69 - TAP e quejandos
A nossa esquerda tem a obsessão do nacional. Mas atenção, não do produto nacional, seja este de que área for, para ser promovido e divulgado. Não, é claro que não, até porque esse é quase todo – ou até todo – de produção privada. Não se trata pois disso mas, muito prosaicamente, de ter empresas nacionais. O que até podia ser um sentimento digno de elogios, sim, seria excelente se tivéssemos muitas de qualidade e que dignificassem o país.
Só que, mais uma vez, nacional tem outro significado para os “verdadeiros democratas” do nosso país, refere-se, apenas a empresas totalmente do Estado ou em que este é, no mínimo, acionista maioritário. Aliás, se lhes fizéssemos a vontade, nem haveria setor privado ou este estaria reduzido a pequeníssimas empresas, mas mesmo estas sujeitas a regras e regimes ainda mais anuladores da iniciativa empreendedora do que o que temos atualmente.
Sempre que se fala em privatizar um setor, lá vêm as vozes indignadas e o pânico generalizado. Lembro-me do que se passou com a privatização de empresas de distribuição de água em que, perante a hipótese da compra por uma empresa chinesa a reação dava a entender que a nossa água ia ser simplesmente embarcada em navios para a China!
Mais ainda, há permanentemente propostas para nacionalizar isto e aquilo porque, como todos estamos cansados de saber, o que é do Estado é que é bom e funciona às mil maravilhas. Pois...
E se a empresa em questão dá prejuízo, então qualquer proposta de a privatizar é recebida com clamores e ranger de dentes, sendo sempre o grande argumento desse senhores “ficarão em perigo postos de trabalho”. A sério?
Vejamos o que se passou com os Estaleiros de Viana, que andaram a ser suportados pelo Estado, ou seja, por todos os contribuintes, para manter “empregados” meia dúzia de gatos pingados. Quando foram finalmente extintos tinham uma dívida superior a 700 milhões de euros e os ditos funcionários passaram, na sua maioria, diretamente para a reforma. E ainda falam das indemnizações chorudas da TAP! Por quanto nos ficou cada um daqueles postos de trabalho?
Pois bem, a TAP tem estado nas notícias com greves de todos os tipos. Para começar, acho uma total falta de respeito para com os portugueses que o pessoal de uma empresa que nos anda a custar milhões se atreva a queixar-se de que ganha pouco. Pior ainda, que prejudique, como prejudica há anos com greves e protestos constantes, o tal povo que supostamente existe para servir.
Sim, porque o argumento “decisivo” para manter este peso morto é que o país precisa de uma companhia aérea, argumento esse que nunca entendi.
Precisamos, porquê? É a única que voa para Portugal e de cá para outros destinos? É claro que não, muito pelo contrário. É a que tem melhor serviço? Devem estar a brincar! Durante anos evitei voar na TAP precisamente pelo péssimo cumprimento do tal pessoal de cabina que “merece” melhores condições salariais. Quando a voltei a usar – e acreditem, não foi por escolha própria – nada mudara. E, como tinha passado os anos anteriores a voar em companhias diversas, tinha um bom termo de comparação!
Falam também no serviço que presta com os voos para a Madeira e Açores. Quem os ouça pode até ficar a pensar que, extinta ou privatizada a TAP, esses arquipélagos ficam isolados e só de barco se sai de lá. É que, pelos vistos, não é possível fazer um concurso internacional para esse serviço – e aposto que seria melhor e mais barato, perguntem a madeirenses e açorianos quem escolhem para as suas viagens quando têm a liberdade de o fazer – pequena dica, não a TAP.
Ainda me lembro da enorme satisfação do Sr. Costa, o nosso tão esforçado Primeiro-ministro, quando conseguiu reverter a privatização de parte dessa empresa, comprando o que fora vendido no tempo do Passos Coelho. Pelos vistos não ocorreu a ninguém que se o dono dessas ações, um grande empresário internacional, foi tão célere a vendê-las, se calhar foi porque fez um belíssimo negócio. Ou alguém acredita que foi ele que saiu prejudicado?
Eu até entendo esta fúria de nacionalizar tudo. É que os funcionários dessas empresas passariam a ser funcionários públicos, ou seja, votantes enfeudados à esquerda que lhes apara o jogo das “carreiras”, dos aumentos, das benesses, das greves e de tudo isso.
Já privatizar tem o efeito oposto e é, pois, indesejável.
Há ainda uma outra discrepância que me intriga. Se uma empresa privada tem prejuízos e fica sob ameaça de fechar, ouvimos logo os “especialistas” usuais a culparem os seus gestores. Sim, porque as atuais leis laborais, que as impedem de se agilizar para fazer face às mudanças do mercado nada têm a ver com o assunto...
E se calhar até têm razão, pelo menos em parte, há certamente erros de gestão, mas o que eu acho curioso é que as empresas públicas dão, na sua esmagadora maioria, prejuízos ainda mais avultados e a culpa não é de ninguém, acontece, apenas! E nunca, mas mesmo nunca, é culpa dos gestores nomeados por terem, como “qualidade” principal, fazerem parte dos “boys”.
Como última nota, uma empresa pública é mantida a funcionar à custa dos nossos impostos muito para lá do desejável apenas para salvaguardar postos de trabalho. E as privadas, a quem se nega até um pequeno alívio na pesadíssima carga fiscal para poderem dar a volta à situação? Não têm postos de trabalho? Ou estes não são importantes, porque não são públicos?
Muito francamente, e como última nota, feche-se de vez a TAP – bom, se a conseguirem vender, tanto melhor, sempre se recupera parte do prejuízo, mas duvido que haja quem a queira agora, sobretudo se houver exigências de manter o pessoal. E tanto num caso como no outro, ponham-se os contribuintes como credores principais e só quando tivermos recuperado tudo, mas mesmo tudo, do que tem sido enfiado nesse poço sem fundo, então, e só então, que chegue a vez dos seus trabalhadores receberem algum dinheirinho!
Para semana: Indignação seletiva. Tanto protesto com o palco para o Papa e nada contra a Parque Escolar do Sócrates e similares...
