57 - Afinal, que feministas temos?
Ando há já bastante tempo incomodada com a nova face, ou antes, as novas faces do feminismo. É que, tendo abraçado o movimento inicial, não me reconheço agora, de modo algum, nos slogans e campanhas das novas feministas. Pior ainda, há muitas ocasiões em que repudio, veementemente, as suas posturas e ideias.
Não que o feminismo inicial tenha sido perfeito, muito longe disso. Da ideia de que uma mulher devia poder estudar o que quisesse, trabalhar à vontade, casar ou não sem pressões e muitas outas ideias de igualdade de oportunidades a que, repito, aderi, passou-se bastante rapidamente para um certo extremismo em que uma mulher que quisesse ficar em casa a cuidar dos filhos e marido era vista quase como uma traidora à “irmandade”.
De qualquer dos modos, nada que se compare com a situação atual em que um movimento que se diz a favor das mulheres é tudo menos isso.
Vejamos alguns exemplos.
Lembram-se da marcha contra o Trump por causa de algo que ele disse numa conversa entre homens? Quem ouvisse as manifestantes, fora um crime contra a humanidade e era preciso reagir ou as mulheres regressariam à época em que não tinham quaisquer direitos. Curiosamente, uma das principais organizadores desse movimento, Linda Sarsour, encabeça também um esforço para estabelecer a sharia nos EUA e depois na Europa. E como bem sabemos, a dita sharia é tão favorável à mulher...
Em compensação, alastra cada vez o número de mulheres e raparigas na Europa a usarem hijab ou até burca, com todo o apoio das ditas feministas que afirmam, até, que têm o direito de usarem o que quiserem! Pois, se fosse mesmo isso que acontece, fazerem-nos porque querem, eu até estaria de acordo. Mas será que as ditas feministas se derem ao trabalho de ir ver o que acontece nesses bairros a quem não se cobre “como deve ser”? Com sorte, serão simplesmente insultadas ou agredidas. Mas o mais comum é serem violadas porque, não se cobrindo, são umas “ordinárias”.
Mas a questão dos “costumes” não se fica por aqui. Marcha por o Trump dizer que agarrava mulheres pelos... mas nada pela chamada circuncisão feminina? E sempre que são detetados casos de miúdas já nascidas na Europa, lá vem a desculpa da cultura que tem de ser respeitada.
Faz-se uma lei com multas pesadas e até penas de prisão para quem – bom, leia-se, para os homens – mande piropos na rua, mas o casamento arranjado de raparigas que mal fizeram 14 anos é perfeitamente aceitável entre certas etnias e religiões? Ou será que acreditam piamente que aquelas meninas o fazem de vontade própria? Sabiam que há até países na Europa que aceitam como válidos casamentos de raparigas ainda mais novas, chegam a ter 8 anos, desde que sejam da “religião certa” e tenham sido efetuados em países onde isso é válido?
Outro aspeto é o da virgindade. Houve indignação geral quando algumas jovens decidiram criar clubes ou grupos para se apoiarem na sua decisão de se manterem virgens até ao “momento certo”. Mas há etnias e religiões em que no dia do casamento é verificada a virgindade da noiva – muitas vezes em condições altamente propícias à disseminação de doenças – e ai desta se esse estado não for confirmado. Só que aqui entram os “costumes” e já não há protestos e muito menos indignação.
Temos também as célebres quotas para mulheres em certos lugares e profissões. Já escrevi sobre isso em posts anteriores – já agora, sou totalmente contra, acho que passam um atestado de incompetência às mulheres.
Curiosamente, as mesmas feministas são grande defensoras da presença de transexuais em desportos femininos. E nem sequer estamos a falar de rapazes que fizeram a transição total para mulher, não, são jovens que se “sentem mulheres” e estão vagamente a iniciar um tratamento hormonal. Estranhamente, são sempre atletas de grande porte, que falham por um niquinho poderem brilhar no desporto masculino. Ainda mais bizarro é que das muitas raparigas que se “sentem rapazes” nunca apareceu nenhuma a exigir competir como homem...
Já era suficientemente mau assistirmos a esta ambiguidade toda, mas há pior, bem pior. É que as ditas feministas não toleram que haja quem tenha opiniões contrárias às suas ou, sequer, que as queira discutir. É-se contra o uso de burca e hijab? Islamofóbico! Protesta-se contra os casamentos de menores? Racista, xenófobo! Quer-se manter o desporto feminino só para mulheres? Transfóbico! E, claro, em todos estes casos, acrescenta-se o inevitável fascista!
Em compensação, estas esforçadas defensoras da posição da mulher na sociedade nada fazem para garantir que as novas gerações, e não só, se saibam defender e progredir na vida. Não, isso seria muito, mas mesmo muito mau! Imaginem um mundo em que as mulheres não precisavam das feministas!
Daí a defesa da eterna vitimização da mulher no seu discurso. Assédio sexual? Coitadas, que não se podem defender. Há poucas mulheres em certas áreas ou cargos profissionais? Nem se tenta perceber porquê, passa-se logo ao “não as deixam entrar / avançar na carreira”. Limites à lei do aborto? Querem fazer-nos voltar aos tempos terríveis do aborto clandestino, esquecendo, muito convenientemente, que há milhentos métodos contracetivos, ao contrário do que então acontecia.
E, claro, sem que haja uma verdadeira análise da situação em questão ou do que realmente significa uma certo “costume” ou obrigação religiosa. E ainda se admiram por haver quem lhes chame “feminazis”!
Para semana: Vivemos mesmo em democracia? Entre outras inspirações, a recusa da Assembleia da República de ter a exposição Totalitarismos na Europa (sim, incluía as ditaduras comunistas...)
