ver o mal, não ouvir o mal, não falar o mal”. E, como tal, é um belíssimo princípio que nos ficava muitíssimo bem seguir, pelo menos na nossa vida pessoal. Bom, na profissional, não ver ou ouvir o mal é capaz de não ser muito boa ideia...

Infelizmente, a tradução que usam resume-se a, “não ver absolutamente nada, não ouvir nadinha, falar ao desbarato” – pois, tem de se mudar a imagem do terceiro macaco, em vez de tapar a boca passaria a ter um megafone para que todos possam ouvir facilmente as muitas obras e projetos que estes nossos fabulosamente bem informados governantes planearam para daqui a uns tempos. Bom, isso se entretanto não for preciso recomeçar, reavaliar, etc. de acordo com factos para que vão sendo alertados e de que deviam ter conhecimento desde o início.

Para semana: Educar? Os mesmos que choravam pelos alunos forçados a ter aulas a distância, agora privam-nos de aulas...

02
Jun23

86 - Seria chocante, mas...

Luísa

Há uns dias o Professor Cavaco Silva quebrou um longo silêncio com um discurso perante autarcas do PSD dedicado em grande parte a bater forte e feio no nosso atual (des)governo em geral e no seu “digníssimo” expoente, o Sr. Costa em particular.

Foi duro mas, infelizmente para todos nós, só disse verdades.

Vi logo que ia haver reações adversas não só do PS mas da chamada esquerda em geral, são tudo senhores que adoram críticas ferozes... desde que sejam eles a fazê-las, claro está. Mesmo assim confesso que me espantou o nível mais do que baixo a que conseguiram descer.

O consenso geral de todas essas “sumidades” parece ter sido este, que o Prof. Cavaco morre de inveja pelo tremendo êxito (!) deste governo, que sofre de um grande ressabiamento por não ser popular e muitos outros mimos do mesmo género.

Vou referir só um ou dois, que me chocaram um pouco mais. Sim, chocaram, esta nossa esquerda tem uma tremenda virtude do meu ponto de vista, quando penso que bateram no fundo conseguem sempre espantar-me por irem ainda mais baixo. É, definitivamente, um poço sem fundo!

O primeiro destaque vai para um tal João Torres, que pelos vistos tem um cargo importante no PS. Disse esse senhor, e cito, “... o professor Cavaco Silva perdeu o sentido de Estado que se exige e a generalidade dos portugueses gostaria de apreciar em alguém que durante tanto tempo desempenhou funções no nosso país”.

A sério? Isto vem de alguém do partido de Mário Soares, sabem, aquele ex-presidente que em 2013 disse, referindo-se ao então Presidente a propósito da crise económica em que o país vivia – criada pelo PS, diga-se de passagem – “"O Presidente Cavaco Silva devia lembrar-se da história do século XX. Por muito menos foi morto D. Carlos."

Pois, é o que se chama ter sentido de estado!

Já agora, façamos uma pequena revisão dos Presidentes mais recentes em termos de desempenho das suas funções.

Primeiro, Mário Soares, o único que, tal como o Professor Cavaco, foi também Primeiro-Ministro. Um senhor que, durante uma visita de estado a Marrocos, paga por todos nós, claro, aproveitou para ir visitar o seu amiguinho Andreotti, condenado à revelia por ligações à Máfia. E que quando se deslocava a qualquer lado nos deixava sempre na dúvida sobre a razão de ser da viagem: turismo ou serviço ao país? Lembram-se da célebre ida às Maldivas, um país importantíssimo para Portugal em todos os aspetos? Pois, mas pelo menos deu para andar de tartaruga gigante...

Só como comparação, foram ambos à Índia. Na visita de Soares vimo-lo a andar de elefante, no Taj Mahal e outras coisas do mesmo tipo. Já Cavaco Silva visitou empresas, discursou numa universidade e nada fez de turístico.

Depois tivemos o Sr. Sampaio, o que derrubou o governo de Santana Lopes que, ao contrário da geringonça muito aplaudida por ele, tinha apoio firme na Assembleia da República. Alguém acredita que o fez para bem do país? E muito francamente, pouco mais há para dizer sobre ele.

E temos, finalmente, o nosso atual PR, um senhor que tem sempre algo a dizer sobre tudo e mais alguma coisa mas que, curiosamente, levou dias a abrir a boca sobre este discurso e, pior ainda, nada disse sobre o tom aleivoso das críticas que lhe foram feitas.

Podemos não gostar do Professor Cavaco, mas não se pode negar que, desde 1986, foi o único em Belém ciente das suas obrigações. Sabe-se que lia de ponta a ponta todos os dossiers que lhe eram enviados e que tinha sempre perguntas pertinentes nas reuniões semanais com o PR da altura. Imaginam como serão as de agora?

Ah, mas quando respondeu que não tinha tempo para ler jornais e revistas veio logo o comentário de Mário Soares de que lia diariamente vários. Fabuloso, pagamos um PR para passar uma boa parte do dia a ler! E para quem esteja a pensar que o Presidente tem a obrigação de estar informado, lembro que é para isso que existe um sem fim de assessores – e conhecendo o nosso país, assessores desses assessores – que leem, ouvem e veem o máximo de informação para lhe chamarem a atenção para o que é importante.

Mas a maioria dos críticos focou-se na sua falta de popularidade. É que, como todos sabemos, ser popular é o principal critério para eleger e apreciar quem ocupa essa posição. Pois, Mário Soares foi popular... Sampaio, bom, um tanto neutro. E vivemos agora sob o rei da popularidade. Francamente, entre estes quatro, prefiro de longe o impopular!

Como nota final, realço mais uma vez a total falta de coerência da nossa esquerda. Quando atacavam Cavaco Silva enquanto foi PM, vinham logo com o argumento de que se tratava de liberdade de expressão, democracia, o legado do 25 de abril, enfim, a “cassete” do costume. Mas quando são eles o alvo...

Para semana: Não viram, não sabem, mas governam! Ou um governo transformado nos “três macacos”

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