136 - As reparações
Nas últimas semanas, depois das afirmações “infelizes”, para não usar outro termo, do senhor de Belém, tem-se ouvido falar muito em pagar reparações às ex-colónias pelos “males do colonialismo”. Houve logo quem pusesse o dedo no ar, claro, uns dinheirinhos extra vinham mesmo a calhar aos seus líderes e apaniguados...
E eu até concordo que se pague! Só que... pois, comigo há sempre um “só que”, desde que se façam muito bem as contas de quem deve o quê a quem.
O primeiro ponto que quero referir tem, precisamente, a ver com a tal expressão “os males – ou crimes – do colonialismo”. E, na boca dos cada vez mais numerosos woke da nossa sociedade, são muitos e terríveis.
A começar pela escravatura, claro. Quem os ouça fica com a ideia de que só os brancos a praticaram, quando a realidade é que fomos, de facto, os únicos, em toda a história da humanidade, a acabar com ela. Mas este será tema para um outro post.
Temos, depois, a aculturação provocada pelo cristianismo. Curiosamente, o Islão, que se impôs pela força a uma boa parte de África, está totalmente inocente deste crime.
E há também os massacres, é que, evidentemente, só existiram com os brancos – pois, o que se passou recentemente em Cabo Delgado, Moçambique, deve ter sido ficção, ou os muitos outros de que ouvimos falar há décadas um pouco por todo o continente.
É claro que surgiram também muitas vozes a falar em reparações aos portugueses por parte dos árabes, franceses, etc., pelas ocupações, saques, massacres e razias que nos fizeram. Sobretudo os árabes. Só que quando se fala na sua muito longa ocupação da Península Ibérica surge logo o argumento do muito de bom que nos deixaram. Curiosamente, os mesmos que o dizem acham que os brancos só fizeram mal em África e no Brasil!
Pois bem, vamos lá analisar um pouco isso, começando pela alimentação. É que muitos dos alimentos que associamos a África não são nativos de lá, foram, isso sim, levados pelos portugueses do Oriente e da América. Falo de coisas tão simples como a mandioca, a batata-doce, o inhame, pimentos, o cafeeiro-arábica, o cajueiro e muitas outras. E reparem, muitas destas plantas são agora alimentos base das populações, devem-nos, pois, pelo seu transporte e divulgação.
Temos, depois, a mulher africana. A sua situação nas sociedades africanas era francamente má, casada sem consentimento seu mal atingia a puberdade, forçada a ter filhos frequentes sob o risco de ser considerada estéril, sobrecarregada de trabalho e a quem nem a viuvez libertava porque era entregue em casamento a um dos irmãos do marido falecido.
E foi precisamente o colonialismo branco que lhe deu direitos, que tentou acabar com costumes que lhe eram altamente perniciosos – como a circuncisão feminina que, com a teoria do “respeito pelas outras culturas”, até é praticada em Portugal. Ou seja, somos a razão de essa senhora Van Dunen se poder pavonear à vontade e dizer mal do país que a acolheu, achando muito boa ideia haver reparações. Ótimo, ela pode ser a primeira a pagar-nos.
Temos, depois, a exigência de devolução das coisas tiradas de África, coisas essas que nunca são especificadas. Vamos a isso! Mas só se houver, claro, uma total reciprocidade.
E como muito do que teriam de nos devolver não pode sair do sítio, proponho que nos paguem por cada quilómetro de estradas e vias férreas, por cada casa, prédio, fábrica, hospital, etc. que lá construímos, para além das plantações, criações de gado e tudo isso. E isto sem falar no que espoliaram aos portugueses que ali viviam aquando da independência e que foram forçados a sair de mãos a abanar após uma vida de trabalho.
E não podemos esquecer o aumento da esperança de vida das populações e o enorme aumento da natalidade que melhores cuidados de saúde e outros têm causado. Hum... mesmo a um valor modestíssimo por cabeça, aposto que dará uma muito boa maquia.
Temos, ainda, a língua, um fator unificador nesses países que são uma manta de retalhos de línguas e dialetos, em que duas pessoas de tribos diferentes só se entendem se usarem o português.
Passemos, agora a Cabo Verde. Atendendo a que ninguém lá vivia antes de os portugueses terem chegado a essas ilhas, pois bem, devem-nos uma parcela adicional pela criação do país.
Temos, ainda, de pôr na coluna Receber os muitos milhões que temos enviado para esses países em ajudas de todo o tipo e que, estranhamente, são sempre ignoradas por quem fala em reparações. E tem sido muito, mas mesmo muito dinheiro, direta ou indiretamente sob a forma de bens para todo o tipo de desgraças – e sim, contam, é que, a menos que vá alguém vigiar a sua distribuição, são pura e simplesmente vendidos, pelo menos uma boa parte deles, para encher alguns bolsos.
Quanto ao Brasil, o primeiro a pôr o dedo no ar, aplica-se muito do que disse acima – sim, também levámos para lá inúmeras plantas, de África e do Oriente, a língua e muito mais. Mas temos, também, a coisa mais importante que receberam de nós, em termos de turismo e dinheiro: o Carnaval! Podem tê-lo mudado, tornado, até, quase irreconhecível, mas sem o colonialismo português não o teriam em aos milhões que lhes rende anualmente.
E se falam em reparações pela escravatura, lembro-lhes que a mantiveram décadas depois de ter sido abolida na Europa. Ou seja, devem reparações a eles mesmos!
Resumindo, se fizermos as contas como deve ser, todas as ex-colónias devem-nos uma boa maquia. Daí eu sugerir que avancemos rapidamente com o processo de reparações, seria, certamente, um bom modo de pôr em ordem as nossas contas públicas...
Para a semana: Violência doméstica. Pequenas coisas que me intrigam...
