Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Luísa Opina

Neste blogue comentarei temas genéricos da nossa sociedade. Haverá um novo texto todas as sextas-feiras

Neste blogue comentarei temas genéricos da nossa sociedade. Haverá um novo texto todas as sextas-feiras

Luísa Opina

13
Set24

153 - Acabados os Paralímpicos

Luísa

À semelhança do que fiz quando terminaram os Jogos Olímpicos, este será um post dedicado às minhas opiniões e ideias sobre os Jogos Paralímpicos.

Começo por um pouco da sua história. A sua génese está numa competição desportiva organizada em 1948 em Inglaterra, mais precisamente em Stoke Mandeville, por Sir Ludwig Guttman, envolvendo 16 veteranos da recentemente terminada Segunda Guerra Mundial, todos eles com lesões na coluna. Quatro anos depois nasceu o agora denominado Movimento Paralímpico quando concorrentes da Holanda aderiram à iniciativa.

Os primeiros Jogos Paralímpicos propriamente ditos só se realizaram em 1960, em Roma, logo após a conclusão dos Jogos Olímpicos desse ano, com 400 participantes de 23 países e 8 desportos.

Englobam atualmente as seguintes 22 modalidades, uma delas com duas variantes: atletismo, badminton, basquetebol em cadeira de rodas, boccia, canoagem, ciclismo de estrada, ciclismo de pista, equitação, esgrima em cadeira de rodas, futebol de cegos, goalball, judo, natação, halterofilismo, remo, rugby em cadeira de rodas, taekwondo, ténis de mesa, ténis em cadeira de rodas, tiro desportivo, tiro com arco, triatlo e voleibol sentado.

Último detalhe, há 3 grandes grupos de classificação de atletas, cada um deles com vários subgrupos: PI (deficiência física), VI (deficiência visual) e II (deficiência mental). Depois, cada desporto tem as suas próprias categorias, indicadas por um sistema de letras e números – por exemplo, em atletismo, T42 a T44 significa deficiência nos membros inferiores. Enfim, um sistema muito complexo que me leva a uma das minhas queixas, digamos, apresentadas mais adiante.

Começo por dizer que achei a Cerimónia de Abertura um bocadinho pobre comparada com a que víramos umas semanas antes. Não seria, talvez, de esperar o mesmo aparato grandioso, mas faltou-lhe algo, na minha opinião, que a elevasse um pouco mais. Por exemplo, algo similar à muito comovente atuação de Céline Dion na muito francesa canção Hino ao Amor, um momento verdadeiramente inesquecível.

Outra “queixa” minha, esta mais local, tem a ver com a falta de informação dada pelos comentadores da RTP2 durante as competições. Diziam – às vezes – a categoria em prova, T42, por exemplo, mas não explicavam o que isso queria dizer. E quanto a regras, nadinha – com uma grande exceção que citarei mais adiante e outras menores, como o facto de nas provas de atletismo de cegos estes terem de cortar a meta ao mesmo tempo que o guia.

Pode ser que me tenha escapado algo, não vi tudo, mas nas provas a que assisti tive de me deitar a adivinhar sobre o tipo de atletas em competição – ou passar o tempo todo a consultar o Google via telemóvel para poder interpretar devidamente o que estava a ver.

E quando falo em regras, bom, é óbvio que ténis de mesa em cadeira de rodas terá algumas um bocadinho diferentes do ténis de mesa em pé, embora continue a ignorar quais são... E sim, confesso que desconhecia muitos dos desportos destes Jogos, mas devo estar no mesmo barco de muito boa gente, é que a menos que se conheça alguém que os pratique nunca os vemos fora deste contexto – e suspeito que desta vez a cobertura foi um pouco melhor, talvez por se falar tanto em inclusão.

A grande exceção a esta ausência de informação foi um desporto que constituiu uma surpresa total para mim – e não só, referi-o a algumas pessoas que também o desconheciam: o futebol para cegos! Se não viram, tentem encontrar um jogo, é fabuloso. O comentador, um brasileiro, pareceu-me ser um grande conhecedor da modalidade e foi muito, mas mesmo muito informativo, aumentando o prazer de assistir com os dados que ia fornecendo. Pequeno detalhe, os guarda-redes têm alguma visão..

Outra coisa que me ficou na memória foram algumas provas de natação para pessoas com deficiências físicas. Sobretudo aquele chinês sem braços que, espantosamente, nada de barriga para baixo, ou seja, com a cara dentro de água a maior parte do tempo – pode vê-lo aqui, tornou-se muito famoso. Mas não era o único, numa das provas havia três chineses, todos sem braços, que se deslocavam na água a uma velocidade de fazer inveja a muito boa gente com os membros todos.

Mas a minha maior “queixa” está na falta de “preparação”, à falta de um termo melhor, do possível público nos dias que antecederam estes Jogos. Vimos os atletas a serem recebidos pelo senhor de Belém e pouco mais.

Ora esta teria sido uma oportunidade de ouro para mostrar o modo como se treinam, as modalidades disponíveis no nosso país e, mais ainda, os desportos e outras atividades físicas que existem atualmente para pessoas com todo o tipo de problemas, físicos ou mentais, mesmo que apenas a um nível não competitivo.

Isto teria duas vantagens. Num país com a nossa elevadíssima taxa de acidentes rodoviários, muitos deles envolvendo jovens, mostraria que a vida não acaba necessariamente só porque se fica numa cadeira de rodas, por exemplo, que há muito que se pode fazer na área puramente física. E faria também esse serviço a quem tem filhos com vários tipos de problemas deste tipo. Sim, há fisioterapia e outros tipos de acompanhamento, mas nada melhor do que ver para crer.

Termino dando os meus parabéns a todos os atletas portugueses que participaram, mesmo os que não contribuíram para um número recorde de medalhas e diplomas. Têm, certamente, muito mérito e aposto que as condições em que treinam e os meios de que dispõem são bem inferiores aos dos atletas ditos normais, ou seja, só com um esforço acrescido e muita vontade se conseguem resultados tão bons!

Último detalhe o Linha da Frente de ontem (12 de setembro), chamado A Cor do Mundo, falava um pouco de desporto para crianças invisuais, com destaque para a Academia Jorge Pina criada pelo atleta paralímpico do mesmo nome.

Para a semana: O nosso sistema penal. A propósito da recente fuga e não só

06
Set24

152 - Fake News

Luísa

A propósito da “saga” desse grande democrata, o Lula, com a rede social X decidi falar de um tema muito na moda, as chamadas “fake news”, ou seja, em bom português, notícias falsas – embora eu prefira, neste caso, o termo “contrafeitas”.

Comecemos pela sua definição oficial: são notícias deliberadamente falsas disseminadas com um determinado fim, seja ele político, económico – atrair pessoas a um site, por exemplo – ou outro. Ou seja, são desinformação, quer sejam mentiras o verdadeiro sentido da palavra ou apenas conteúdos não verificados.

Posto o assunto nestes termos, até concordo ser importantíssimo combater as fake news por todos os meios possíveis, uma vez que podem perturbar seriamente o entendimento que temos sobre um determinado assunto. Só que... pois, infelizmente, as coisas não são assim tão liminares. É que, muito francamente, os culpados pela sua criação ou, mais frequentemente, divulgação, são muitas vezes governantes, jornalistas, comentadores e outras pessoas similares, capazes de influenciarem a opinião pública.

Há, também, o “pequeno” detalhe de que se algo não agrada aos Donos da Verdade (DDV) é automaticamente classificado como fake news. Já o contrário pode ser dito à vontade.

Por exemplo, dizer que o COVID veio de um laboratório chinês é fake news. Mas dizer que, apesar de em milhentas cidades e povoações desse país milhões de chineses comerem a chamada carne do mato, a contaminação aconteceu na única que tem um laboratório que investiga esse tipo de vírus, aí, sim, é uma notícia a sério.

O mesmo se passa com as alterações climáticas, perdão, a catástrofe climática. Tudo o que contrarie essa tese passa de imediato a ser fake news. E, claro, tudo o que a reforce é uma notícia séria, mesmo que haja zero provas a seu favor ou, pior ainda, seja absurda – como dizer, “em milhões de anos o nível do mar nunca esteve tão alto”, algo dito por uma “especialista”.

Em política, então, nem se fala. Dizer, por exemplo, que o filho do Biden é corrupto é fake news, apesar de todas as provas apontadas – já agora, o dito acabou de se declarar culpado de um crime desse tipo. Mas se for alguém que desagrada aos DVD, ei, tudo bem, inventa-se à vontade.

Como casos mais recentes, qualquer referência a malfeitorias financeiras por parte desse senhor Lula é fake news, mas se for o Bolsonaro, vale tudo. E, cá na terra, só se retira esse termo a notícias sobre certos personagens, curiosamente todos de esquerda ou pelo menos não de direita, quando as provas são tantas que já não se podem ocultar.

O pior é que, em muitos casos, o que começou por ser fake news acabou por se provar ser verdadeiro. Por exemplo, quando surgiu a vacina COVID, houve sites que diziam que não bastaria uma dose da dita, teria, certamente, de haver vários reforços. Foram, claro está, suspensos por divulgarem fake news. E todos sabemos como isso acabou.

Uma outra acusação às fake news é que se prestam a disseminar o ódio racial e a intolerância – bom, só num sentido, claro. Como exemplo, cita-se o que se passou em Inglaterra e que deu origem a motins, com a indicação nas redes sociais de que o criminoso em questão era um refugiado muçulmano, surgindo logo a resposta outros sites de que era bem inglês, de quarta geração. Afinal era filho de refugiados ruandeses. Só que a primeira notícia era fake news, a segunda (a quarta geração) não.

Fala-se muito em como evitar as fake news, desde a sua proibição (!) à criação de organismos que as combatam. E porquê o ponto de exclamação? Bom, é que o primeiro obstáculo está, precisamente, em definir o que é uma fake news. Sim, há casos em que até seria bem fácil, mas o problema está em que estão numa zona cinzenta: em muitos casos não há provas a seu favor, mas também não as há contra. Mais ainda, corre-se, de imediato, o risco enorme de passar de “cortar fake news” a censura pura do que não agrade a quem manda.

Já agora, evitavam-se muitos casos se houvesse mais franqueza nas notícias dadas, sobretudo no respeitante à criminalidade. Crimes como o de Inglaterra, por exemplo – sim, por ser menor não podiam revelar a sua identidade, mas se tivessem comunicado logo o resto dos dados a seu respeito isso teria evitado muitas especulações.

Um outro mecanismo é os chamados “fact checkers”. Teoricamente, estes analisam uma notícia que ande a ser muito divulgada e decretam se é verdadeira ou falsa. O Observador tinha um – não sei se ainda o tem, não o tenho visto. E era triste, mas ao mesmo tempo extremamente divertido, ver a rapidez com que decretava a veracidade caso fosse contra pessoas ou causas do ódio de estimação dos DDV e as voltas e reviravoltas que a explicação dava para poderem dizer que era falso, ou maioritariamente falso, no caso contrário.

Curiosamente, encontrei neste site uma lista do que fazer para identificar uma fake news. Lendo-a, achei que seria uma ótima ideia os nossos tão isentos e profissionais jornalistas lerem-na e, acima de tudo, segui-la. Por exemplo, “Confirme a fonte e a autoria”. Ou, “Faça também uma pesquisa dos factos citados na notícia”.

Pois, como disse em posts anteriores, nomeadamente Jornalismo ou jornalixo? e Jornalismo ou jornalixo? Parte 2, bem podemos esperar sentados.

E voltando à questão do X, não é curioso que seja acusado de influenciar eleições e outros mimos sociais quando as outras plataformas fazem exatamente o mesmo e singram de vento em popa? Pois, só que estas fazem-no no sentido oposto...

Para a semana: Falemos dos Paralímpicos. À semelhança do que fiz quando acabaram os Jogos Olímpicos

30
Ago24

151 - Livros / Filmes / Séries que gostava que existissem

Luísa

Leio vorazmente e tento ver alguns filmes e séries televisivas, mas deparo-me cada vez mais com um mesmo problema, basicamente, temas sempre iguais e que, infelizmente, pouco ou nada me interessam ou que deixaram de me interessar pela falta de originalidade.

Mais ainda, fica-me a sensação de que, “para não ofender”, muitos escritores e argumentistas evitam tratar assuntos que possam ser polémicos ou que estejam em contracorrente. Limitam-se, pois, a “fazer mais do mesmo” – já repararam na enorme quantidade de novas – e woke – versões de filmes e séries que se fazem atualmente? Em livros estamos um bocadinho melhor, mas não muito, há a imensa preocupação por parte de muitas editoras de ter uma panóplia diversificada de autores e, a avaliar por alguns catálogos, ser “diferente” – ser mulher também conta – e tratar de um terma da moda parecem ser mais importantes do que a qualidade da obra.

Pois bem, aqui ficam algumas sugestões minhas para temas futuros... não que tenha grande esperança em vê-los numa livraria ou num ecrã.

Comecemos.

É tema central ou secundário de inúmeros livros ou filmes / séries  o rapaz que “se sente rapariga” e que vai para a escola de saias e com maquilhagem sendo, por isso, vítima de todo o tipo de agressões, verbais ou físicas, com cenas à mistura dos pais – ou, pelo menos um deles – a tentarem que se interesse por desporto e que troque as bonecas por brinquedos “mais masculinos”.

Mas... imaginemos que o dito rapaz tem uma irmã e que esta detesta todos esses frufrus. Nunca se maquilha, usa simplesmente o cabelo amarrado de um modo prático, só se sente bem de calças, adora desporto e os seus brinquedos favoritos são kits de construção. Pequeno detalhe, sempre se sentiu rapariga, sabe que é rapariga e adora sê-lo.

Que tal vermos a história do ponto de vista dela? Como acham que se sente ao ouvir de todos, professores, psicólogos, comunicação social, que ser mulher é pintar-se e usar vestidos? Que as coisas de que gosta não são próprias de uma rapariga, uma vez que o irmão as detesta porque “se sente rapariga”? Pior ainda, se tentar falar com alguém sobre o que sente, começa imediatamente a levar uma lavagem ao cérebro de que ela é, quase certamente, um rapaz no corpo errado...

Era uma história que eu leria / veria de boa vontade.

Outro tema muito em voga é o racismo, no sentido que lhe dão atualmente, ou seja, brancos contra outras raças. E lá vêm os livros / filmes / séries, ou parte deles, em que alguém de outra raça se muda para um bairro branco e é, no mínimo, ostracizado.

Mas... porque será que nunca vemos nada sobre os inúmeros casos de brancos, muitas vezes idosos sem recursos, cujos bairros foram sendo ocupados por pessoas de outras etnias, o termo da moda, e que são alvo de todo o tipo de pressões, para não falar em ataques e insultos, para que se mudem “porque não queremos brancos aqui”?

Ainda na mesma onda, que tal algo sobre o que se passa com alunos brancos minoritários numa escola, sobretudo em certas zonas das cidades? Ou sobre a vida de uma não cigana que casa com um cigano, tendo de se adaptar totalmente ao seu modo de vida e sabendo que, por muito que faça, será sempre vista como uma intrusa.

Mudando de assunto, temos, também, inúmeras obras sobre o sofrimento psíquico e moral de homens que, sabendo que são homossexuais, casam para “fazer como toda a gente”, têm filhos e um dia decidem anunciar o que são, de facto, tendo problemas com a mulher que não aceita bem toda essa história e que é, por isso intolerante e má.

Só que... é curioso não haver nada, que eu saiba, que conte a história dessas mulheres, que passaram anos num casamento nada entusiasmante, sempre a pensarem se eram elas o problema. Mais ainda, será que voltam a confiar num homem o suficiente para refazerem a sua vida? Quantos meses, anos, passarão a repisar todos os momentos da sua vida em comum para verem se lhes escapou algo, se “deviam ter sabido”, como se ouve muito dizer?

Último “desejo” deste post, a toxicodependência. Não faltam cenas / obras inteiras com a descida aos infernos de um drogado, o que faz para ter uma dose, os seus problemas físicos e psíquicos, etc.

Mas... que tal falarmos da família desse toxicodependente? Da escalada da situação, degenerando, muitas vezes, em roubos e agressões, do sentimento de impotência perante o agravamento do vício, dos problemas financeiros em que ficam para tentarem tratar o seu filho ou filha? É que, quando surgem num livro ou outra obra, são tratados como sendo a principal causa do problema, são vistos como os maus da fita, sobretudo se, após situações mais graves, expulsam o filhote de casa. Então se forem pessoas da classe média, trabalhadoras e decentes, bom, é certo e sabido que a culpa é toda deles.

Haveria muito mais sugestões, claro, sobretudo se incluirmos a moda de dois pesos e duas medidas, também muito querida atualmente. Por exemplo, pais cristãos que não aceitam que o filho seja homossexual, mas nem pensar em falar de um muçulmano na mesma situação... Ou uma rapariga de uma família muito religiosa, leia-se, cristã, que fica grávida e é expulsa de casa, uma sorte bem melhor do que se a família fosse adepta ferrenha do Islão, como provam os inúmeros “crimes de honra” Europa fora.

Finalizando com a atual moda de fazer versões “iluminadas” de contos de fadas e a propósito da nova Branca de Neve – que não é branca e, à revelia da história, não é mais bonita do que a rainha – e pegando no que a atriz que a interpreta disse numa entrevista sobre ela (a Branca de Neve) ser uma mulher moderna e que, por isso, não toma conta da casa dos anões, que tal modernizá-la a sério e pô-la a trabalhar na mina, dando folga, temporária ou permanente, a um dos anões?

Para a semana: “Fake News”. Um assunto cada vez mais falado

23
Ago24

150 - Falemos de estatísticas

Luísa

Há uns dias li sobre uma listagem de rendimentos médios em Portugal, ou antes, de quanto se ganha em média, concelho por concelho. E meramente por acaso, uma vez que já há muito que deixei de prestar atenção a certos comentadores de “elite” das nossas televisões, apanhei o Marques Mendes a falar do assunto.

Basicamente, a lista mostra uma grande discrepância entre os concelhos em que se ganha mais e aqueles em que se ganha menos. O quadro abaixo mostro apenas os 5 mais “ricos” e os 5 mais “pobres”:

Oeiras

14 009

Lisboa

12 898

Cascais

11 859

Alcochete

11 594

Coimbra

11 493

Resende

6299

Valpaços

6304

Cinfães

6479

Santa Maria de Penaguião

6600

São João da Pesqueira

6887

 

Sim, à primeira vista, a diferença entre uns e outros é de facto enorme. Só que há outros fatores que se devia ter em conta.

Por exemplo, o tipo de economia de cada conselho. Zonas mais rurais têm, necessariamente, uma média de rendimentos inferior do que outras mais industrializadas, sobretudo se incluem empresas tecnológicas ou de serviços, com pessoal mais especializado.

Houve, também, uma referência às diferenças entre várias zonas do mesmo concelho, Lisboa, por exemplo. O grande problema é que este tipo de estatística só tem em conta dois fatores: população ativa e salários “oficiais”, digamos. Ou seja, locais onde haja muita gente a trabalhar por conta própria ou em certas profissões ficam subavaliados relativamente a zonas com empregos mais convencionais e onde é fácil conhecer os salários pagos.

Isto sem contar com áreas das grandes cidades onde a média dos salários ganhos é baixíssima devido à enorme concentração de pessoas a receberem o erroneamente denominado Rendimento Mínimo – que não conta – ou onde grassa o tráfico de drogas e outras atividades criminosas que rendem bom dinheiro.

Mas o grande fator aqui ignorado está no custo de vida. Ou será que acham que viver em Oeiras ou Cascais custa o mesmo que residir em Valpaços ou Cinfães, tendo em conta que a maior fração das despesas das famílias portuguesas tem a ver com a compra / aluguer da casa onde habitam?

Todos sabemos que o preço de venda varia imenso, até dentro de uma mesma cidade – veja-se o Príncipe Real e Marvila, em Lisboa, por exemplo. E o mesmo acontece com os arrendamentos.

Na preparação deste post descobri uma tabela com as rendas máximas permitidas para 2024, município por município, ao abrigo do Decreto-lei 90C-2022. Muito francamente, duvido seriamente que seja cumprida...

Mas aqui fica ela para os 10 concelhos indicados acima:

Rendas

T0

T1

T2

T3

Oeiras:

635

775

1000

1200

Lisboa

635

900

1150

1375

Cascais

635

775

1000

1200

Alcochete

512

512

635

700

Coimbra

512

512

635

700

Resende

335

335

473

473

Valpaços

335

335

473

473

Cinfães

335

335

473

473

Penaguião

335

335

473

473

SJ Pesqueira

335

335

473

473

 

Mesmo partindo do princípio que estes valores eram reais, ou seja, que ninguém pagava mais do que o valor decretado, note-se que um T3 custa quase o triplo em Oeiras do que em São João da Pesqueira.

Não ponho em causa a existência de assimetrias, algumas até bem grades, no nosso país. Só que a sua análise não é tão linear como nos querem fazer acreditar com base em estatísticas como a que referi, “concelhos onde se ganha mais e onde se ganha menos”. E muito menos reduzindo, basicamente, a situação a “litoral rico, interior pobre”.

E há ainda a questão do termo “média”. É que basta um pequeno grupo ter um valor muito elevado mas ter de haver um outro com um valor muito baixo para que a média bata certo. E em concelhos como Oeiras ou Cascais, há, certamente, uma percentagem, se calhar até nem muito pequena da população, que tem salários estratosféricos, levando a um valor “médio” alto.

Um outro problema com o uso de estatísticas é a sua contração ou dilatação para dar uma imagem mais favorável ou desfavorável do que está em análise ou para ir ao encontro da conclusão pretendida. Refiro-me ao intervalo de tempo a que dizem respeito. Por exemplo, se um determinado dado estagnou ou piorou nos últimos 5 anos, digamos, faz-se uma comparação a 10, 15 ou mais anos, o necessário para se ter um resultado positivo. Ou reduz-se esse intervalo, se a intenção é mostrar como as coisas têm piorado.

Um outro modo de distorcer as coisas, ou antes, de não dar uma verdadeira imagem da situação, vem do uso de percentagens.

Para mim, este é o exemplo mais paradigmático. Há uns anos li num jornal que a mortalidade infantil em Bragança – pode ter sido noutra área, já lá vai muito tempo, mas era naquela zona – tinha aumentado 100 % no ano anterior. A minha primeira reação foi de espanto total, sobretudo porque não ouvira falar de nenhuma epidemia. Só que, ao ler a notícia, as coisas eram um pouco diferentes: dois anos antes tinha morrido um bebé e no ano em causa... dois. Mas tinha sido, de facto, um aumento de 100 %.

Um outro modo muito popular de influenciar a perceção dos factos consiste em usar ou não percentagens. Aumentos, por exemplo, seja em custos ou em salários / reformas. Estes são anunciados pelo seu valor ou em percentagem consoante o que soa melhor... ou pior. Por exemplo, anuncia-se com grande aparato que as pensões de 600 euros vão aumentar 2 %! Pois, são 12 euros, ou seja, 4 cêntimos por dia. Ou, para um efeito negativo, que o custo de um bilhete de metro vai subir 5,5 %. Tradução, custava 1,80 e passará a ser 1,90 euros.

Francamente, uma grande parte da culpa recai sobre quem vê estes dados e não para um pouco para refletir sobre o que significam, de facto. Mas isso exige espírito crítico e a capacidade de analisar números, coisas que andam há muito afastadas do nosso ensino.

Para a semana: Livros / Filmes / Séries que gostava que existissem. Muito ao arrepio do que vemos cada vez mais.

16
Ago24

149 - Acabados os Jogos

Luísa

Agora que terminaram os Jogos Olímpicos, decidi falar um pouco sobre algumas coisas que me chamaram a atenção. E não vou mencionar a cerimónia de abertura ou a argelina, tenho a minha opinião, claro, mas acho que já se falou quanto baste desses temas – direi apenas que achei estranhíssimo que as regras tenham mudado e que, por exemplo, se tenha posto de lado o critério do “não interessa se algo é ofensivo, só conta alguém sentir-se ofendido”.

Não acompanhei as provas tanto quanto teria desejado, os afazeres profissionais interferiram – felizmente, descobri a RTP Play e, como trabalho com dois computadores, pude ter a transmissão num deles enquanto trabalhava no outro.

A primeira coisa que me chamou a atenção foi a quantidade de atletas de topo que participaram apesar da sua “idade avançada”. Por exemplo, foi um prazer notar que na ginástica feminina por aparelhos as rapariguinhas quase anoréxicas, que se duvidava que tivessem os 14 anos mínimos exigidos, deram lugar a mulheres de 20 e bastantes sem ar de passarem fome. E em quase todas as modalidades é agora muito comum vermos atletas de 30 e tal anos, ou seja, com uma idade em que, ainda há bem pouco tempo, estariam arrumados.

Quanto à participação portuguesa, por muito que goste de ver os nossos atletas ganharem medalhas presto mais atenção a quem se ultrapassa, mesmo que o resultado global não seja dos melhores. E acho que seria desejável darem-nos mais histórias dessas. É que, muito francamente, muitos de nós nem a atletas profissionais chegaríamos, quanto mais a atletas de topo. Mas histórias de esforço, de dar o melhor, e, acima de tudo, de não desistir, podem ser inspiradoras para todos.

Como a da maratonista do Butão, a única representante no seu país – presente precisamente por não haver ninguém que atingisse os mínimos em nenhuma modalidade – e que terminou a maratona uma hora depois das outras atletas. Só que, acabou, não desistiu, apesar de saber que teria um péssimo resultado a nível internacional.

É claro que ouvimos falar da falta de apoios, é uma daquelas coisas que antes de o ser já o era... E sim, há modalidades em que, sem uma infraestrutura como deve ser, a sua prática será sempre amadora. Veja-se o que aconteceu com o ciclismo de pista, agora que existe um velódromo a sério na Anadia – e face a estes resultados, suspeito que surgirão mais...

Mas, para mim, os apoios principais deviam estar a outro nível, bem mais abaixo. Com exceção de países cujos melhores atletas treinam, por exemplo, nos EUA, os que obtêm mais êxito têm, à partida, uma grande tradição de prática de desporto. Há clubes por todo o lado, as criancinhas praticam uma ou várias modalidades – e não apenas futebol... – e, sendo assim, apesar de muitas o fazerem apenas como passatempo, partindo de uma base maior é bem mais fácil haver quem se destaque e seja encorajado a fazer um outro nível de treino.

Estarão a pensar, pois, isso é muito bonito, mas como é que esses clubes de bairro, digamos, arranjam dinheiro para terem instalações? Pois é, mas será que precisam mesmo de as ter? O país está cheio de pavilhões escolares que passam a maior parte do tempo vazios e fechados. Que tal chegar a um acordo com clubes ou organizações da zona para que os possam usar, pagando, apenas, uma pequena parte das despesas?

Mais ainda, que tal criar complexos municipais para modalidades diversas? Por exemplo, pôr uma pista de atletismo num parque público. Não precisa de ser muito sofisticada nem ter as pistas todas ou equipamento topo de gama, basta ter o suficiente para que, quem quiser, possa ali treinar ou iniciar-se em algo que viu na televisão. Francamente, com um pouco de imaginação não faltariam modos de incentivar à prática do desporto, de todo o desporto. E clubes ou organizações poderiam sempre alugar o espaço por umas horas, para um treino um pouco mais sofisticado.

E mesmo que só uma minoria mesmo muito minoria avance para uma prática mais avançada, o hábito do exercício fica. E lembro que há cada vez mais competições amadoras de todos os tipos e que as dos chamados seniores começam, até, a ter escalões etários, alguns até bem avançados, devido ao elevado número de participantes.

Mudando ligeiramente de assunto, dia 28 deste mês começam os Jogos Paralímpicos. Acompanho vagamente provas deste tipo, bom, nos últimos anos e com exceção da Fórmula 1, acontece-me o mesmo com todas as atividades desportivas, mas tenho a ideia de que os nossos atletas saem-se sempre muito bem. Só que... não são notícia!

Como ainda vai a tempo, que tal a RTP, que já anunciou que os vai cobrir, fazer algo um bocadinho diferente? Para já, explicar as diversas categorias em que os atletas são divididos e as características que estas têm. Aposto que poucos sabem disso, a menos que conheçam pessoalmente alguém que compete.

Seria, também, bom ver reportagens sobre os atletas, o modo como treinam, o equipamento de que precisam, como se tornaram atletas, enfim, ficarmos a conhecê-los e também aos muitos que os apoiam e ajudam – e, já agora, as dificuldades que encontram, sei, por exemplo, que os prémios e apoios a que t~em direito são, normalmente, pagos com imenso atraso.

É que num país – e mundo – em que o que só ouvimos queixinhas sobre “não há apoios”, “não posso fazer nada porque sou / tenho... (preencher, há sempre algo)”, seria bom vermos pessoas que não deixam que problemas físicos ou mentais as impeçam de fazerem algo de que gostam – e que muitos de nós, em plena forma física e mental, somos incapazes de fazer. E, quem sabe, poderia também levar pais com crianças com esse tipo de dificuldades a verem que há opções, que nem tudo lhes está vedado.

Para a semana: Falemos de estatísticas. Só por si, não são boas em más. Já a sua interpretação e uso, bom, é outra loiça...

09
Ago24

148 Palavras, palavras...

Luísa

Apesar de muitos dos atuais disparates da linguagem dita “inclusiva” ainda não terem chegado a Portugal, para lá caminhamos a passos largos e, quando menos esperarmos, teremos como livro obrigatório na mesa de cabeceira um dicionário com os termos que é permitido usar – exatamente como no filme Alphaville de Godard, que, apesar de datar de 1965, tem cenas que parecem bem atuais.

A inspiração para este post veio da polémica que estalou recentemente por a DGS ter usado “pessoas que menstruam” em vez de mulheres. Tivemos, claro, os defensores do costume, com grande realce para o BE. É que segundo parece, esta nova expressão é muito mais inclusiva. Mas será mesmo? Francamente, tenho as minhas dúvidas e por várias razões.

A primeira é uma questão de português. É que olhando para a dita expressão, fico a pensar: então quem ainda não menstrua ou já não o faz fica de fora? E, nesse caso, se não são mulheres, então o que são? Para acabar com esta ambiguidade, proponho, pois, a sua substituição por “pessoas capazes de menstruarem”.

A minha segunda dúvida é esta, isto não exclui as mulheres transgénero? É que estas não menstruam, apesar de passarem a vida a afirmar que são verdadeiras mulheres – vi até uma na BBC a dizer que são as únicas que entendem o que é ser mulher. Ou seja, vendo bem, é uma expressão mesmo nada inclusiva.

O mesmo se passa com mãe, termo banido em meios bem-pensantes, tendo sido substituído por “pessoa que dá à luz” ou “pessoa que amamenta”. Pois, aqui aplicam-se as mesmas dúvidas acima expressas.

O que acho curioso nisto tudo é que os homens continuam a ser homens – pessoas que ejaculam? – e os pais ainda são pais – pessoas dadoras de esperma? Nada má, esta discrepância, propagada por quem tanto berra pela igualdade de género!

E isto faz-me lembrar essa coisa da pessoa cis. Segundo parece, vem do latim, significa “do lado de”, por oposição a “trans” que significa “do outro lado”. Tudo isto para se ser mais inclusivo e menos ofensivo. Azar! Eu sentir-me-ia ofendidíssima se tivesse veia de vidrinho.

Mas há outras pérolas da linguagem moderna, de que citarei apenas algumas – a lista é longuíssima e alguns termos, traduzidos do inglês, não têm o mesmo impacto de estupidez galopante. Aqui vão eles:

- Autista. Pois, o termo correto é pessoa “neurodivergente” – já agora, quem não o é passa a chamar-se pessoa “neurotípica” e nunca, mas mesmo nunca, pessoa normal. Atenção, sou totalmente a favor de se usar “pessoa do espetro autista”, uma vez que esta condição pode variar imenso em termos de gravidade.

- Cego. Nem pensar, é agora uma “pessoa visualmente debilitada”. Ou seja, as nossas ruas e passeios podem ser uma autêntica prova de obstáculos para estas pessoas, mas tudo bem, o importante é usar o termo certo.

- Deficiente. Sim, é agora uma “pessoa com condições de saúde” ou “pessoa com disfunções”. Ou seja, pode estar anos à espera de uma cadeira de rodas ou dos apoios de que precisa desesperadamente, mas tudo bem desde que não lhe chamem deficiente.

- Fome. Boa notícia, as pessoas agora já não passam fome, sofrem de “insegurança alimentar”. Não tenho a menor dúvida de que isso as fará sentirem-se mais confortadas e de barriga aconchegada.

- Igualdade. Espantou-me imenso saber que este termo tem de ser substituído por “equidade”. A diferença? Pois, é muito simples. Em vez de se exigir igualdade de oportunidades, passa-se a exigir equidade de resultados, apesar de isso implicar, quase sempre, práticas discriminatórias. Por exemplo, nos EUA empresas tecnológicas têm de atingir a equidade entre homens e mulheres, apesar de a maioria das raparigas americanas optar por não estudar matemática ou física no liceu.

- Línguas estrangeiras. Grande novidade, algumas escolas americanas deixaram de oferecer no seu currículo línguas estrangeiras por receio de ofender quem é de fora, ou seja, estrangeiros; têm, agora, “línguas do mundo”.

- Lista negra. Adivinharam, pode ser ofensivo dizê-lo, por isso transformou-se em “lista de bloqueio” ou “lista de negação”.

- Pobres. Também já não os há, são agora pessoas “socioeconomicamente desfavorecidas”, é, sem dúvida, bem melhor.

- Vegan. Más notícias para quem o é, este termo, tão curto, deve ser substituído por “pessoa com uma alimentação à base de plantas” – ou produto à base de plantas, claro. Porquê? Bom, aceito sugestões...

Já agora, aqui ficam alguns contributos meus:

- Assassino: terminador de vida sem permissão.

- Ladrão: pessoa que leva emprestado sem pedir.

- Traficante de drogas: negociante (soa bem mais chique) de fármacos alternativos.

Como disse, a lista dos termos “maus” é enorme em alguns países, nomeadamente nos EUA, a mãe – perdão, a pessoa que amamenta – destes disparates. E há termos que não podem, muito simplesmente, usar-se, apesar de não nos ser proposta qualquer alternativa. Por exemplo, ninja / guru – como é um termo masculino, pode desencorajar mulheres – ou tribo, no sentido de pessoas que pensam do mesmo modo – é ofensivo para índios americanos e para as vítimas do colonialismo.

Com tanta ênfase em tentar não ofender ninguém, como se isso fosse possível, suspeito que estaremos, muito em breve, no cenário descrito por Connie Willis no seu conto “Ado”, publicado em janeiro de 1988 na revista Isaac Asimov’s Science Fiction – que eu saiba, nunca foi traduzido, mas pode encontrá-la aqui, na página 78 (pequeno aviso, demora um bocadinho a carregar e não é navegável).

Basicamente, uma professora de liceu decide dar uma aula sobre Shakespeare e escolhe Hamlet por ser a peça que tinha menos objeções por parte de pais e grupos de todos os tipos. Juntamente com a reitora, analisam-na linha a linha, consultando a lista de cortes e protestos recebidos ao longo dos anos – o mais recente é da União de Agentes Funerários a exigir a remoção do coveiro.

No final, a aula acaba por ter apenas dois alunos, um deles grande adepto da teoria de ter sido Bacon a escrever as peças, e Hamlet fica reduzido a estas linhas:

HAMLET: O ar corta a pele, de tanto que está frio.

HORÁCIO: Gelado e penetrante.

HAMLET: Que horas?

HORÁCIO: Acho que é quase meia-noite.

Bom, isto se entretanto os Meteorologistas ou os Relojoeiros não se lembrarem de protestar...

Para a semana: Acabados os Jogos... Falemos um pouco do que se passou e do que aí vem, nomeadamente os Paraolímpicos.

02
Ago24

147 - Terrorismo e atitudes

Luísa

Como sabemos, houve – e suponho que continua a haver – inúmeras ameaças terroristas aos Jogos Olímpicos que decorrem atualmente em Paris. Não irei falar só deste assunto, mas será a nota de abertura deste post.

Como sempre, e muito bem, pouco ou nada soubemos dos muitos incidentes que terão ocorrido, mas dos que vieram a público quero realçar alguns.

O primeiro é o de um jovem que, nas palavras da polícia francesa, estaria a preparar um atentado. Curiosamente, disseram de imediato que “deveria ser neonazi” – francamente, não entendi a conexão... Mas no caso de um polícia atacado por alguém que berrou “Allah Akbar”, a mesma polícia disse, também de imediato, que se desconheciam as suas motivações!

Estranhei também o silêncio sobre possíveis suspeitos do ataque cibernético aos caminhos de ferro franceses e de outros que se seguiram. E porquê? Bom, pensemos um pouco. Quem é que foi excluído dos Jogos? De onde têm vindo muitos dos ataques recentes por hackers ao Ocidente, para além da China? Mas tudo bem, não há nenhum indício, nada, nadinha que nos possa fazer apontar o dedo a algum país. Pena não se poder culpar de imediato a extrema direita, neonazis e similares...

Ainda na aproximação aos Jogos, a Adidas acho ser ótima ideia reeditar os ténis que tinha concebido para os Jogos de Munique de 1972, com o pretexto de se terem passado 50 anos. É claro que é a única coisa que essa data evoca, o ataque terrorista que custou a vida a 11 atletas israelitas foi, pelos vistos, algo tão menor que até lhes passou despercebido. Mas não só. Quem é que escolheram para apresentar a coleção? Pois, Bella Hadid, uma modelo de ascendência palestiniana, grande adepta da campanha “Palestina livre”.

Bem sei que a campanha foi cancelada e que a Adidas pediu desculpas, mas, francamente, como é que um empresa desta dimensão não tem alguém que faça notar que tudo isto poderia ser um pesadelo de relações públicas?

Passemos à cerimónia em si. Confesso que gostei, embora dispensasse, de boa vontade, muitos detalhes woke que foram surgindo. Mas não podia deixar de mencionar a célebre Última Ceia com travestis que, segundo dizem, era afinal uma homenagem a Dionísio que só cristãos estúpidos e ignorantes da mitologia grega não entenderam.

É claro que quando pensamos em Jogos Olímpicos em particular e desporto em geral a primeira associação que nos vem à mente é Dionísio, o deus das bebedeiras e orgias! É essa a mensagem que querem passar? E se era apenas isso, porque é o adorno da cabeça da figura central era claramente uma mitra papal?

Francamente, aquilo que me incomodou mais nessa cena foi a sua total falta de valor artístico. E se era para dar realce a travestis, escolheram-nos muito mal, qualquer Carnaval amador tem melhor! Só espero que não lhes tenham pago, é que, à semelhança do novo símbolo de 50 000 euros para documentos oficiais introduzido pelo Governo anterior, crianças da pré-primária fariam melhor.

Já agora, grande momento final com a Céline Dion e uma chama muito inovadora – para quem não tem acompanhado, está no Jardim das Tulherias e não é fogo, é vapor de água e efeitos de luzes!

Passemos agora ao que tem acontecido com atletas de alguns países que se recusam a cumprimentar ou até a enfrentar atletas de Israel. Sou defensora da ideia de que cada um tem o direito de pensar e de agir como entende, mas, nuns Jogos Olímpicos, uma manifestação de união e tolerância, como nos fartámos de ouvir na cerimónia de abertura, não é estranho que o Comité Olímpico nada faça nestes casos? Nem uma multazinha, uma crítica? E se fossem os atletas israelitas a tomar essa atitude em relação aos iranianos, por exemplo, a reação seria a mesma?

Um último assunto dos Jogos, o beijo que a Ministra do Desporto de França pespegou no Macro durante a cerimónia de abertura – podem ver uma imagem aqui. Curiosamente, vi hoje que o pai de uma judoca foi preso porque, na emoção de a filha ganhar, ter beijado uma voluntária “sem o seu consentimento”. Podemos, então, deduzir que o dos governantes foi consentido? Ou será apenas, o que é bem mais provável, mais uma situação de dois pesos, duas medidas?

Quantos homens têm tido problemas, perdido até o emprego por bem menos! E lembro que um tribunal espanhol condenou um polícia a dois anos de prisão por ter dado um beijo na bochecha de uma mulher contra a vontade dela. Para sermos coerentes – pois, boa sorte com isso – a dita ministra devia ter sido corrida imediatamente. Mais ainda, com tantas precauções para não ofender a sensibilidade dos muçulmanos, que me dizem a este beijo entre duas pessoas casadas, mas não uma com a outra?

Para concluir, não podia deixar de referir o cobarde ataque a uma escola em Inglaterra em que perdeu a vida uma menina de ascendência portuguesa. Como sempre, nada dizem sobre o atacante, com o pretexto de que tem 17 anos – curioso, quando rapazes brancos atacam escolas nos EUA e não só, ninguém se coíbe de dizer logo tudo e mais alguma coisa sobre esses menores, a começar pelo nome e pela usual suspeita de que são neonazis ou algo similar.

É claro que a indignação vai toda para os protestos dos nacionalistas ingleses perante a notícia de que o assassino era alguém em busca de asilo. Pois, mas isso não se pode dizer, sem contar que daqui a nada ouviremos que, coitado, até nem queria fazer mal a ninguém, a culpa é de sofrer de distúrbios mentais...

Para a semana: Palavras, palavras... Como a estupidez chegou aos dicionários e não só

26
Jul24

146 - Seria chocante... se não fosse usual

Luísa

Por diversas razões tenho visto ultimamente um pouco mais canais noticiosos nacionais e há algumas coisas, não diretamente políticas, que me chocaram, inicialmente... até me lembrar de já as ter visto vezes sem conta em meses e anos anteriores.

A primeira situação tem a ver com um idoso encontrado a viver na autêntica lixeira em que se convertera o seu apartamento quando deixou de ter capacidade física para cuidar dele... e de si. Falei deste assunto no post Chocante do meu outro blog, Ir para novo. Mas volto a repetir aqui que me ficou a ideia de que se o dito idoso não tivesse um filho e neto importantes no PSD o caso nem teria sido mencionado.

É que não faltam pessoas com bastante idade a viverem em situações totalmente degradantes sem que ninguém fale disso ou, pior ainda, sem que se faça seja o que for para lhes dar um fim de vida mais condigno. Mas não faltam vozes indignadas pelas condições em que vivem alguns dos chamados migrantes, exigindo, em altos berros, que se aja já para que possam ter uma vida condigna no país para onde vieram muitas vezes ilegalmente.

E passemos ao caso seguinte, um casal a viver numa cave sem condições, ela a sofrer de uma doença degenerativa que a impede de andar e que mal a deixa mover-se, ele, também doente, a fazer um esforço hercúleo para cuidar dela. O mais chocante é que andam há cinco anos a pedir ajuda à Segurança Social sem terem, sequer, uma mera resposta.

E, infelizmente, não são caso único, o país está cheio de pessoas com todo o tipo de problemas de saúde e sem o menor apoio. Pior ainda, o seu estado vai piorando cada vez mais devido, precisamente, à falta de cuidados, isto para não falar na sua saúde mental, um tema agora tão na moda. Como acham que se sentirão ao verem-se postos de lado, tratados como se fossem lixo?

Vamos, agora, às gémeas. Só referirei de passagem a rapidez com que foi autorizado um tratamento tão caro quando há crianças a precisarem de um bem mais barato e a que quem manda não dá resposta. Mas, como se isso não bastasse, temos as célebres cadeiras de rodas, as tais que custaram 36 000 euros, se não me engano, e que a família nem se deu ao trabalho de recolher.

Quantas cadeiras “normais” poderiam ser compradas para as muitas pessoas que esperam e desesperam por uma? Quantas crianças têm problemas porque cresceram e a que tinham deixou de ser adequada? Quantos adultos não podem ser um pouco mais independentes por não terem uma cadeira de rodas que lhes permita alguma autonomia?

Muito francamente, acho que é mais do que altura de perguntarmos em que é que a Segurança Social gasta o muito dinheiro que para ela contribuímos. Pois, o problema é que já sabemos a resposta... no erroneamente chamado Rendimento Mínimo, para onde se entra e não se sai, em bairros sociais que são, cada vez mais, antros de traficantes de drogas e outros criminosos que ganham montes de dinheiro livre de impostos, enfim, nas causas queridas à nossa esquerda – e não só.

E como o dinheiro não é elástico, é claro que depois não chega para quem realmente precisa de ajuda e de apoios.

O último assunto tornou-se cada vez mais recorrente e confesso que me intriga um pouco, já verão porquê. Refiro-me aos problemas crescentes que uma grávida tem para encontrar onde ter a criança. E intriga-me porque, com tanta conversa sobre a baixa taxa de natalidade, como é que, com o mesmo número de maternidades – ou talvez ainda mais – começaram a surgir agora e cada vez mais estas questões?

Sim, houve um período em que quase que exigiam uma maternidade em cada bairro, pelo menos era o lema quando surgia um caso de um bebé nascido numa ambulância por não ter tido tempo de chegar ao hospital. Diga-se de passagem que estes casos sempre me intrigaram, é que, na minha opinião, ou eram partos à Speedy Gonzalez ou a grávida tinha adiado demasiado a saída de casa.

Para mim, o problema tem duas raízes. Uma é a exigência de estar uma equipa completa de serviço para que a maternidade funcione. Sim, bem sei que a medicina evoluiu, mas será que todos os partos precisam desse aparato todo? Um simples médico – ou, até, uma enfermeira, lembro que é um curso de cinco anos – não dariam conta do recado na maior parte dos casos? E os tais especialistas ficariam, apenas, à espera de serem chamados caso fossem necessários.

A outra questão tem a ver com a não existência de parteiras, ao contrário do que se passa em vários países ocidentais, nomeadamente França e Inglaterra. A duração do curso varia de país para país, mas é uma formação a sério que lhes permite fazer partos na casa da parturiente. Mais importante ainda, acompanham-na durante a gravidez e têm formação para entender quando há um problema e a grávida tem mesmo de ir para o hospital.

Como as coisas estão agora no nosso país, a única opção de uma grávida que não tenha dinheiro para um parto no privado é rezar a todos os santos para que, chegado o momento, haja um vaga algures, nem que seja a muitos, mesmo muitos quilómetros da sua residência. Bom, isto se quiser jogar pelo seguro, é que há, com certeza, parteiras por aí, só que sem qualificações oficiais... ou de qualquer outro tipo.

Mas com governantes e partidos mais interessados em preservar o Sistema Nacional de Saúde – pois, tantos votos daqueles funcionários públicos todos – do que em garantir que os cidadãos têm acesso à saúde, bom, suspeito que as coisas só irão piorar.

Para a semana: Terrorismo e atitudes. A propósito dos Jogos Olímpicos, atletas, marcas desportivas e tudo isso

19
Jul24

145 - Clima, ambiente e não só

Luísa

Já falei do clima anteriormente, nomeadamente em É o clima, onde faço referência a um dos meus primeiros posts, também sobre o assunto, O céu está a cair. Não me vou repetir, este post tem outras intenções, digamos.

Pensei em escrevê-lo quando dei por mim, um dia destes, a sentir saudades dos climáticos e das suas parvoíces, perdão, das suas muito lógicas ações contra a tão badalada catástrofe climática – bom, adorava que alguém me explicasse em que é que atirar tinta à Mona Lisa ou a Stonehenge ajudam uma causa, seja ela qual for!

Mas depois ocorreu-me que, como bons filhotes esquerda caviar que são, devem ter ido de férias. Como sou uma otimista nata, imaginei de imediato inúmeros cenários em que esses tão empenhados jovens estariam a usar este seu período de lazer a bem do planeta.

Por exemplo, indo para as muitas aldeias meio abandonadas do nosso interior rural para restaurarem as poucas casas ainda habitadas de modo a torná-las “mais sustentáveis”, outra expressão que lhes é muito cara. Só quem nunca visitou familiares ou conhecidos numa dessas povoações desconhece o que são aquelas habitações após décadas – ou mais – sem manutenção.

De verão as coisas nem sempre são muito más, sobretudo em zonas em que a construção recorreu a muros espessos de pedra, mas de inverno faz tanto – ou mais – frio lá dentro como cá fora, graças ao mau estado dos telhados, fendas nas paredes, janelas que vedam pessimamente, enfim, mil e um modos de deixar entrar frio e vento.

Passei uns bons momentos a imaginá-los a calafetarem paredes e a repararem telhados, a usarem a mesada para pôr janelas de vidros duplos e, acima de tudo, uns painéis solares que permitissem usar um aquecedor elétrico em vez de uma lareira ou fogão a lenha – enfim, o ideal para quem quer salvar o planeta, pensemos em toda a lenha que deixava de ser queimada, com os seus fumos nocivos! Sem falar nas famosas dioxinas que, aparentemente, só são más quando são produzidas na tão contestada coincineração.

Mais ainda, como muitos se dizem, no mínimo, vegetarianos, poderiam, também, ensinar todos aqueles idosos a fazer agricultura biológica, a única sustentável, segundo dizem – isto independentemente do facto de eu ter quase a certeza de que os ditos jovens nunca cultivaram nada na vida...

Mas isso não é problema, o YouTube tem, certamente, inúmeros vídeos sobre o assunto, esperemos é que sejam mais credíveis do que muitos dos “factos” que os queridos climáticos debitam!

Um belo sonho... mas como todos os sonhos, altamente improvável, o mais certo é estarem a divertir-se algures, a ir a festivais de música – serão sustentáveis? – e muitas outras atividades de lazer, voltando aos protestos quando as férias acabarem.

O que me leva ao ambiente e à falta de sentido crítico com que muitos leem notícias. Por exemplo, tem circulado no Facebook uma petição sobre elefantes, porque, segundo diz, “são abatidos 20 000 todos os anos”. Atendendo a que em 1960 havia apenas 600 000 em África, a este ritmo, como é que ainda resta algum?

Este é um dos muitos exemplos do modo como autodenominados ambientalistas tratam assuntos sérios. Como a desflorestação da Amazónia, umas simples continhas mostram que, a fazer fé no que dizem há décadas sobre o seu ritmo, a dita floresta já teria desaparecido há vários anos.

Atenção, não deduzam de tudo isto que sou contra a proteção do ambiente, muito pelo contrário, aliás nos posts que citei menciono algumas medidas que, na minha opinião, percam por tardias, como albufeiras para reter água da chuva em excesso que seria depois usada para minorar os efeitos de secas.

E por falar em água, falou-se muito da sua falta no Algarve, atribuída, claro está, a campos de golfe, turismo, cultivo de frutos importados, etc. Ora um estudo da DECO – que não pode, de modo algum, ser considerada antiambientalista – diz que as fugas na rede de abastecimento de água daquela região totalizam 15 milhões de metros cúbicos, dariam para abastecer quase metade das famílias que ali residem.

Curiosamente, não vi ninguém a exigir a reparação urgente das condutas para evitar este desperdício e os problemas que isso traz para toda a região. Pois, não é tão mediático como berrar pela eliminação dos campos de golfe...

Outra coisa que me intriga, num país onde se fala tanto em energias alternativas, é não terem sido tomadas medidas nesse sentido ao nível mais baixo. Fala-se em grandiosas centrais solares – se os ecologistas de serviço não protestarem, como no Alqueva – mas que tal exigir que prédios novos tenham painéis solares nos telhados? Para uma grande construtora o acréscimo de custos seria bem menor do que para um mero particular e sempre era uma boa utilização de um espaço que agora não serve para nada.

O mesmo para estádios de futebol. Será que já fizeram as contas ao custo/benefício de porem os ditos na cobertura das bancadas? Aposto que chegavam para a maior parte do consumo, excluindo, muito possivelmente, as luzes em dia de jogo noturno.

Acima de tudo, o que mais me intriga em toda esta conversa sobre ambiente e clima é a total falta de ênfase dada a evitar desperdícios e consumos inúteis – exceto a velha história da torneira a pingar e da televisão ou computador em stand-by.

Aposto que os queridos climáticos têm um telemóvel de última geração e que já passaram por inúmeros modelos – e passarão por muitos mais nos próximos  (poucos) anos. Isso não é o tal consumismo que tanto condenam? E nem sequer vou falar em roupas e isso, o importante é “andar na moda”, nem pensar em usar coisas do ano anterior! Ou em segunda mão...

Ou seja, em vez de tantos protestos e exigências grandiosas, que tal fazer uma boa campanha contra todo o tipo de desperdícios e um regresso a hábitos de poupança que, grande novidade, não têm nada a ver com fascismo, como dizem, mas sim com zelar pelo futuro: o nosso e o do planeta.

Bom, como o post já vai longo, falarei de aldeias ecológicas noutra altura. Mas sabiam que há uma no Alentejo, chamada Tamera?

Para a semana: Seria chocante... se não fosse usual. De idosos em casas-lixeira a pessoas

12
Jul24

144 - Incongruências

Luísa

Este é mais um post sobre algumas coisinhas que me intrigam na nossa sociedade.

Comecemos pela reação à presença de cada vez mais estrangeiros no nosso país. É absolutamente anátema dizer seja o que for contra os que acampam selvaticamente em bairros de Lisboa e muito menos sobre o disparo, ou antes, a explosão nuclear da insegurança e da criminalidade. E quem acha que um país europeu tem o direito de controlar quem passa as suas fronteiras e quem ali vive é apelidado de tudo e mais alguma coisa e só não é fisicamente linchado porque ainda não calhou.

Mas...

Curiosamente, é quase obrigatório dizer mal dos muitos turistas que nos visitam e que, esses sim, sempre deixam algum dinheiro em vez de viverem do nosso. Os mesmos que acham que é tolerância deixar entrar todo o “migrante” que se lembre de aparecer, berram e barafustam contra a “invasão turística” e lastimam haver muitas zonas em que quase não se veem portugueses – mais uma vez, se forem estrangeiros não turistas, sobretudo das etnias “certas”, então tudo bem, podem ocupar à vontade o espaço todo e, pior ainda, ameaçar (e não só) os portugueses que, por azar, tenham de passar por ali ou que ali vivam.

O mesmo se passa com os vistos. Tanta indignação com os Vistos Gold porque, segundo diziam, em nada contribuíam para a riqueza do país – exceto os chorudos impostos da compra de uma casa de luxo e, mais importante ainda, o facto de não virem viver à nossa custa. Mas um “migrante” ou suposto refugiado já pode entrar à vontade e desaparecer no meio da população sem que isso os indigne? Pois, o argumento é que muitos até vêm para trabalhar – e eu é que sou otimista...

Na mesma onda, temos agora uma ministra que afirma, alto e bom som, que haverá tolerância zero para racismo e xenofobia nas polícias. E à primeira vista, eu até concordo.

Mas...

Como todos sabemos – aparentemente, ela não – se um não branco tiver um desacato com a polícia desata logo a berrar que foi atacado por racismo, etc. Está, até, muito na moda publicar vídeos em que se mostra violência policial. O que nunca vemos é o que se passou antes. Ou seja, o que levou aqueles polícias a perderem a cabeça? Que insultos e agressões sofreram? É que por muito que seja de reprovar o uso da força por parte das forças policiais, não nos devemos esquecer de que os agentes são pessoas e que só eles sabem o muito que ouvem e sofrem diariamente, o mesmo se aplicando aos guardas prisionais.

Também acho curioso o modo como o entusiasmo pelo uso de câmaras corporais da polícia tem esmorecido, já tenho, até, ouvido dizer que deviam ser proibidas porque são uma violação da privacidade das pessoas. Atendendo a que em vários casos o seu uso provou que os agentes em questão se estavam apenas a defender, ou seja, o contrário do tal ataque racista e xenófobo que a “vítima” tinha berrado aos sete ventos, fica-me a ligeira sensação de que a razão é bem capaz de ser outra...

Temos também o chamado “direito à indignação”, isto a propósito do muito que se disse e escreveu sobre o Chega e as manifestações de polícias, nomeadamente, críticas ao seu uso para fins políticos. Serei a única a lembrar-me de protestos bem mais acesos apoiados pela nossa esquerda em diversas áreas, incluindo a polícia, alguns dos quais até descambaram em violência?

Por exemplo, lembram-se do buzinão da ponte perante uma proposta do aumento das portagens por parte do governo de Cavaco Silva? Fartámo-nos de ouvir o seu promotor dizer que não era um protesto político. Só que, assim que o governo mudou e os socialistas ficaram no poder, esse mesmo senhor recebeu um tacho político algures a sul do Tejo. Ah, e pequeno detalhe, as portagens não baixaram, mas a indignação – que lembro, não era política – morreu.

Para concluir, voltámos a ouvir falar na tragédia que é o atual estado da comunicação social, ou seja, o facto de muitos jornais e revistas estarem com graves dificuldades económicas. É claro que a culpa é das pessoas, que, segundo os “especialistas”, preferem procurar informação em locais pouco credíveis ou, até, cheios de falsidades.

Mas isso será mesmo assim? Quando vim viver para Portugal, em finais dos anos 80, dei-me ao trabalho de comprar vários jornais diários para escolher o mais informativo, para além de analisar, também, diversos semanários. Só que, ao fim de alguns anos, comecei a notar que a seriedade com que os assuntos eram tratados diminuía a olhos vistos e que havia um fortíssimo pendor esquerdista em quase tudo – já agora, se o pendor fosse ao contrário também não me agradaria, isto só para esclarecer quem já o está a pensar.

Acontece que quando leio uma notícia quero saber factos, não a interpretação de quem a escreve, são notícias e não colunas de opinião, ou antes, deviam sê-lo, ou seja, deviam ser o mais neutras possível. Junte-se a isso uma escrita pouco cuidada e um autêntico festival de erros, sobretudo se um assunto exige alguns conhecimentos da matéria e o resultado foi eu ir deixando de ler os ditos. Neste momento, tenho apenas uma assinatura do Observador e apenas porque tem três ou quatro comentadores que valem, na minha opinião, o que pago, é que os outros... enfim, lixo é dizer pouco.

Ou seja, as pessoas estão a deixar a comunicação social “oficial” apenas porque esta não cumpre a sua função – que é, muito simplesmente, informar e não indoutrinar. Mas é claro que é bem mais fácil exigir programas AI que detetem discurso de ódio online – será que o do inestimável Mamadu conta? É que como os regimes comunistas bem sabem, se os cidadãos não tiverem acesso a fontes alternativas de notícias são muito mais fáceis de controlar.

Para a semana: Clima, ambiente e não só. Da “catástrofe climática” a aldeias ecológicas e muito mais

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Calendário

Setembro 2024

D S T Q Q S S
1234567
891011121314
15161718192021
22232425262728
2930

Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2023
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2022
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2021
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D