Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Luísa Opina

Neste blogue comentarei temas genéricos da nossa sociedade. Haverá um novo texto todas as sextas-feiras

Neste blogue comentarei temas genéricos da nossa sociedade. Haverá um novo texto todas as sextas-feiras

Luísa Opina

27
Mai23

85 Voltemos à TAP

Luísa

Antes de falar da tal “telenovela mexicana de quinta categoria”, um pequeno resumo da minha experiência pessoal com a TAP.

As minhas primeiras viagens aéreas foram com ela, mas apenas por não haver outra opção. Como era antes do 25 de abril, até funcionava bem e o serviço e o atendimento eram bastante bons – apesar de na altura não ter um termo de comparação. Tudo mudou quando fiz a primeira viagem pós-revolução e, muito francamente, para bem pior. Mas, mais uma vez, para as viagens maiores não tinha alternativa, por isso era engolir e calar. Só que tinha pelo menos a satisfação de saber que, não residindo em Portugal, o único dinheiro meu que viam – bom, da empresa onde trabalhava – era o das passagens. E acreditem, o serviço era mesmo mau.

Tendo vindo para Portugal, passado uns tempos comecei a viajar e, por sorte, consegui sempre passagens noutras companhias aéreas, de que não tenho a menor queixa, muito pelo contrário. Para as minhas últimas férias fora fui à Colômbia e... era a TAP. Mas tendo-se passado tantos anos desde a última vez que a utilizara, tive alguma esperança de que tudo tivesse melhorado. Pois...

É por isso que tanto me intriga toda esta conversa de “a TAP tem de ser portuguesa e do estado”. Porquê? Para que é que precisamos de uma empresa aérea? E não me falem do serviço da Madeira e Açores, tenho a certeza de que, postos a concurso internacional, pagaríamos muito menos e os seus habitantes ficariam bem melhor servidos. E se não acreditam, façam uma pequena sondagem e verão que, tal como eu, só a usam quando não há outra alternativa.

Fiz esta introdução porque as tristes cenas a que temos assistido estão na mesma linha de pensamento ilógico que levou a reverter a privatização da TAP em vez de se vender o resto, como estava previsto. Já agora, se acreditaram que o Governo socialista da época fez um belo negócio, bom... Com a velocidade com que os privados cederam as ações, ficaram certamente a ganhar e bem!

E agora, investidos vários milhares de milhões de euros de todos nós, mesmo dos que nem nunca andaram de avião – isto sem falar no muito que vamos acabar por ter de pagar à francesa por despedimento sem justa causa, difamação, sofrimento moral e sabe-se lá que mais – a situação descambou totalmente no caricato.

Agressões físicas em pleno Ministério? Polícia e SIS chamados? Edifício encerrado para impedir a saída de um malfeitor? Despedimentos por telefone? Francamente, se tudo isto fosse incluído num filme, espectadores e críticos torceriam fortemente o nariz por acharem totalmente inverosímil.

E quem era o tal “malfeitor”? Bom, até uns momentos antes, adjunto de confiança do ministro há vários anos, ou seja, um cargo de grande responsabilidade. E passa de bom a monstro assim, num ápice?

Tivemos também de aturar horas e horas de audições parlamentares, totalmente inúteis, diga-se de passagem, os resultados estão definidos à partida e serão os que o PS, ou antes, os que Costa e “seus muchachos” quiserem. Ou seja, foi tudo legal, o adjunto é mau e incompetente – por isso esteve tantos anos no cargo – e  toda a gente cumpriu as regras e só fez o que devia fazer.

Só um pequeno aparte, vendo o aspeto do dito adjunto e o do resto das pessoas que afirmam ter sido atacadas (quatro ou cinco), acham isso credível? É que se o fez, tem um brilhante futuro pela frente nas Forças Especiais...

Uma coisa é certa. Adoro os chamados “Grandes Mistérios da Humanidade” mas neste momento há um que se sobrepõe de longe a todos eles. Qual Roswell, qual Pirâmide Negra do Alasca, qual Atlântida, quero é saber o que estava no agora tão famoso computador para ter gerado um pânico deste calibre! Sim, pânico. E como sou mazinha, será que ministro, chefe de gabinete e outros que tais já ouviram falar em armazenamento na nuvem? Às tantas fizeram estas cenas todas e o que querem esconder está há muito em lugar seguro...

O mais curioso é que apesar de todos os ensaios, os principais atores desta novela conseguiram arranjar maneira de se desdizerem uns aos outros e de caírem em mentiras – perdão, mentiras são só da direita, da esquerda são meras “confusões sem importância”. Perante tudo isto, acho que o que disse no início até é um insulto às tais telenovelas mexicanas de quinta categoria. Ou até às de nona!

E anda o Sr. Costa a falar em privatizar a TAP, com ar de quem descobriu a pólvora. Era bom que houvesse algum jornalista a sério neste país que fizesse umas continhas muito simples. Só isto: temos uma boa ideia de quanto iria render na proposta de Passos Coelho; pois bem, quando soubermos por quanto irá ser vendida agora, tirar desse valor o muito dinheiro que ali foi enfiado durante este intervalo. E aposto que a venda gloriosa, sim, vai ser anunciada como tal, degenera prontamente em prejuízo e dos grandes!

Mas está tudo bem, há até um abaixo-assinado de inúmeras “personalidades” a pedir para não se privatizar a TAP. E haverá mais, certamente, da parte dos seus supostos trabalhadores, que não querem, de modo algum, ter de entrar num mercado laboral a sério. Pois é, faço meu o comentário de muito boa gente: se querem uma TAP portuguesa, então paguem-na do vosso bolso!

Para semana: Seria chocante, mas... Refiro-me, claro, às reações da nossa esquerda ao discurso de Cavaco Silva

19
Mai23

84 - Haja Coerência!

Luísa

Alguns casos recentes têm-me feito pensar na coerência, ou antes, na falta dela, de que padece a nossa esquerda em geral e os nossos “bem-pensantes” em particular. Nem sequer se trata de “faz o que eu digo e não o que eu faço”, não, vai bem mais fundo do que isso.

Vejamos uns exemplos.

O PAN – sabem, aquele partido que só na terceira ou quarta reincarnação incluiu as pessoas no nome – saiu-se recentemente a dizer que não devíamos apoiar as famílias numerosas. E porquê? Bom, é que existem planeamento familiar e técnicas de contraceção disponíveis para todos, por isso quem tem muitos filhos é porque os quer ter e deve pagar por eles em vez de contribuirmos todos para o seu sustento.

Não tenciono discutir aqui o mérito desta lógica, só me intriga o seguinte. O PAN é um grande defensor do aborto livre e gratuito – ou seja, pago pelos contribuintes todos – e fartou-se de protestar com a recente decisão do Supremo Tribunal dos EUA a esse respeito. Ou seja, se uma mulher deseja abortar, tem de o poder fazer livremente e à custa de todos nós. Só uma perguntinha, essa coisa de haver planeamento familiar e contraceção não se aplica aqui? Ou será que há uma razão subjacente a tudo isto, ou seja, famílias pequenas mais aborto equivalem a menos gente no mundo, ou seja, mais fica para animais e plantas...

Tivemos também a profunda indignação do PS perante a manifestação que o Chega fez no Largo do Rato onde, para os mais distraídos, se situa a sede do dito partido. Chamaram-lhe de tudo, até “terrorismo institucional”, fora os insultos ao atual Presidente da Câmara de Lisboa por a ter autorizado. Curiosamente, há uns anos a fachada do CDS – quando este ainda era um partido com algum peso – foi vandalizada com grafítis insultuosos (e não só). Mas a reação dessa mesma esquerda foi outra, falaram em liberdade de expressão, da justa indignação das pessoas e, adivinharam, das conquistas de abril! Só numa coisa têm razão, as duas situações são totalmente diferentes. Temos num caso uma manifestação ordeira e devidamente autorizada e no outro vandalismo puro... mas o que conta é a cor política de quem dá e leva.

Passemos agora aos “migrantes”, como está na moda dizer-se, os que saem de cá e os que para cá vêm. Pois bem, recentemente o nosso estimadíssimo Sr. Costa decidiu conceder enormes facilidades de obtenção da residência em Portugal aos cidadãos de países CPLP, falando em amizade, justiça social e muitos outros chavões. Só que, e há sempre um senão, os portugueses que queiram ir trabalhar ou viver nesses países continuam sujeitos a todo o tipo de entraves e burocracias. Mas atenção, chamar a atenção para isso é racismo e xenofobia. É que, como disse em tempos um dirigente angolano num programa da nossa televisão, Angola é um país soberano e tem o direito de escolher quem lá quer viver ou trabalhar – já agora, esta declaração foi recebida com acenos de aceitação de quem estava a assistir. Bom, pelo menos ficámos a saber que Portugal não é um país soberano...

Viremo-nos agora para Sua Excelência, o Sr. Marcelo. Quando Cavaco Silva promulgou a Lei do Aborto, declarando numa comunicação ao país que era contra a sua consciência mas que o fazia por respeito para com a Assembleia da República, foi altamente criticado por não ter aplicado um veto por objeção de consciência. Mas agora temos a Lei da Eutanásia – já agora, consultem o post Os falsos sinónimos em que falo da confusão, deliberada, na minha opinião, entre eutanásia e morte medicamente assistida – e o nosso atual Presidente, depois de voltas e reviravoltas, é aplaudido por a ter finalmente promulgado, isto apesar de se saber que é contra a dita por razões religiosas. Curioso, não vi um único apelo à tal objeção de consciência nem uma única crítica por não ter feito uso disso.

Último tema, as chamadas “comissões de sensibilidade” ou lá como lhes chamam, enfim, um grupo de “bem-pensantes” que analisa textos e livros para lhes retirar tudo o que possa ofender – caso tenham andado distraídos, nem a Agatha Christie escapa! Pois, no tempo do mau do Salazar, cortavam-se coisas e proibiam-se outras porque podiam ofender a moral e os bons costumes. E estamos certamente todos fartos de ouvir críticas e vociferações contra a censura. Mas... não é isso que andam a fazer agora? Pior ainda, o que é que querem dizer com “que possa ofender alguém”? Eu, por exemplo, sinto-me ofendidíssima quando leio certas versões modernas da história portuguesa, sabem, a revisão completa de tudo à luz de ideias muito woke. Sendo assim, exijo que essas tais comissões tomem medidas para evitar a sua publicação. Pois, boa sorte em conseguir que me prestem atenção!

Sei que os seres humanos não têm,  por natureza, tendência para serem coerentes, tendemos a classificar a mesma coisa de modos opostos consoante é a nosso favor ou contra nós. Não posso, pois, exigir coerência total a ninguém. Mas, francamente, sejam um bocadinho mais subtis no modo como o fazem!

Para semana: Voltemos à TAP. Ou, como alguém já lhe chamou, a essa “telenovela mexicana de quinta categoria”.

12
Mai23

83 - Fazer omeletas e manter os ovos

Luísa

Quanto mais observo a sociedade e o povo português mais me convenço que somos realmente únicos – pelo menos na minha experiência... E o título deste post refere-se a uma característica que, embora exista noutros países, claro, toma no nosso um aspeto extremo. Passo a explicar.

Há muitas falhas e problemas no nosso país, como todos sabemos, mas, infelizmente, o mesmo se passa em maior ou menor escala noutros. Só que tenho a distinta impressão de que somos o único a acreditar em contos de fadas ou, no mínimo, em magia. Sabem, agitar uma varinha de condão e pronto, problema resolvido, seja ele qual for.

E porque digo isto? Bom, vamos a um exemplo bem atual, as obras que se começaram a realizar em Lisboa.

O problema das inundações quando chove afetam a cidade no mínimo há décadas. E quando ocorrem ouvimos sempre as muito justificadas queixas de que nada se faz para resolver definitivamente a questão. Pois bem, está-se finalmente a fazer algo e qual é a reação dos queixosos anteriores? Alegria e satisfação por as cheias passarem a fazer parte do passado? É claro que não! Nem sequer falam nisso.

Pois é, o “nada se faz” deu imediatamente lugar a queixas e protestos pelos incómodos que as ditas obras estão a causar e que continuarão a provocar durante bastante tempo. E é isso que me deixa confusa e a achar que somos mesmo um povo único.

Senão, vejamos. Sabe-se há muito que este problema específico só se resolve fazendo obras profundas de saneamento. Ora por definição, este está enterrado, por isso qualquer alteração ou ampliação do sistema iria implicar corte de ruas, problemas de trânsito e de estacionamento, enfim, grandes incómodos.

Mas qual é a alternativa? Não fazer nada e deixar que a cidade alague quando chove mais ou quando a chuva coincide com a maré alta? É que, a menos que se possa usar a tal varinha de condão para fazer literalmente a obra num piscar de olhos só há duas alternativas: não fazer nada ou causar incómodos e problemas temporários. Ou seja, partir os ovos para obter uma bela omeleta.

Mas há muitos mais exemplos, para mal dos nossos pecados. Ainda está para vir o anúncio de uma obra, por muito fundamental que seja, que não seja imediatamente seguida da lista de incómodos ou problemas que vai causar.

Veja-se o caso das energias alternativas. Há manifestações e protestos para acabar com o uso do petróleo e do carvão, normalmente por parte de quem mais eletricidade consome nas suas vidas privadas, diga-se de passagem. Mas...

Não se podem fazer centrais hidroelétricas porque vão afogar árvores e arbustos e perturbar a vida animal da zona. Não se podem erguer parques eólicos porque são feios, fazem ruído – a sério, quem diz isto já esteve perto de um gerador desses? – e incomodam as aves. Painéis solares nos telhados das casas? Que horror, são tão feios! A sério, em tempos levaram o dono de uma moradia em Cascais a tribunal por ter instalado um dos primeiros aquecedores solares de água. O grande argumento? Estragava o estilo da casa e baixava o valor das restantes casas do bairro.

Ou seja, queremos energias alternativas mas não as queremos instalar.

E os exemplos continuam.

Queixam-se que uma determinada rua ou estrada está em péssimo estado e depois protestam com a mesma veemência porque o seu arranjo causa incómodos a quem por ali costuma passar.

Queremos reciclagem, mas refila-se com o barulho dos camiões que recolhem o lixo diferenciado, sobretudo o vidro e metal / plástico.

Nem a saúde ou o ensino escapam. Surgiu recentemente perto de mim um polo universitário, há muito falado e desejado. Pois, mal começaram as obras vieram logo as queixas de que iria aumentar muito as rendas de casa, trazer muita gente para a zona, trânsito, barulho, enfim, uma desgraça. E um hospital tem a mesma receção, acrescentando-lho as sirenes das ambulâncias.

Isto para não falar do comércio. Por exemplo, as tais mercearias de bairro, que foram insistindo em manter um horário que em nada se coadunava com a vida atual e de que os residentes locais tanto se queixavam. Mas quando abrem na zona supermercados que, esses sim, se mantém abertos até mais tarde e aos fins de semana, bom, lá vêm os queixumes de que “matam o comércio local”. Sim, porque o facto de as ditas lojas abrirem quando as pessoas já estão no emprego, fecharem antes de elas voltarem para casa e muitas vezes nem ao sábado de manhã abrirem nada tem a ver com isso...

Prestem atenção às notícias e, sobretudo, às muito populares entrevistas de rua e vejam se não tenho razão. É claramente um caso de preso por ter cão e preso por não o ter. Se não se faz, pois, este país é uma treta, nunca se pensa nos problemas das pessoas. Faz-se, que horror, ninguém quer saber dos problemas que isso acarreta.

Só uma pequena nota final, pensando bem a tal varinha de condão também não iria resultar. É que com tudo feito num piscar de olhos – ou antes, num agitar do braço – perder-se-ia o muito dinheiro que uma obra acarreta, sobretudo em Portugal com a “inflação especial” que ataca misteriosamente as nossas obras públicas (e não só). Resumindo, nem a magia escapa!

Para semana: Haja Coerência! As muitas (in)coerências dos políticos e bem-pensantes do nosso país

05
Mai23

82 - Dia dos Trabalhadores

Luísa

Quando anunciei o tema desta semana esqueci-me de olhar para o calendário não tendo, por isso, reparado, que tinha pelo caminho o 1º de Maio, o chamado Dia dos Trabalhadores. Irei, pois, falar de assuntos em torno desta data.

Primeiro, um pequeno contexto pessoal. Não nasci nem cresci em Portugal e quando para cá vim, uns bons 2 anos após o 25 de abril, foi para estudar. Saí depois para trabalhar e só regressei em finais dos anos 80. Não assisti, pois, ao grosso das contestações laborais, mas ainda vi o suficiente para haver certas coisas que me metiam alguma confusão.

A primeira delas é o total enfeudamento dos sindicatos a partidos políticos, uma situação inédita em países democráticos. Sim, noutros países os vários sindicatos ou uniões de sindicatos podem declarar-se por um ou outro candidato quando é altura de eleições, mas não “pertencem” a nenhum partido político.

E esse é um detalhe que, repito, sempre me fez confusão. Como é que um sindicato (ou central sindical) pode afirmar que “defende os interesses dos trabalhadores” se tem, ao mesmo tempo, de atuar dentro dos limites das políticas económicas e ideológicas do partido a que está ligado? Quantas das greves em Portugal são realmente por questões laborais e quantas por razões políticas? Pois, suspeito que a grande maioria caiu, durante décadas, nesta segunda categoria.

Um outro aspeto em que diferimos de outros países, e não em nossa vantagem, é o modo como uma greve é convocada. Ou é simplesmente anunciada pela direção do respetivo sindicato ou, quando há “votação”, esta é feita de braço no ar numa sala apinhada. Muito francamente, com as cenas a que temos assistido de insultos e agressões por parte dos piquetes de greve, alguém acha que uma votação feita nesses termos é mesmo um ato democrático e que reflete a vontade dos sindicalizados?

Já agora, nos tais países democráticos uma greve só pode ser convocada após uma votação a sério com urnas fechadas, percentagens de votantes e de sins, enfim, algo a sério. E se um sindicato tem mais do que um certo número de membros, a contagem e verificação dos votos têm de ser feitas por uma empresa externa ao sindicato!

Ouvimos, também, falar muito do peso dos sindicatos. Mas esses números dizem exatamente o quê? Serão mesmo reais? Ou teremos também aqui o cenário de certos partidos que arranjaram inicialmente o número de assinaturas para serem criados mas que, a avaliar pelo que fazem em campanhas legislativas, o mais provável é agora nem um décimo conseguirem (digo um décimo porque sou uma otimista nata...).

Outro aspeto que me faz confusão quando ouço sindicalistas é a questão dos contratos coletivos. Sim, a teoria até é boa, é óbvio que, até um determinado nível de desenvolvimento económico de um país e para certos setores, cem ou mil têm muito mais poder negocial do que um ou até dez. O problema está numa outra curiosidade do nosso país, os problemas em despedir. Graças a isto, o que um contrato coletivo faz é tratar do mesmo modo quem cumpre e trabalha e quem nada faz.

Mas tudo isto nem sequer é o pior do nosso sindicalismo. Infelizmente! Já repararam que para os líderes sindicais “trabalhador” é apenas alguém com um emprego abrangido por um sindicato? E notaram que ao ouvirmos os seus discursos e declarações nos sentimos em pleno século 19 ou, quanto muito, em meados do 20?

O mundo mudou imenso mas para eles continua tudo na mesma.

Vejamos, por exemplo, os trabalhadores por conta própria. Estão em número crescente em todo o Ocidente e Portugal não é exceção. Temos até agora os chamados “nómadas digitais” que, muito simplesmente, vagueiam pelo mundo enquanto trabalham para clientes em países dispersos e que só por mero acaso coincidem com o da sua atual residência. Mas para os nossos sindicatos nada disso existe. Ou, se fazem o favor de admitir que há pessoas dessas, bom, não são bem “trabalhadores” e, sendo assim, não lhes interessam.

Perante tudo isto, admiram-se que cada vez mais portugueses mandem o sindicalismo “dar uma curva? Que os que o podem fazer prefiram negociar o seu próprio contrato de trabalho do que sujeitar-se ao tal contrato coletivo que dá o mesmo salário e benesses ao bom trabalhador e ao mau?

Acho que é mais do que altura de os nossos sindicatos olharem bem para o país e para os trabalhadores que dizem representar e fazerem um esforço para serem o que sempre deviam ter sido: organizações que defendem as melhores condições possíveis, de um modo realista. Sim, realista, quando ouço algumas das suas reivindicações fico logo a pensar o que é que aqueles dirigentes andarão a tomar...

E acabarem de vez com estas greves atrás de greves que, analisadas como deve ser, não resultam em nada. É que são tantas que já ninguém quer saber, a única coisa que importa à população é o incómodo que lhes causam. Já agora, há uns anos o maior sindicato da Alemanha decretou uma greve – usando uma votação a sério – e todo o país seguiu o acontecimento atentamente. É que era a primeira em trinta e muitos anos e todos queriam saber a razão de algo tão invulgar. Pois, aqui é a mesma coisa...

Não ouço os discursos deste tipo de datas, mas apanhei de passagem um líder sindical a dizer que havia poucas pessoas na marcha ou lá o que foi do 1º de maio “porque tinham medo das represálias do patronato”. Notícia de última hora, a verdadeira razão é vocês estarem mais do que obsoletos e poucos vos verem a menor utilidade – a menos que seja pelo tacho de se ser sindicalista, claro.

Para semana: Fazer omeletas e manter os ovos. A propósito dos incómodos causados pelas obras em Lisboa (e não só)

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Calendário

Maio 2023

D S T Q Q S S
123456
78910111213
14151617181920
21222324252627
28293031

Arquivo

  1. 2025
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2024
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2023
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2022
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2021
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D