14 - Intenções de Ano Novo
Sim, é aquela altura do ano em que nos enchemos de bons propósitos e fazemos listas, escritas ou não, de tudo o que tencionamos fazer no ano a estrear que se aproxima a passos galopantes.
E nada nos parece impossível, desta vez é que é, vai ser “o nosso” ano, toca a acrescentar mais umas coisitas!
Mas quando entra finalmente o novo ano, bom, com sorte, cumprimos algumas coisinhas durante uns dias. Outras vezes, nem isso, deixamos passar o dia 1 porque estamos cansados da noitada da Passagem do Ano e “amanhã vou muito a tempo de começar”, chega o amanhã e não apetece muito, fica para o dia seguinte... enfim, sabem certamente como as coisas se processam.
Há várias razões para isto acontecer sistematicamente e neste post irei falar de três delas. E para evitar que este ano as boas intenções fiquem de novo só no papel, darei também umas propostas que vos poderão ajudar a cumpri-las.
Uma das razões do não cumprimento, e a primeira de que falarei, é optarmos por intenções extremamente vagas. Por exemplo, quero perder peso, ler mais, passar mais tempo com a família, poupar dinheiro para comprar uma coisa boa... São tudo ideias válidas e úteis, mas difíceis de cumprir porque, na prática, nada significam, não passam de “boas intenções”.
O que sugiro é que quantifiquem e especifiquem cada um desses vossos propósitos. Por exemplo, em vez de “quero perder peso”, dizer “quero perder 5 quilos”. Ou, “Vou ler um livro por mês”, “Porei de parte 20 euros todos os meses para no fim do ano comprar...” Ou seja, especificar claramente o que queremos fazer, ter objetivos bem definidos.
O que me leva ao segundo ponto, à segunda razão do não cumprimento, o irrealismo do que nos propomos fazer quando escrevemos a famigerada lista, cheiinhos de entusiasmo.
Voltando a três dos exemplos que dei acima, se dissermos “Quero perder 25 quilos”, “Vou ler um livro por dia” ou “Porei de lado 250 euros todos os meses”, só muito dificilmente conseguiremos cumprir esses objetivos — bom, o do dinheiro até poderá ser viável para muita gente... Se queremos levar a nossa lista a sério, se a quisermos realmente cumprir, a nossa melhor hipótese é pôr-lhe objetivos modestos e, muito francamente, o mais viáveis possível para a nossa situação atual.
A grande vantagem é que, assim, a probabilidade de cumprirmos é elevadíssima. E, se virmos que é até demasiado fácil concretizar essas intenções, podemos sempre ir elevando a fasquia ao longo do ano. Por exemplo, perdidos os 5 quilos, nada nos impede de estabelecer nova meta, com a vantagem acrescida de nos sentirmos muito virtuosos por termos “riscado” algo da nossa lista.
E isto leva-me à terceira razão do incumprimento, uma lista demasiado extensa. É que na altura de a fazermos, tudo parece pouco e fácil, há sempre mais uma coisinha a acrescentar. Mas quando se trata de cumprir, pois, só a sua extensão faz-nos desesperar e acabamos por não fazer nadinha.
Uma opção que considero útil é esquecer a lista anual, digamos, e fazer antes uma lista pequenina para o primeiro mês do ano, tendo em conta os pontos já aqui referidos. E caso os assuntos se prestem a isso, podemos até dividi-la semana a semana. No final do primeiro mês, acrescenta-se algo à lista (pode até ser mais de uma coisa) e no mês seguinte, novo acrescento.
E sem dar-mos por ela acabamos por chegar ao fim do ano com uma lista bem compridinha e, milagre dos milagres, cumprida! É, ao fim e ao cabo, a velha tática do “grão a grão...”
E há uma vantagem adicional nesta abordagem. É que às vezes pensamos em fazer algo que achamos que nos vai agradar ou ser bom para nós mas que afinal não é bem o que esperávamos. Por exemplo, começar a fazer ioga. Ou aprender espanhol. Com esta lista a curto prazo, digamos, podemos sempre substituir estes “erros” por outras coisas sem sentirmos que estamos a estragar os nossos planos para o ano.
Aproveito para dizer que não sou grande fã de uma vida totalmente planeada (felizmente, a minha é um caos nem sempre organizado...) mas caso o sejam, não se esqueçam de deixar um espacinho na vossa lista para o inesperado. Sim, falo a sério, porem como um dos itens estarem atentos ao que possa aparecer de novo no vosso mundo e que possam querer experimentar.
E como quando um ano começa isso significa que um outro acabou, que tal fazerem uma pequena revisão do ano anterior? Não em termos de “Se eu...” ou de lastimar o que não se pode remediar, mas dando ênfase às coisas boas ou diferentes que aconteceram — e há-as sempre.
E para ajudar com essa revisão de final do ano, aqui vai um pequeno exercício: escreverem todos os dias, ou antes, todas as noites, uma frase sobre algo que aconteceu nesse dia. Pode ser mais, se quiserem, pode até ser uma verdadeira entrada de diário, mas umas meras palavras chegam, pelo menos para começarem (mais uma aplicação do começar devagar).
E não é preciso ser algo filosófico ou literário, pode ser uma coisa tão simples como “Hoje fui ao supermercado e vi a (nome) que já não via há muito tempo”. Ou “Gostei muito do episódio de hoje da série...). Ou “Hoje, não sei porquê, lembrei-me da minha primeira ida à praia em miúda”.
A ideia não é fazer uma obra literária, é sim adquirir o hábito de analisar o dia que passou e evitar um pouco aquela sensação de “Já estamos no fim do ano? Passou a correr...”
E pronto, um bom ano para todos e que daqui a 12 meses tenham finalmente cumprido as vossas intenções!
Para a semana: A (des)igualdade de género – um tema muito na moda...