153 - Acabados os Paralímpicos
À semelhança do que fiz quando terminaram os Jogos Olímpicos, este será um post dedicado às minhas opiniões e ideias sobre os Jogos Paralímpicos.
Começo por um pouco da sua história. A sua génese está numa competição desportiva organizada em 1948 em Inglaterra, mais precisamente em Stoke Mandeville, por Sir Ludwig Guttman, envolvendo 16 veteranos da recentemente terminada Segunda Guerra Mundial, todos eles com lesões na coluna. Quatro anos depois nasceu o agora denominado Movimento Paralímpico quando concorrentes da Holanda aderiram à iniciativa.
Os primeiros Jogos Paralímpicos propriamente ditos só se realizaram em 1960, em Roma, logo após a conclusão dos Jogos Olímpicos desse ano, com 400 participantes de 23 países e 8 desportos.
Englobam atualmente as seguintes 22 modalidades, uma delas com duas variantes: atletismo, badminton, basquetebol em cadeira de rodas, boccia, canoagem, ciclismo de estrada, ciclismo de pista, equitação, esgrima em cadeira de rodas, futebol de cegos, goalball, judo, natação, halterofilismo, remo, rugby em cadeira de rodas, taekwondo, ténis de mesa, ténis em cadeira de rodas, tiro desportivo, tiro com arco, triatlo e voleibol sentado.
Último detalhe, há 3 grandes grupos de classificação de atletas, cada um deles com vários subgrupos: PI (deficiência física), VI (deficiência visual) e II (deficiência mental). Depois, cada desporto tem as suas próprias categorias, indicadas por um sistema de letras e números – por exemplo, em atletismo, T42 a T44 significa deficiência nos membros inferiores. Enfim, um sistema muito complexo que me leva a uma das minhas queixas, digamos, apresentadas mais adiante.
Começo por dizer que achei a Cerimónia de Abertura um bocadinho pobre comparada com a que víramos umas semanas antes. Não seria, talvez, de esperar o mesmo aparato grandioso, mas faltou-lhe algo, na minha opinião, que a elevasse um pouco mais. Por exemplo, algo similar à muito comovente atuação de Céline Dion na muito francesa canção Hino ao Amor, um momento verdadeiramente inesquecível.
Outra “queixa” minha, esta mais local, tem a ver com a falta de informação dada pelos comentadores da RTP2 durante as competições. Diziam – às vezes – a categoria em prova, T42, por exemplo, mas não explicavam o que isso queria dizer. E quanto a regras, nadinha – com uma grande exceção que citarei mais adiante e outras menores, como o facto de nas provas de atletismo de cegos estes terem de cortar a meta ao mesmo tempo que o guia.
Pode ser que me tenha escapado algo, não vi tudo, mas nas provas a que assisti tive de me deitar a adivinhar sobre o tipo de atletas em competição – ou passar o tempo todo a consultar o Google via telemóvel para poder interpretar devidamente o que estava a ver.
E quando falo em regras, bom, é óbvio que ténis de mesa em cadeira de rodas terá algumas um bocadinho diferentes do ténis de mesa em pé, embora continue a ignorar quais são... E sim, confesso que desconhecia muitos dos desportos destes Jogos, mas devo estar no mesmo barco de muito boa gente, é que a menos que se conheça alguém que os pratique nunca os vemos fora deste contexto – e suspeito que desta vez a cobertura foi um pouco melhor, talvez por se falar tanto em inclusão.
A grande exceção a esta ausência de informação foi um desporto que constituiu uma surpresa total para mim – e não só, referi-o a algumas pessoas que também o desconheciam: o futebol para cegos! Se não viram, tentem encontrar um jogo, é fabuloso. O comentador, um brasileiro, pareceu-me ser um grande conhecedor da modalidade e foi muito, mas mesmo muito informativo, aumentando o prazer de assistir com os dados que ia fornecendo. Pequeno detalhe, os guarda-redes têm alguma visão..
Outra coisa que me ficou na memória foram algumas provas de natação para pessoas com deficiências físicas. Sobretudo aquele chinês sem braços que, espantosamente, nada de barriga para baixo, ou seja, com a cara dentro de água a maior parte do tempo – pode vê-lo aqui, tornou-se muito famoso. Mas não era o único, numa das provas havia três chineses, todos sem braços, que se deslocavam na água a uma velocidade de fazer inveja a muito boa gente com os membros todos.
Mas a minha maior “queixa” está na falta de “preparação”, à falta de um termo melhor, do possível público nos dias que antecederam estes Jogos. Vimos os atletas a serem recebidos pelo senhor de Belém e pouco mais.
Ora esta teria sido uma oportunidade de ouro para mostrar o modo como se treinam, as modalidades disponíveis no nosso país e, mais ainda, os desportos e outras atividades físicas que existem atualmente para pessoas com todo o tipo de problemas, físicos ou mentais, mesmo que apenas a um nível não competitivo.
Isto teria duas vantagens. Num país com a nossa elevadíssima taxa de acidentes rodoviários, muitos deles envolvendo jovens, mostraria que a vida não acaba necessariamente só porque se fica numa cadeira de rodas, por exemplo, que há muito que se pode fazer na área puramente física. E faria também esse serviço a quem tem filhos com vários tipos de problemas deste tipo. Sim, há fisioterapia e outros tipos de acompanhamento, mas nada melhor do que ver para crer.
Termino dando os meus parabéns a todos os atletas portugueses que participaram, mesmo os que não contribuíram para um número recorde de medalhas e diplomas. Têm, certamente, muito mérito e aposto que as condições em que treinam e os meios de que dispõem são bem inferiores aos dos atletas ditos normais, ou seja, só com um esforço acrescido e muita vontade se conseguem resultados tão bons!
Último detalhe o Linha da Frente de ontem (12 de setembro), chamado A Cor do Mundo, falava um pouco de desporto para crianças invisuais, com destaque para a Academia Jorge Pina criada pelo atleta paralímpico do mesmo nome.
Para a semana: O nosso sistema penal. A propósito da recente fuga e não só