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Luísa Opina

Neste blogue comentarei temas genéricos da nossa sociedade. Haverá um novo texto todas as sextas-feiras

Neste blogue comentarei temas genéricos da nossa sociedade. Haverá um novo texto todas as sextas-feiras

Luísa Opina

27
Jan23

69 - TAP e quejandos

Luísa

A nossa esquerda tem a obsessão do nacional. Mas atenção, não do produto nacional, seja este de que área for, para ser promovido e divulgado. Não, é claro que não, até porque esse é quase todo – ou até todo – de produção privada. Não se trata pois disso mas, muito prosaicamente, de ter empresas nacionais. O que até podia ser um sentimento digno de elogios, sim, seria excelente se tivéssemos muitas de qualidade e que dignificassem o país.

Só que, mais uma vez, nacional tem outro significado para os “verdadeiros democratas” do nosso país, refere-se, apenas a empresas totalmente do Estado ou em que este é, no mínimo, acionista maioritário. Aliás, se lhes fizéssemos a vontade, nem haveria setor privado ou este estaria reduzido a pequeníssimas empresas, mas mesmo estas sujeitas a regras e regimes ainda mais anuladores da iniciativa empreendedora do que o que temos atualmente.

Sempre que se fala em privatizar um setor, lá vêm as vozes indignadas e o pânico generalizado. Lembro-me do que se passou com a privatização de empresas de distribuição de água em que, perante a hipótese da compra por uma empresa chinesa a reação dava a entender que a nossa água ia ser simplesmente embarcada em navios para a China!

Mais ainda, há permanentemente propostas para nacionalizar isto e aquilo porque, como todos estamos cansados de saber, o que é do Estado é que é bom e funciona às mil maravilhas. Pois...

E se a empresa em questão dá prejuízo, então qualquer proposta de a privatizar é recebida com clamores e ranger de dentes, sendo sempre o grande argumento desse senhores “ficarão em perigo postos de trabalho”. A sério?

Vejamos o que se passou com os Estaleiros de Viana, que andaram a ser suportados pelo Estado, ou seja, por todos os contribuintes, para manter “empregados” meia dúzia de gatos pingados. Quando foram finalmente extintos tinham uma dívida superior a 700 milhões de euros e os ditos funcionários passaram, na sua maioria, diretamente para a reforma. E ainda falam das indemnizações chorudas da TAP! Por quanto nos ficou cada um daqueles postos de trabalho?

Pois bem, a TAP tem estado nas notícias com greves de todos os tipos. Para começar, acho uma total falta de respeito para com os portugueses que o pessoal de uma empresa que nos anda a custar milhões se atreva a queixar-se de que ganha pouco. Pior ainda, que prejudique, como prejudica há anos com greves e protestos constantes, o tal povo que supostamente existe para servir.

Sim, porque o argumento “decisivo” para manter este peso morto é que o país precisa de uma companhia aérea, argumento esse que nunca entendi.

Precisamos, porquê? É a única que voa para Portugal e de cá para outros destinos? É claro que não, muito pelo contrário. É a que tem melhor serviço? Devem estar a brincar! Durante anos evitei voar na TAP precisamente pelo péssimo cumprimento do tal pessoal de cabina que “merece” melhores condições salariais. Quando a voltei a usar – e acreditem, não foi por escolha própria – nada mudara. E, como tinha passado os anos anteriores a voar em companhias diversas, tinha um bom termo de comparação!

Falam também no serviço que presta com os voos para a Madeira e Açores. Quem os ouça pode até ficar a pensar que, extinta ou privatizada a TAP, esses arquipélagos ficam isolados e só de barco se sai de lá. É que, pelos vistos, não é possível fazer um concurso internacional para esse serviço – e aposto que seria melhor e mais barato, perguntem a madeirenses e açorianos quem escolhem para as suas viagens quando têm a liberdade de o fazer – pequena dica, não a TAP.

Ainda me lembro da enorme satisfação do Sr. Costa, o nosso tão esforçado Primeiro-ministro, quando conseguiu reverter a privatização de parte dessa empresa, comprando o que fora vendido no tempo do Passos Coelho. Pelos vistos não ocorreu a ninguém que se o dono dessas ações, um grande empresário internacional, foi tão célere a vendê-las, se calhar foi porque fez um belíssimo negócio. Ou alguém acredita que foi ele que saiu prejudicado?

Eu até entendo esta fúria de nacionalizar tudo. É que os funcionários dessas empresas passariam a ser funcionários públicos, ou seja, votantes enfeudados à esquerda que lhes apara o jogo das “carreiras”, dos aumentos, das benesses, das greves e de tudo isso.

Já privatizar tem o efeito oposto e é, pois, indesejável.

Há ainda uma outra discrepância que me intriga. Se uma empresa privada tem prejuízos e fica sob ameaça de fechar, ouvimos logo os “especialistas” usuais a culparem os seus gestores. Sim, porque as atuais leis laborais, que as impedem de se agilizar para fazer face às mudanças do mercado nada têm a ver com o assunto...

E se calhar até têm razão, pelo menos em parte, há certamente erros de gestão, mas o que eu acho curioso é que as empresas públicas dão, na sua esmagadora maioria, prejuízos ainda mais avultados e a culpa não é de ninguém, acontece, apenas! E nunca, mas mesmo nunca, é culpa dos gestores nomeados por terem, como “qualidade” principal, fazerem parte dos “boys”.

Como última nota, uma empresa pública é mantida a funcionar à custa dos nossos impostos muito para lá do desejável apenas para salvaguardar postos de trabalho. E as privadas, a quem se nega até um pequeno alívio na pesadíssima carga fiscal para poderem dar a volta à situação? Não têm postos de trabalho? Ou estes não são importantes, porque não são públicos?

Muito francamente, e como última nota, feche-se de vez a TAP – bom, se a conseguirem vender, tanto melhor, sempre se recupera parte do prejuízo, mas duvido que haja quem a queira agora, sobretudo se houver exigências de manter o pessoal. E tanto num caso como no outro, ponham-se os contribuintes como credores principais e só quando tivermos recuperado tudo, mas mesmo tudo, do que tem sido enfiado nesse poço sem fundo, então, e só então, que chegue a vez dos seus trabalhadores receberem algum dinheirinho!

Para semana: Indignação seletiva. Tanto protesto com o palco para o Papa e nada contra a Parque Escolar do Sócrates e similares...

20
Jan23

68 - Respeito

Luísa

Nas manifestações que os professores têm andado a fazer, a palavra mais ouvida tem sido “respeito”. Segundo parece, os ditos senhores professores exigem ser respeitados. E eu até concordaria, se o merecessem.

Façamos uma pequena análise do nosso sistema educativo e do muito que tem mudado nas últimas décadas, infelizmente para pior.

Com a injeção enorme de alunos no pós-25 de abril, havia dois caminhos a tomar. Manter o nível de exigência, com exames e reprovações, ou alinhar na teoria do “coitadinho” e dar todo o tipo de facilidades. É claro que seguimos o caminho mais fácil.

Mas o grande problema com esta escolha é que quanto menos se exige às pessoas menos estas querem fazer, é um facto da nossa natureza humana. E entrámos, assim, alegremente numa espiral descendente em que se foram reduzindo currículos, se “estupidificaram” matérias para serem acessíveis a todos e se cortou, sem dó nem piedade, em tudo o que parecesse ser uma avaliação, “para não traumatizar as criancinhas”, que vão, assim, seguindo de ano para ano sem terem as muito necessárias bases em português e matemática, sobretudo.

E o resultado está à vista, jovens que entram para a universidade sem saberem interpretar um texto (ou uma pergunta), que acham sempre tudo muito difícil e trabalhoso, que consideram os estudos uma interrupção indesejável da distração a que se acham com direito e, acima de tudo, que não sabem pensar nem têm o menor sentido crítico perante o que ouvem ou leem. O que, diga-se de passagem, é o sonho de certas cores políticas, quanto mais ignorantes, mais caem em promessas ocas!

E por muito que digam o contrário, estas manifestações e greves não são em defesa do ensino. Aliás, os cartazes são muito claros, defendem, isso sim, o ensino público. Ou seja, os seus tachos. É que como funcionários públicos, para além de outras regalias que não existem no privado, como as famigeradas carreiras, não podem ser despedidos. Sabiam que há professores públicos que o continuam a ser mesmo após cumprirem pena por pedofilia contra alunos seus? Quanto muito ficam sem dar aulas, mas têm direito às mesmas promoções e benesses dos colegas e os anos (em casa) vão contando para a reforma.

Uma das grandes queixas que temos ouvido é que ganham pouco. Para além do facto de que um salário é sempre pequeno para quem o recebe, será que já fizeram as contas a quanto ganhariam se estivessem no privado? Aposto que era bem menos – pelo menos não vemos filas de professores a quererem ir para o privado, mesmo os que não fazem parte do quadro e que chegam a esperar anos pela hipótese de virem a ser funcionários públicos.

E nunca ninguém fala do grande filão a que muitos têm acesso, as explicações. Sabiam que há explicadores especializados no ensino primário e logo a partir da primeira classe? Já agora, se tem filhos em idade escolar ou amigos que os tenham, faça um pequenino inquérito, basicamente, quantos desses explicadores passam recibo pelas chorudas quantias que recebem. E se acredita que mesmo sem recibo declaram esses ganhos às Finanças, bom...

Como estamos sempre a ouvir dizer que os nossos professores do ensino público são o máximo, a única explicação possível é que as criancinhas portuguesas são muito, mas mesmo muito burras... Curiosamente, se forem para o ensino privado, essa burrice passa-lhes num ápice. É que com o balúrdio que os pais pagam, exigem resultados e ali não há emprego de pedra e cal.

Se houvesse manifestações e greves quando um deles é agredido por um aluno ou por pais de alunos, teriam todo o meu apoio. Mas quando se dá um caso desses, infelizmente cada vez mais frequentemente dada a impunidade de quem o pratica, os sindicatos ficam calados ou emitem apenas um comunicado a que chamar inócuo já seria muito.

Por isso está na altura de pegar na palavra destes manifestantes e exigir respeito. Sim, respeito pelos pais dos alunos e, acima de tudo, por todos os pagantes de impostos, tenham ou não filhos em idade escolar, que sustentam toda esta pesadíssima máquina a troco de nada – é que se querem que os filhos aprendam têm de arranjar maneira de os pôr no ensino privado ou, solução um pouco mais económica, pagar-lhes explicações para aprenderem o que deviam aprender nas aulas.

E, já agora, é mais do que altura de termos uma avaliação a sério dos professores – outra coisa que não lhes agrada. É que o que existe atualmente não o é claramente, é feita meramente entre eles. E nós, que lhes pagamos, temos o direito de exigir provas de que são conhecedores e competentes.

Isto para não continuarmos a ouvir professores a gabarem-se na televisão de que não sabem usar um computador. Ou vermos uma professora de português a dizer que todos os professores deviam ter a classificação de excelente!

Perante tudo isto, é mais do que tempo de implementar o cheque educação, o grande papão destes manifestantes. E após a sua entrada em vigor, escolas públicas que fiquem sem alunos suficientes para garantir a sua viabilidade económica, por serem péssimas, pois bem, que fechem as portas, com as devidas consequências para o seu pessoal.

É que, parafraseando a Catarina, sim, a do BE, “leiam a Constituição”. É que esta não diz que "o Estado tem de garantir ensino público para todos”, diz apenas “ensino para todos”. E, pequeno detalhe para a guerra contra a municipalização das escolas, a mesma Constituição diz também que as comunidades (entre outros intervenientes) têm o direito de ajudar a definir a política de educação.

Para semana: TAP e quejandos. Quanto é que andamos a gastar com empresas destas e a troco de quê?

13
Jan23

67 - Duas espécies diferentes

Luísa

Uma coisa que sempre me meteu bastante confusão é a tremenda diferença entre o que os portugueses são quando estão emigrados e o modo como agem e trabalham em Portugal. Passo a explicar.

Como todos sabemos, há portugueses espalhados por todo o mundo. Caso houvesse dúvidas, pensem no que se passa com o futebol, por muito pequena que seja a terra de um clube que calhe a um dos nossos, há sempre uma presença lusa, maior ou menor.

E há um outro fator constante nessa diáspora lusitana. Em todo o lado, os portugueses são vistos como esforçados, engenhosos, pessoas que não temem enfrentar desafios e que não se escudam no “eu nunca fiz isso” para recusar um trabalho ou proposta. Mais ainda, não têm fama de “esquemáticos”, para usar um velho termo, nem de burlões, ao contrário de outras comunidades.

Mas em Portugal, na sua própria terra... bom, a coisa fia mais fino. Não estou a dizer que não trabalham e que vivem de esquemas, mas não é bem a mesma coisa.

Vou dar um exemplo. Sabem aquelas câmaras suspensas de um arame que cruza um campo de futebol em todo o seu cumprimento? Pois bem, há uns anos li um artigo sobre o seu criador – bom, penso que foram dois, já lá vão uns anos... Viviam (vou optar pelos dois) nos EUA e, tendo criado o protótipo, precisavam de dinheiro para o desenvolver. Sem grandes contactos, parecia ser uma causa perdida. Só que não baixaram os braços. Contactaram o Madison Square Garden em Nova Iorque e ofereceram-se para instalar o sistema gratuitamente. Se os fãs gostassem, então discutiriam valores e uma montagem permanente. Escusado será dizer que foi um êxito tremendo e não lhes faltou dinheiro para prosseguir o seu desenvolvimento e comercialização.

Curiosamente, mais ou menos na mesma altura vi uma reportagem da RTP sobre um inventor português. Não recordo os detalhes, só me lembro de ter achado que era algo muito interessante e com futuro. Pois bem, deve ter morrido ali porque o dito senhor estava à espera que alguém do Governo se interessasse pelo caso e o apoiasse... pois, isso corre sempre bem.

Ou seja, o “despacho” que mostramos repetidamente lá fora falha-nos totalmente cá dentro.

E muito francamente, atribuo essa diferença ao modo como a nossa sociedade está organizada, com extremos simultâneos de proteção e de negligência.

Senão, vejamos.

Comecemos pela nossa Constituição, que entra em detalhes ridículos na sua minuciosidade, mas que é, ao mesmo tempo, tão vaga nos conceitos importantes que se consultarmos três constitucionalistas sobre um certo assunto o mais provável é termos três opiniões totalmente diferentes.

Temos uma pesada máquina estatal que tenta convencer-nos que existe única e exclusivamente para cuidar de nós desde o berço até ao túmulo, ou seja, que nos proporciona uma “rede” que nos protege de tudo e mais alguma coisa. Mas, na prática, nada disso funciona ou funciona pessimamente – vejam-se os inúmeros casos recentes no setor da saúde.

Temos uma burocracia a que não há Simplex que consiga valer (quantos já tivemos?). É tudo complicado, tudo demora uma eternidade, é o suficiente para desencorajar qualquer pessoa. Por exemplo, a pessoa que teve a ideia de criar cruzeiros no rio Douro estava mesmo para desistir quando finalmente surgiu a autorização para o fazer, após anos de espera. E soube, recentemente, que a empresa que bomba e distribui água do Alqueva para regadio está há três anos à espera de autorização para aumentar a sua central solar flutuante na albufeira que, para além de a tornar autossuficiente, ia gerar energia para a rede.

Se construíram uma casa ou fizeram obras extensas, sabem bem as longas esperas pela autorização disto e daquilo, pela inspeção de não sei o quê, enfim, noutros países dava para fazer a obra toda várias vezes e ainda sobrava algum tempinho.

Muito francamente, este nosso Estado traz-me à mente os chamados “pais helicóptero”, sabem, os que não deixam os filhos fazerem nada sem estarem a pairar sobre eles para que não se magoem, que gerem ao segundo todo o seu tempo, enfim, que se esforçam ao máximo para criar pessoas sem o mínimo de iniciativa pessoal ou espírito de aventura.

Como se tudo isto não bastasse, temos uma boa parte da nossa força laboral vinculada a contratos coletivos. Sim, sei que a ideia é que juntos podem negociar melhores condições e tudo isso, mas, na prática, o que é que acontece? Com um contrato desses, o bom trabalhador e o péssimo têm exatamente os mesmos salários, bónus, estabilidade de emprego e tudo o mais. Ou seja, são considerados iguais! Acham que isso encoraja a produtividade? Engenho em arranjar soluções novas? Para quê? O que ganham se o fizerem?

Daí algo que ouvi muito quando os serviços públicos se começaram a informatizar, “se querem que eu uso um computador, terão de me pagar para aprender e mesmo assim não sei se o farei”. Garanto-vos que isto não acontece lá fora, ou se adquirem as valências necessárias ou...

Resumindo, toda a estrutura do nosso país está virada para abafar qualquer rasgo de iniciativa que nos passe pela cabeça ter. E se formos muito resistentes e conseguirmos ultrapassar o labirinto de obstáculos para criar algo novo, pois bem, os problemas não acabaram. Para além da pesadíssima carga fiscal “oficial” há um sem número de taxas e taxinhas que surgem literalmente do nada. E que, curiosamente, ninguém sabe ao certo, a priori, quais são. Como dizia o dono inglês de um bar no Algarve, farto de lhe exigirem coimas por taxas que ele nem sabia que existiam, apesar de se tentar informar, “Não é que eu não queira pagar, mas porque é que não me dão a lista de tudo o que é taxado para eu não ficar em incumprimento?” Pois...

Não há dúvida, somos mesmo duas espécies diferentes e a diferença desta nossa divergência vem claramente do nosso habitat: Portugal de um lado, o resto do mundo do outro.

Para semana: Respeito. Um termo muito ouvido nos últimos dias durante a greve dos professores. Mas quem deve respeitar quem?

06
Jan23

66 - Ajudemos a sério

Luísa

Para primeiro post de 2023 nada melhor do que falar em ajudar os outros. É que todos sabemos que entra na célebre lista de resoluções de toda a gente, a nível pessoal, institucional e, até governamental.

E eu aplaudo totalmente a intenção, sim devemos ajudar quem precisa, mas a minha grande dúvida é esta: será mesmo isso que andamos a fazer?

Peguemos em África, o destino de muitas dessas intenções e que será, pois, i grande enfoque aqui. Após décadas e biliões de dólares, em que é que ajudámos realmente? Bom, para além de encher os bolsos de governantes e todo o tipo de pessoas ligadas à sua distribuição, a nível nacional ou local...

Quantos mais biliões gastaremos até chegarmos, finalmente, à conclusão de que tem de haver uma outra maneira de ajudar, de facto, quem precisa?

Irei referir algumas pequenas coisas que, por muito menos dinheiro, teriam um tremendo efeito positivo na vida de comunidades isoladas em África e não só. E por uma pequenina fração do que se gasta atualmente...

Primeiro, painéis solares. Não estou a falar dos enormes, rígidos, que vemos em casas ou em gigantescas centrais. É que, muito graças ao programa espacial, diga-se de passagem, surgiu toda uma indústria de painéis portáteis, dobráveis, que se transportam como uma pastinha e são ideais para campismo ou locais isolados. Façam uma pequena pesquisa e verão.

É claro que a potência não é fabulosa (bom, condiz com o preço), mas já pensaram na diferença que faria numa aldeia perdida em África poder ter um pequeno frigorífico num posto médico para ter vacinas e outro material sensível? Ou para ter uma lâmpada, uma única lâmpada, em casa? E nada impede que não se ofereçam outros mais potentes para a povoação poder ter uma casa de convívio com televisão, luz, etc. Era certamente bem mais útil do que andar a negociar “compensações pelas alterações climáticas”.

E por falar em luz, conhecem esta? É a segunda versão – a outra era menos sofisticada, digamos. Mas o princípio básico é o mesmo, puxa-se a corrente, o que leva um minuto, e tem-se 2 horas de luz ou uma chamada de telemóvel de 15 minutos... Não é barata, mas lembremo-nos de que não há mais custos, como contas da luz mensais.

Há ainda a parte de cozinhar. Não é estranho que os ecologistas, tão preocupados com arbustos que irão desaparecer caso se faça uma albufeira, nada digam quando, diariamente, árvores e arbustos são cortados em África para fazer uma fogueirinha para cozinhar? Sim, uma fogueirinha, é que nem sequer fazem uma comunitária que todos usam – como o célebre forno existente até muito recentemente em muitas aldeias do nosso país.

Como sol é algo que não falta por esses lados, mesmo na época da chuva, que tal fogões solares? Há os de todos os tipos, podem até ser improvisados com uma caixa de piza, papel de alumínio e pouco mais. Li em tempos sobre uma aldeia nas montanhas do Chile que construiu, com material normal, uma fogão desses enorme onde de manhã os habitantes iam pôr os seus tachos e tachinhos.

O ideal, neste caso, até nem era oferecer fogões solares mas sim ensinar a fazê-los com o que houvesse no país. Façam uma pequena pesquisa e verão a enorme variedade possível.

Em termos de saúde, já ouviram falar na APOPO? Aqui vai o artigo da Wikipédia, tem a vantagem de estar em português. Chamam-lhes ratos, mas não o são de facto. Foram inicialmente treinados para detetar minas e tinham uma taxa de sucesso de 100 %. Mas descobriu-se que detetam a tuberculose, só pelo cheiro, e estão a ser usados para esse fim com grande êxito na Tanzânia.

Os pacientes fazem fila, o rato passa e, se para em frente a uma pessoa, esta é levada para testes a sério. Isto traduz-se numa tremenda poupança em dinheiro e, acima de tudo, na aceleração do processo. Como muitos dos que esperam o teste vêm de povoações a horas de Dar-es-Salam, terem de voltar uns dias depois para saber o resultado – muitas vezes negativo – levava a que muitos desistissem, ajudando, assim, à disseminação desta grave doença.

E em vez de milhões, custaria apenas uns milhares apoiar esta associação para que treine e sustente mais animais.

Mudando de assunto, passemos à água potável.

Há uma coisa chamada “redes de nevoeiro”, que capta a água do dito em redes de malha muito fina e a encaminha para reservatórios. Infelizmente, funcionam melhor em zonas altas e secas. O Quénia já as está a usar (como mostra este artigo em inglês ou este, também em inglês).

Mas... como muitos que viveram em África sabem, há a célebre “cacimba” matinal. Que tal fazer umas experiências para ver se também resultam? É que os ditos depósitos podem ser uns meros bidões e nem que saiam apenas uns litros de água por dia, sempre poupam umas caminhadas...

Enfim, não falei em nada de muito sofisticado, são tudo coisas que já existem, bastava pensar em implementá-las. Mas, atenção, sermos nós a fazê-lo ou dar a ajuda a organizações credíveis e não enviar simplesmente dinheiro a países para que o façam...

Já agora, estas medidas também podiam ser implementadas em Portugal. Já pensaram nos muitos idosos que vivem em aldeias isoladas em casas que já não têm condições de habitabilidade e que passam horas a recolher paus e pauzinhos para tentarem manter a lareira acesa, a sua única fonte de calor? E que é, frequentemente, insuficiente devido às muitas fissuras e problemas nas paredes e telhados.

Que tal canalizar parte do entusiasmo com que jovens partem para o Haiti ou África para construir casas a quem tem muito bom corpo para o fazer para estas situações? Ou dedicar-lhes um pouco de atenção e ver o que se pode fazer para lhes dar uma vida melhor? Como mostrei acima, nem é preciso muito dinheiro mas sim vontade de o fazer.

Para semana: Duas espécies diferentes. Refiro-me ao português em Portugal e ao português emigrado.

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