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Luísa Opina

Neste blogue comentarei temas genéricos da nossa sociedade. Haverá um novo texto todas as sextas-feiras

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Luísa Opina

28
Abr23

81 - E viva o 25 de Abril!

Luísa

Devido ao muito que aconteceu antes e durante o 25 de abril deste ano decidi converter este post numa espécie de carta aberta ao Muito Digno (pelo menos na opinião dele) Presidente da Assembleia da República, o Sr. Santos Silva, daqui em diante conhecido como o Sr. SS, para poupar esforço.

Só um pequeno detalhe, não sou nem nunca fui militante do Chega ou de qualquer outro partido político.

Dito isto, aqui vai a minha cartinha.

Caro Sr. SS:

Ando há uns tempos para lhe dedicar um post mas o que se passou neste 25 de abril, o suposto Dia da Liberdade, foi literalmente a gota de água que fez entornar o caldo. Refiro-me, claro está, aos seus comentários e reações às atitudes do partido Chega que, na sua opinião, envergonharam o país. A sério? Foi mesmo isso que envergonhou os portugueses? Se realmente acha isso, lamento informá-lo de que não conhece minimamente o povo que diz representar e que lhe paga o salário e outras (numerosas) benesses.

Sabe o que é que realmente nos envergonhou? Pois bem, passo a explicar-lhe alguns dos destaques.

Primeiro, a condecoração dada pelo nosso estimadíssimo Presidente da República, o Sr. Marcelo, à esposa do Sr. Lula “por serviços prestados à Nação”. Para os mais distraídos, lembro que a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique é destinada, e cito, “a quem houver prestado serviços relevantes a Portugal, no país e no estrangeiro, assim como na expansão da cultura portuguesa ou para conhecimento de Portugal, da sua história e dos seus valores.” Dois dos anteriores agraciados, que dispensam apresentações, foram o Dr. Pedro Ferraz da Costa e o escritor Mário de Carvalho.

Com a sua enorme preocupação pela vergonha que o Chega trouxe ao país, talvez possa esclarecer os papalvos que o sustentam sobre a aplicação de tudo isto à tal senhora. Só que aposto que não consegue, por isso, o seu amigo Marcelo trouxe, ele sim, vergonha para o nosso país.

Mas há mais. Soube, com grande espanto meu, que o nosso ainda mais estimado Primeiro-Ministro, o Sr. Costa, disse, num discurso em Matosinhos, que “temos é pena de não falarmos com o vosso sotaque”. Fantástico! Não sei quem era o “nós” implícito na frase, não me incluía, certamente, é que ao contrário do nosso PM e, obviamente, de si, tenho muito orgulho em ser portuguesa e não vejo nenhuma razão para me rebaixar perante quem quer que seja.

Já agora, o Sr. Lula retribuiu dizendo que “geringonça no Brasil não é coisa muito boa. É um amontoado de todas as coisas.” Pois é, o nosso PM põe-se de gatas perante o Presidente de um país estrangeiro e, em troca, este insulta-nos.

E é o Chega que envergonha o país?

Quer pior vergonha do que a entrada do Sr. Lula num órgão de soberania do nosso país rodeado de guarda-costas? Ou antes, de energúmenos, que fizeram questão de agredir deputados eleitos pelo povo português... mas tudo bem, o Sr. SS até aplaude, eram os maus do Chega. Já agora, é legal entrar com guarda-costas na nossa Assembleia da República? Qual seria a sua reação se alguns deputados – e sabe a quem me refiro – fizessem o mesmo por se sentirem sob ameaça constante? Vergonhoso, tudo isto!

Sei que gosta muito de falar da falta de credibilidade democrática de André Ventura e de mencionar, a torto e a direito, a sua posição de “segunda figura do Estado” e, como tal, merecedora de todo o respeito. Só que...

Vamos por partes. Não gosto do Sr. Costa nem do Sr. Marcelo mas respeito-os enquanto titulares dos seus cargos porque foram eleitos pelos portugueses. Sim, ao contrário de si, eu tenho respeito pela democracia.

Mas a si, quem o elegeu para ser a tal “segunda figura”? Não foram certamente os eleitores portugueses. Pior ainda, quando foi eleito deputado, não passava de um nome entre dezenas de outros, sem haver sequer a menor garantia de que iria ocupar o seu lugar. É que, lembro, um deputado tem de estar na lista do seu partido mas este não é obrigado a seguir a ordem indicada. Recordo uma época em que se escolhiam atores e outras figuras conhecidas como cabeças de lista e que depois eram pura e simplesmente afastados para darem lugar a políticos de carreira.

Resumindo, ninguém votou em si. Já André Ventura, quem votou no Chega sabia que pelo menos o seu líder iria estar na Assembleia.

E quanto a ser Presidente da Assembleia da República, a “eleição” é feita apenas entre os deputados e sabe-se, à partida, que é eleito o escolhido pelo partido com mais votos. E chama a isso ter credibilidade democrática?

Último ponto, a sua ameaça de que o Chega nunca será convidado para visitas de estado ao estrangeiro. Esta sua afirmação deixou-me uma dúvida. Essas viagens são pagas por si? É que se são pagas pelos contribuintes, como é que explica pôr de lado os escolhidos de quase 400 000 deles e obrigá-los a ver os seus impostos a irem para as despesas de pessoas altamente democráticas como são os deputados do PCP, por exemplo?

Sabe, Sr. SS, talvez deva mudar oficialmente de nome para Luís XIV, aquele que dizia “o Estado sou eu”. É que todas as suas atitudes e afirmações só demonstram que tem zero respeito pela democracia – ou antes, respeita imenso a nova definição do termo e que é, muito simplesmente, só é democrata quem agradar à esquerda ou, pior ainda, a si.

Numa coisa dou-lhe toda a razão, o que se passou neste 25 de abril envergonhou muito a sério Portugal. Mas não pelas razões que nos deu, foi o senhor e a sua trupe (ou seja, o trio da conversinha a sós que afinal foi gravada) quem nos encheu de vergonha.

E viva a liberdade!

21
Abr23

80 - Decisões, decisões...

Luísa

Este post poderia muito bem ter, como título alternativo, “Como não decidir tomando decisões”, um pouco à semelhança de um meu post anterior, Mentir dizendo só a verdade, prática que a esquerda e muitos jornalistas dominam na perfeição.

Peguemos, como exemplo, no famigerado novo aeroporto de Lisboa, de que ouvimos falar há décadas. Sim, décadas, o assunto vem ainda de antes do 25 de abril.

Esta semana houve quem publicasse a capa de um livro intitulado, precisamente, “Estudo da localização do novo aeroporto de Lisboa”, uma publicação do Ministério das Comunicações de... 1972! Já agora, a opção escolhida era Alcochete.

Mas este nem sequer é o primeiro estudo sobre o assunto. Em 1969 fez-se uma primeira análise da situação, ou antes análises, por parte do GNAL, o recém-criado Gabinete do Novo Aeroporto de Lisboa. Para além da manutenção na Portela, foram estudadas quatro outras localizações, Fonte da Telha, Montijo (!), Porto Alto e Rio Frio, indo a preferência para Rio Frio. Chegou-se, até, a fazer levantamentos naquela zona, nomeadamente para as pistas a criar.

É claro que tudo parou com a Revolução, fazendo-se depois tábua rasa de tudo o que já fora feito anteriormente, como aconteceu, aliás, em inúmeras outras áreas.

Mas isso até nem seria muito grave se não fosse a tal prática vigente do “não decidir tomando decisões”. É que depois de várias flutuações e anúncios, parecia que tudo estaria finalmente decidido, ficando o novo aeroporto no Montijo. Só que... esta semana surgiu, subitamente, a opção de Santarém, não mencionada anteriormente mas que, segundo dizem inúmeros especialistas, seria mesmo a escolha óbvia por todos os motivos e mais um.

Até pode ser que tenham razão, apesar da dúvida que me fica sobre o tremendo atraso deste anúncio – ou seja, se é assim tão melhor do que todas as outras indicações, porque não foi indicado há mais tempo?

Mas a verdadeira questão é que o lançamento do nome de mais um local vai implicar novos estudos de viabilidade, de impacto ambiental, enfim, de tudo e mais alguma coisa que, claro, levarão anos – fora atrasos posteriores devido aos usuais protestos, gritos e ranger de dentes que acompanham sempre obras de grande envergadura.

Resumindo, a decisão de incluir Santarém implica não decidir a localização do novo aeroporto!

Mas há inúmeros exemplos do mesmo tipo.

Veja-se o que aconteceu com as recentes medidas para disponibilizar casas. Foi anunciada com grande aparato a “decisão” de obrigar os donos de casas devolutas a alugarem-nas ao Estado, que depois as alugaria a quem precisasse. Só que não se tinha estudado o enquadramento legal e constitucional, o seu real impacto na resolução deste grave problema, enfim, nada tinham feito. E com este verdadeiro “carro à frente dos bois”, tomou-se, sim, uma decisão só que, na prática, nada ficou decidido.

Mas não há problema, o importante é ir tomando decisões e, acima de tudo, anunciá-las com rufar de tambores, foguetório e tudo o mais, tema aliás de um post anterior, É preciso é anunciar!

No fundo, pensando bem, até nem é chocante isto acontecer, vem um pouco à semelhança da atual definição de pesquisa. É que antigamente, nos maus velhos tempos, estudavam-se os factos e tentava-se chegar a uma teoria que os pudesse explicar. Agora faz-se o contrário, pega-se numa teoria e procuram-se factos que a comprovem e apenas estes, claro, os que não “encaixem” são pura e simplesmente descartados.

E o modo de decidir usa o mesmo esquema. Primeiro vêm as decisões, rapidíssimas e em cima do acontecimento, numa clara prova de dinamismo, e só depois se pensa nos estudos e outros elementos que possibilitem a sua execução ou, pior ainda, que mostrem, até, se a dita “decisão” é ou não viável.

E com a lentidão com que tudo se faz neste nosso belo país, mais os tais protestos inevitáveis e que levam sempre a mais estudos, análises e comissões de avaliação, quem está no poder pode passar décadas a tomar decisões sem nunca ter realmente de decidir nada.

Detalhe curioso, quando chega a altura de eleições, essas ditas decisões são usadas como trunfo para provar que se fez imenso e que, por isso, o povinho, distraído, pelos vistos, deve voltar a votar em massa em quem tanto labutou para criar riqueza e bem-estar nos governados.

E continuará a ser assim, pelo menos não vejo grandes hipóteses de aparecer, finalmente, alguém que berre, alto e bom som, “O rei vai nu!” Ou, caso apareça, será imediatamente classificado de reacionário, saudosista, fascista, enfim, os miminhos do costume.

Uma última nota, falo por mim, claro, mas estou fartíssima da infindável saga do aeroporto e acho, muito francamente, que 54 anos são mais do que suficientes para decidir a sua localização. Repito, decidir e não tomar uma decisão...

Lembremo-nos de que todo o projeto de levar homens à Lua levou menos de uma década!

Para semana: E viva o 25 de Abril! O que supostamente significa comparado com a realidade

14
Abr23

79 - Nacionalizar é bom para a economia

Luísa

Começo o post desta semana com uma citação de Einstein, que me tem vindo muito à mente nos últimos tempos. Certamente já a ouviram, é muitíssimo famosa e existe em inúmeras variantes – a tradução, entenda-se, a frase em inglês é sempre a mesma.

E qual é ela? Pois bem, é muito simplesmente a seguinte: “Loucura é continuar a fazer sempre o mesmo e esperar resultados diferentes.”

Pois bem, se levarmos isto à letra somos, certamente, um país louco ou, mais exatamente, um país de loucos varridos.

Ora vejamos. No período pós-25 de abril desatou-se a nacionalizar tudo e mais alguma coisa. De grandes grupos económicos a propriedades agrícolas, bancos, empresas diversas, foi um ver se te avias de passagem do “mau” do capitalismo privado para a “boa” estatização.

E a princípio até correu tudo bem... pudera, havia reservas de fundos que entusiasmaram o pessoal dessas empresas e os muitos que foram prontamente contratados. E foi gastar a rodos, aumentos salariais, benesses de todo o tipo, enfim, uma vida de ricos. Ou antes, de novos-ricos.

Só que, sem criação de riqueza e com o aumento brutal da despesa, o maná em breve acabou e vieram os problemas graves e as falências, precipitando o país numa crise económica de onde se saiu – saímos mesmo? – muito a custo.

Com a enorme quantidade de exemplos nefastos vindos dessa época gloriosa seria de esperar que tivéssemos aprendido a lição. Mas, pelos vistos, somos mesmo loucos.

É que por tudo e por nada, lá vem a nossa bendita esquerda falar em... pois, adivinharam, nacionalizar. Ou, para evitar más conotações, estatizar.

A banca está em crise? Nacionalize-se! A TAP dá prejuízos gravíssimos mas há quem tenha comprado uma boa fatia dela? Nem pensar, é preciso comprá-la de volta, a qualquer custo! Os hospitais em parceria público-privada funcionam? Que horror, acabe-se já com isso!

Adorava que alguém com acesso a esses dados e tempo para os trabalhar divulgasse o quanto gastámos nos últimos anos a comprar para o Estado empresas em falência técnica. Mais ainda, quanto nos custa anualmente mantê-las a fingir que funcionam.

É claro que, como não estamos numa época revolucionária, para grande desagrado da dita esquerda, nacionalizar significa na maior parte dos casos comprar aos privados pelo menos a maioria do capital de uma empresa. E quem é que acham que sai a ganhar neste negócio?

Lembro-me do gáudio demonstrado pelo Sr. Costa quando anunciou que tinha chegado a acordo para a compra da quota privada da TAP. Face à rapidez com que se chegou ao valor e condições de venda, a minha conclusão imediata foi de que se tratara de um grande negócio... para os privados. Infelizmente, o tempo veio dar-me razão.

Mas todas estas intervenções, compras e nacionalizações são sempre anunciadas como “a bem do país”. Compra-se o SIRESP para evitar que o sistema volte a falhar! Nacionaliza-se a Efacec para travar o impacto na economia. Acabam-se com as parcerias público-privadas nos hospitais a bem da saúde...

 Enfim, com tantas medidas tomadas para nosso bem, devemos estar a viver às mil maravilhas!

Pior ainda, acaba-se, mais cedo ou mais tarde, por falar em reprivatização das ditas – é o que se diz em relação à Efacec e à própria TAP. Até podia ser uma boa notícia, só que, ao fim de algum tempo nas mãos do Estado, as empresas estão sempre em pior estado do que estavam antes e, para poderem ser vendidas, há que absorver prejuízos brutais para tornar a venda atraente – ou possível.

Há, depois, a outra face da moeda, que é a privatização de coisas estatais. Lembro-me do pânico do BE quando se começou a falar em privatizar as Águas de Portugal e havia uma empresa chinesa interessada. Quem os ouvisse ficava com a ideia de que iria faltar água em Portugal porque iria toda para a China!

Isto para não falar nos protestos e greves que cada decisão destas despoleta porque, e estou a parafrasear, “vai ser mau para os trabalhadores”.

Pois vai, uma empresa privada tem de dar lucro se quiser continuar a existir e não se pode dar ao luxo de ter pessoal a mais e todo o tipo de benesses sem a menor justificação, como acontece com o que é estatal – pois, é que aqui, no fim do ano o “Estado” absorve os prejuízos, ou seja, pagamos todos os benefícios de uma minoria.

Não acreditam? Pensem na CP, que tem uma dívida acumulada de mais de 2000 milhões de euros. Brilhantemente, muitos dos seus empréstimos bancários estão a ser substituídos por “empréstimos” da Direção-geral do Tesouro e Finanças – no ano passado isso já ia em 84 %. E como se não bastasse, querem agora “limpar” toda essa dívida histórica para que possam recomeçar a pedir empréstimos aos bancos para compra de material circulante. Já agora, escrevi “empréstimos” assim, entre aspas, porque não são pagos nem há penalizações por não o estarem a fazer. Ou seja, são aquilo que em bom português se chama “emprestadados”.

E é este o panorama que a nossa esquerda quer, colocar tudo e mais alguma coisa nas mãos do Estado. E quando lhes perguntam porque acham que desta vez será diferente do que se passou após a revolução, pois bem, a resposta é muito simples: é claro que vai funcionar, o que é estatal é que é bom!

Pois, Einstein tinha razão, é mesmo a definição de loucura!

Para semana: Decisões, decisões... A propósito do novo aeroporto de Lisboa e não só.

07
Abr23

78 - O patriarcado

Luísa

Há umas semanas, demitiu-se a primeira-ministra da Nova Zelândia. Até aí, tudo bem, até a afirmação de que saía “porque era a altura certa” e nada tinha a ver com a queda brutal da sua popularidade e da do seu partido é apenas “a treta” do costume. Mas as coisas entram no bizarro quando acrescenta que quer sair para estar com a filha pequena e que agora pode finalmente casar com o seu namorado – a sério, o que é que a impedia de o fazer?

Segundo parece, não conseguia equilibrar vida profissional e familiar e a culpa é... do patriarcado. Francamente, não entendi. Será que achava que podia ter um cargo de primeira-ministra em part-time?

Mas a postura das supostas feministas em relação ao avanço das mulheres na sociedade já há muito me faz confusão, até pelos chavões que usam.

Já toquei neste assunto em dois posts anteriores, A (des)igualdade de género e São as mulheres que oprimem as mulheres, mas sob outras vertentes. Desta vez irei concentrar-me apenas em mulheres em lugares de responsabilidade, seja na política, seja no mundo empresarial ou outros.

Um dos mitos muito divulgados por essas novas feministas é que se fossem as mulheres a mandar as coisas seriam melhores, não haveria guerras, abundaria a empatia e as soluções negociadas, enfim, o Paraíso na Terra. Daí haver mulheres dirigentes que contam para elas e outras que não contam.

Em política, por exemplo, nem querem ouvir falar de Margaret Thatcher. Ora seria de pensar que a chamada Dama de Ferro seria o ídolo de qualquer feminista que se preze. Subiu a pulso e apenas graças às suas qualidades – sim, na altura não havia quotas – e conseguiu ter uma vida familiar boa em paralelo com a sua brilhante carreira política. Mais ainda, muitas das frases que lhe deram fama poderiam ser vistas como um verdadeiro estandarte do feminismo – que, diga-se de passagem, ela odiava. Por exemplo, e estou a parafrasear, se queres que algo seja dito, pede a um homem, se queres que seja feito, pede a uma mulher...

Mas não, Thatcher não era o tipo de mulher considerado “certo”.

O mesmo aconteceu com Angela Merkel. Ora pensem bem, uma mulher que sobe até bem alto na Alemanha de Leste e, após a reunificação, faz o mesmo na nova Alemanha? Sem quotas, repito... Não seria de esperar que fosse apontada como um exemplo a seguir?

Claro que não! As ditas feministas preferem as dirigentes “soft” que têm surgido na Escandinávia, Nova Zelândia, etc. que, muito francamente, chegaram ao topo dos respetivos partidos porque, segundo foi dito, era altura de terem uma mulher dirigente. E, já agora, aqui para nós que ninguém nos ouve, sabem o nome de alguma? Ou o que têm feito pelos seus países?

Pior ainda, se alguma dessas dirigentes tão apreciadas toma uma decisão “não feminina”, como restringir a imigração ou apoiar a Ucrânia, por exemplo, chovem logo as afirmações de que não é “uma verdadeira mulher”.

O mais curioso é que cresci em pleno patriarcado – pelo menos é o que me dizem – e nunca ouvi essa frase, apesar de ter escolhido um curso muito pouco comum entre raparigas nessa época (Engenharia Eletrotécnica).

Mas agora ouço-o continuamente da parte de quem defende, supostamente, os interesses das mulheres. Querem até dizer-me que ideias políticas devo ter, ou antes, que não devo ter, isso se quiser ser vista como uma mulher “a sério”. Sim, ouvi uma comentadora inglesa dizer que uma mulher que vota no Trump não é mulher!

Para terminar a parte política, vou dar um exemplo português que mostra claramente o “ter preso por ter cão e por não o ter” que grassa nesses novos movimentos.

Lembram-se de quando Assunção Cristas era ministra e teve uma criança? Pois bem, a dita ainda não tinha nascido e já diziam que se devia demitir porque era indecente deixar as suas funções durante tanto tempo por causa da licença de maternidade. Mas como não a tirou, voltando logo ao trabalho, as mesmas vozes ergueram-se em protesto porque, adivinharam, “uma mulher a sério” teria ficado em casa...

Passando ao mundo empresarial, vou só referir o que se tem passado com a TAP, ou antes, com as duas principais vozes femininas ligadas a toda essa polémica. Refiro-me, claro, a Christine Ourmières-Widener e a Alexandra Reis. Uma, a francesa, com uma vastíssima experiência profissional na área de companhias aéreas. A outra, com um saltitar constante de lugares em empresas públicas, sempre na área de vendas, segundo dizem, e bons conhecimentos entre a classe política – sim, diz-se apartidária, mas será que acha que foi nomeada Secretária de Estado por sorteio público?

A grande questão aqui é a sensação que me fica de que acolhe mais simpatias do que a francesa porque esta é dura e, acima de tudo exige que o pessoal da TAP cumpra as suas obrigações (isto é o que dizem os sindicatos). Ou seja, não é “feminina”...

O problema é que vemos isto por todo o lado. Há inúmeras mulheres em cargos diretivos importantes, a que ascenderam por mérito próprio, só que não ouvimos falar delas. Quem ouvir o tal suposto movimento feminista, não existem – pelo menos só ouvimos exigências de quotas e choradinhos sobre a presença quase exclusiva de homens no topo.

E isto estende-se a todas as áreas. Há uns três anos, um amigo meu que reside há muito na Escócia decidiu casar em Portugal e uma sua amiga queria entrevistar mulheres cientistas portuguesas. Pediu ajuda para arranjar alguns nomes e eu fiz uma rápida pesquisa. Pois bem, em minutos arranjei mais de trinta nomes. E fiz questão de escolher apenas pessoas que tinham obra feita reconhecida internacionalmente, colaborações com a NASA, por exemplo. Francamente, fui a primeira a ficar espantada.

Não acham que seria boa ideia divulgar as suas histórias para servirem de inspiração às jovens que ainda estão no liceu? Ou as das muitas mulheres de topo em diversas áreas?

Só que a divulgação de todos estes casos de sucesso, bem merecido, repito, não por quotas, iria impedir o contínuo bramar contra o patriarcado...

Para semana: Nacionalizar é bom para a economia! Pois é...

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