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Luísa Opina

Neste blogue comentarei temas genéricos da nossa sociedade. Haverá um novo texto todas as sextas-feiras

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Luísa Opina

12
Abr24

131 - Os jovens são infelizes

Luísa

Saiu há uns dias o Relatório Mundial da Felicidade que inclui o que chamam um dado preocupante, ou seja, que os jovens estão mais infelizes do que os de gerações anteriores. Li inúmeras análises e comentários sobre o assunto, desde a culpa ser do tempo que passam nas redes sociais ao envelhecimento da população – tipo, pudera, vivem num mundo de velhos feito para velhos... Hum! Um dia falarei sobre esta questão.

Mas o que sobressaiu para mim não foi tanto o que foi dito mas o que foi omitido. A começar pelo conceito de felicidade. É que a ideia de que se não somos perfeitamente felizes o tempo todo (ou quase todo) então somos uns desgraçados é um conceito recente e ligado à evolução económica das sociedades. Não é por acaso que muitos dos chamados contos de fadas – que lembro, começaram a sua existência como contos populares tradicionais – acabam com “e viveram felizes para sempre”.

É que isso era uma utopia. Sim, esperava-se, com sorte, vir a ter momentos felizes ao longo da vida, mas não era um dado adquirido. E, muito francamente, a ideia de felicidade estava muitas vezes associada a não passar fome nem frio e a não ter uma relação conjugal muito má, esta mais para as mulheres. Ou seja, a fasquia era muito básica, eram coisas em que no Ocidente nem pensamos muito quando falamos em ser feliz.

O grande problema é que passámos agora para o extremo oposto. É quase “obrigatório” ser feliz a tempo inteiro e, como o que nos deixa felizes evoluiu e é, agora, muito mais subjetivo, vago e difícil de alcançar, não espanta ler resultados como o deste relatório.

Mas há mais. Professores, comentadores, políticos, “intelectuais” fazem questão de focar continuamente todo o tipo de problemas, sejam eles reais ou não, quase sempre com muita emotividade e poucos ou nenhuns factos, como a chamada catástrofe climática, por exemplo. E como os jovens não são ensinados e, acima de tudo, encorajados a pensar por si, vão ficando com a ideia de que o mundo é um lugar terrível. Lembro-me bem de um episódio dos Simpson em que Lisa entrou em depressão profunda ao iniciar uma “dieta” de noticiários.

Temos, também, a ênfase atual na tolerância e respeito pelos outros, algo muito de louvar, é claro. A questão é que os tais outros não nascem todos iguais e há cada vez mais jovens a sentirem-se isolados porque o que sentem ou são não “encaixa” nas caixinhas em que os bem-pensantes enfiam os que consideram vítimas ou oprimidos, ou seja, não estão abrangidos.

E, sim, as redes sociais. Sempre achei estranho que sociedades que tanto berram pela diversidade exijam, simultaneamente, tanta conformidade. É que quem pensar fora do cânone considerado correto é vilipendiado, mais ainda, nunca a aparência foi tão importante como agora, em que um comentário negativo numa rede social pode ter efeitos devastadores. Ou seja, em vez de fator de aproximação e convívio são muitas vezes a causa direta de uma cada vez maior solidão e isolamento.

Há, também, a total falta de preparação dos jovens para a vida, função essa que, para além da família, compete também à escola. A ideia básica é mantê-los numa bolha, supostamente para os proteger do stress de lidarem com a realidade. Resultado? Nada sabem sobre o custo de vida, sobre os (muitos) impostos que pagamos, enfim, a sua relação com a economia pode-se resumir a “quero isto e quero-o já”. E como nem sempre é possível, sentem-se, claro, infelizes.

E não estou a exagerar, em tempos vi uma reportagem sobre uma turma do 11º ou 12º ano em que o professor lhes pediu o preço de toda uma série de artigos básicos, como pão, leite, etc. Pois bem, todos erraram muito, mas mesmo muito por baixo e foi um choque quando viram os valores reais. Bom, também lhes foi pedido o mesmo para videojogos, telemóveis... e aí, acertavam ao cêntimo!

O que está diretamente ligado à ideia muito ouvida de que a falta de saídas profissionais é uma causa da infelicidade dos jovens. E sim, muitos não têm emprego apesar de terem um curso universitário, como tanto apregoam. Só que há aqui uma pequenina questão, a ideia que têm de um emprego é a clássica, digamos, a que lhes veio dos pais e avós.

Sim, houve uma época, ainda bastante recente, em que concluir um curso universitário, fosse ele qual fosse, era garantia de um bom emprego para a vida. Só que agora todo o gato sapato tem um, em muitos casos sem a menor utilidade visível, e não há lugar para todos, pelo menos com contrato de pedra e cal desde a formatura até à reforma.

Mas, em vez de tentar reforçar a ideia de que há muitas profissões que até rendem bem, que o emprego para a vida é cada vez menos provável, ou até desejável, continuamos a insistir em pôr toda a gente a estudar, quer gostem ou não de o fazer. E também aqui os jovens não são encorajados a pensarem no seu futuro económico em termos realistas, quantos seguem um curso meramente porque é o que os amigos escolheram ou porque está na moda.

Para concluir, acho, muito francamente, que se falássemos menos em felicidade seríamos bem mais felizes. Veja-se o que se passa com o casamento – ou qualquer outro tipo de relação. Filmes, redes sociais, revistas de fofocas só falam em estar apaixonado e em ser feliz. Só que uma relação tem de evoluir para poder durar. E com este tipo de ênfase, muitos pares juntam-se nada sabendo, a sério, sobre quem realmente são e, ao menor sinal de desvio do tal guião da felicidade, é a quebra e a infelicidade total!

Para a semana: Haja consistência! Sim, no jornalismo, na política, na justiça, nos "comentadores"...

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