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Luísa Opina

Neste blogue comentarei temas genéricos da nossa sociedade. Haverá um novo texto todas as sextas-feiras

Neste blogue comentarei temas genéricos da nossa sociedade. Haverá um novo texto todas as sextas-feiras

Luísa Opina

29
Jul22

43 - A infância é mesmo para brincar?

Luísa

Ouve-se muito dizer, “a infância é para brincar” e outras expressões similares. Só que quando falamos em brincar, referimo-nos a atividades de puro lazer, a, basicamente, não fazer considerado útil. Ou seja, em tempo perdido.

Mas brincar não é isso. Para a maioria dos animais, incluindo os humanos, é uma parte crucial da infância, ajudando a desenvolver o cérebro e sistema nervoso, para além da imaginação, da capacidade de resolução de problemas, da criatividade e também competências sociais. É, pois, uma aprendizagem para a vida.

Se pensarmos nos jogos e brincadeiras tradicionais, vemos que, sem dar conta disso, a criança desenvolvia destreza física – os muitos jogos envolvendo o uso de uma bola, corridas, etc. – que lhe viriam a ser úteis mais tarde. Desenvolviam também a criação de laços entre grupos de crianças de aproximadamente a mesma faixa etária, que iam aprendendo – mais uma vez sem darem conta disso – modos de resolverem problemas e tensões, por exemplo.

E se olharmos para os brinquedos até meados do século passado, não é por acaso que se davam bonecas às raparigas e armas, ferramentas e coisas similares aos rapazes. Também aqui, a brincadeira servia de preparação para os seus futuros papéis na sociedade.

Nos últimos anos, todo este conceito sofreu uma tremenda alteração, com o enfoque a passar de “atividades” para “coisas”. Ou seja, até meados do século XX, brincar envolvia ações, com ou sem a ajuda de acessórios, digamos. Mas hoje em dia, o termo brincar é imediatamente associado a brinquedos e jogos de computador ou similares, enfim, a objetos.

A diferença fundamental é que antes, para brincarem, as crianças eram forçadas a dar asas à sua imaginação, a inventar histórias e cenários. A mesma espada de pau (ou um mero pau a fazer a vez dela) passava alegremente de arma de pirata à de cavaleiro medieval ou outro personagem imaginado no momento. Sem equipamentos ou brinquedos complexos, as crianças improvisavam, criavam as suas próprias regras e jogos, enfim, agiam.

Mas, atualmente, damos-lhes cenários já totalmente estruturados, sejam sob a forma de videojogos ou de brinquedos complexos, o que leva que cada vez menos criem os seus próprios cenários, por total falta de necessidade de o fazerem.

Mais ainda, há cada vez mais a ideia de que sim, brincar serve de aprendizagem, só que, em vez de comportamentos e capacidades sociais como tinha sido até agora, tentamos ensinar coisas “úteis”. Até nos infantários há os grupos organizados, a hora de brincar com brinquedos considerados adequados à idade, a hora de pintar, a hora das histórias, bom, tudo muito bem planeado e estruturado “a bem da criança”.

Há um espaço e tempo para este tempo de aprendizagem, sem dúvida, mas o principal ganho para a criança de brincar de modo não estruturado era a aquisição da chamada autorregulação, que é muitíssimo importante para o desenvolvimento eficaz em quase todos os domínios.

E o que é a autorregulação? Pois bem, é a capacidade de conseguirmos controlar as nossas emoções e comportamentos. Há especialistas que pensam até que é um fator bem mais importante para o futuro sucesso de uma criança do que o seu IQ.

O chamado “faz de conta” é um modo importantíssimo de a desenvolver, mas, atenção, se vier da criança e não de um adulto, por muito bem intencionado que este seja. Por outras palavras, tem de ser a criança a decidir o que vai fazer e como, a definir o universo onde vai entrar e as regras da sua brincadeira.

Infelizmente, a chamada “brincadeira livre” está em vias de extinção, entre atividades desportivas, artísticas e outras e jogos em que tudo foi previsto, a criança pouco usa a sua imaginação, não precisa, já tem a papa toda feita.

Pior ainda, surgiu a ideia de que se deve proteger a criança de tudo o que possa ser demasiado difícil para ela. Temos, pois, joguinhos adaptados à sua idade, livros com um vocabulário restrito consoante a faixa etária a que se destinam, jogos e brincadeiras em que todos ganham, enfim, um nunca acabar de soluções que impeçam a pobre criancinha de ter de se esforçar a sério para resolver um problema ou, pior ainda, a ter de enfrentar o terrível desgosto de perder.

Sabiam que nos EUA e também em Inglaterra há listas de palavras “autorizadas” consoante a faixa etária dos possíveis leitores de um livro? Curiosamente, quando J. K. Rowling se tornou o êxito que todos conhecemos, deitou essas regras janela fora e escreveu como muito bem quis. Comparem os dois primeiros livros Harry Potter, escritos antes do seu tremendo sucesso, com os restantes e verão bem isso. E sabem que mais? Em vez de ficarem traumatizadas por encontrarem palavras “difíceis” e centenas de páginas um livro, as crianças devoraram-nos.

Sabiam também que até bem recentemente, muitos dos que agora consideramos jogos infantis também eram jogados por adultos? E não me refiro a jogos de tabuleiro, tipo Monopólio ou puzzles, mas sim a “jogos de recreio” como a cabra-cega ou as escondidas. Portanto, ao jogá-los, as crianças estavam muito simplesmente a imitar o comportamento dos adultos com quem viviam.

Resumindo as ideias que aqui tentei exprimir, faríamos bem mais pelo bem-estar futuro das crianças se em vez de lhes organizarmos tanto o seu tempo, se em vez de jogos em que só têm de seguir as regras com que já vêm e brinquedos cada vez mais complexos e simultaneamente tão limitadores da imaginação lhes déssemos mais tempo livre para desenvolverem as suas próprias brincadeiras e se habituarem a usar a sua imaginação.

Entre um jogo de construção com centenas de peças em que só têm de seguir o plano de montagem incluído na embalagem ou um simples pacote de blocos que podem juntar como quiserem, demos preferência a estes. Escolhamos puzzles e outros jogos com uma idade recomendada superior para que aprendam a ter perseverança face a algumas dificuldades. Ou seja, em vez de receberem tudo já feito, demos-lhes, isso sim, desafios. Acreditem, ser-lhes-á extremamente benéfico e nada se compara à sensação de orgulho sentida por uma criança quando consegue fazer algo acima da sua idade.

Mas cuidado, nada tão avançado que se torne uma atividade impossível, levando a frustração e ao sentimento de não ser capaz de fazer nada. Como em tudo o mais, tudo isto deve ser feito tendo em conta a criança concreta.

E sim, sei que os tempos mudaram e que há imensa pressão para ter o jogo ou o brinquedo “que todos têm”, mas quem disse que educar é fácil? Sei também que as brincadeiras ao ar livre tal como existiam até meados do século XX são agora impossíveis por razões de segurança, mas que tal deixar os seus filhos ou as crianças a seu cargo deambularem à vontade num jardim ou parque – bom, só aparentemente, claro – em vez de só os levar até lá para atividades específicas como andar de bicicleta ou praticar uma atividade desportiva?

Infelizmente, suspeito que a menos que se comece com crianças muito novinhas, será preciso dar-lhes um pequeno empurrão para as levar nesta direção, tarefa nada fácil para pais e educadores que também passaram pela brincadeira focada em coisas e não em simples atividades.

Para a semana: Jornalismo ou jornalixo? – Os jornalistas apregoam-se como os defensores da verdade, mas sê-lo-ão mesmo?

22
Jul22

42 - A (in)justiça que temos

Luísa

Neste post não vou falar do nosso absurdo sistema penal, absurdo pelo menos a avaliar pelos resultados que dá. Por exemplo, um homem mata sete pessoas (refiro-me ao crime da Praia do Osso da Baleia), recebe a pena máxima na época, 20 anos, cumpre uns meros 14 – com saídas precárias nos últimos tempos, claro – e depois pode até sair do país e retomar a sua vida como se nada tivesse acontecido.

Curiosamente, vi em tempos uma entrevista com uma mulher condenada também à pena máxima porque, vítima de grande violência doméstica, tinha jurado que se o marido lhe voltasse a tocar o mataria, tendo a postos a espingarda dele. Pois bem, foi considerado crime premeditado!

Não, a minha intenção esta semana é falar apenas de algumas sentenças absurdas dos últimos tempos que são, na minha opinião, um sintoma de um dos maiores males de que padece a nossa Justiça, a tremenda arrogância dos juízes e a sua convicção absoluta de que podem dizer e fazer o que bem lhes apetece, confiantes em que o velho espírito corporativo dos outros magistrados os  irá proteger caso as coisas corram mal.

Vejamos então alguns casos que chocam pelo seu absurdo quase surrealista.

Temos a juíza do Tribunal de Paredes que ilibou um homem que arrastara a mulher pelo pescoço, em plena rua, para a enfiar à força no carro, “porque os atos em causa não se enquadram na definição de maus tratos prevista no Código Penal” e porque os acontecimentos em causa não tiveram "crueldade, insensibilidade e desprezo" suficientes para serem considerados crime de violência doméstica.”

Um juiz do Tribunal Judicial de Viseu, noutro caso também de violência doméstica em que até havia testemunhas e uma gravação com ameaças do arguido, ilibou-o porque, segundo ele, a vítima "denotou em audiência de julgamento ser uma mulher moderna, consciente dos seus direitos, autónoma, não submissa, empregada e com salário próprio, não dependente do marido", não encaixando, pois, no perfil de vítima de violência doméstica.

Passando a outra área, temos o caso de uma mulher brutalmente agredida pelo marido e pelo amante, tendo estes recebido penas suspensas da Relação do Porto porque "O adultério da mulher é um gravíssimo atentado à honra e dignidade do homem. Sociedades existem em que a mulher adúltera é alvo de lapidação até à morte. Na Bíblia, podemos ler que a mulher adúltera deve ser punida com a morte". Isto com uma Constituição que afirma claramente que Portugal é um país laico!

É claro que esta sentença lapidar é obra do mais célebre dos nossos magistrados, o juiz Neto de Moura. Estranhamente, o mesmo Conselho de Magistratura que tão lesto foi a suspender o chamado juiz negacionista limitou-se a transferir este senhor para uma secção cível do mesmo tribunal que não lida com violência doméstica, mas só após uma autêntica avalanche de protestos,

Numa área diversa, temos o caso de um polícia que tentou deter dois ladrões algures no interior do país, tendo sido forçado a disparar. Um deles acabou por morrer – apesar de estar aparentemente bem, tinha uma hemorragia interna sem se ter sequer apercebido de que fora atingido. Pois bem, apesar de o sobrevivente ter uns 15 ou 16 casos do mesmo tipo a aguardarem julgamento, o juiz a que foram presentes deixou-o ir em liberdade enquanto aguardava (mais um) julgamento, ordenando a prisão preventiva do polícia! Já agora, o liberto voltou a ser apanhado em flagrante dois dias depois e ficou finalmente em preventiva, talvez como resultado da indignação que essa decisão tinha provocado em todo o país.

O mais estranho nisto tudo é que o grande argumento destes juízes é sempre o mesmo, “está na lei”. E a minha dúvida quanto a isso é muito simples: se a lei é assim tão linear, tão passível de uma única interpretação, então para que servem os juízes? Use-se um computador, entra o crime, sai a sentença e poupa-se imenso tempo e dinheiro! Ou será que a ideia de ter juízes é precisamente para que estes avaliem as circunstâncias e, dentro, claro, dos limites do Código Penal, arranjem a sentença que melhor se lhes adequa?

Como se não bastassem casos como estes, temos ainda o facto de haver outros em que à partida já sabemos como vão ser resolvidos. Sim, refiro-me a processos que envolvem políticos. Serei eu a única a notar que a absolvição “por falta de provas” ou uma sentença dura têm muitas vezes a ver com a cor política do arguido? Pensem um bocadinho e verão que não vos faltam exemplos.

E casos que envolvem crianças? Bom, lembro-me de um juiz algures no Norte que negava todos os pedidos de adoção, apesar do parecer favorável de todos os organismos envolvidos, dando-se ao luxo de pregar sermões aos casais adotantes por “se estarem a aproveitar da miséria humana para satisfazer os seus desejos” (não estou a brincar).

Já agora, houve um caso não de tribunal que denota bem a tal faceta de arrogância de que falei inicialmente. Um juiz foi apanhado numa operação Stop com uma arma de 9 mm, totalmente ilegal para um mero cidadão. Argumento utilizado? Pois bem, é o calibre da arma da Polícia e, como esta depende dos Magistrados, isso quer dizer que ele, juiz, é chefe deles e tem, pois, direito à mesma arma. Parece anedota? Infelizmente não é. Já agora, o argumento não pegou.

Sim, bem sei que os juízes são humanos e, como tal, sujeitos a errar. Mas o que eu gostaria de ver era mais agilidade do Conselho de Magistratura, mais vontade de agir contra quem, para todos os efeitos, põe em causa a imagem da Justiça e de que essa instituição é, ou devia ser, a guardiã.

E, acima de tudo, seria bom termos juízes que se esforçam por decidir de um modo o mais isento possível, pondo de lado as suas ideias religiosas, morais e políticas para se limitarem a interpretar a lei o melhor possível. Há-os, certamente, mas se não agirem serão cada vez mais confundidos com os que não o fazem.

Para a semana: A infância é mesmo para brincar? – Algo que ouvimos muito mas que não é necessariamente verdade.

15
Jul22

41 - Ditadura é Agora

Luísa

Este ano falou-se ainda mais do 25 de abril, da ditadura, da censura, enfim, do usual. Curiosamente, olhando à nossa volta, há cada vez mais gente a pensar que ditadura é o que temos agora! E pior ainda, muito bem enroupada em termos muito simpáticos como “valores democráticos”, “a bem do povo” (hum, isto soa familiar...), enfim, em toda uma panóplia destinada a convencer-nos de que é só gente boa e que os “maus” somos nós por duvidarmos da bondade das suas opiniões e decisões.

Vamos lá a alguns exemplos.

O aspeto mais gritante desta nova “democracia” é o que acontece com as minorias. As coisas até começaram bem, estou totalmente de acordo que devam ser respeitadas – desde que o que fazem não esteja contra a nossa Constituição e as nossas leis, bem entendido. O problema é que passámos rapidamente à atual situação em que da exigência de respeito passaram à de mandarem, de serem os únicos a poder falar.

Refiro-me nomeadamente às cenas a que assistimos relativamente a um professor universitário que pôs na sua página pessoal do Facebook uma opinião sua sobre a atual campanha que decorre relativamente à chamada comunidade LGBTQ+ (isto vai aumentando, espero não ter esquecido nenhuma letra!).

Pessoalmente, discordo totalmente com essa campanha, que passa pelo menos nos canais AXN, vejo televisão para relaxar e não para ser indoutrinada, por muito bem intencionada que seja essa endoutrinação. Mas o que está aqui em causa é que esse senhor tem todo o direito de dizer o que pensa – e de pensar o que quiser – à face da tal Constituição tantas vezes citada.

Mas não, houve logo manifestações, em que foram usadas termos mais do que violentos para o classificar, e a situação só acalmou quando foi suspenso enquanto é investigado – pois, perder o emprego por delito de opinião, onde é que já ouvi isso?

Infelizmente, não é caso único. As pessoas têm cada vez mais receio de falarem abertamente, nunca se sabe quem irão ofender, os “iluminados” do costume arranjam cada vez mais pretextos para imporem a sua vontade e as suas ideias.

E isto estende-se à política, no nosso país e lá fora.

Veja-se, por exemplo, o modo como o Sr. Costa foi tão elogiado por não ter falado com o Chega antes de tomar posse. Parecia que tinha cometido um ato muitíssimo corajoso ao virar as costas à terceira força política mais votada, goste-se ou não deles. E a chamada linha sanitária em torno desse mesmo partido, vinda de partidos tão democráticos e igualitários como o PCP (lembram-se de quando receberam as FARC como convidados de honra da Festa do Avante, esses traficantes de droga e terroristas?) ou do BE (com o nada racista Mamadou Ba e com autarcas que pertenceram ao grupo das FP 25 de abril que assassinava pessoas) e de quem os apoia.

Já agora, relembro que, como disse em posts anteriores, o regime em que vivemos pode dizer-se muito democrático mas na realidade nem temos direito a eleger os deputados que supostamente nos representam. Sim, limitamo-nos a poder votar em partidos, que escolhem quem muito bem entendem e por razões que muitas vezes nos escapam totalmente!

Mas infelizmente, as coisas nem sempre são encapotadas, recordo o caso dos dois irmãos de Famalicão que, a pedido do Ministério da Educação, o Ministério Público quer retirar aos pais por estes não quererem que eles frequentem as célebres aulas de cidadania. O mesmo MP que arquivou o caso da Jéssica, que fecha os olhos às muitas crianças que não põem os pés nas aulas anos a fio, se é que alguma fez o fizeram (o Tribunal de Contas tem dúvidas sobre os dados da monitorização do abandono precoce dos estudos), esse mesmo MP, repito, fala aqui em “perigo existencial para os jovens” (alguém é capaz de me explicar o que é que isto significa?), de maus-tratos psíquicos, de coerção emocional, enfim, uma tremenda preocupação!

É óbvio que nunca pensaram que esta família não cedesse às inúmeras pressões que tem sofrido e querem criar um exemplo para evitar que outros tentem livrar os filhos de uma lavagem ao cérebro – sim, é disso que se trata, num post futuro falarei desta cadeira, do que é e do que devia ser.

 Não é também por acaso que surgiu  Lei dos Direitos Digitais, que Portugal se apressou a apoiar. Em Portugal, surgiu em 2006 a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), tendo como missão a regulação e supervisão de veículos de comunicação. Isto para salvar a coitada da população dos perigos da desinformação!

O próprio Sindicato dos Jornalistas está contra e afirma até que “a criação de um conceito de 'desinformação' com consequências jurídicas ao nível sancionatório é inaceitável". Mas atenção, a ERC não é uma Comissão de Censura, isso era antigamente! As suas intenções são boas, combater a enorme proliferação de desinformação nos meios de comunicação, redes sociais, etc.

Pois, o problema começa logo como esse termo, desinformação. Quem define o que é ou não é, em casos específicos? É que a avaliar com o que se passa no Twitter, Facebook, etc., desinformação é tudo o que não agrada aos “iluminados” ou ao poder vigente. Não acreditam? O Presidente do Irão mantém 7 ou 8 contas em que fala abertamente de matar americanos, de acabar com todos os cristão, enfim, uma série de “mimos” nada racistas ou discriminatórios. Curiosamente, quem ousa pedir que sejam eliminadas é logo posto na lista negra, é óbvio que esse senhor está só a expressar uma opinião... Mas escrevam “gosto do Trump” e bumba! São logo banidos!

Lembremos o famigerado Conselho para a Governança da Desinformação criado por Biden. Foi prontamente apelidado de Ministério da Verdade (leiam 1984, de George Orwell...) e de modo bem apropriado. Bastava olhar para as pessoas que o dirigiam para termos uma ideia bem clara do que realmente era, um organismo encarregue de eliminar toda e qualquer oposição e expressão de ideias que não agradassem aos senhores do costume. Bom, felizmente esta primeira tentativa só durou três semanas, mas outras virão, mais subtis e difíceis de detetar.

Olhem à vossa volta, vejam o que os noticiários dizem e, mais importante ainda, o que não dizem, o modo como tratam casos consoante a cor política, etnia, religião, etc. das pessoas envolvidas. Vejam como amigos, familiares ou até meros conhecidos reagem quando ousam expressar algo que seja visto como “remar contra a maré”.

E terão de concordar comigo, Ditadura é agora!

 

Para a semana: A (in)justiça) que temos – inspirado por algumas decisões recentes e não recentes.

08
Jul22

40 - Novamente o aborto

Luísa

Já anteriormente escrevi sobre este tema, no post O aborto não beneficia a mulher (https://luisaopina.blogs.sapo.pt/32-o-aborto-nao-beneficia-as-mulheres-17025?tc=102424965197). Sem querer repetir o que então disse, é inevitável voltar a mencionar alguns detalhes, até porque quem está a ler este post pode não ter lido o anterior. Mas face ao avançar da histeria causada pela decisão do Supremo Tribunal dos Estados Unidos, sinto-me “obrigada” a ampliar um pouco o que então disse.

Basicamente, os “bem-pensantes” do costume agem como se a escolha fosse entre liberdade total de abortar – e lembro que em 8 estados americanos pode-se fazê-lo até ao momento do parto, matando-se a criancinha caso tenha o mau gosto de sobreviver – e um cenário tipo A História de Uma Serva, de Margaret Atwood, uma comparação totalmente absurda para quem conhece o livro ou pelo menos viu o filme e/ou a série.

Ora a realidade não podia ser mais diferente.

Quando saíram as primeiras leis a legalizar o aborto até às 15 semanas, no máximo, o mundo ocidental era totalmente diferente do atual em mais do que uma faceta.

Para começar, esse número, 15 semanas, não foi escolhido ao calhas. Para a medicina da época, as hipóteses de um feto sobreviver com essa idade eram nulas. Ou seja, ninguém pensou que um dia seria aceite, pior, exigido, que se matasse quem resistia a um aborto.

Mais ainda, lendo textos da época vemos que a ideia por detrás dessas leis era resolver uma situação que se pensava ser temporária. Ou seja, com o evoluir e a diversificação dos meios contracetivos, a necessidade de abortar seria muitíssimo reduzida. Mais ainda, com as melhorias na assistência médica, esperava-se que as mulheres soubessem bem cedo que estavam grávidas, reduzindo-se assim cada vez mais a “idade” do feto aquando do aborto.

Ora aconteceu precisamente o contrário. Apesar de em muitos países os métodos contracetivos serem gratuitos, o número de abortos continua estratosférico. Em Portugal houve 12 159 em 2021, ligeiramente abaixo de 2020, com 14 369 – com o confinamento, sempre houve menos farras, férias, etc.

Já agora, a taxa de falhas da contraceção ronda os 0,01 %. E quanto aos casos de violação, em Portugal (e não só) sempre esteve previsto o aborto nessas circunstâncias, mesmo quando era ilegal de um modo geral.

Pior ainda, há cada vez mais pressão para alargar o prazo para um aborto legal. Nova Iorque foi ainda mais longe do que os 8 estados que referi, quiseram criar uma lei que o permitisse até 24 horas DEPOIS do parto! E eu que pensava que isso tinha outro nome...

Há ainda a situação económica e social da mulher e o muito que tem mudado. Nos anos 60, uma mulher solteira ficar grávida era realmente um drama, tanto do ponto de vista do repúdio da sociedade – e muitas vezes da família – como também sob o aspeto financeiro. Agora uma mãe solteira é algo muito comum e aceitável e com a explosão do emprego feminino “não tradicional”, muitas podem perfeitamente sustentar sozinhas um filho, se assim entenderem.

Sendo assim, porque é que assistimos a reações do tipo “vamos voltar ao passado”, “o corpo é da mulher e só ele decide” e muitas outras do mesmo calibre? Porquê esta campanha de quase quererem obrigar uma mulher a abortar? O que está por detrás disso?

A Planned Parenthood é o grande herói dessa gente. Oficialmente, oferece cuidados de saúde reprodutiva, na prática é simplesmente aborto ou “estás por tua conta”. Têm sido também os grandes impulsionadores do alargamento dos prazos do aborto legal e das leis de morte obrigatória dos sobreviventes.

Já agora, esclareço que se uma mulher queria abortar e a criança sobrevivia, deixava de ser responsabilidade dela, ia para adoção – ou seja, não era, como se tentou dizer, obrigar essa pessoa a arcar com nada, no que lhe dizia respeito o aborto fora um êxito.

Mas voltando à Planned Parenthood, porque é que ninguém questiona a origem do seu muito dinheiro? Repito, quem estará por detrás desta defesa acéfala do aborto e quais serão as suas razões? Serei a única a pensar que uma criança abortada com mais semanas é uma ótima fonte de órgãos e de outro material para pesquisa e tratamento? O que é que acontece realmente a esses fetos?

Curiosamente, quando um grupo se manifesta ordeiramente à frente de um das suas clínicas de abortos, são logo apelidados de fanáticos religiosos, de nazis, de criminosos. Mas tem havido um surto de violência, bombas e ataques de todos os tipos, contra clínicas Pró-Life que, essas sim, dão um verdadeiro apoio médico e não só a grávidas e a reação é nula, incluindo a do Departamento de Justiça dos EUA.

E já agora, essas clínicas não obrigam ninguém a manter a gravidez, indicam apenas alternativas ao aborto e apoiam com consultas pré-natais quem decide manter a gravidez.

Mas parece que a tão apregoada liberdade de escolha da mulher se resume a, “Engravidaste por acaso? Aborto!”

Lembro que quando se discutiu a legalização do aborto em Portugal, o CDS queria incluir a seguinte proposta: na consulta para decidir sobre fazê-lo ou não, a mulher receberia informação sobre várias opções. O aborto, sim, tal como se faz atualmente. Mas também o que fazer caso decidisse ter a criança. E aqui haveria duas abordagens, uma, como tratar de dar a criança para adoção, a outra, os apoios, financeiros, de habitação e outros, disponíveis para pessoas na sua situação. E o tal período de reflexão seria para analisar todo este leque e não, como agora, só o aborto – e como não propõem mais nada, para quê um período de reflexão?

Não admira nada que o PS tenha chumbado redondamente essa ideia, não nos esqueçamos de que num período em que as grávidas em parto ou perto dele só veem Maternidades fechadas e falta de meios para serem atendidas, a grande preocupação desse Senhor Costa era, nas suas palavras, a terrível decisão dos Supremo dos EUA em relação ao aborto. Pois, abortar conta mais do que ter um filho...

Só concordo com uma coisa, é uma questão de escolha da mulher. Mas não nos termos em que é apregoada alto e bom som, mesmo muito bom som quando não é acompanhado de intimidação física.

Para mim, a mulher tem realmente o direito de escolher livremente, mas essa escolha é entre ser uma mulher a sério, responsável pela sua vida sexual, ou uma cabeça no ar que anda ao sabor da maré e espera, simplesmente, que corra bem. E se não corre, bom, viva o aborto!

 

Para a semana: Ditadura é agora! – entre outras coisas, o caso dos dois irmãos de Famalicão.

01
Jul22

39 Viver bem para morrer bem

Luísa

Sempre gostei imenso de mitologia, folclore, etc. e uma das coisas que sempre me fascinou foram as inúmeras histórias de como a “morte chegou à humanidade”. Todas as sociedades e culturas têm pelo menos uma, sendo a mais popular a do envio de dois mensageiros de Deus, um a dar a vida eterna e outro a dar a morte, tendo este chegado primeiro. Curiosamente para povos que matavam animais para sobreviver, parece haver a ideia comum de que a morte é algo alheio aos seres humanos, algo que surgiu depois como punição ou por outra razão qualquer e não uma consequência direta de, como referi no post anterior, “nascer ser uma doença fatal”.

Durante séculos, a sociedade ocidental conviveu intimamente com a morte. Com a tremenda natalidade infantil, falta de condições de vida e atraso na medicina, as crianças habituavam-se muito cedo à ideia do “hoje aqui, amanhã desaparecido”. Era pura e simplesmente um facto da vida.

Com a melhoria das condições de vida, isso mudou totalmente. Para melhor, na baixa da taxa de mortalidade sobretudo nos dois extremos da vida. Mas para pior, na minha opinião, no modo como encaramos a morte.

Sim, passamos a vida a debitar clichés, tipo, “a vida passa num ápice”, “a única certeza é a morte” e muitos mais, mas, no fundo, nunca pensamos nisso e, muito menos, em viver a nossa vida tendo em conta que esta é finita e que, ao contrário dos bens alimentares, não vem com data de validade visível.

Pior ainda, para não chocar as criancinhas, usamos todo o tipo de eufemismos quando um animal de estimação morre, por exemplo, e, se for um familiar ou amigo, nem os deixamos despedirem-se ou saber ao certo o que aconteceu para que não se impressionem.

Podem estar a pensar que sou obcecada pela morte, mas é precisamente o contrário. Acho, isso sim, que devemos viver em pleno em todas as épocas da nossa vida, mesmo que essa vida seja só interior e, no que diz respeito ao mundo que nos rodeia, chata e monótona.

Em miúda, nas aulas de Catequese para o Crisma, houve uma história que me impressionou. O catequista perguntou-nos o que faríamos se soubéssemos que era o nosso último dia de vida. Saíram as respostas mais fantásticas, claro. Depois de todos termos falado, ele leu a resposta de um santo de que não recordo o nome, infelizmente, só me lembro que era um dos que “vivia no mundo”, não um monge ou algo similar. E que disse ele? Pois bem, disse muito simplesmente, “continuaria a fazer o que tenho feito”.

Para mim, isto tornou-se o símbolo de uma vida bem vivida, não ter pesares do que não fizemos.

Sim, eu sei que nem sempre podemos fazer o que gostaríamos de fazer, ou antes, raramente o conseguimos fazer. Mas em vez de passarmos o tempo todo a lastimarmo-nos pelo que nos falta, que tal olharmos à nossa volta e tentarmos arranjar coisas que nos agradem? Melhor ainda, que me dizem a tentarmos arranjar motivos de apreço no que fazemos?

Outra coisa que me intriga é o modo como não nos preparamos para a morte, à parte os tais clichés de que falámos acima.

Durante toda a discussão da eutanásia falou-se muito de pessoas em grande sofrimento, etc. Já agora, qualquer pessoa pode, por lei, recusar tratamentos que não visem apenas atenuar a dor e manter o conforto. E se a pessoa não puder comunicar ou já não estiver na plena posse das suas faculdades?

Já ouviram falar do Testamento Vital? Pois bem, a lei que o criou já data de 2012 e, de acordo com um artigo do jornal O Público de 15/4/22 (de que só li o início por não ser assinante), até à data só tinham sido feitos 44 106 e, como têm de ser renovados a cada cinco anos, só 33 000 continuavam válidos. Já agora, para os fãs de séries médicas americanas como ER ou Chicago Hope, equivale ao célebre DNR (não ressuscitar) que tanto se houve ali, mas com mais detalhes.

Se querem saber mais pormenores, consultem esta página do site do SNS:

https://www.sns24.gov.pt/servico/registar-testamento-vital/

E para verem o que envolve, podem ver o formulário aqui:

https://servicos.min-saude.pt/utente/Repo/feeds/files/Rentev_form_v0.5.pdf

Já agora, é gratuito.

Outra faceta que me intriga solenemente, sobretudo depois de tudo o que se disse da eutanásia, é a enorme pressão a que muitas pessoas são sujeitas por familiares e amigos para tentarem mais um tratamento, fazerem mais uma coisinha, mesmo sabendo que vai ser doloroso e que, no máximo, lhes prolongará a vida umas meras semanas ou meses.

Ou seja, por um lado, os “bem-pensantes” embandeiraram em arco com a ideia de matar pessoas – sim, deixemo-nos de histórias, eutanásia é isso mesmo! Mas, ao mesmo tempo, queremos que se faça tudo e mais alguma coisa para manter a pessoa viva, quaisquer que sejam as probabilidades.

Não seria bem melhor encorajarmos quem está nessas circunstâncias a não desperdiçar o que lhe resta de vida em tratamentos com fraquíssimas hipóteses de resultarem e tentarem aproveitar esse tempo para estarem com família, amigos, fazerem, até, algumas coisas que sempre quiseram fazer, enfim, para gozarem em pleno os seus últimos dias.

Pensam que isto nada tem a ver com a eutanásia? Tem e de que maneira. Entre outras coisas, falou-se muito de pessoas que não querem ser um fardo para os outros, dos que estão fartos de estarem dependentes de terceiros, etc. É aí que entra o “ensinar para a morte” – por outras palavras, ensinar as pessoas, desde muito pequenas, a viverem a sua vida em pleno, por muito má que as condições sejam, para não ansiarem pela morte, mas também para não a temerem.

Para a semana: Novamente o aborto – à luz de comentários feitos aos mais recentes acontecimentos...

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