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Luísa Opina

Neste blogue comentarei temas genéricos da nossa sociedade. Haverá um novo texto todas as sextas-feiras

Neste blogue comentarei temas genéricos da nossa sociedade. Haverá um novo texto todas as sextas-feiras

Luísa Opina

28
Out22

56 - Com papas e bolos...

Luísa

O post desta semana surgiu após uma “promessa” eleitoral de Lula da Silva. Não sigo as eleições brasileiras, acho até bem acertado algo que li sobre a escolha este dia 31 de outubro ser entre “morrer queimado ou morrer afogado”, mas, de passagem por um outro assunto vi este título bem sonante:

“Se for eleito, Lula acabará com a fome e a miséria nas favelas”!

Bom, devemos estar mesmo perto do fim do mundo! É que de acordo com a Bíblia, este evento será precedido da Segunda Vinda de Cristo e, muito francamente, para cumprir uma promessa destas, só se isso já tiver acontecido e Lula não seja quem pensamos que é...

Não que o Brasil tenha o exclusivo de promessas. Mantendo o temo dentro das nossas quatro paredes, não faltam propostas de “dádivas” e benesses de todo o tipo, um verdadeiro bodo aos pobres, ou antes, aos pobres “oficiais” (como explicarei mais adiante).

Durante bastante tempo, este tipo de coisas era praticamente exclusiva de períodos eleitorais e não era exclusiva de um único partido ou cor política. A conversa era sempre a mesma, elejam-nos e instalaremos o Paraíso na Terra! É claro que esse fazedores de promessas nunca explicavam como o iriam conseguir ou, caso se tratasse de uma reeleição, porque não o tinham feito durante o último mandato.

Daí termos o que eu chamo de promessas perenes neste nosso belo jardim à beira-mar plantado. Como as tão famosas “reformas estruturais” que saem do baú mesmo antes das eleições e para ele voltam prontamente até ao período eleitoral seguinte, cada vez mais poeirentas e bafientas e, já agora, sem que cheguem sequer a explicar em que consistem exatamente.

Infelizmente, as coisas pioraram neste aspeto – e não só. É que agora este tipo de discurso aparece em todas as épocas, eleitorais ou não, derramando benesses e acenando com um futuro risonho. Só que, mais uma vez, ninguém faz as tais perguntinhas essenciais e, claro, muitíssimo inconvenientes. Em especial, a mais essencial delas e que é: quem vai pagar isso tudo?

Após tantas “dádivas” generosas começa a haver, felizmente, bastante gente que deixou de acreditar em almoços grátis e que, perante esse tipo de discurso, antecipa imediatamente um aumento de impostos ou a criação de mais uma taxa ou taxinha que recupere todo o dinheiro “dado” e muito mais. Só que não são em número suficiente e uma boa percentagem da nossa população continua a ir atrás do engodo que lhes é posto à frente do nariz.

Vejamos casos recentes.

O primeiro deles é o célebre adiantamento de parte do valor das pensões que foi pago em outubro. Repare-se na habilidade com que a notícia foi sendo dada. Primeiro falaram num reforço de meia pensão. E os que acreditam que o dinheiro cai do céu deliraram, claro. Só que depois veio o esclarecimento: é que esse valor vai sair dos aumentos que deveriam receber em 2023!

Francamente, não entendi! Será que este nosso esclarecidíssimo governo acha que a inflação que se faz sentir agora vai durar apenas um mês? É que, de acordo com analistas sérios, o seu valor irá piorar e bastante nos próximos meses. Ora se as pessoas tinham dificuldade em fazer face às despesas com a sua reforma atual, como será em 2023, com um aumento inferior ao previsto? E lembro que esse valor era de 5 %, ou seja, bem inferior à inflação.

Temos também o célebre apoio de 125 euros (mais os 50 a dependentes com menos de 24 anos). E, mais uma vez, não entendo. Se é para fazer face ao aumento dos preços, francamente, um pagamento único deste montante para pouco serve. E como vai ser pago a 1,6 milhões de portugueses, estamos a falar de 200 milhões de euros – fora o montante correspondente aos tais 50 euros.

Pois é! Estranhamente, ou talvez não, ninguém pergunta de onde vai sair esse dinheiro, o enfoque está só no “vamos receber!”

Que a população – ou uma boa parte dela – se deixe enganar, enfim, até entendo. Mas jornalistas supostamente especializados em notícias económicas? Analistas? Comentadores?

É que, como disse acima, não há mesmo almoços grátis e aquilo que alguns recebem, muitas vezes de modo mais ou menos dúbio, acaba, necessariamente, por sair do bolso de todos nós. Pior ainda, dinheiro gasto neste tipo de pseudo ajudas não fica disponível para coisas bem mais urgentes e úteis para o país.

E porque é que usei o termo dúbio? Bom, isso está ligado à expressão “pobres oficiais” que usei mais acima. É que a classificação de alguém como pobre tem a ver com a declaração dos seus rendimentos às Finanças. Se essa pessoa tiver receitas que não declara, é bem fácil entrar na categoria de pobre apesar de ser tudo menos isso.

E não me refiro apenas a traficantes de drogas e outros criminosos. Há muito boa gente que se considera honestíssima e que, na prática, nos anda a roubar a todos. Pensem nas muitas vezes em que pagaram por um serviço ou biscate – como explicações, limpezas, reparações – sem recibo. Acham mesmo que essa pessoa declarou esse montante às Finanças?

Mas é claro que em época de promessas, época essa que parece ser agora não sazonal, o que muitos gostam de ouvir é a chegada de novas ajudas, subsídios e tudo isso. E acabam sempre por votar em quem mais promete, isto apesar de, bem no fundo, saberem que um dia terão de pagar a conta de tudo isso. E, acreditem, com o muito que tem sido “dado” nos últimos anos, o momento de pagar a muito choruda fatura aproxima-se a passos largos!

Para semana: Afinal, que feministas temos? Ou seja, porque será que as ditas umas vezes reagem tipo bomba atómica e outras nem piam?

21
Out22

55 - As regras são as mesmas para todos?

Luísa

Nas últimas semanas temos assistido ao “espetáculo” maravilhoso de maridos de ministras, ministros e outros que tais envolvidos em negócios com o Estado ou com empresas estatais. Não está em causa aqui se os contratos que estabeleceram são ou não legais, francamente não sei o suficiente sobre leis para me pronunciar e também não acredito piamente no que as comissões que supostamente os fiscalizaram dizem nos seus pareceres, atendendo à composição política das ditas comissões.

Até pode ser que seja tudo legalíssimo e “nos conformes”, como diriam os brasileiros, mas a pergunta que me fica em mente é, será ético?

Passo a explicar.

Há uns anos houve um ministro penso que das Finanças que levou um jornalista a tribunal pelo que este tinha dito sobre isenções na compra de uma sua casa. Ora o “doutíssimo” juiz decidiu que sim, o que o jornalista dissera não era verdade, fora tudo feito dentro da legalidade mas, “como nem todos conhecem a lei” o facto de o dito ministro a ter usado carecia de ética! Sendo assim, não fora difamação.

Uma pequena nota, a dita isenção só se aplicava a casas de valor elevadíssimo mas, ouvindo o juiz, até parecia que era para quem vive do salário mínimo e, por milagre, consegue adquirir uma habitação e não para quem pode muito bem pagar a advogados e outros especialistas para minorar as despesas.

Escusado será dizer que o dito ministro não era de esquerda.

Temos também o caso de uma senhora casada com um primo de um ex-secretário de estado de um ex-primeiro-ministro PSD. Acontece que essa senhora tinha uma das maiores empresas de serviços telefónicos do país e participou num concurso público para atendimento permanente de chamadas feitas para o gabinete de um novo primeiro-ministro, também PSD. E como ganhou o dito concurso, ouviu das boas! Já se fosse o marido ou a mulher de um ministro PS em exercício de funções... aí, sim, haveria indignação, mas só contra quem ousasse criticar semelhante negócio!

Ou seja, um político de esquerda pode ser incoerente à vontade – veja-se o caso da senhora do PAN e das estufas – e não há o menor problema nisso, foi só uma “má interpretação”, a minha desculpa favorita, ou quem critica é obviamente fascista...

A culpa não é só dos políticos, a estes cabe, até a parte menor. É que como seres humanos que são, vão puxando a corda para ver se rebenta. Só que ela vai continuando a esticar, por isso lá se vão alegremente aventurando por águas mais turvas. É que no mundo atual, jornalista que se preze só “ataca” – e muito ao de leve – alguém de esquerda quando não tem mesmo outra alternativa. Até jornais que se dizem neutros, como o Observador, passe a publicidade, fazem o mesmo, em menor ou maior medida, consoante o alvo em questão.

Se os políticos de direita são julgados pela ética das suas ações e não pela sua legalidade, que tal fazer o mesmo aos de esquerda? Será ético o marido de uma ministra participar em concursos na área tutelada pela esposa? Será ético um ministro manter negócios na área que tutela?

E não é só nesta área. Imaginam as reações se um Presidente da Assembleia da República da “cor” PSD impedisse a eleição de um vice-presidente do PCP com o argumento de que é um partido ditatorial? Haveria marchas, protestos de todo o tipo, insultos e sabe-se lá que mais! Mas se envolve o PS e o Chega, então está tudo bem, o ato é justificadíssimo! E tem até o aval do nosso tão isento Presidente da República – sim, este é um dos muitos casos em que quem cala, consente!

Mais um caso. Lembram-se de quando o filho do Durão Barroso foi contratado, por convite, pelo Banco de Portugal? Grande indignação, claro, entre jornalistas e bem pensantes, ignorando o pequeno pormenor de que era uma função muito específica para a qual há muito poucos especialistas no mundo, sendo ele uma delas. E a indignação aumentou quando o dito Banco de Portugal se recusou a revelar o salário. Curiosamente, é o que faz com o resto do pessoal, mas, claro, para o filho de alguém de direita isso não se podia aplicar! Mas já a família desse senhor Carlos César pode ocupar cargos à vontade que não há nepotismo nem a menor ilegalidade. Ou muito menos falta de ética.

Toquei muito ao de leve neste tema, mas tenho a certeza de que se lembram de muitos outros casos em que esta variabilidade da aplicação das regras varia consoante se é de esquerda ou de direita. Basta lembrar a indignação de uma boa parte da nossa sociedade perante o atraso de Passos Coelho no pagamento de 5000 euros à Segurança Social e o modo como esses mesmos reagiram perante os 25 milhões emprestadados pelo amigo desse Sr. Sócrates. Já agora, foram pagos os impostos respeitantes a essa quantia? Ou o amigo não o fez por não ter esse montante consigo e o Sr. Sócrates também não porque o dinheiro não era dele? Ora aqui está algo que eu adoraria saber!

Pois é, para parafrasear um célebre slogan, “o que rende é ter a cor política certa!”

Para semana: Com papas e bolos... Quanto piores estão as coisas mais se “dá”... ou não?

14
Out22

54 - O assédio sexual é sempre assédio?

Luísa

Neste post irei falar deste tema, atualmente muito na moda, sob três aspetos diferentes. E digo na moda porque têm vindo a lume alguns casos, alguns antiquíssimos, outros bem recentes, e há certos aspetos que me intrigam no que é dito e na maneira como as pessoas reagem.

Comecemos pelos casos recentes, de que destaco o do professor universitário e o do treinador de futebol feminino de um clube, ambos acusados de enviarem mensagens inconvenientes, digamos, às respetivas alunas – no sentido lato da palavra.

Não vou discutir se houve ou não assédio, a minha confusão vem totalmente da reação das assediadas. Se bem se lembram, houve uma aluna que desistiu do curso, uma atleta que desistiu de jogar, outras afirmavam viver num clima de medo e, acima de tudo, nenhuma reagiu na altura.

A pergunta que me fiz imediatamente foi, que tipo de mulheres estamos a criar? Com tanta educação sexual mais a tão “indispensável” Educação Cívica, perante uma situação destas encolhem-se e nada fazem?

Viajemos um pouco ao passado. Fui criada numa época em que nada se aprendia sobre sexualidade – diga-se de passagem que as nossas mães também pouco ou nada sabiam – e em que não havia Internet. O recurso a livros que nos informassem também era limitado. Mesmo assim, assisti a muitos casos de tentativas de assédio em que as assediadas prontamente reagiam e “entalavam” o assediador.

Mais ainda, o assunto era largamente discutido entre amigas e conhecidas, que ficavam assim a saber que o fulano agia de modo inapropriado. Ora a fazer fé no que lemos sobre estes dois casos, e não só, parece que essa cumplicidade feminina desapareceu. Como é que é possível que colegas de turma ou de equipa de nada soubessem ou, pior ainda, as que também eram assediadas guardavam o caso para si por vergonha?

E aqui está outra coisa que me incomoda, este silêncio por vergonha. Repito, como é que estamos a educar as raparigas? Isso de a culpa ser da mulher não devia ter ficado no passado? Ou a tão adorada frase de certos bem pensantes de que o corpo é da mulher e é ela quem decide só se aplica ao aborto?

Não devíamos estar a educar as raparigas – e não só, ver mais abaixo – para se imporem e rejeitarem veementemente e de imediato certos comportamentos para com elas?

E a teoria do “medo de represálias” também não me convence. Nesta época de redes sociais, em que se desfazem reputações com toda a ligeireza e com uma rapidez de fazer inveja a qualquer nave espacial, não haveria uma solução simples para pôr termo, de forma bem pública, a esse assédio? Pode-se até denunciar o autor das mensagens de modo a ser banido – ou a ter a conta suspensa – sem que este saiba quem fez a queixa.

Não, o problema não é o assédio, é o que as reações das assediadas mostram, ou seja, que não estamos a educar futuras mulheres – bom, as destes casos até já eram adultas – capazes de se imporem e de não aturar tretas, venham de quem vierem!

Um outro aspeto que me chama também a atenção quando se fala de assédio sexual é que só se referem casos em que um homem assedia e uma mulher, ou várias, é assediada. Será que acham que a situação oposta não existe? E não me refiro ao filme terrível com a Demi Moore que tratava, supostamente, desta situação.

Não pensem que estou a vilificar as mulheres, mas não haverá modos de vestir e comportamentos que, vistos sem “politiquices”, não passam de assédio aos colegas? E sim, todos sabemos a que me refiro, decotes que ao menor movimento mostram mais do que gostaríamos de ver, saias curtíssimas, toques por tudo e por nada – sem esquecer o “inofensivo” flirt para que um colega homem faça algo que a dita não quer fazer...

Mas não é tudo. Ora vejamos. Se sou mulher e um colega homem me faz um piropo, é assédio sexual. Mas... e se for uma colega lésbica? Não é a mesma coisa? Ou se sou homem e um colega homossexual está sempre a elogiar o meu aspeto ou roupas e a tocar-me “por acaso”, não é assédio?

Ou seja, para levar mesmo a sério esta questão, teria de haver as seguintes regras: homens heterossexuais só poderiam tocar ou elogiar outros homens heterossexuais (pois...) ou mulheres lésbicas. E estas ficavam restritas a homens e, talvez, mulheres “ferozmente” heterossexuais. E por aí fora... Ou seja, esse tipo de comportamento ficaria restrito a pessoas com quem nunca haveria uma hipótese de ligação sexual.

O mais triste nisto tudo é que passámos de uma sociedade em que o assédio de mulheres era um comportamento aceite para uma em que o menor elogio pode ser visto como um ataque.

Pessoalmente, acho triste que não se possa sequer dizer, “esse vestido fica-te lindamente” ou “hoje estás bem bonita” sem vir logo o assédio à baila. Até porque, muito francamente, reações destas por tudo e por nada acabam por levar à saturação e à sua banalização – sabem como é, o mesmo tem acontecido com o termo “fascista” que deixou de provocar qualquer reação. Se não gostamos de ouvir cumprimentos, a solução é simples: dizê-lo diretamente à pessoa e no momento, em vez de esperar anos para vir depois berrar assédio.

O que me leva ao ponto final, as acusações de assédio com décadas. Sem menosprezar os casos realmente graves – que, muitas vezes, foram bem mais do que assédio – o que temos visto muito frequentemente é uma aplicação a esta área do que se está a passar atualmente em muitas outras: ou seja, tentar julgar o passado à luz da moral e ideias atuais.

Não nos esqueçamos de que até há relativamente pouco tempo era considerado normalíssimo homens juntarem-se em grupo para assobiar ou mandar bocas a mulheres e raparigas que por ali passassem. E ao contrário do que nos tentam fazer crer agora, não eram necessariamente más pessoas, eram “os costumes” e, verdade seja dita, muitos só o faziam para não ficarem malvistos pelos outros, para não serem considerados “menos homens”.

Ao contrário do que muitos tentam fazer, acredito que cada época tem as suas regras e que deve ser vista e julgada de acordo com elas e não com as nossas. Se não acreditam, tentem imaginar o que a sociedade de daqui a 40 anos dirá de nós. E se acham que serão só elogios, bom, são capazes de vir a ter uma pequena desilusão...

Para semana: As regras são as mesmas para todos? Não é fascinante ver como ser de esquerda ou de direita afeta o cumprimento das regras?

07
Out22

53 O público é que é bom!

Luísa

Numa altura em que se recomeça a falar em privatizar a TAP, em que os problemas dos hospitais públicos continuam e há inúmeros alunos do ensino público sem professores acho que é altura de falar da dicotomia entre público e privado.

Para a nossa esquerda, e não só, falar em setor privado é pior do que falar do diabo na Idade Média. Ouvindo-os, fica-nos a ideia de que a esmagadora maioria dos problemas que nos afligem se resolviam se passasse tudo para o setor público. Repare-se que evitam cuidadosamente o termo “nacionalizar”, mas a intenção básica é a mesma dos “belos tempos” do pós 25 de abril.

Tentam, também, vender-nos a ideia de que o país pouparia imenso dinheiro se todos os serviços fossem fornecidos exclusivamente pelo setor público.

Eu até entendo, muitos são, foram ou sonham ser políticos de profissão, ou seja, uma versão glorificada do funcionário público. E uma grande parte dos que assim falam pertencem – ou pertenceram – ao dito setor público.

E é aí que está o grande problema.

Ora vamos por partes, começando pelo Ensino. Sempre que há uma greve nesse setor – e são mais que muitas – lá vem a conversa da “qualidade do ensino”, de as crianças serem o futuro do país, etc. Mas, na prática, resume-se tudo à simples exigência de mais dinheiro e regalias e, acima de tudo, de eliminar o setor privado que esse, sim, funciona e bem.

Lembram-se das parcerias que alguns estabelecimentos tinham com o Estado, permitindo aos pais pagar apenas uma parte das propinas e permitindo, assim, a sua abertura a setores mais desfavorecidos? Pois, tanto fizeram que acabaram com a esmagadora maioria, mesmo quando a escola pública da zona era mesmo muito má – mas esta ficou aberta, claro, e a funcionar nos mesmos moldes!

Falar em cheque educação é, mais uma vez, como falar do diabo numa época em que este metia pavor a todos. O facto de que o sacrossanto Estado não gastaria mais com este sistema não os afeta. Nem o pequeno detalhe de que, assim, as escolas más teriam de fechar, fossem públicas ou privadas.

E já repararam que as escolas privadas nunca fecham só porque faltou alguém do pessoal auxiliar?

Não, a solução é sempre a mesma, só ensino público e turmas mais pequenas. E isto apesar de não ter funcionado a favor dos alunos nas célebres escolas primárias que fecharam por falta estudantes. Vi até um caso em que um rapazinho tinha já feito três anos da primária sozinho com a professora e, coitado, mal sabia expressar-se e denotava uma total falta de conhecimentos de tudo.

Mas o público é que é bom!

Passemos à saúde onde, mais uma vez, a intenção, declarada ou não, é ter um setor totalmente público. E porquê? Bom, pela saúde dos portugueses não é certamente. É que sempre que falam de falta de meios – leia-se, de pessoal – a impressão que fica é que esses meios só faltam porque não os gerem como deve ser.

Veja-se o caso dos partos, tão badalado – pelas razões erradas – nas últimas semanas.

Basicamente, pretende-se que esteja sempre de serviço uma equipa completa de especialistas. A sério? Quantos partos difíceis há por mês? Ou até por ano? Não seria um melhor aproveitamento de recursos ter médicos, digamos, normais, ou até internos a acompanharem a situação, chamando o especialista apenas caso a situação o justificasse? Assim já haveria meios para todos.

Veja-se o pânico gerado por um hospital, penso que o S. João do Porto, ter usado internos “contra as regras”. E se a grávida desse à luz na ambulância dos Bombeiros? Ou até no carro da família enquanto procurava um hospital que tivesse os meios “certos”? Era melhor?

Já agora, porque é que a triagem das Urgências não é feita por um interno? Com o apoio, claro, de um médico, caso se justificasse. Se não são capazes de o fazerem, o que é que aprenderam em tantos anos de estudo?

Mais ainda, porque não podemos escolher o nosso médico de família, seja do SNS ou não, pagando-lhe o Estado um valor previamente acordado por cada consulta? Este sistema existe, com grande êxito, em vários países, aliviando assim a sobrecarga do serviço público que fica mais virado para casos complicados e que exigem recursos não facilmente disponíveis no privado.

Mas falar em otimizar o uso de recursos no SNS é pecado capital porque... pois, já sabem, o público é que é bom!

Lembram-se também do pânico quando houve a privatização dos CTT? Curiosamente, semanas antes tinham vindo a lume vários casos em que carteiros tinham sido apanhados a roubar o conteúdo de cartas e encomendas ou as tinham muito simplesmente deitado ao lixo. Mas uns CTT privados seriam um perigo para a santidade da correspondência!

E terminemos com a TAP. Quando Passos Coelho falou em vender a parte que o Estado ainda tinha dessa transportadora, chamaram-lhe tudo e mais alguma coisa. Houve abaixo-assinados, ouvimos comentadores, jornalistas, políticos e muitos outros a berrarem que “o país precisa da TAP”. Estranhamente, nunca ouvi ninguém esclarecer porquê.

Essa venda iria ser feita numa altura propícia para um negócio desse tipo.

Bom, veio a geringonça e anunciou, com pompa e circunstância, que não só não iria vender o que o Estado ainda tinha, conseguira até negociar a compra da parte anteriormente vendida. É claro que proclamaram que tinha sido um ótimo negócio! E foi-o, para quem vendeu.

E agora, após centenas de milhões de euros de prejuízos e numa conjuntura altamente desfavorável, vêm os mesmos falar em vender. Concordo, claro, mais vale perder dinheiro de uma vez do que passar as próximas décadas com esse sorvedouro agarrado a nós. Mas duvido que se venha a concretizar, as forças da reação já estão a aguçar as facas e, muito francamente, quem quer uma companhia falida, endividada até à medula e cheia de pessoal habituado a fazer greves por tudo e por nada?

Muito francamente, devíamos era obrigar os do tal abaixo-assinado e os defensores acérrimos do “só o que é público é bom” a comprar a dita TAP e a mantê-la em funcionamento. Mas bem podemos esperar sentados, ou antes, deitados numa caminha confortável.

 

Para semana: O assédio sexual é sempre assédio? Mais um tema muito “na moda”, mas com enormes restrições...

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