52 - O respeitinho é muito bonito!
Mostrar respeito pelos outros é um conceito cada vez mais na moda, nestes tempos tão woke. Mas será que quem mais o apregoa cumpre o que diz? Mais ainda, porque será que o tal “respeito”, tão badalado, é sempre uma via de sentido único e ainda por cima sempre no mesmo sentido? É o que irei explorar neste post.
Comecemos pela política. Como já referi no post Novo Dicionário precisa-se – Parte 1 (https://luisaopina.blogs.sapo.pt/9-novo-dicionario-precisa-se-parte-4624), estamos sempre a ouvir expressões que indicam, basicamente, que se deve respeitar totalmente a vontade do povo expressa nas urnas – ou, numa versão bem nossa, “o povo é quem mais ordena”. Só que a realidade é bem diferente.
O que realmente querem dizer é “respeitar a vontade do povo desde que esta coincida com o que os Donos da Verdade (DDV) consideram correto.
Veja-se o que se passa atualmente entre a União Europeia e a Hungria, por exemplo. O pretexto para a retenção de fundos europeus é a corrupção, mais especificamente, compadrios em concursos públicos, etc.
Bom, o que nos vale é termos um governo de esquerda, se fosse de direita e houvesse um César com a familota toda em cargos chorudos, lá se ia o nosso rico dinheirinho. Ou se o Sr. Sócrates não fosse PS, com o “emprestador” de 25 milhões de euros a ganhar todos os concursos públicos em que entrava...
Temos também a total falta de respeito que o Sr. Santos Silva e o próprio Sr. Costa demonstram para com o Chega. Goste-se ou não deste partido, a verdade é que é a terceira força política na Assembleia da República, ou seja, foi a escolha de bem mais portugueses do que o PCP e o BE, tão do agrado desses senhores.
Pior ainda, estão sempre a dizer que têm de ser respeitados como “figuras importantes” que são do nosso país, mas que tal começarem eles também a mostrar respeito pela vontade soberana do povo? Ou seja, tornar o “respeito” uma via de dois sentidos?
Mas, infelizmente, esta não é a única área em que se exige que se dê respeito mas não se pede sequer que este seja devolvido.
Veja-se o caso dos imigrantes e minorias em Portugal. Mais uma vez, estamos sempre a ouvir dizer que temos de respeitar os seus costumes. Curiosamente, não incomoda ninguém muitos desses costumes serem contra a nossa Constituição.
Os mesmos que se fartam de berrar a pedir quotas para mulheres em cargos diretivos nada dizem quando as mulheres e raparigas dessas minorias são proibidas de estudar, são obrigadas a casar bem novinhas com quem a família decidir, sofrem mutilação genital, enfim, um sem acabar de atrocidades. Sim, atrocidades.
Mas, estranhamente, nunca se pede, muito menos se exige, que esses imigrantes e minorias respeitem as leis e costumes do nosso país. Pior ainda, quem o faz é logo apelidado de xenófobo e racista. Lembro-me de ver parte de uma entrevista na BBC em que um líder “africano” de um dos bairros mais problemáticos de Londres disse às tantas: “Porque é que eu tenho de cumprir as leis inglesas?” Pois, talvez porque reside em Inglaterra?
Ou seja, mais uma vez, o respeito é uma via de sentido único.
E não são só as minorias. Já ouviram brasileiros residentes há anos em Portugal a criticar o “sotaque” português? Pois, pequeno detalhe, portugueses no Brasil têm sotaque, em Portugal quem o tem são os brasileiros... E já que estamos a falar em respeito, porque é que um português no Brasil só arranja e mantém emprego falando à maneira de lá, mas os brasileiros em Portugal podem falar como muito bem lhes apetece? Não merecemos o mesmo respeito que lhes mostramos no país deles?
Temos também o caso da religião. É ver quem mais se desdobra em mostras de respeito pelo Islão. Tivemos até uma escola que cancelou em cima da hora a festa de Natal por ter recebido dois miúdos de uma família iraniana chegada como refugiada. Pois, temos há que séculos alunos judeus, hindus, sikhs e Testemunhas de Jeová, entre outros, e nunca ninguém se lembrou de cancelar esse tipo de festa para “não ofender”.
Jornalistas, comentadores e muitos outros não se coíbem de criticar tudo o que a Igreja faz, assuntos que, muito francamente, só dizem respeito a crentes praticantes. Talvez seja altura de lembrar que, ao contrário do que se passa com o dito Islão, não há um único país sujeito aos ditames da Igreja Católica – bom, o Vaticano, mas não é exatamente um país “a sério”.
Exigem, por exemplo, que aceite mulheres padres. Já agora, quantas mulheres imãs há? E quanto aos homossexuais, já repararam no que lhes acontece em países muçulmanos? Só condenação à morte...
Vemos com grande aparato figuras políticas graúdas – como o Sr. Marcelo, claro – irem à mesquita na companhia de cardeais e outros e até do rabi local. Mas já alguma vez viram o imã da mesquita de Lisboa numa igreja?
Achamos normal que vedem a entrada da mesquita a não crentes, mas quando, após uma ameaça credível de atentado, se falou em limitar o acesso a Fátima num 13 de maio choveram logo as acusações de fascismo, discriminação, racismo, enfim, os mimos do costume.
Ou seja, também aqui o “respeito” é uma via de sentido único, de todas as outras religiões em direção ao Islão.
Talvez seja mais do que altura de exigir dos tais “outros” o mesmo respeito que lhes temos dado até agora ou, que, pelos menos, nos é exigido que lhes demos.
Para semana: O público é que é bom! Falar em “privado” é como falar no diabo para a nossa bendita esquerda...
