86 - Seria chocante, mas...
Há uns dias o Professor Cavaco Silva quebrou um longo silêncio com um discurso perante autarcas do PSD dedicado em grande parte a bater forte e feio no nosso atual (des)governo em geral e no seu “digníssimo” expoente, o Sr. Costa em particular.
Foi duro mas, infelizmente para todos nós, só disse verdades.
Vi logo que ia haver reações adversas não só do PS mas da chamada esquerda em geral, são tudo senhores que adoram críticas ferozes... desde que sejam eles a fazê-las, claro está. Mesmo assim confesso que me espantou o nível mais do que baixo a que conseguiram descer.
O consenso geral de todas essas “sumidades” parece ter sido este, que o Prof. Cavaco morre de inveja pelo tremendo êxito (!) deste governo, que sofre de um grande ressabiamento por não ser popular e muitos outros mimos do mesmo género.
Vou referir só um ou dois, que me chocaram um pouco mais. Sim, chocaram, esta nossa esquerda tem uma tremenda virtude do meu ponto de vista, quando penso que bateram no fundo conseguem sempre espantar-me por irem ainda mais baixo. É, definitivamente, um poço sem fundo!
O primeiro destaque vai para um tal João Torres, que pelos vistos tem um cargo importante no PS. Disse esse senhor, e cito, “... o professor Cavaco Silva perdeu o sentido de Estado que se exige e a generalidade dos portugueses gostaria de apreciar em alguém que durante tanto tempo desempenhou funções no nosso país”.
A sério? Isto vem de alguém do partido de Mário Soares, sabem, aquele ex-presidente que em 2013 disse, referindo-se ao então Presidente a propósito da crise económica em que o país vivia – criada pelo PS, diga-se de passagem – “"O Presidente Cavaco Silva devia lembrar-se da história do século XX. Por muito menos foi morto D. Carlos."
Pois, é o que se chama ter sentido de estado!
Já agora, façamos uma pequena revisão dos Presidentes mais recentes em termos de desempenho das suas funções.
Primeiro, Mário Soares, o único que, tal como o Professor Cavaco, foi também Primeiro-Ministro. Um senhor que, durante uma visita de estado a Marrocos, paga por todos nós, claro, aproveitou para ir visitar o seu amiguinho Andreotti, condenado à revelia por ligações à Máfia. E que quando se deslocava a qualquer lado nos deixava sempre na dúvida sobre a razão de ser da viagem: turismo ou serviço ao país? Lembram-se da célebre ida às Maldivas, um país importantíssimo para Portugal em todos os aspetos? Pois, mas pelo menos deu para andar de tartaruga gigante...
Só como comparação, foram ambos à Índia. Na visita de Soares vimo-lo a andar de elefante, no Taj Mahal e outras coisas do mesmo tipo. Já Cavaco Silva visitou empresas, discursou numa universidade e nada fez de turístico.
Depois tivemos o Sr. Sampaio, o que derrubou o governo de Santana Lopes que, ao contrário da geringonça muito aplaudida por ele, tinha apoio firme na Assembleia da República. Alguém acredita que o fez para bem do país? E muito francamente, pouco mais há para dizer sobre ele.
E temos, finalmente, o nosso atual PR, um senhor que tem sempre algo a dizer sobre tudo e mais alguma coisa mas que, curiosamente, levou dias a abrir a boca sobre este discurso e, pior ainda, nada disse sobre o tom aleivoso das críticas que lhe foram feitas.
Podemos não gostar do Professor Cavaco, mas não se pode negar que, desde 1986, foi o único em Belém ciente das suas obrigações. Sabe-se que lia de ponta a ponta todos os dossiers que lhe eram enviados e que tinha sempre perguntas pertinentes nas reuniões semanais com o PR da altura. Imaginam como serão as de agora?
Ah, mas quando respondeu que não tinha tempo para ler jornais e revistas veio logo o comentário de Mário Soares de que lia diariamente vários. Fabuloso, pagamos um PR para passar uma boa parte do dia a ler! E para quem esteja a pensar que o Presidente tem a obrigação de estar informado, lembro que é para isso que existe um sem fim de assessores – e conhecendo o nosso país, assessores desses assessores – que leem, ouvem e veem o máximo de informação para lhe chamarem a atenção para o que é importante.
Mas a maioria dos críticos focou-se na sua falta de popularidade. É que, como todos sabemos, ser popular é o principal critério para eleger e apreciar quem ocupa essa posição. Pois, Mário Soares foi popular... Sampaio, bom, um tanto neutro. E vivemos agora sob o rei da popularidade. Francamente, entre estes quatro, prefiro de longe o impopular!
Como nota final, realço mais uma vez a total falta de coerência da nossa esquerda. Quando atacavam Cavaco Silva enquanto foi PM, vinham logo com o argumento de que se tratava de liberdade de expressão, democracia, o legado do 25 de abril, enfim, a “cassete” do costume. Mas quando são eles o alvo...
Para semana: Não viram, não sabem, mas governam! Ou um governo transformado nos “três macacos”