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Luísa Opina

Neste blogue comentarei temas genéricos da nossa sociedade. Haverá um novo texto todas as sextas-feiras

Neste blogue comentarei temas genéricos da nossa sociedade. Haverá um novo texto todas as sextas-feiras

Luísa Opina

02
Jun23

86 - Seria chocante, mas...

Luísa

Há uns dias o Professor Cavaco Silva quebrou um longo silêncio com um discurso perante autarcas do PSD dedicado em grande parte a bater forte e feio no nosso atual (des)governo em geral e no seu “digníssimo” expoente, o Sr. Costa em particular.

Foi duro mas, infelizmente para todos nós, só disse verdades.

Vi logo que ia haver reações adversas não só do PS mas da chamada esquerda em geral, são tudo senhores que adoram críticas ferozes... desde que sejam eles a fazê-las, claro está. Mesmo assim confesso que me espantou o nível mais do que baixo a que conseguiram descer.

O consenso geral de todas essas “sumidades” parece ter sido este, que o Prof. Cavaco morre de inveja pelo tremendo êxito (!) deste governo, que sofre de um grande ressabiamento por não ser popular e muitos outros mimos do mesmo género.

Vou referir só um ou dois, que me chocaram um pouco mais. Sim, chocaram, esta nossa esquerda tem uma tremenda virtude do meu ponto de vista, quando penso que bateram no fundo conseguem sempre espantar-me por irem ainda mais baixo. É, definitivamente, um poço sem fundo!

O primeiro destaque vai para um tal João Torres, que pelos vistos tem um cargo importante no PS. Disse esse senhor, e cito, “... o professor Cavaco Silva perdeu o sentido de Estado que se exige e a generalidade dos portugueses gostaria de apreciar em alguém que durante tanto tempo desempenhou funções no nosso país”.

A sério? Isto vem de alguém do partido de Mário Soares, sabem, aquele ex-presidente que em 2013 disse, referindo-se ao então Presidente a propósito da crise económica em que o país vivia – criada pelo PS, diga-se de passagem – “"O Presidente Cavaco Silva devia lembrar-se da história do século XX. Por muito menos foi morto D. Carlos."

Pois, é o que se chama ter sentido de estado!

Já agora, façamos uma pequena revisão dos Presidentes mais recentes em termos de desempenho das suas funções.

Primeiro, Mário Soares, o único que, tal como o Professor Cavaco, foi também Primeiro-Ministro. Um senhor que, durante uma visita de estado a Marrocos, paga por todos nós, claro, aproveitou para ir visitar o seu amiguinho Andreotti, condenado à revelia por ligações à Máfia. E que quando se deslocava a qualquer lado nos deixava sempre na dúvida sobre a razão de ser da viagem: turismo ou serviço ao país? Lembram-se da célebre ida às Maldivas, um país importantíssimo para Portugal em todos os aspetos? Pois, mas pelo menos deu para andar de tartaruga gigante...

Só como comparação, foram ambos à Índia. Na visita de Soares vimo-lo a andar de elefante, no Taj Mahal e outras coisas do mesmo tipo. Já Cavaco Silva visitou empresas, discursou numa universidade e nada fez de turístico.

Depois tivemos o Sr. Sampaio, o que derrubou o governo de Santana Lopes que, ao contrário da geringonça muito aplaudida por ele, tinha apoio firme na Assembleia da República. Alguém acredita que o fez para bem do país? E muito francamente, pouco mais há para dizer sobre ele.

E temos, finalmente, o nosso atual PR, um senhor que tem sempre algo a dizer sobre tudo e mais alguma coisa mas que, curiosamente, levou dias a abrir a boca sobre este discurso e, pior ainda, nada disse sobre o tom aleivoso das críticas que lhe foram feitas.

Podemos não gostar do Professor Cavaco, mas não se pode negar que, desde 1986, foi o único em Belém ciente das suas obrigações. Sabe-se que lia de ponta a ponta todos os dossiers que lhe eram enviados e que tinha sempre perguntas pertinentes nas reuniões semanais com o PR da altura. Imaginam como serão as de agora?

Ah, mas quando respondeu que não tinha tempo para ler jornais e revistas veio logo o comentário de Mário Soares de que lia diariamente vários. Fabuloso, pagamos um PR para passar uma boa parte do dia a ler! E para quem esteja a pensar que o Presidente tem a obrigação de estar informado, lembro que é para isso que existe um sem fim de assessores – e conhecendo o nosso país, assessores desses assessores – que leem, ouvem e veem o máximo de informação para lhe chamarem a atenção para o que é importante.

Mas a maioria dos críticos focou-se na sua falta de popularidade. É que, como todos sabemos, ser popular é o principal critério para eleger e apreciar quem ocupa essa posição. Pois, Mário Soares foi popular... Sampaio, bom, um tanto neutro. E vivemos agora sob o rei da popularidade. Francamente, entre estes quatro, prefiro de longe o impopular!

Como nota final, realço mais uma vez a total falta de coerência da nossa esquerda. Quando atacavam Cavaco Silva enquanto foi PM, vinham logo com o argumento de que se tratava de liberdade de expressão, democracia, o legado do 25 de abril, enfim, a “cassete” do costume. Mas quando são eles o alvo...

Para semana: Não viram, não sabem, mas governam! Ou um governo transformado nos “três macacos”

27
Mai23

85 Voltemos à TAP

Luísa

Antes de falar da tal “telenovela mexicana de quinta categoria”, um pequeno resumo da minha experiência pessoal com a TAP.

As minhas primeiras viagens aéreas foram com ela, mas apenas por não haver outra opção. Como era antes do 25 de abril, até funcionava bem e o serviço e o atendimento eram bastante bons – apesar de na altura não ter um termo de comparação. Tudo mudou quando fiz a primeira viagem pós-revolução e, muito francamente, para bem pior. Mas, mais uma vez, para as viagens maiores não tinha alternativa, por isso era engolir e calar. Só que tinha pelo menos a satisfação de saber que, não residindo em Portugal, o único dinheiro meu que viam – bom, da empresa onde trabalhava – era o das passagens. E acreditem, o serviço era mesmo mau.

Tendo vindo para Portugal, passado uns tempos comecei a viajar e, por sorte, consegui sempre passagens noutras companhias aéreas, de que não tenho a menor queixa, muito pelo contrário. Para as minhas últimas férias fora fui à Colômbia e... era a TAP. Mas tendo-se passado tantos anos desde a última vez que a utilizara, tive alguma esperança de que tudo tivesse melhorado. Pois...

É por isso que tanto me intriga toda esta conversa de “a TAP tem de ser portuguesa e do estado”. Porquê? Para que é que precisamos de uma empresa aérea? E não me falem do serviço da Madeira e Açores, tenho a certeza de que, postos a concurso internacional, pagaríamos muito menos e os seus habitantes ficariam bem melhor servidos. E se não acreditam, façam uma pequena sondagem e verão que, tal como eu, só a usam quando não há outra alternativa.

Fiz esta introdução porque as tristes cenas a que temos assistido estão na mesma linha de pensamento ilógico que levou a reverter a privatização da TAP em vez de se vender o resto, como estava previsto. Já agora, se acreditaram que o Governo socialista da época fez um belo negócio, bom... Com a velocidade com que os privados cederam as ações, ficaram certamente a ganhar e bem!

E agora, investidos vários milhares de milhões de euros de todos nós, mesmo dos que nem nunca andaram de avião – isto sem falar no muito que vamos acabar por ter de pagar à francesa por despedimento sem justa causa, difamação, sofrimento moral e sabe-se lá que mais – a situação descambou totalmente no caricato.

Agressões físicas em pleno Ministério? Polícia e SIS chamados? Edifício encerrado para impedir a saída de um malfeitor? Despedimentos por telefone? Francamente, se tudo isto fosse incluído num filme, espectadores e críticos torceriam fortemente o nariz por acharem totalmente inverosímil.

E quem era o tal “malfeitor”? Bom, até uns momentos antes, adjunto de confiança do ministro há vários anos, ou seja, um cargo de grande responsabilidade. E passa de bom a monstro assim, num ápice?

Tivemos também de aturar horas e horas de audições parlamentares, totalmente inúteis, diga-se de passagem, os resultados estão definidos à partida e serão os que o PS, ou antes, os que Costa e “seus muchachos” quiserem. Ou seja, foi tudo legal, o adjunto é mau e incompetente – por isso esteve tantos anos no cargo – e  toda a gente cumpriu as regras e só fez o que devia fazer.

Só um pequeno aparte, vendo o aspeto do dito adjunto e o do resto das pessoas que afirmam ter sido atacadas (quatro ou cinco), acham isso credível? É que se o fez, tem um brilhante futuro pela frente nas Forças Especiais...

Uma coisa é certa. Adoro os chamados “Grandes Mistérios da Humanidade” mas neste momento há um que se sobrepõe de longe a todos eles. Qual Roswell, qual Pirâmide Negra do Alasca, qual Atlântida, quero é saber o que estava no agora tão famoso computador para ter gerado um pânico deste calibre! Sim, pânico. E como sou mazinha, será que ministro, chefe de gabinete e outros que tais já ouviram falar em armazenamento na nuvem? Às tantas fizeram estas cenas todas e o que querem esconder está há muito em lugar seguro...

O mais curioso é que apesar de todos os ensaios, os principais atores desta novela conseguiram arranjar maneira de se desdizerem uns aos outros e de caírem em mentiras – perdão, mentiras são só da direita, da esquerda são meras “confusões sem importância”. Perante tudo isto, acho que o que disse no início até é um insulto às tais telenovelas mexicanas de quinta categoria. Ou até às de nona!

E anda o Sr. Costa a falar em privatizar a TAP, com ar de quem descobriu a pólvora. Era bom que houvesse algum jornalista a sério neste país que fizesse umas continhas muito simples. Só isto: temos uma boa ideia de quanto iria render na proposta de Passos Coelho; pois bem, quando soubermos por quanto irá ser vendida agora, tirar desse valor o muito dinheiro que ali foi enfiado durante este intervalo. E aposto que a venda gloriosa, sim, vai ser anunciada como tal, degenera prontamente em prejuízo e dos grandes!

Mas está tudo bem, há até um abaixo-assinado de inúmeras “personalidades” a pedir para não se privatizar a TAP. E haverá mais, certamente, da parte dos seus supostos trabalhadores, que não querem, de modo algum, ter de entrar num mercado laboral a sério. Pois é, faço meu o comentário de muito boa gente: se querem uma TAP portuguesa, então paguem-na do vosso bolso!

Para semana: Seria chocante, mas... Refiro-me, claro, às reações da nossa esquerda ao discurso de Cavaco Silva

19
Mai23

84 - Haja Coerência!

Luísa

Alguns casos recentes têm-me feito pensar na coerência, ou antes, na falta dela, de que padece a nossa esquerda em geral e os nossos “bem-pensantes” em particular. Nem sequer se trata de “faz o que eu digo e não o que eu faço”, não, vai bem mais fundo do que isso.

Vejamos uns exemplos.

O PAN – sabem, aquele partido que só na terceira ou quarta reincarnação incluiu as pessoas no nome – saiu-se recentemente a dizer que não devíamos apoiar as famílias numerosas. E porquê? Bom, é que existem planeamento familiar e técnicas de contraceção disponíveis para todos, por isso quem tem muitos filhos é porque os quer ter e deve pagar por eles em vez de contribuirmos todos para o seu sustento.

Não tenciono discutir aqui o mérito desta lógica, só me intriga o seguinte. O PAN é um grande defensor do aborto livre e gratuito – ou seja, pago pelos contribuintes todos – e fartou-se de protestar com a recente decisão do Supremo Tribunal dos EUA a esse respeito. Ou seja, se uma mulher deseja abortar, tem de o poder fazer livremente e à custa de todos nós. Só uma perguntinha, essa coisa de haver planeamento familiar e contraceção não se aplica aqui? Ou será que há uma razão subjacente a tudo isto, ou seja, famílias pequenas mais aborto equivalem a menos gente no mundo, ou seja, mais fica para animais e plantas...

Tivemos também a profunda indignação do PS perante a manifestação que o Chega fez no Largo do Rato onde, para os mais distraídos, se situa a sede do dito partido. Chamaram-lhe de tudo, até “terrorismo institucional”, fora os insultos ao atual Presidente da Câmara de Lisboa por a ter autorizado. Curiosamente, há uns anos a fachada do CDS – quando este ainda era um partido com algum peso – foi vandalizada com grafítis insultuosos (e não só). Mas a reação dessa mesma esquerda foi outra, falaram em liberdade de expressão, da justa indignação das pessoas e, adivinharam, das conquistas de abril! Só numa coisa têm razão, as duas situações são totalmente diferentes. Temos num caso uma manifestação ordeira e devidamente autorizada e no outro vandalismo puro... mas o que conta é a cor política de quem dá e leva.

Passemos agora aos “migrantes”, como está na moda dizer-se, os que saem de cá e os que para cá vêm. Pois bem, recentemente o nosso estimadíssimo Sr. Costa decidiu conceder enormes facilidades de obtenção da residência em Portugal aos cidadãos de países CPLP, falando em amizade, justiça social e muitos outros chavões. Só que, e há sempre um senão, os portugueses que queiram ir trabalhar ou viver nesses países continuam sujeitos a todo o tipo de entraves e burocracias. Mas atenção, chamar a atenção para isso é racismo e xenofobia. É que, como disse em tempos um dirigente angolano num programa da nossa televisão, Angola é um país soberano e tem o direito de escolher quem lá quer viver ou trabalhar – já agora, esta declaração foi recebida com acenos de aceitação de quem estava a assistir. Bom, pelo menos ficámos a saber que Portugal não é um país soberano...

Viremo-nos agora para Sua Excelência, o Sr. Marcelo. Quando Cavaco Silva promulgou a Lei do Aborto, declarando numa comunicação ao país que era contra a sua consciência mas que o fazia por respeito para com a Assembleia da República, foi altamente criticado por não ter aplicado um veto por objeção de consciência. Mas agora temos a Lei da Eutanásia – já agora, consultem o post Os falsos sinónimos em que falo da confusão, deliberada, na minha opinião, entre eutanásia e morte medicamente assistida – e o nosso atual Presidente, depois de voltas e reviravoltas, é aplaudido por a ter finalmente promulgado, isto apesar de se saber que é contra a dita por razões religiosas. Curioso, não vi um único apelo à tal objeção de consciência nem uma única crítica por não ter feito uso disso.

Último tema, as chamadas “comissões de sensibilidade” ou lá como lhes chamam, enfim, um grupo de “bem-pensantes” que analisa textos e livros para lhes retirar tudo o que possa ofender – caso tenham andado distraídos, nem a Agatha Christie escapa! Pois, no tempo do mau do Salazar, cortavam-se coisas e proibiam-se outras porque podiam ofender a moral e os bons costumes. E estamos certamente todos fartos de ouvir críticas e vociferações contra a censura. Mas... não é isso que andam a fazer agora? Pior ainda, o que é que querem dizer com “que possa ofender alguém”? Eu, por exemplo, sinto-me ofendidíssima quando leio certas versões modernas da história portuguesa, sabem, a revisão completa de tudo à luz de ideias muito woke. Sendo assim, exijo que essas tais comissões tomem medidas para evitar a sua publicação. Pois, boa sorte em conseguir que me prestem atenção!

Sei que os seres humanos não têm,  por natureza, tendência para serem coerentes, tendemos a classificar a mesma coisa de modos opostos consoante é a nosso favor ou contra nós. Não posso, pois, exigir coerência total a ninguém. Mas, francamente, sejam um bocadinho mais subtis no modo como o fazem!

Para semana: Voltemos à TAP. Ou, como alguém já lhe chamou, a essa “telenovela mexicana de quinta categoria”.

12
Mai23

83 - Fazer omeletas e manter os ovos

Luísa

Quanto mais observo a sociedade e o povo português mais me convenço que somos realmente únicos – pelo menos na minha experiência... E o título deste post refere-se a uma característica que, embora exista noutros países, claro, toma no nosso um aspeto extremo. Passo a explicar.

Há muitas falhas e problemas no nosso país, como todos sabemos, mas, infelizmente, o mesmo se passa em maior ou menor escala noutros. Só que tenho a distinta impressão de que somos o único a acreditar em contos de fadas ou, no mínimo, em magia. Sabem, agitar uma varinha de condão e pronto, problema resolvido, seja ele qual for.

E porque digo isto? Bom, vamos a um exemplo bem atual, as obras que se começaram a realizar em Lisboa.

O problema das inundações quando chove afetam a cidade no mínimo há décadas. E quando ocorrem ouvimos sempre as muito justificadas queixas de que nada se faz para resolver definitivamente a questão. Pois bem, está-se finalmente a fazer algo e qual é a reação dos queixosos anteriores? Alegria e satisfação por as cheias passarem a fazer parte do passado? É claro que não! Nem sequer falam nisso.

Pois é, o “nada se faz” deu imediatamente lugar a queixas e protestos pelos incómodos que as ditas obras estão a causar e que continuarão a provocar durante bastante tempo. E é isso que me deixa confusa e a achar que somos mesmo um povo único.

Senão, vejamos. Sabe-se há muito que este problema específico só se resolve fazendo obras profundas de saneamento. Ora por definição, este está enterrado, por isso qualquer alteração ou ampliação do sistema iria implicar corte de ruas, problemas de trânsito e de estacionamento, enfim, grandes incómodos.

Mas qual é a alternativa? Não fazer nada e deixar que a cidade alague quando chove mais ou quando a chuva coincide com a maré alta? É que, a menos que se possa usar a tal varinha de condão para fazer literalmente a obra num piscar de olhos só há duas alternativas: não fazer nada ou causar incómodos e problemas temporários. Ou seja, partir os ovos para obter uma bela omeleta.

Mas há muitos mais exemplos, para mal dos nossos pecados. Ainda está para vir o anúncio de uma obra, por muito fundamental que seja, que não seja imediatamente seguida da lista de incómodos ou problemas que vai causar.

Veja-se o caso das energias alternativas. Há manifestações e protestos para acabar com o uso do petróleo e do carvão, normalmente por parte de quem mais eletricidade consome nas suas vidas privadas, diga-se de passagem. Mas...

Não se podem fazer centrais hidroelétricas porque vão afogar árvores e arbustos e perturbar a vida animal da zona. Não se podem erguer parques eólicos porque são feios, fazem ruído – a sério, quem diz isto já esteve perto de um gerador desses? – e incomodam as aves. Painéis solares nos telhados das casas? Que horror, são tão feios! A sério, em tempos levaram o dono de uma moradia em Cascais a tribunal por ter instalado um dos primeiros aquecedores solares de água. O grande argumento? Estragava o estilo da casa e baixava o valor das restantes casas do bairro.

Ou seja, queremos energias alternativas mas não as queremos instalar.

E os exemplos continuam.

Queixam-se que uma determinada rua ou estrada está em péssimo estado e depois protestam com a mesma veemência porque o seu arranjo causa incómodos a quem por ali costuma passar.

Queremos reciclagem, mas refila-se com o barulho dos camiões que recolhem o lixo diferenciado, sobretudo o vidro e metal / plástico.

Nem a saúde ou o ensino escapam. Surgiu recentemente perto de mim um polo universitário, há muito falado e desejado. Pois, mal começaram as obras vieram logo as queixas de que iria aumentar muito as rendas de casa, trazer muita gente para a zona, trânsito, barulho, enfim, uma desgraça. E um hospital tem a mesma receção, acrescentando-lho as sirenes das ambulâncias.

Isto para não falar do comércio. Por exemplo, as tais mercearias de bairro, que foram insistindo em manter um horário que em nada se coadunava com a vida atual e de que os residentes locais tanto se queixavam. Mas quando abrem na zona supermercados que, esses sim, se mantém abertos até mais tarde e aos fins de semana, bom, lá vêm os queixumes de que “matam o comércio local”. Sim, porque o facto de as ditas lojas abrirem quando as pessoas já estão no emprego, fecharem antes de elas voltarem para casa e muitas vezes nem ao sábado de manhã abrirem nada tem a ver com isso...

Prestem atenção às notícias e, sobretudo, às muito populares entrevistas de rua e vejam se não tenho razão. É claramente um caso de preso por ter cão e preso por não o ter. Se não se faz, pois, este país é uma treta, nunca se pensa nos problemas das pessoas. Faz-se, que horror, ninguém quer saber dos problemas que isso acarreta.

Só uma pequena nota final, pensando bem a tal varinha de condão também não iria resultar. É que com tudo feito num piscar de olhos – ou antes, num agitar do braço – perder-se-ia o muito dinheiro que uma obra acarreta, sobretudo em Portugal com a “inflação especial” que ataca misteriosamente as nossas obras públicas (e não só). Resumindo, nem a magia escapa!

Para semana: Haja Coerência! As muitas (in)coerências dos políticos e bem-pensantes do nosso país

05
Mai23

82 - Dia dos Trabalhadores

Luísa

Quando anunciei o tema desta semana esqueci-me de olhar para o calendário não tendo, por isso, reparado, que tinha pelo caminho o 1º de Maio, o chamado Dia dos Trabalhadores. Irei, pois, falar de assuntos em torno desta data.

Primeiro, um pequeno contexto pessoal. Não nasci nem cresci em Portugal e quando para cá vim, uns bons 2 anos após o 25 de abril, foi para estudar. Saí depois para trabalhar e só regressei em finais dos anos 80. Não assisti, pois, ao grosso das contestações laborais, mas ainda vi o suficiente para haver certas coisas que me metiam alguma confusão.

A primeira delas é o total enfeudamento dos sindicatos a partidos políticos, uma situação inédita em países democráticos. Sim, noutros países os vários sindicatos ou uniões de sindicatos podem declarar-se por um ou outro candidato quando é altura de eleições, mas não “pertencem” a nenhum partido político.

E esse é um detalhe que, repito, sempre me fez confusão. Como é que um sindicato (ou central sindical) pode afirmar que “defende os interesses dos trabalhadores” se tem, ao mesmo tempo, de atuar dentro dos limites das políticas económicas e ideológicas do partido a que está ligado? Quantas das greves em Portugal são realmente por questões laborais e quantas por razões políticas? Pois, suspeito que a grande maioria caiu, durante décadas, nesta segunda categoria.

Um outro aspeto em que diferimos de outros países, e não em nossa vantagem, é o modo como uma greve é convocada. Ou é simplesmente anunciada pela direção do respetivo sindicato ou, quando há “votação”, esta é feita de braço no ar numa sala apinhada. Muito francamente, com as cenas a que temos assistido de insultos e agressões por parte dos piquetes de greve, alguém acha que uma votação feita nesses termos é mesmo um ato democrático e que reflete a vontade dos sindicalizados?

Já agora, nos tais países democráticos uma greve só pode ser convocada após uma votação a sério com urnas fechadas, percentagens de votantes e de sins, enfim, algo a sério. E se um sindicato tem mais do que um certo número de membros, a contagem e verificação dos votos têm de ser feitas por uma empresa externa ao sindicato!

Ouvimos, também, falar muito do peso dos sindicatos. Mas esses números dizem exatamente o quê? Serão mesmo reais? Ou teremos também aqui o cenário de certos partidos que arranjaram inicialmente o número de assinaturas para serem criados mas que, a avaliar pelo que fazem em campanhas legislativas, o mais provável é agora nem um décimo conseguirem (digo um décimo porque sou uma otimista nata...).

Outro aspeto que me faz confusão quando ouço sindicalistas é a questão dos contratos coletivos. Sim, a teoria até é boa, é óbvio que, até um determinado nível de desenvolvimento económico de um país e para certos setores, cem ou mil têm muito mais poder negocial do que um ou até dez. O problema está numa outra curiosidade do nosso país, os problemas em despedir. Graças a isto, o que um contrato coletivo faz é tratar do mesmo modo quem cumpre e trabalha e quem nada faz.

Mas tudo isto nem sequer é o pior do nosso sindicalismo. Infelizmente! Já repararam que para os líderes sindicais “trabalhador” é apenas alguém com um emprego abrangido por um sindicato? E notaram que ao ouvirmos os seus discursos e declarações nos sentimos em pleno século 19 ou, quanto muito, em meados do 20?

O mundo mudou imenso mas para eles continua tudo na mesma.

Vejamos, por exemplo, os trabalhadores por conta própria. Estão em número crescente em todo o Ocidente e Portugal não é exceção. Temos até agora os chamados “nómadas digitais” que, muito simplesmente, vagueiam pelo mundo enquanto trabalham para clientes em países dispersos e que só por mero acaso coincidem com o da sua atual residência. Mas para os nossos sindicatos nada disso existe. Ou, se fazem o favor de admitir que há pessoas dessas, bom, não são bem “trabalhadores” e, sendo assim, não lhes interessam.

Perante tudo isto, admiram-se que cada vez mais portugueses mandem o sindicalismo “dar uma curva? Que os que o podem fazer prefiram negociar o seu próprio contrato de trabalho do que sujeitar-se ao tal contrato coletivo que dá o mesmo salário e benesses ao bom trabalhador e ao mau?

Acho que é mais do que altura de os nossos sindicatos olharem bem para o país e para os trabalhadores que dizem representar e fazerem um esforço para serem o que sempre deviam ter sido: organizações que defendem as melhores condições possíveis, de um modo realista. Sim, realista, quando ouço algumas das suas reivindicações fico logo a pensar o que é que aqueles dirigentes andarão a tomar...

E acabarem de vez com estas greves atrás de greves que, analisadas como deve ser, não resultam em nada. É que são tantas que já ninguém quer saber, a única coisa que importa à população é o incómodo que lhes causam. Já agora, há uns anos o maior sindicato da Alemanha decretou uma greve – usando uma votação a sério – e todo o país seguiu o acontecimento atentamente. É que era a primeira em trinta e muitos anos e todos queriam saber a razão de algo tão invulgar. Pois, aqui é a mesma coisa...

Não ouço os discursos deste tipo de datas, mas apanhei de passagem um líder sindical a dizer que havia poucas pessoas na marcha ou lá o que foi do 1º de maio “porque tinham medo das represálias do patronato”. Notícia de última hora, a verdadeira razão é vocês estarem mais do que obsoletos e poucos vos verem a menor utilidade – a menos que seja pelo tacho de se ser sindicalista, claro.

Para semana: Fazer omeletas e manter os ovos. A propósito dos incómodos causados pelas obras em Lisboa (e não só)

28
Abr23

81 - E viva o 25 de Abril!

Luísa

Devido ao muito que aconteceu antes e durante o 25 de abril deste ano decidi converter este post numa espécie de carta aberta ao Muito Digno (pelo menos na opinião dele) Presidente da Assembleia da República, o Sr. Santos Silva, daqui em diante conhecido como o Sr. SS, para poupar esforço.

Só um pequeno detalhe, não sou nem nunca fui militante do Chega ou de qualquer outro partido político.

Dito isto, aqui vai a minha cartinha.

Caro Sr. SS:

Ando há uns tempos para lhe dedicar um post mas o que se passou neste 25 de abril, o suposto Dia da Liberdade, foi literalmente a gota de água que fez entornar o caldo. Refiro-me, claro está, aos seus comentários e reações às atitudes do partido Chega que, na sua opinião, envergonharam o país. A sério? Foi mesmo isso que envergonhou os portugueses? Se realmente acha isso, lamento informá-lo de que não conhece minimamente o povo que diz representar e que lhe paga o salário e outras (numerosas) benesses.

Sabe o que é que realmente nos envergonhou? Pois bem, passo a explicar-lhe alguns dos destaques.

Primeiro, a condecoração dada pelo nosso estimadíssimo Presidente da República, o Sr. Marcelo, à esposa do Sr. Lula “por serviços prestados à Nação”. Para os mais distraídos, lembro que a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique é destinada, e cito, “a quem houver prestado serviços relevantes a Portugal, no país e no estrangeiro, assim como na expansão da cultura portuguesa ou para conhecimento de Portugal, da sua história e dos seus valores.” Dois dos anteriores agraciados, que dispensam apresentações, foram o Dr. Pedro Ferraz da Costa e o escritor Mário de Carvalho.

Com a sua enorme preocupação pela vergonha que o Chega trouxe ao país, talvez possa esclarecer os papalvos que o sustentam sobre a aplicação de tudo isto à tal senhora. Só que aposto que não consegue, por isso, o seu amigo Marcelo trouxe, ele sim, vergonha para o nosso país.

Mas há mais. Soube, com grande espanto meu, que o nosso ainda mais estimado Primeiro-Ministro, o Sr. Costa, disse, num discurso em Matosinhos, que “temos é pena de não falarmos com o vosso sotaque”. Fantástico! Não sei quem era o “nós” implícito na frase, não me incluía, certamente, é que ao contrário do nosso PM e, obviamente, de si, tenho muito orgulho em ser portuguesa e não vejo nenhuma razão para me rebaixar perante quem quer que seja.

Já agora, o Sr. Lula retribuiu dizendo que “geringonça no Brasil não é coisa muito boa. É um amontoado de todas as coisas.” Pois é, o nosso PM põe-se de gatas perante o Presidente de um país estrangeiro e, em troca, este insulta-nos.

E é o Chega que envergonha o país?

Quer pior vergonha do que a entrada do Sr. Lula num órgão de soberania do nosso país rodeado de guarda-costas? Ou antes, de energúmenos, que fizeram questão de agredir deputados eleitos pelo povo português... mas tudo bem, o Sr. SS até aplaude, eram os maus do Chega. Já agora, é legal entrar com guarda-costas na nossa Assembleia da República? Qual seria a sua reação se alguns deputados – e sabe a quem me refiro – fizessem o mesmo por se sentirem sob ameaça constante? Vergonhoso, tudo isto!

Sei que gosta muito de falar da falta de credibilidade democrática de André Ventura e de mencionar, a torto e a direito, a sua posição de “segunda figura do Estado” e, como tal, merecedora de todo o respeito. Só que...

Vamos por partes. Não gosto do Sr. Costa nem do Sr. Marcelo mas respeito-os enquanto titulares dos seus cargos porque foram eleitos pelos portugueses. Sim, ao contrário de si, eu tenho respeito pela democracia.

Mas a si, quem o elegeu para ser a tal “segunda figura”? Não foram certamente os eleitores portugueses. Pior ainda, quando foi eleito deputado, não passava de um nome entre dezenas de outros, sem haver sequer a menor garantia de que iria ocupar o seu lugar. É que, lembro, um deputado tem de estar na lista do seu partido mas este não é obrigado a seguir a ordem indicada. Recordo uma época em que se escolhiam atores e outras figuras conhecidas como cabeças de lista e que depois eram pura e simplesmente afastados para darem lugar a políticos de carreira.

Resumindo, ninguém votou em si. Já André Ventura, quem votou no Chega sabia que pelo menos o seu líder iria estar na Assembleia.

E quanto a ser Presidente da Assembleia da República, a “eleição” é feita apenas entre os deputados e sabe-se, à partida, que é eleito o escolhido pelo partido com mais votos. E chama a isso ter credibilidade democrática?

Último ponto, a sua ameaça de que o Chega nunca será convidado para visitas de estado ao estrangeiro. Esta sua afirmação deixou-me uma dúvida. Essas viagens são pagas por si? É que se são pagas pelos contribuintes, como é que explica pôr de lado os escolhidos de quase 400 000 deles e obrigá-los a ver os seus impostos a irem para as despesas de pessoas altamente democráticas como são os deputados do PCP, por exemplo?

Sabe, Sr. SS, talvez deva mudar oficialmente de nome para Luís XIV, aquele que dizia “o Estado sou eu”. É que todas as suas atitudes e afirmações só demonstram que tem zero respeito pela democracia – ou antes, respeita imenso a nova definição do termo e que é, muito simplesmente, só é democrata quem agradar à esquerda ou, pior ainda, a si.

Numa coisa dou-lhe toda a razão, o que se passou neste 25 de abril envergonhou muito a sério Portugal. Mas não pelas razões que nos deu, foi o senhor e a sua trupe (ou seja, o trio da conversinha a sós que afinal foi gravada) quem nos encheu de vergonha.

E viva a liberdade!

21
Abr23

80 - Decisões, decisões...

Luísa

Este post poderia muito bem ter, como título alternativo, “Como não decidir tomando decisões”, um pouco à semelhança de um meu post anterior, Mentir dizendo só a verdade, prática que a esquerda e muitos jornalistas dominam na perfeição.

Peguemos, como exemplo, no famigerado novo aeroporto de Lisboa, de que ouvimos falar há décadas. Sim, décadas, o assunto vem ainda de antes do 25 de abril.

Esta semana houve quem publicasse a capa de um livro intitulado, precisamente, “Estudo da localização do novo aeroporto de Lisboa”, uma publicação do Ministério das Comunicações de... 1972! Já agora, a opção escolhida era Alcochete.

Mas este nem sequer é o primeiro estudo sobre o assunto. Em 1969 fez-se uma primeira análise da situação, ou antes análises, por parte do GNAL, o recém-criado Gabinete do Novo Aeroporto de Lisboa. Para além da manutenção na Portela, foram estudadas quatro outras localizações, Fonte da Telha, Montijo (!), Porto Alto e Rio Frio, indo a preferência para Rio Frio. Chegou-se, até, a fazer levantamentos naquela zona, nomeadamente para as pistas a criar.

É claro que tudo parou com a Revolução, fazendo-se depois tábua rasa de tudo o que já fora feito anteriormente, como aconteceu, aliás, em inúmeras outras áreas.

Mas isso até nem seria muito grave se não fosse a tal prática vigente do “não decidir tomando decisões”. É que depois de várias flutuações e anúncios, parecia que tudo estaria finalmente decidido, ficando o novo aeroporto no Montijo. Só que... esta semana surgiu, subitamente, a opção de Santarém, não mencionada anteriormente mas que, segundo dizem inúmeros especialistas, seria mesmo a escolha óbvia por todos os motivos e mais um.

Até pode ser que tenham razão, apesar da dúvida que me fica sobre o tremendo atraso deste anúncio – ou seja, se é assim tão melhor do que todas as outras indicações, porque não foi indicado há mais tempo?

Mas a verdadeira questão é que o lançamento do nome de mais um local vai implicar novos estudos de viabilidade, de impacto ambiental, enfim, de tudo e mais alguma coisa que, claro, levarão anos – fora atrasos posteriores devido aos usuais protestos, gritos e ranger de dentes que acompanham sempre obras de grande envergadura.

Resumindo, a decisão de incluir Santarém implica não decidir a localização do novo aeroporto!

Mas há inúmeros exemplos do mesmo tipo.

Veja-se o que aconteceu com as recentes medidas para disponibilizar casas. Foi anunciada com grande aparato a “decisão” de obrigar os donos de casas devolutas a alugarem-nas ao Estado, que depois as alugaria a quem precisasse. Só que não se tinha estudado o enquadramento legal e constitucional, o seu real impacto na resolução deste grave problema, enfim, nada tinham feito. E com este verdadeiro “carro à frente dos bois”, tomou-se, sim, uma decisão só que, na prática, nada ficou decidido.

Mas não há problema, o importante é ir tomando decisões e, acima de tudo, anunciá-las com rufar de tambores, foguetório e tudo o mais, tema aliás de um post anterior, É preciso é anunciar!

No fundo, pensando bem, até nem é chocante isto acontecer, vem um pouco à semelhança da atual definição de pesquisa. É que antigamente, nos maus velhos tempos, estudavam-se os factos e tentava-se chegar a uma teoria que os pudesse explicar. Agora faz-se o contrário, pega-se numa teoria e procuram-se factos que a comprovem e apenas estes, claro, os que não “encaixem” são pura e simplesmente descartados.

E o modo de decidir usa o mesmo esquema. Primeiro vêm as decisões, rapidíssimas e em cima do acontecimento, numa clara prova de dinamismo, e só depois se pensa nos estudos e outros elementos que possibilitem a sua execução ou, pior ainda, que mostrem, até, se a dita “decisão” é ou não viável.

E com a lentidão com que tudo se faz neste nosso belo país, mais os tais protestos inevitáveis e que levam sempre a mais estudos, análises e comissões de avaliação, quem está no poder pode passar décadas a tomar decisões sem nunca ter realmente de decidir nada.

Detalhe curioso, quando chega a altura de eleições, essas ditas decisões são usadas como trunfo para provar que se fez imenso e que, por isso, o povinho, distraído, pelos vistos, deve voltar a votar em massa em quem tanto labutou para criar riqueza e bem-estar nos governados.

E continuará a ser assim, pelo menos não vejo grandes hipóteses de aparecer, finalmente, alguém que berre, alto e bom som, “O rei vai nu!” Ou, caso apareça, será imediatamente classificado de reacionário, saudosista, fascista, enfim, os miminhos do costume.

Uma última nota, falo por mim, claro, mas estou fartíssima da infindável saga do aeroporto e acho, muito francamente, que 54 anos são mais do que suficientes para decidir a sua localização. Repito, decidir e não tomar uma decisão...

Lembremo-nos de que todo o projeto de levar homens à Lua levou menos de uma década!

Para semana: E viva o 25 de Abril! O que supostamente significa comparado com a realidade

14
Abr23

79 - Nacionalizar é bom para a economia

Luísa

Começo o post desta semana com uma citação de Einstein, que me tem vindo muito à mente nos últimos tempos. Certamente já a ouviram, é muitíssimo famosa e existe em inúmeras variantes – a tradução, entenda-se, a frase em inglês é sempre a mesma.

E qual é ela? Pois bem, é muito simplesmente a seguinte: “Loucura é continuar a fazer sempre o mesmo e esperar resultados diferentes.”

Pois bem, se levarmos isto à letra somos, certamente, um país louco ou, mais exatamente, um país de loucos varridos.

Ora vejamos. No período pós-25 de abril desatou-se a nacionalizar tudo e mais alguma coisa. De grandes grupos económicos a propriedades agrícolas, bancos, empresas diversas, foi um ver se te avias de passagem do “mau” do capitalismo privado para a “boa” estatização.

E a princípio até correu tudo bem... pudera, havia reservas de fundos que entusiasmaram o pessoal dessas empresas e os muitos que foram prontamente contratados. E foi gastar a rodos, aumentos salariais, benesses de todo o tipo, enfim, uma vida de ricos. Ou antes, de novos-ricos.

Só que, sem criação de riqueza e com o aumento brutal da despesa, o maná em breve acabou e vieram os problemas graves e as falências, precipitando o país numa crise económica de onde se saiu – saímos mesmo? – muito a custo.

Com a enorme quantidade de exemplos nefastos vindos dessa época gloriosa seria de esperar que tivéssemos aprendido a lição. Mas, pelos vistos, somos mesmo loucos.

É que por tudo e por nada, lá vem a nossa bendita esquerda falar em... pois, adivinharam, nacionalizar. Ou, para evitar más conotações, estatizar.

A banca está em crise? Nacionalize-se! A TAP dá prejuízos gravíssimos mas há quem tenha comprado uma boa fatia dela? Nem pensar, é preciso comprá-la de volta, a qualquer custo! Os hospitais em parceria público-privada funcionam? Que horror, acabe-se já com isso!

Adorava que alguém com acesso a esses dados e tempo para os trabalhar divulgasse o quanto gastámos nos últimos anos a comprar para o Estado empresas em falência técnica. Mais ainda, quanto nos custa anualmente mantê-las a fingir que funcionam.

É claro que, como não estamos numa época revolucionária, para grande desagrado da dita esquerda, nacionalizar significa na maior parte dos casos comprar aos privados pelo menos a maioria do capital de uma empresa. E quem é que acham que sai a ganhar neste negócio?

Lembro-me do gáudio demonstrado pelo Sr. Costa quando anunciou que tinha chegado a acordo para a compra da quota privada da TAP. Face à rapidez com que se chegou ao valor e condições de venda, a minha conclusão imediata foi de que se tratara de um grande negócio... para os privados. Infelizmente, o tempo veio dar-me razão.

Mas todas estas intervenções, compras e nacionalizações são sempre anunciadas como “a bem do país”. Compra-se o SIRESP para evitar que o sistema volte a falhar! Nacionaliza-se a Efacec para travar o impacto na economia. Acabam-se com as parcerias público-privadas nos hospitais a bem da saúde...

 Enfim, com tantas medidas tomadas para nosso bem, devemos estar a viver às mil maravilhas!

Pior ainda, acaba-se, mais cedo ou mais tarde, por falar em reprivatização das ditas – é o que se diz em relação à Efacec e à própria TAP. Até podia ser uma boa notícia, só que, ao fim de algum tempo nas mãos do Estado, as empresas estão sempre em pior estado do que estavam antes e, para poderem ser vendidas, há que absorver prejuízos brutais para tornar a venda atraente – ou possível.

Há, depois, a outra face da moeda, que é a privatização de coisas estatais. Lembro-me do pânico do BE quando se começou a falar em privatizar as Águas de Portugal e havia uma empresa chinesa interessada. Quem os ouvisse ficava com a ideia de que iria faltar água em Portugal porque iria toda para a China!

Isto para não falar nos protestos e greves que cada decisão destas despoleta porque, e estou a parafrasear, “vai ser mau para os trabalhadores”.

Pois vai, uma empresa privada tem de dar lucro se quiser continuar a existir e não se pode dar ao luxo de ter pessoal a mais e todo o tipo de benesses sem a menor justificação, como acontece com o que é estatal – pois, é que aqui, no fim do ano o “Estado” absorve os prejuízos, ou seja, pagamos todos os benefícios de uma minoria.

Não acreditam? Pensem na CP, que tem uma dívida acumulada de mais de 2000 milhões de euros. Brilhantemente, muitos dos seus empréstimos bancários estão a ser substituídos por “empréstimos” da Direção-geral do Tesouro e Finanças – no ano passado isso já ia em 84 %. E como se não bastasse, querem agora “limpar” toda essa dívida histórica para que possam recomeçar a pedir empréstimos aos bancos para compra de material circulante. Já agora, escrevi “empréstimos” assim, entre aspas, porque não são pagos nem há penalizações por não o estarem a fazer. Ou seja, são aquilo que em bom português se chama “emprestadados”.

E é este o panorama que a nossa esquerda quer, colocar tudo e mais alguma coisa nas mãos do Estado. E quando lhes perguntam porque acham que desta vez será diferente do que se passou após a revolução, pois bem, a resposta é muito simples: é claro que vai funcionar, o que é estatal é que é bom!

Pois, Einstein tinha razão, é mesmo a definição de loucura!

Para semana: Decisões, decisões... A propósito do novo aeroporto de Lisboa e não só.

07
Abr23

78 - O patriarcado

Luísa

Há umas semanas, demitiu-se a primeira-ministra da Nova Zelândia. Até aí, tudo bem, até a afirmação de que saía “porque era a altura certa” e nada tinha a ver com a queda brutal da sua popularidade e da do seu partido é apenas “a treta” do costume. Mas as coisas entram no bizarro quando acrescenta que quer sair para estar com a filha pequena e que agora pode finalmente casar com o seu namorado – a sério, o que é que a impedia de o fazer?

Segundo parece, não conseguia equilibrar vida profissional e familiar e a culpa é... do patriarcado. Francamente, não entendi. Será que achava que podia ter um cargo de primeira-ministra em part-time?

Mas a postura das supostas feministas em relação ao avanço das mulheres na sociedade já há muito me faz confusão, até pelos chavões que usam.

Já toquei neste assunto em dois posts anteriores, A (des)igualdade de género e São as mulheres que oprimem as mulheres, mas sob outras vertentes. Desta vez irei concentrar-me apenas em mulheres em lugares de responsabilidade, seja na política, seja no mundo empresarial ou outros.

Um dos mitos muito divulgados por essas novas feministas é que se fossem as mulheres a mandar as coisas seriam melhores, não haveria guerras, abundaria a empatia e as soluções negociadas, enfim, o Paraíso na Terra. Daí haver mulheres dirigentes que contam para elas e outras que não contam.

Em política, por exemplo, nem querem ouvir falar de Margaret Thatcher. Ora seria de pensar que a chamada Dama de Ferro seria o ídolo de qualquer feminista que se preze. Subiu a pulso e apenas graças às suas qualidades – sim, na altura não havia quotas – e conseguiu ter uma vida familiar boa em paralelo com a sua brilhante carreira política. Mais ainda, muitas das frases que lhe deram fama poderiam ser vistas como um verdadeiro estandarte do feminismo – que, diga-se de passagem, ela odiava. Por exemplo, e estou a parafrasear, se queres que algo seja dito, pede a um homem, se queres que seja feito, pede a uma mulher...

Mas não, Thatcher não era o tipo de mulher considerado “certo”.

O mesmo aconteceu com Angela Merkel. Ora pensem bem, uma mulher que sobe até bem alto na Alemanha de Leste e, após a reunificação, faz o mesmo na nova Alemanha? Sem quotas, repito... Não seria de esperar que fosse apontada como um exemplo a seguir?

Claro que não! As ditas feministas preferem as dirigentes “soft” que têm surgido na Escandinávia, Nova Zelândia, etc. que, muito francamente, chegaram ao topo dos respetivos partidos porque, segundo foi dito, era altura de terem uma mulher dirigente. E, já agora, aqui para nós que ninguém nos ouve, sabem o nome de alguma? Ou o que têm feito pelos seus países?

Pior ainda, se alguma dessas dirigentes tão apreciadas toma uma decisão “não feminina”, como restringir a imigração ou apoiar a Ucrânia, por exemplo, chovem logo as afirmações de que não é “uma verdadeira mulher”.

O mais curioso é que cresci em pleno patriarcado – pelo menos é o que me dizem – e nunca ouvi essa frase, apesar de ter escolhido um curso muito pouco comum entre raparigas nessa época (Engenharia Eletrotécnica).

Mas agora ouço-o continuamente da parte de quem defende, supostamente, os interesses das mulheres. Querem até dizer-me que ideias políticas devo ter, ou antes, que não devo ter, isso se quiser ser vista como uma mulher “a sério”. Sim, ouvi uma comentadora inglesa dizer que uma mulher que vota no Trump não é mulher!

Para terminar a parte política, vou dar um exemplo português que mostra claramente o “ter preso por ter cão e por não o ter” que grassa nesses novos movimentos.

Lembram-se de quando Assunção Cristas era ministra e teve uma criança? Pois bem, a dita ainda não tinha nascido e já diziam que se devia demitir porque era indecente deixar as suas funções durante tanto tempo por causa da licença de maternidade. Mas como não a tirou, voltando logo ao trabalho, as mesmas vozes ergueram-se em protesto porque, adivinharam, “uma mulher a sério” teria ficado em casa...

Passando ao mundo empresarial, vou só referir o que se tem passado com a TAP, ou antes, com as duas principais vozes femininas ligadas a toda essa polémica. Refiro-me, claro, a Christine Ourmières-Widener e a Alexandra Reis. Uma, a francesa, com uma vastíssima experiência profissional na área de companhias aéreas. A outra, com um saltitar constante de lugares em empresas públicas, sempre na área de vendas, segundo dizem, e bons conhecimentos entre a classe política – sim, diz-se apartidária, mas será que acha que foi nomeada Secretária de Estado por sorteio público?

A grande questão aqui é a sensação que me fica de que acolhe mais simpatias do que a francesa porque esta é dura e, acima de tudo exige que o pessoal da TAP cumpra as suas obrigações (isto é o que dizem os sindicatos). Ou seja, não é “feminina”...

O problema é que vemos isto por todo o lado. Há inúmeras mulheres em cargos diretivos importantes, a que ascenderam por mérito próprio, só que não ouvimos falar delas. Quem ouvir o tal suposto movimento feminista, não existem – pelo menos só ouvimos exigências de quotas e choradinhos sobre a presença quase exclusiva de homens no topo.

E isto estende-se a todas as áreas. Há uns três anos, um amigo meu que reside há muito na Escócia decidiu casar em Portugal e uma sua amiga queria entrevistar mulheres cientistas portuguesas. Pediu ajuda para arranjar alguns nomes e eu fiz uma rápida pesquisa. Pois bem, em minutos arranjei mais de trinta nomes. E fiz questão de escolher apenas pessoas que tinham obra feita reconhecida internacionalmente, colaborações com a NASA, por exemplo. Francamente, fui a primeira a ficar espantada.

Não acham que seria boa ideia divulgar as suas histórias para servirem de inspiração às jovens que ainda estão no liceu? Ou as das muitas mulheres de topo em diversas áreas?

Só que a divulgação de todos estes casos de sucesso, bem merecido, repito, não por quotas, iria impedir o contínuo bramar contra o patriarcado...

Para semana: Nacionalizar é bom para a economia! Pois é...

31
Mar23

77 - Coisas curiosas

Luísa

Começo por explicar que, devido aos acontecimentos dos últimos dias, decidi adiar para a próxima semana o post anunciado. Refiro-me, claro está, ao crime horrendo no Centro Ismaelita e, sobretudo, às reações e comentários feitos sobre o assunto.

Para os mais distraídos, recordo que um afegão, com estatuto de refugiado, entrou nesse centro, onde recebia lições de português, feriu o professor e matou à catanada duas mulheres. Estes são os factos, nus e crus.

Lembro, também, que a religião ismaelita e a que vigora no Afeganistão pertencem a vertentes opostas (e inimigas) do Islão.

Face ao modo como a notícia foi dada inicialmente, sem referir dados sobre o atacante, deduzi imediatamente que se tratava de um não branco – pois, hoje em dia o que uma notícia não diz é bem mais importante do que o que diz, mas isso será o tema de um post futuro.

Curiosamente, pouquíssimo tempo depois do ataque, o Sr. Marcelo, que nunca perde uma oportunidade de “botar faladura”, já estava a dizer que o atacante tinha sofrido um episódio psicótico, diagnóstico confirmado pelo Comissário da Polícia.

Curioso, lendo sobre o assunto, uma afirmação dessas exige uma avaliação de vários factos, entrevistas a familiares, amigos, colegas, etc., exames médicos de vários tipos... mas, pelos vistos, temos aqui uma área onde podemos passar a poupar imenso dinheiro, apresenta-se o caso ao senhor de Belém e pronto, assunto resolvido.

Curiosamente, quando um branco ataca um local ou pessoas de outras raças, o mesmo senhor aparece também logo com uma conclusão cheia de certezas, só que, nesse caso é... adivinharam, racismo, xenofobia, intolerância. É que pelos vistos, o muito popular “passou-lhe uma coisa pela cabeça”, “sofre de perturbações mentais” ou o bem mais atual “episódio psicótico” estão vedados a quem é europeu ou, pior ainda, é branco e cristão.

Desde o ataque tenho assistido, estupefacta, à lista de “justificações” dada para justificar o injustificável. E, estranhamente, ninguém pergunta como é que foi uma coisa momentânea quando ele levou uma catana para o local. Já agora, onde é que se arranja uma? É que eu não sei mas, pelos vistos, um estrangeiro a viver em Portugal só desde 2021 e sem falar muito português não teve qualquer problema em conseguir uma.

Quanto às vítimas, passámos pelo menos dois dias a quase nem ouvir falar delas. É que perante o “coitadinho” do afegão, não têm o menor interesse...

Infelizmente, este tipo de desculpabilização de atos criminosos horrendos, desde que sejam cometidos pela pessoa “certa”, não é de agora nem se restringe ao nosso país.

Se um branco entra numa mesquita e insulta alguém, é gravíssimo, soam logo os pedidos de uma pena exemplar. Mas nos últimos anos têm sido queimadas dúzias de igrejas em França em zonas maioritariamente muçulmanas e nem chegam a ser notícia. Mais ainda, se por mero acaso, for apanhado alguém, pois bem, sofre inevitavelmente de perturbações mentais, como o do ataque na ponte Westminster em Londres ou o do atropelamento de pessoas num mercado de Natal na Alemanha.

Há, ainda, as “justificações” para todos esses crimes. É que quem os comete nunca, mas mesmo nunca, é culpado. Não, a culpa é do Ocidente, do “homem branco”, do colonialismo, das más condições em que vive, das desigualdades sociais, enfim, a culpa é das vítimas.

Já agora, analisando friamente o que se passou, onde estão os protestos dos defensores das mulheres? É que o dito afegão atacou deliberadamente duas mulheres indefesas, matando-as de um modo cruel. E ninguém tem nada a dizer sobre este claro caso de violência contra o sexo feminino?

E a tão apregoada tolerância religiosa, também não suscita comentários ele ter cometido o ataque num centro que pertence a uma versão do Islão a que a dele é ferozmente antagónica?

E não há nada a dizer sobre as vítimas? O Sr. Marcelo, o tal que nunca perde uma oportunidade de abrir a boca, só mostrou preocupação pelo criminoso, pelos filhos do dito e pela hipótese de isto ser usado como pretexto para controlar a vinda de supostos refugiados. Só que nada disse às famílias das vítimas ou, se o fez, foi muito tardiamente e de modo bem discreto.

Mas em termos de argumentos de desculpabilização, o melhor de todos, no mau sentido, claro, é que o criminoso estava a ser pressionado pelos talibãs para regressar ao Afeganistão. Muito francamente, se os ditos sabem que ele existe e, ainda por cima, têm o seu contacto telefónico, talvez seja conveniente investigar muito bem quem é esse senhor. É que com tantos milhares de afegãos que têm fugido, duvido que isto aconteça com todos – ou até com alguns.

Quando é que comentadores, jornalistas, políticos, etc. tomam consciência de que esta reação de tudo desculpar não é sinal de tolerância, é, isso sim, uma prova de que não veem as pessoas como iguais? Ou seja, trata-se racismo, puro e simples. É que, no fundo, acham que essas pessoas não têm capacidade para cumprir as regras morais mais básicas...

É que, pelo menos no que me diz respeito, estou farta de ver um ataque de um branco a um não branco ser notícia durante dias, envolvendo a SOS Racismo (a tal que inclui o Sr. Mamadou...), mas se for ao contrário ou não é relatado ou é-o de passagem e, repito, com, no mínimo, o “passou-lhe alguma coisa pela cabeça”.

Haja igualdade!

Para semana: O patriarcado A propósito da demissão da primeira-ministra da Nova Zelândia

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