Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Luísa Opina

Neste blogue comentarei temas genéricos da nossa sociedade. Haverá um novo texto todas as sextas-feiras

Neste blogue comentarei temas genéricos da nossa sociedade. Haverá um novo texto todas as sextas-feiras

Luísa Opina

25
Mar22

26 - É o pacifismo que causa guerras

Luísa

Sim, parece um contrassenso, mas infelizmente não o é. Basta olharmos para a história recente para vermos que quando se diz “a paz a qualquer preço”, esse preço é praticamente quase sempre a guerra. Já agora, para os mais distraídos ou mais novos, isto foi dito pelo então primeiro-ministro inglês, Chamberlain, aquando das suas negociações com Hitler em 1938, já depois da ocupação da Áustria, em que lhe cedia toda uma área de falantes de alemão em países vizinhos a troco de um tratado de paz entre a Alemanha e a Inglaterra. E todos sabemos como isso acabou...

E temos um exemplo bem mais atual, com a guerra na Ucrânia. Quando Putin tomou a Crimeia, nada se fez para não provocar uma guerra, usando-se as desculpas mais esfarrapadas para aceitar esse seu ato de agressão. Pois, resultou em cheio!

O problema está em que às boas almas que são os pacifistas nunca ocorre perguntar como é que o outro lado vai interpretar os seus atos ou palavras. E, infelizmente, atitudes e frases nascidas de uma vontade sincera de resolver as coisas com calma, falando, são vistas a maior parte das vezes como cobardia, pura e simples e / ou uma falta total de vontade de defender a própria cultura ou o próprio país.

Já repararam que quando, muito razoavelmente, cedemos aos pedidos de um grupo seja em termos de religião, costumes ou outros isso conduz sempre a uma nova ronda de pedidos que em breve passam a exigências, cada vez mais radicais chegando-se até ao ponto de nos exigirem que vivamos de acordo com as regras desses grupos?

Acham que estou a exagerar? Pois bem, numa das muitas zonas de Londres habitada por muçulmanos, estes começaram por pedir a proibição de pubs e outras coisas menores e, face às constantes cedências, concorreram às eleições locais com um programa que incluía obrigar todas as mulheres residentes ou até de passagem a usarem burca, fossem ou não muçulmanas. E já agora, estiveram perto de ganhar.

Temos também o 11 de setembro. Ouve-se muito dizer que afinal, apesar de tantas precauções nos aeroportos contra o terrorismo, tudo aconteceu pela ação de indivíduos armados com um mero X-ato. É verdade, mas só até certo ponto. O verdadeiro problema esteve na política adotada por pressão de pacifistas de nunca se agir contra piratas do ar, coitados, eram só pessoas com reivindicações justas e que queriam apenas expô-las. E repetia-se muito, “a falar é que a gente se entende!”

Pelos vistos nunca ocorreu a ninguém perguntar, “E se eles não quiserem falar?” Pois é, vimos todos a resposta, quando já era tarde demais.

Infelizmente, isto não se aplica apenas a nível de guerras, terrorismo ou países, acontece diariamente nas nossas sociedades e até nas nossas vidas pessoais.

Na violência e indisciplina  nas escolas, por exemplo. Não surgiram do nada, começaram com pequeninas coisas que foram toleradas “para não traumatizar as criancinhas”. As coisas foram piorando e a resposta, quando a havia, era muita conversa do tipo, coitados, têm problemas em casa, vêm de bairros degradados, são isto e aquilo, temos de ser compreensivos. E um dia acordou-se para a realidade de em muitos casos a situação estar totalmente fora de controlo.

Já agora, o mesmo se aplica à violência doméstica, ninguém começa por agredir violentamente ou até matar a mulher, namorada ou lá o que é, não tudo começa sempre por pequeninas coisas, um insulto, um achincalhamento, depois uma bofetada e por aí fora, num crescendo de agressividade que, como todos sabemos, acaba muitas vezes bastante mal.

E se queremos realmente eliminar este gravíssimo problema temos de educar as pessoas de que uma única vez já é uma vez a mais e que nada desculpa a violência física ou psicológica. Há que reagir a sério logo de início para não se ter um resultado bem pior mais tarde. Mas falarei mais disto num outro post.

Se acham que a premissa deste post está errada, em termos genéricos, pensem bem, o que é que acontece quando um amigo, um conhecido, vos pede um favor que nada no nível da vossa relação justifica e que aceitam fazer para não criar mau estar? Apreço pelo vosso esforço? Uma melhor amizade ou relação? Não me parece! Aposto até que a partir daí passa a haver cada vez mais pedidos de favores e que após algum tempo estes passam a ser feitos quase como exigências.

Nesta altura já devem estar a pensar que sou partidária de um mundo a ferro e fogo onde a menor coisa leva a violência, quezílias, enfim, discórdia. Muito longe disso!

Sou uma grande partidária de falar, negociar, entender outros pontos de vista, por muito estranhos que possam parecer à primeira vista. Mas não às cegas e sim estudando, primeiro, cuidadosamente o outro lado, para ter uma ideia de como é que me veem e às minhas ideias. Sobretudo, como é que uma cedência da minha parte, um compromisso, será interpretada.

E, acima de tudo, definir à partida as célebres “linhas vermelhas”, ou seja, questões fundamentais onde nunca, mas mesmo nunca haverá cedências.

É que se queremos um mundo em paz, seja a nível de países, de sociedades ou da nossa vida pessoal, temos de deixar bem claro que, por muito tolerantes que sejamos, estamos dispostos a lutar para defender princípios que consideramos fundamentais. Ou seja, sermos partidários da paz, mas sempre com armas bem à mão!

Para a semana: Transexualidade e misoginia – inspirado por acontecimentos desportivos recentes...

19
Mar22

25 - São as mulheres que oprimem as mulheres

Luísa

Sei que este título poderá dar a ideia de que eu acho que não há opressão masculina sobre as mulheres. É claro que há, nalgumas áreas mais do que em outras. Mas se queremos realmente um mundo mais igualitário, talvez seja altura de metermos a mão na consciência e analisarmos o nosso comportamento. E por nosso, quero dizer o das mulheres em geral, há sempre exceções, claro.

Comecemos pelas chamadas profissões ditas “masculinas”. Vi por acaso, a propósito do Dia das Mulheres, uma entrevista a uma engenheira com a inevitável pergunta sobre a reação dos homens à sua carreira. E vi que a jornalista ficou muito incomodada porque a resposta foi que nunca tinha tido problemas. Não era nada o que esperava ouvir!

Mas sabem que mais? Até é bem verdade e falo por experiência própria. Decidi estudar engenharia nos anos 60, altura em que éramos realmente muito poucas, exceto em Engenharia Química. E de entre os amigos e conhecidos dos meus pais, os homens – com uma ou duas exceções – limitavam-se a perguntar qual a área que me interessava e mais nada. Quanto às mulheres... Pois, ouvi de tudo, sendo a frase mais popular “Que escolha tão pouco feminina!”

Agiam quase como se a minha opção fosse uma traição às mulheres. E não que me fizesse diferença, nunca achara as conversas delas interessantes, mas passaram a excluir-me da “irmandade”.

Já agora, nunca tive esse problema com o lado masculino desses casais ou com colegas e rapazes e homens que vim a conhecer. A partir do momento que viam que eu gostava realmente de coisas técnicas e que não era um mero pretexto para me imiscuir ou namoriscar, passavam a tratar-me como um deles. Já as raparigas e mulheres, assim que me percebiam quais eram os meus verdadeiros interesses, passavam a ignorar-me, isto apesar de eu nunca ter tentado levar a conversa para esses temas, mantendo-me estritamente dentro da chamada conversa “feminina”.

Passando a outro assunto, temos o famoso caso “da outra”. Sabem a que me refiro, o “ela roubou-me o marido / namorado / o que quer que seja”. Não é curioso que quando um homem trai, a vítima da traição nunca o culpa a ele? Ou se o faz é sempre com muito menos raiva do que o modo como acusa a pessoa com quem ele traiu?

Espantosamente, fica-se com a ideia de que o macho, todo poderoso, segundo nos dizem, na economia, local de trabalho e até no próprio lar, quando se trata de “pisar o risco” é subitamente um coitadinho que até nem queria fazer aquilo, a culpa é toda “dela” que o obrigou! A sério?

Talvez alguém um dia me possa explicar como é que isto funciona. É que, muito francamente, nunca o consegui entender e isto apesar de ser um dos temas mais frequentes em livros e filmes.

E tudo isto leva, por extensão, ao ostracismo a que são votadas mulheres solteiras, viúvas ou divorciadas por parte das casadas. É que há sempre a ideia subjacente de que o objetivo de todas as mulheres é ter um homem seu e que se não o tem é porque não consegue um. E sendo assim, o melhor é afastá-las dos seus respetivos maridos para evitar que tentem “roubá-los”.

Terceira vertente, a ajuda em casa (já agora, leiam o post Os homens não deviam ajudar em casa). Ouvimos repetidamente dizer que a mulher tem mais dificuldade em singrar numa carreira porque tem de cuidar da casa e dos filhos. E infelizmente até é verdade em muitos casos. Só que a culpa não é totalmente masculina.

Se é mulher e tem filhos e filhas, confesse lá, trata-os do mesmo modo? E por tratar refiro-me ao tipo de coisas que espera deles.

Vejamos, ensina-os a cozinhar, por exemplo? Ou só o faz com as filhas? Se pede que ponham a mesa, é à vez ou mais uma vez é só trabalho delas? Estenda isto ao resto do trabalho que faz em casa e tenho quase 100 % de certeza de que descobrirá que exige coisas das suas filhas que nem se lembra de pedir aos seus filhos.

Há também o outro lado da moeda. Se o seu marido faz pequenos arranjos e tenta ensinar os filhos, faz os possíveis para que ele inclua as filhas ou é como muitos casos a que infelizmente assisti em que se uma delas pega num martelo diz-lhe logo que o pouse porque se pode magoar?

E há muitas, muitas áreas em que rapazes e raparigas continuam a ser educados de modo diferente, na maior parte de modo inconsciente, e em que é a mãe e outros elementos femininos do seu círculo que fazem tudo para manter uma rapariga no chamado papel tradicional.

Um dia destes haverá um post dedicado precisamente à educação para a diferença.

E para terminar, temos agora algo surgido com as novas “feministas” e que é a definição do que é uma “a sério mulher”. Aqui ainda não é muito usual – importamos estas modas com algum atraso – mas quem vê canais noticiosos americanos ou ingleses sabe bem ao que me refiro.

Uma mulher tem uma opinião política contrária ao que essas iluminadas acham aceitável, gosta, por exemplo, do Trump? Não é uma mulher a sério. Não concorda com o aborto a partir de uma certa altura da gestação? Não é uma mulher a sério. Ousa ser cristã fervorosa? Não é uma mulher a sério.

Estranhamente, essas zeladoras pelo que é uma mulher a sério, têm todas cursos e profissões tradicionalmente femininos – se calhar, e apesar de berrarem pela falta de mulheres em empresas tecnológicas, acham que quem escolhe essas áreas não é uma mulher a sério!

Já agora, mesmo nas épocas de maior opressão das mulheres os homens não usavam esta expressão. Podiam dizer que era uma mulher pouco feminina, mas não negavam que era uma mulher, como o fazem agora estas supostas líderes do feminismo!

 

Para a semana: É o pacifismo que causa guerras  – bem apropriado à época em que vivemos...

11
Mar22

24 - Problemas e não soluções

Luísa

Mais uma vez começo por dizer que acho desejável, imperativo, até, que nos alertem para os vários problemas que afetam a nossa sociedade, o nosso país e o mundo. A grande questão para mim é que só falam deles, mesmo quando falar em nada contribui para a sua resolução ou até para os minorar, pior ainda, muitas vezes falar vezes sem conta no assunto só irá exacerbar o problema. Soluções? Nem uma. Ou apenas uma frases muito vagas que nada significam.

Passo a exemplificar.

Durante a pandemia, ouvíamos falar quase diariamente dos graves problemas mentais que o isolamento traria. Dia após dia, especialista após especialista, era sempre a mesma coisa: estar fechado em casa sem contactos humanos alargados era péssimo, sobretudo para as crianças.

Francamente, acham que numa época tão socializada com é a atual não sabemos isso? A maioria das pessoas do nosso país (e falarei só do caso de Portugal) passa a vida rodeada de outras pessoas, começando na creche e passando por tudo o mais, escola, emprego, transportes, férias, tudo. É óbvio mesmo para os mais distraídos e inconscientes que passar disso para uma situação em que ficamos quase o tempo todo em casa, só com a família, se é que a temos, trabalhamos em casa, temos de tentar distrair-nos em casa, não será por certo nada bom para a nossa sanidade mental.

E acham também que não sabemos que é péssimo para crianças e jovens? Já lá vão os tempos em que uma boa parte da vida dessas camadas etárias era passada no lar. Agora, entre escola e atividades passam, isso sim, uma esmagadora porção do dia fora, com amigos ou conhecidos. Sem falar que a família também já não é o que era, na maioria dos casos, claro, pouco convívio havendo. Há muitas até em que na maior parte do tempo nem fazem uma única refeição em comum.

E quanto ao trabalho, bom, tal como eu, há um número cada vez maior de pessoas que trabalha em casa, não necessariamente em teletrabalho mas por termos atividades que podemos exercer sem sair. Mas para a vasta maioria, o emprego não é apenas o local onde se trabalha, é também uma fonte de convívio, mexericos e muito mais. Muitos comem até mais vezes com colegas do que o fazem com a família.

Resumindo, sim, é um problema. E ouvir dizê-lo dia após dia só serve para agravar a situação.

Precisávamos era de soluções. Pois é...

Repararam que as televisões mantiveram a programação habitual das manhãs e tardes durante toda a quarentena? A única diferença estava nos entrevistados, que passaram a falar esmagadoramente do vírus ou dos problemas que referi mais a cima.

Não teria sido bem melhor usarem esses tais especialistas para proporem atividades que as pessoas pudessem fazer em casa para aliviar a pressão mental do isolamento? Exercícios físicos fáceis de executar com o que há usualmente numa casa, para minorar os efeitos nefasto da inércia forçada? Sim, mesmo quem não se exercita regularmente faz atividade física com a ida para os transportes, saídas, etc. Ioga, então, teria sido ideal.

E para quem tem crianças pequenas, que tal coisas que todos pudessem fazer e que substituíssem as atividades da creche ou da escola? O mesmo para outras camadas etárias.

Teria sido uma ocasião de ouro, para umas aulas de culinária, de pintura, de todo o tipo de trabalhos manuais, não como costumam mostrá-los, mas sim aulas a sério que as pessoas podiam ir seguindo em casa.

Resumindo, em vez de baterem sempre na mesma tecla dos “problemas”, usarem a muito mais útil tecla das “soluções”.

Outra área em que este tipo de situação se repete é a da seca. Sim, há seca, as consequências são más e podem ser péssimas, enfim, o costume. E porque digo “o costume”? Quem lê história sabe perfeitamente que Portugal foi sempre um país muito sujeito a secas. E não me venham dizer que agora é pior por causa das alterações climáticas! É que, pelos vistos, para quem diz isso ter três milhões de habitantes ou quase onze é um fator negligenciável. Sem contar que com os padrões de higiene atuais gasta-se muitíssimo mais água.

À semelhança do que caso da pandemia, só nos mostram zonas afetadas pela seca, só falam dos problemas atuais causados pela dita e dos ainda mais graves que ainda ai virão, deitam as mãos à cabeça, enfim, falam sempre do mesmo.

Ora tratar da questão de secas periódicas é como jogar na Bolsa: compra-se quando está em baixa e não em alta!

Ou seja, as soluções têm de ser executadas durante os períodos de seca e não quando tudo volta ao normal. E há tanto que se pode fazer! Desde logo, a criação de reservatórios de água um pouco por todo o país, mas sobretudo nas zonas mais afetadas. Não me refiro a pequenas barragens mas sim a algo que vi em Israel, grandes escavações no solo com um material impermeável no fundo. Quando chove enchem e a água serve perfeitamente para rega.

Outra coisa seria reter o máximo de água dos rios antes de estes desaguarem no mar. Curiosamente, os ambientalistas estão contra, isso, afirmam, iria aumentar a salinidade do mar. O mais estranho é que os mesmos estão sempre a falar do perigo do aumento do nível do mar devido ao degelo de glaciares e do Mar Ártico. Simples detalhe, o congelamento é um dos modos como se pode fazer a dessalinização da água do mar...

Um colega meu da Universidade do Porto dizia que o lema dos portugueses era “para quê simplificar se podemos complicar”. Pois bem, eu acho que um outro lema bem apropriado seria “para quê solucionar se podemos problematizar”!

 

Para a semana: São as mulheres que oprimem as mulheres  – bem sei, é usual dizer que a culpa de tudo é dos homens. Mas será mesmo?

04
Mar22

23 - Os "ambientalistas"

Luísa

Começo por dizer que acho muitíssimo bem que se cuide do ambiente, em todas as suas vertentes. Mas há um pequeno detalhe que cria um verdadeiro abismo entre mim e os chamados movimentos ambientalistas e que é o facto de eu fazer questão de me informar devidamente sobre um assunto antes de desatar a criar pânicos totalmente infundados ou a ter ataques de histeria.

E se acha que os ditos movimentos e associações fazem o mesmo, bom, talvez alguns exemplos ajudem a, no mínimo, criar a dúvida.

O primeiro já tem uns anos, apesar de ter descoberto recentemente, e com grande espanto meu, que ainda anda nos tribunais. Refiro-me à coincineração na fábrica de cimento de Souselas.

Para quem não se lembra do caso, tudo começou com a necessidade cada vez mais premente de eliminar resíduos perigosos. Um dos processos usados para esse fim é precisamente a coincineração, em que esses lixos são queimados como combustível, em conjunto com outros produtos. É usado em vários países, nomeadamente países nórdicos, com a vantagem da eliminação dos ditos resíduos levar também a uma redução da quantidade de combustíveis gastos na produção e de as cinzas poderem ser aproveitadas.

Surgiu a reação, como sempre, com vários argumentos que iam sendo rebatidos, incluindo, até, uma visita a uma unidade, penso que Noruega, onde se realizava com êxito esse processo. Mas as grandes reações vieram quando os nossos ambientalistas “descobriram” as dioxinas.

Vamos aos factos, a coincineração produz realmente dioxinas e estas são perigosas para a saúde. O detalhe que foi sempre excluído das discussões e das muitas manifestações é que todas as queimas as produzem. Ou seja, se tem uma bonita e romântica lareira a lenha, ei, está a produzir dioxinas! Um churrasco também a lenha? Dioxinas!

E esta produção, digamos, doméstica é bem pior porque é feita em geral num espaço pequeno e fechado e sem qualquer tipo de controlo. Mais ainda, a sua quantidade varia com o tipo de lenha – já agora, a de macieira é das que mais dioxinas produz – e com o tipo de contaminação da madeira.

Mas tudo bem, não resultam de coincineração, por isso não fazem mal...

O segundo exemplo tem a ver com as energias renováveis. De acordo com esses movimentos e associações, temos de transitar a alta velocidade para um mundo onde só elas são admitidas. A minha primeira objeção é, claro, que a menos que a população mundial diminua drasticamente e voltemos a um modo de vida bastante primitivo, isto nunca será suficiente.

Mas presumamos que há uma evolução no modo de produção e que passam a bastar às nossas necessidades. Entra aí o meu grande motivo de confusão. É que as ditas energias renováveis são a hídrica, a eólica e a solar. Bom, com três, há muito por onde escolher... ou não.

É que os mesmíssimos movimentos que as exigem são contra a construção de qualquer tipo de barragens porque incomodam a fauna local, destroem uns arbustos, causam isto ou aquilo. São também contra as torres eólicas porque são feias e descaracterizam o ambiente, produzem ruído (obviamente nunca estiveram perto de uma) e matam as avezinhas. E são contra a solar porque os painéis são feios e descaracterizam a paisagem e a sua instalação pode incomodar a fauna local, sobretudo as aves.

Sendo assim, o que resta?

Passamos agora à reciclagem e reaproveitamento. Estou totalmente do lado dos que dizem que se deve reciclar e reaproveitar ao máximo. Mas também aqui entra a tal dualidade que me deixa perplexa.

Por exemplo, papel e cartão reciclado não podem ser usados em embalagens alimentares. Porquê? Será que quem exigiu esta regra tem a mínima noção do processo de reciclagem destes materiais? É que papel e cartão recolhidos são convertidos em pasta de papel a temperaturas elevadíssimas. Ou seja, entre o reciclado e o não reciclado, a diferença está na origem do material usado para o fabrico de pasta de papel. E para quem é tão contra os eucaliptos, não seria lógico apoiarem o uso de material reciclado em tudo?

Temos também a água que sai do último tanque de uma ETAR e que não pode ser usada nem para regar um campo de golfe. Pergunto, mais uma vez, porquê? E a resposta é sempre a mesma, a origem dessa água. Ou seja, as análises feitas e que provam que é água de ótima qualidade não contam para nada. Já agora, será que sabem que para todos os efeitos os rios de onde tiramos a água que acabamos por beber têm peixes e outros animaizinhos? Pensarão que há uns quartinhos de banho no leito desses rios...

E passamos ao último exemplo, agora muito na moda, o abacateiro no Algarve que, ainda ontem ouvi uma “especialista” afirmar, é a cultura que mais água consome. Pena que não seja verdade.

Na realidade, um valor médio de consumo ronda os 5600 metros cúbicos por hectare e por ano. É muito, mas temos 7500 para amendoeiras, 6400 para citrinos e 5500 para figueiras, por exemplo. E os produtores estão sempre a tentar arranjar novos modos de reduzir esse consumo – é que a água custa dinheiro e quem quer ter lucro tem de cortar nos custos. Já agora, uma plantação a sério – não umas arvorezinhas no quintal – tem rega gota a gota e sensores de humidade do solo, precisamente para reduzir ao máximo esse consumo.

É claro que a grande acusação é não ser uma árvore “nativa”. A sério? Ora vejamos alguns exemplos de outras árvores e plantas não nativas mas essas sim muito aplaudidas pelos ambientalistas:

- Alfarrobeira, oliveira e vinha, trazidas pelos fenícios no século XII a.C.

- Loureiro, amoreira, amendoeira e figueira, trazidas pelos gregos.

- Ameixieira, cerejeira, pessegueiro, damasqueiro e ginjeira, trazidas pelos romanos.

E muitas mais.

Pois, ainda bem que esses povos não tinham “ambientalistas”!

 

Para a semana: Problemas e não soluções – é a grande especialidade atual e nisso, somos peritos.

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Calendário

Março 2022

D S T Q Q S S
12345
6789101112
13141516171819
20212223242526
2728293031

Arquivo

  1. 2025
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2024
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2023
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2022
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2021
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D