85 Voltemos à TAP
Antes de falar da tal “telenovela mexicana de quinta categoria”, um pequeno resumo da minha experiência pessoal com a TAP.
As minhas primeiras viagens aéreas foram com ela, mas apenas por não haver outra opção. Como era antes do 25 de abril, até funcionava bem e o serviço e o atendimento eram bastante bons – apesar de na altura não ter um termo de comparação. Tudo mudou quando fiz a primeira viagem pós-revolução e, muito francamente, para bem pior. Mas, mais uma vez, para as viagens maiores não tinha alternativa, por isso era engolir e calar. Só que tinha pelo menos a satisfação de saber que, não residindo em Portugal, o único dinheiro meu que viam – bom, da empresa onde trabalhava – era o das passagens. E acreditem, o serviço era mesmo mau.
Tendo vindo para Portugal, passado uns tempos comecei a viajar e, por sorte, consegui sempre passagens noutras companhias aéreas, de que não tenho a menor queixa, muito pelo contrário. Para as minhas últimas férias fora fui à Colômbia e... era a TAP. Mas tendo-se passado tantos anos desde a última vez que a utilizara, tive alguma esperança de que tudo tivesse melhorado. Pois...
É por isso que tanto me intriga toda esta conversa de “a TAP tem de ser portuguesa e do estado”. Porquê? Para que é que precisamos de uma empresa aérea? E não me falem do serviço da Madeira e Açores, tenho a certeza de que, postos a concurso internacional, pagaríamos muito menos e os seus habitantes ficariam bem melhor servidos. E se não acreditam, façam uma pequena sondagem e verão que, tal como eu, só a usam quando não há outra alternativa.
Fiz esta introdução porque as tristes cenas a que temos assistido estão na mesma linha de pensamento ilógico que levou a reverter a privatização da TAP em vez de se vender o resto, como estava previsto. Já agora, se acreditaram que o Governo socialista da época fez um belo negócio, bom... Com a velocidade com que os privados cederam as ações, ficaram certamente a ganhar e bem!
E agora, investidos vários milhares de milhões de euros de todos nós, mesmo dos que nem nunca andaram de avião – isto sem falar no muito que vamos acabar por ter de pagar à francesa por despedimento sem justa causa, difamação, sofrimento moral e sabe-se lá que mais – a situação descambou totalmente no caricato.
Agressões físicas em pleno Ministério? Polícia e SIS chamados? Edifício encerrado para impedir a saída de um malfeitor? Despedimentos por telefone? Francamente, se tudo isto fosse incluído num filme, espectadores e críticos torceriam fortemente o nariz por acharem totalmente inverosímil.
E quem era o tal “malfeitor”? Bom, até uns momentos antes, adjunto de confiança do ministro há vários anos, ou seja, um cargo de grande responsabilidade. E passa de bom a monstro assim, num ápice?
Tivemos também de aturar horas e horas de audições parlamentares, totalmente inúteis, diga-se de passagem, os resultados estão definidos à partida e serão os que o PS, ou antes, os que Costa e “seus muchachos” quiserem. Ou seja, foi tudo legal, o adjunto é mau e incompetente – por isso esteve tantos anos no cargo – e toda a gente cumpriu as regras e só fez o que devia fazer.
Só um pequeno aparte, vendo o aspeto do dito adjunto e o do resto das pessoas que afirmam ter sido atacadas (quatro ou cinco), acham isso credível? É que se o fez, tem um brilhante futuro pela frente nas Forças Especiais...
Uma coisa é certa. Adoro os chamados “Grandes Mistérios da Humanidade” mas neste momento há um que se sobrepõe de longe a todos eles. Qual Roswell, qual Pirâmide Negra do Alasca, qual Atlântida, quero é saber o que estava no agora tão famoso computador para ter gerado um pânico deste calibre! Sim, pânico. E como sou mazinha, será que ministro, chefe de gabinete e outros que tais já ouviram falar em armazenamento na nuvem? Às tantas fizeram estas cenas todas e o que querem esconder está há muito em lugar seguro...
O mais curioso é que apesar de todos os ensaios, os principais atores desta novela conseguiram arranjar maneira de se desdizerem uns aos outros e de caírem em mentiras – perdão, mentiras são só da direita, da esquerda são meras “confusões sem importância”. Perante tudo isto, acho que o que disse no início até é um insulto às tais telenovelas mexicanas de quinta categoria. Ou até às de nona!
E anda o Sr. Costa a falar em privatizar a TAP, com ar de quem descobriu a pólvora. Era bom que houvesse algum jornalista a sério neste país que fizesse umas continhas muito simples. Só isto: temos uma boa ideia de quanto iria render na proposta de Passos Coelho; pois bem, quando soubermos por quanto irá ser vendida agora, tirar desse valor o muito dinheiro que ali foi enfiado durante este intervalo. E aposto que a venda gloriosa, sim, vai ser anunciada como tal, degenera prontamente em prejuízo e dos grandes!
Mas está tudo bem, há até um abaixo-assinado de inúmeras “personalidades” a pedir para não se privatizar a TAP. E haverá mais, certamente, da parte dos seus supostos trabalhadores, que não querem, de modo algum, ter de entrar num mercado laboral a sério. Pois é, faço meu o comentário de muito boa gente: se querem uma TAP portuguesa, então paguem-na do vosso bolso!
Para semana: Seria chocante, mas... Refiro-me, claro, às reações da nossa esquerda ao discurso de Cavaco Silva
